Síndrome do Trauma Religioso: Como Algumas Religiões Organizadas Induzem Problemas de Saúde Mental
Aos 16, eu comecei o que seria uma luta de quatro anos com bulimia. Quando os sintomas começaram, busquei em desespero adultos que sabiam mais do que eu sobre como parar o meu vergonhoso comportamento – um líder do estudo da Bíblia e um ministro de jovens. “Se você pedir qualquer coisa com fé, acreditando”, disseram, “será alcançado”. Eu sabia que eles estavam citando a Palavra de Deus. Oramos juntos, e fui para casa confiante de que Deus ouvira minhas orações.

Imersão em religiões controladoras e a posterior saída podem resultar na Síndrome do Trauma Religioso, diz psicóloga. Foto: María Heredia Reyes
Porém, minhas compulsões horríveis não sumiram. No outono do meu segundo ano na faculdade, estava desesperada e deprimida o suficiente para uma tentativa de suicídio. O problema não era apenas a bulimia. Estava convencida então que eu era um fracasso espiritual completo. Meu departamento de aconselhamento da faculdade tinha se oferecido para me pedir ajuda real (que mais tarde fez). Mas, na minha mente, nesse ponto, tal ajuda não poderia corrigir o problema central: eu era um fracasso aos olhos de Deus. Seriam anos antes que eu entendesse que minha incapacidade em curar-me da bulimia através dos mecanismos oferecidos pelo cristianismo bíblico não era uma função da minha própria deficiência espiritual, mas deficiências da religião evangélica em si.
A Dra. Marlene Winell é uma consultora em desenvolvimento humano na região de São Francisco. Ela também é a filha de missionários pentecostais. Esta combinação tem dado a seu trabalho um foco incomum. Nos últimos vinte anos, ela tem aconselhado homens e mulheres em recuperação de várias formas de religiões fundamentalistas, incluindo as Assembleias de Deus, na qual foi criada. Winell é a autora de Deixando o Rebanho – Um Guia para os Ex-Fundamentalistas e Outros Deixando suas Religiões, escrito durante seus anos de prática privada em psicologia. Ao longo dos anos, Winell prestou assistência a clientes cujas experiências religiosas foram ainda mais prejudiciais do que a minha. Alguns deles são pessoas cujos sintomas psicológicos não foram apenas exacerbados pela sua religião, mas, na verdade, causadas por ela.
Dois anos atrás, Winell causou comoção ao formalmente classificar o que chama de Síndrome do Trauma Religioso (STR) e começou a escrever e falar sobre o assunto para o público profissional. Quando a Associação Britânica de Psicólogos Comportamentais e Cognitivos publicou uma série de artigos sobre o tema, membros de uma associação de aconselhamento cristão protestou sobre o que chamaram de atenção excessiva a um “assunto relativamente de nicho”. Um comentarista escreveu: “Uma religião, fé ou livro não pode ser abusivo, mas o povo interpretando pode fazer qualquer coisa abusiva”.
Religião tóxica é simplesmente um questão de má interpretação? O que é trauma religioso? Por que Winell acredita que trauma religioso mereça seu próprio rótulo diagnóstico? Eu perguntei tudo isso a ela. Continuar lendo →