Feliz Dia Bissexto!

Este ano é um ano bissexto e hoje é o seu dia.

Celebremos! Essa data só ocorre a cada 4 anos, e mesmo assim nem sempre.

Sistema Solar

Reprodução do Sistema Solar (não em escala)

Contudo, alguns Mórmons não gostam muito de anos bissextos.

Entenda por quê:

Alguns Mórmons acreditam que a Terra foi criada há 6 mil anos atrás, antes do Sol e da Lua e dos demais planetas, que foram criados para adornar a Terra em si. Alguns até acreditam que o Sol e a Lua são esferas habitadas assim como a Terra. Esta criação recente teria sido harmoniosa e perfeita,  e alguns acreditam que Deus desceu à Terra com uma de suas muitas esposas plurais para tomar forma mortal e vir habitar o meio-oeste Norte-americano para popular a Terra.

Os fatos cientificamente demonstráveis, contudo, provam que não foi isso que aconteceu.

ORIGENS

O nosso sistema solar nasceu de uma coleção amorfa de gás composto por elementos expulsos de uma explosão de supernova. Hidrogênio em sua grande maioria, com alguma quantidade Hélio, um pouco de Carbono e Oxigênio, e traços de outros elementos mais pesados. Uma ou várias perturbações gravitacionais causadas por algum sol ou sóis passando pela vizinhança ou outras explosões de supernovas agitaram esse gás, concedendo-lhe rotação que eventualmente levaria a formação de um disco de gás achatado. Gravidade e momentum angular levaram elementos a se colidirem com cada vez maior frequência e violência no centro do disco, aglomerando-se em massa até formar o proto-sol que, sob o crescente peso de sua própria gravidade, inflama-se em fusão nuclear sob a tremenda pressão, tornando-se um sol. O nosso Sol.

Enquanto isso, aqueles elementos no disco de gás também vão se aglomerando em determinados segmentos, formando pequenas unidades gravitacionais em si, ora como moléculas, ora como pedregulhos, ora como pequenas bolas de gás, que com tempo, gravidade, e colisões vão unindo-se, crescendo, e formando planetóides e proto-planetas.

A Terra, nossa Terra, um dos planetóides rochosos, evoluiu assim por milhões de anos até coalescer no planeta que viria a ser há aproximadamente 4,5 bilhões de anos atrás. Um outro planeta, também em sua formação inicial, coincidentemente entra no rumo de órbita da Terra, impactando-lhe violentamente, fundindo-se à ela com a violência da colisão, e expulsando material de nosso centro à órbita ao seu redor. Esse impacto não apenas alterou a inclinação da rotação terrestre sobre seu próprio eixo (ou, como chamamos, revolução, em si uma consequência do momentum angular de todo disco planetário) para 23,5 graus inclinados referente ao plano de rotação do disco planetário, como permitiu a formação do nosso satélite natural, a Lua, através da coalescência dos detritos terrestres ejetados por ele. Essa inclinação na revolução nos legaria as nossas temporadas sazonais (o que, bilhões de anos depois, nos permitiria a invenção da agricultura) devido a variabilidade de exposição às radiações solares nos respectivos hemisférios norte e sul durante o translado terrestre em órbita ao Sol, e essa Lua nos legaria uma estabilidade orbitacional e de revolução, através de sua influência gravitacional e resultante acomplamento de maré, que permitiria essa sazonalidade ciclica e previsível.

ANOS BISSEXTOS

Desde a invenção da agricultura há 12 mil anos atrás, seres humanos se ocupam com a manutenção do tempo para conseguir planejar e coordenar esse empreendimento fundamental para qualquer civilização humana modestamente maior que uma tribal de caçadores e coletores. Todas as civilizações na Antiguidade prontamente desenvolveram calendários, ora baseados na posição do Sol relativo às estrelas visíveis, ora baseados nas fases da Lua (essas determinadas pela posição da Lua relativa ao Sol em sua rotação em órbita pela Terra e à Terra em relação à sua translação em órbita pelo Sol). Medir a passagem do tempo com os marcadores celestes era a óbvia, e possivelmente única, ferramenta numa época antes da tecnologia moderna de relógios mecânicos, eletrônicos, ou os atuais atômicos.

Mitologias e crenças mitológicas foram criadas para explicar, racionalizar, ou (como método didático) ensinar às novas gerações os meandros de tais calendários em sociedades pré-literárias. Assim, por exemplo, uma semana ganhou 7 dias e um mês 28 dias para coincidir com as 4 principais e mais óbvias fases da Lua nos vários calendários Assírios, Babilônicos, e eventualmente, Hebreu. Porém, alguns problemas logísticos com essa forma de calendário lunar tornaram-se patentes com a passagem do tempo. Em primeiro lugar, 13 meses de 28 dias não se ajustam bem ao ano terrestre, pois o translado da Terra em órbita ao redor do Sol dura aproximadamente 365,25 dias, e não 364 redondos, e 4 fases de 7 dias não traduzem bem o translado médio da Lua ao redor da Terra de aproximadamente 29,5 dias. Em segundo lugar, os Antigos enxergavam apenas 12 formações aleatórias imagináveis de estrelas denominadas constelações no plano do eclíptico (o plano do disco planetário, por onde o Sol “parece” passar para um observador terrestre), o que os levava a formar 12 meses, ao invés de 13, nos seus calendários baseados no corpos celestes. (Não à toa, surgiram mitologias sobre 12 tribos, 12 trabalhos, 12 deuses, etc., em várias culturas.) Como a quantidade de dias nos meses e nos anos não batia com o tempo de translado da Terra ao redor do Sol, com o passor das décadas as datas que marcariam os ritmos agrícolas e as estações acabavam se alterando, mudando o início das temporadas e dos plantios, e tornando todo o seu propósito básico inútil. Várias medidas ad hoc foram introduzidas, como a adição de dias aos meses (29 ou 30 dias, ao invés de 28) e a criação de semanas ou meses extras adicionados episodicamente. No calendário Hebreu, por exemplo, adicionava-se um mês extra a cada 2 ou 3 anos, até 7 vezes a cada 19 anos.

Confusões à parte, e pulando várias evoluções históricas no mundo ocidental (entre as quais, as mais importantes foram as intervenções do Ditador Romano Caio Júlio César em 46 AEC e do Papa Católico Gregório XIII em 1582 EC), atualmente nós equilibramos essas idiossincrasias nas nossas órbitas celestes calculando o nosso tempo terrestre com meses irregulares de 28, 30, e 31 dias e semanas regulares de 7 dias (como artefatos históricos) e anos de 365 dias com um dia adicional a cada 4 anos (para um total de 366 dias), excetuando-se um desses a cada 100 anos e adicionando ainda um outro a cada 400 anos.

E por isso hoje é 29 de fevereiro!

Como se pode ver, a “criação” da Terra, do nosso sistema Terra-Lua, e do nosso sistema Solar é um produto de acasos e coincidências de processos naturais que nós não apenas podemos calcular e medir com enorme precisão, como podemos observar ocorrendo em incontáveis outros sistemas e até outras galáxias. Nada disso era remotamente imaginável há 2 mil, mil, 500, ou mesmo 200 anos atrás. Há um século nós ainda imaginávamos que a nossa Galáxia era a totalidade do Universo, e hoje conseguimos visualizar, contar, fotografar, e estudar centenas de bilhões de outras galáxias. A “bissextalidade” do nosso calendário é uma pequena ilustração da beleza caótica e randômica (e natural) da formação da nossa existência nesse imenso Universo. Infelizmente, ela contradiz as mitologias mnemônicas criadas para facilitar transmissão de conhecimentos mais primitivos sobre o Universo que se baseavam em conceitos de harmonia e premeditação intencional.

E isso sequer é o fim dessa história. Nós conseguimos calcular hoje, com alto grau de precisão e confiança estatística, que a velocidade de revolução terrestre está diminuindo progressivamente, o que significa que o Dia terrestre não será de 24 horas para sempre, mas será progressivamente mais longo. Igualmente, conseguimos calcular hoje, com alto grau de precisão e confiança estatística, que a Lua está se distanciando da Terra, o que significará em revoluções mais erráticas e menos estáveis, considerando uma redução considerável no acomplamento de marés. Todos esses fatos ilustram como a nossa concepção de como é o mundo hoje não passa da uma pequena fração da história do nosso planeta, especialmente quando contrastamos os bilhões de anos em formação contra os meros 10 ou 11 mil anos de civilizações com calendários e 5 ou 6 mil anos com história documentada. Assim como uma foto instantânea não pode nos oferecer nada além de uma representação fragmentar de como uma pessoa se parece (que dirá de como ela é ou age ou pensa), o nosso mundo é o que é hoje, e estamos vivos graça a isso, mas ele não surgiu nesse estado de graça e equilíbrio e tampouco se manterá sempre assim como está.

Hoje é um dia bissexto. Celebremos hoje a maravilha complexa e caótica do Universo e a absoluta beleza de estarmos numa rocha habitável banhada por uma fornaça nuclear ativa em cuja órbita relativamente estável vivemos os nossos curtos anos. Celebremos a maravilha do progresso do conhecimento humano nos últimos dois séculos que nos permite entender os incríveis processos naturais que nos trouxeram aonde estamos através dos bilhões de anos de mudanças graduais, e nos permitirão moldar o nosso futuro de uma maneira mais racional e mais coerente e sábia (e menos supersticiosa) que todos os nossos milhares e bilhares de antepassados. Guardemos as mitologias criacioniais de nossos antepassados como alegorias morais e artefatos emocionais que nos unem a eles. Nós não somos melhores ou mais inteligentes que eles, mas certamente somos mais afortunados em nossas capacidades racionais e científicas — e não podemos desperdiçar isso.

4 comentários sobre “Feliz Dia Bissexto!

  1. MITOLOGIA CRIACIONAL OU UMA VERDADE PARCIAL

    Gostei muito do texto e do trabalho de pesquisa apresentado,quase a nível de mestrado.
    Mas ao final em alusão a crença de outras secções humanas intitulou-a de MITOLOGIA CRIACIONAL me fez encaixar-me no mitológico também.
    Fica aqui a minha faísca de conhecimento e crença mitológica presente nas escrituras SUD e também nas diversas traduções dos escritos sagrados da Bíblia (mais de 100 diga-se).
    Permita-me analisar em meu entendimento mitológico o ponto de vista do “conhecimento humano” nos seguintes pontos:
    1 – O universo conhecido SE criou em um acaso caótico e derivado de forças naturais.

    2- em meio a este ACASO o planeta rochoso em que vivemos (único com características e condições naturais e físicas para manter e preservar a raça humana e a coexistência de milhões de outros seres vivos) em meio a outros milhões de mundos se criou e estabilizou sozinho.

    3- Nas teorias da criação já apresentadas o argumento para derrubar as outras “mitologias criacionais” foi – “DE ALGUM MODO ACONTECEU…” não conhecemos o final deste acontecimento e somo obrigados a raciocinar fazendo seguinte a indagação lógica – DE QUE MODO?

    4 – Que em argumentação pessoal o próprio Stephen Hawking admitiu que poderia estar errado em sua própria teoria…

    5 – Que a ciência e conhecimento humano que tão orgulhosamente não podemos abdicar é atribuída apenas ao homem, e não ao Criador em inspiração a centenas e mentes favorecidas com conhecimento crítico e Galileu a Albert Einstein.

    6- Que mesmo em meio ao caos e ao acaso da criação e da expansão provocada pelo big-bang há ORDEM (já provada pelos mesmos cientistas que apoiaram esta teoria) recomendo aos leitores o livro “O Andar do Bêbado” de Leonard Mlodinow.

    7- Que nas escrituras SUD há muito mais informações acerca do processo de criação do universo conhecido e desconhecido, do que na Bíblia em suas centenas de traduções.

    Em conclusão, a MITOLOGIA CRIACIONAL religiosa de nossos antepassados traz ao homem a necessária afirmação jamais citada por nenhum filósofo :
    – Faz parte deste conhecimento baseado na fé não deixar o homem saber tudo sobre si mesmo porque este conhecimento se completo, o destruiria.

    Teremos o conhecimento completo disto talvez em uma conversa pessoal com o criador, e em pergunta a ele do porquê de não deixado a humanidade saber de tudo, ele dirá:
    – Você pensa que é fácil criar e organizar todo este universo com milhões de mundos sem a ajudinha de um pouco da ORDEM EM MEIO AO CAOS.

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