Aquisição do Conhecimento que Salva

Eu apenas ouso repetir as palavras de Joseph Fielding Smith, quando o mesmo escreveu o que mais tarde viria a ser a coleção Doutrinas de Salvação. Eu sempre me questionei a respeito disso, sempre coloquei em xeque algumas das coisas que aprendemos durante nossa experiência na vida, especialmente a experiência como SUD. E, se me permitem, gostaria de desenvolver um pouco o assunto.

A aquisição de conhecimento é parte da vida do ser humano desde que ele entrou no mundo. Não me lembro, duvido que alguém lembre; mas deve ter sido uma experiência assustadora e ao mesmo tempo excitante sentir o ar gelado inflar os pulmões pela primeira vez, ao nascer. Deve ser por isso que os bebês choram tanto quando nascem. Não deve ser lá muito agradável no começo, mas realmente é uma dádiva incrível poder respirar. E como vítima de bronquite, sei bem o valor do ar.

Existe a promessa de que o evangelho seria pregado a todas as pessoas. Fato. Ele será. O conhecimento do evangelho de Jesus Cristo será levado a todas as pessoas. E lá vem a aquisição de conhecimento novamente. No entanto, esse conhecimento é de natureza diferente; isso porque mais hora ou menos hora ele será questionado. Se não por outras pessoas, por nós mesmos. E quando me refiro a conhecimento, refiro-me às escrituras e a outras centenas de volumes escritos (sim, estou sendo modesto) sobre A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. É coisa demais pra digerir, vamos concordar.

Voltando à nossa infância, todos nós sabemos que tem coisas que não valem a pena aprender. Todas as pessoas que têm um pouco de consciência não vão ensinar seus filhos a fumar ou beber. Tampouco matar ou roubar. São coisas declaradamente nocivas. Outras coisas não as são, mas as famílias as rejeitam por serem potencialmente nocivas – não andar com certos tipos de pessoas. Não é nada explicitamente ruim, mas algo ruim pode sair disso, sendo portanto rejeitado no cânon de experiências no crescimento.

Não seria a mesma coisa com o conhecimento SUD? Não estaríamos nós navegando por águas de certa forma desconhecidas? Porque não sabemos onde ancorar, nem ao menos se podemos ancorar em algum lugar, salvo àqueles lugares que são comprovadamente seguros para ficar. Lá nós podemos ir e vir, sem restrição. E, apesar do perigo do caminho, a visão de um porto seguro é animadora para qualquer um. E quem foi o bondoso que sinalizou o porto? Se disserem que foram pessoas que tiveram as mesmas experiências, eu ficaria grato. Mas não é o suficiente, porque uma outra questão vem: de onde veio essa experiência? Foi de um local seguro?

E enfim chegamos ao cerne da questão. A aquisição do conhecimento que salva. Porque, se estamos navegando em águas não bem conhecidas, não é todo lugar que interessa. Quem já estudou sobre naufrágios sabe o quanto é perigoso se aventurar por aí; mesmo os mais experientes navegantes têm muita cautela ao entrar em lugares onde nunca estiveram, porque, segundo eles, “o mar é vivo, e temos que respeitá-lo”. Para um navegante como esse, o que vale mesmo é saber por onde ir, sem oferecer riscos à sua tripulação e ao seu navio. Podemos dizer o mesmo de nossa aventura aqui. Digo isso porque há muito tempo venho lendo, ouvindo e até (quem diria, aventureiro?) discutindo pontos não muito “seguros”. Concordo que todo conhecimento é válido, mas será que é necessário? Navegar por águas desconhecidas é válido, mas nem sempre (ou quase nunca) é necessário.

Aprendi uma coisa com um professor de química que tive já faz alguns anos. Ele disse que são poucos os cientistas que fazem declarações de descobertas científicas revolucionárias, porque sabem que, no exato momento em que fizerem isso, vão ser bombardeados. Veja Einstein, por exemplo. Lá estava ele, desenvolvendo sua teoria da relatividade. Aceita por décadas. Quase inquestionável. Então vem o Acelerador de Hádrons. Aquela pilha de metal colorida e complicada. E um bando de cientistas dispostos a derrubar Einstein. E eles bem que tentaram. Mas Einstein continua falando a verdade. E sua teoria continua lá, dando a cara para quem quiser bater, provando ser um solo mais fértil do que se imaginava.

O mesmo se aplica à Igreja. Acredito que ninguém se exporia ao ridículo para nada. Se eu dissesse que vi Deus e Jesus Cristo hoje, e confirmasse essa crença, e desse minha vida por ela, provavelmente seria morto. Ou internado. Qualquer coisa assim. Joseph Smith fez, e deu a cara à tapa, e mesmo depois de sua morte, seu testemunho ainda faz frente ao mundo. Sério, eu nunca vi tantos esforços serem dirigidos para destruir uma religião como o fazem contra a Igreja SUD. E não se esforçariam tanto se não fosse verdade; eu tomo pelo satanismo ou mesmo outras religiões cristãs. O criticismo não aparece na mídia. As pessoas não apontam o dedo para seus membros (não com tanta frequência, falo de experiência própria) nem se dispõem a fazer vídeos e livros contra elas. Se há criticismo, é informal. Uma vez li um texto que falava, em sua essência, que os atos de quem ataca a Igreja confirmam sua veracidade. Esse criticismo leva à produção de gigabytes de informação duvidosa. É óbvio que existe muita coisa mal-explicada – muitas àguas não analisadas – que merece explicação, mas de quem detém o conhecimento. A nós, seria saudável mesmo especular? Isso nos salvaria?

O que nos joga de volta ao título. Aquisição do Conhecimento que Salva. Porque, em nossa navegação pelo mar do conhecimento, sair ancorando em qualquer lugar pode ser perigoso. Corais. Tenho medo deles. São bonitos, mas perigosos. Aparecem quando não se consegue vê-los. E quando se vê, é quase sempre tarde demais. Assim é conosco. Opinião humilde minha, devemos nos centrar em adquirir o conhecimento que nos salvará. Salvar do quê? Aí depende de cada um. Num geral, nos levar à presença de nosso Criador.

Minha humilde opinião novamente, é necessário aplicar mais do que o poder de nossa mente ao estudo. É necessário aplicar o Espírito Santo. Se precisamos de conhecimento com base, ele nos ajudará da melhor forma possível. Nos levar a portos seguros é sua especialidade. Eu, pessoalmente, sou do tipo de pessoa em que precisa confiar em algo, e a opção “eu mesmo” não é válida. Uma vez que, como já disse a um ilustre membro desse blog, estamos todos atirando coisas na parede para ver o que gruda. Eu atirei isso na parede, e grudou. Ainda está lá, grudado como arroz de principiante. E, até o momento, isso tem servido de guia para locais seguros. Me tem dado auxílio em minha jornada. Me tem concedido o conhecimento que salva.

E as pontas soltas, você pergunta? Ah, sim, as pontas soltas. Sempre tem uma, não é? Pode deixar, elas se amarram. Mais hora ou menos hora, elas se amarram. Porque sempre tem um satélite a descobrir um ponto novo do mar, onde podemos ancorar. E, quando pudermos, para lá nós vamos. Enquanto isso, vamos respeitar o mar. Ele é maior que a gente. E, definitivamente, ele não é um parque de diversões.

18 comentários sobre “Aquisição do Conhecimento que Salva

  1. Intressante.

    Até onde intendo, os mistérios de Deus podem ser revelados a todo aquele que crê.
    Porém, não buscarm o conhecimento (na minha opnião) seria um erro, uma vez que é nos ditos para fazermos um banquete das escrituras. As escrituras podem ser toda a palavra que sai da boca dos profetas é escritura (ou algo assim não lembro). É perigoso conhecimento sem espírito? Acredito que possa ser, mas é impossível estudar o evangelho e não sentir revelações do esprito. Também, é impossível que alguém que aprende, pare de aprender. Acho que o conhecimento é eterno e a fonte é infinita… sempre iremos aprender mais e mais. Onde existe revelação, sempre vai haver amplitude de conhecimento. Talvez enquanto alguns credos, se apeguem a texots específicos e fixem um limete para a revelação de conhecimento (não me refeiro a revelação pessoal) então, eles acabem por repetir muitas coisas durante muito tempo. O conhecimento do evangelho restaurado esta baseado no princípio da revelação e isto não tem fim…

    • Eu compreendo o que quer dizer, Heber. Na verdade, você tem a visão que eu quis expressar no meu texto. Na minha visão, o conhecimento que é perigoso obter é o do campo especulativo, aquele onde não se tem certeza, onde as “águas não são cartografadas”, ou seja: aquele conhecimento que não encontra base alguma; aqueles que o Senhor escolheu não revelar por inteiro ou aqueles onde a especulação reina. Concordo que as escrituras podem e devem ser estudadas com todo o afinco, e a revelação não para para aqueles que a buscam; mas o texto se refere ao risco da especulação somente. E, claro, obrigado pela atenção!

      • Sim, entendi.

        É verdade, eu li em um dos discrusos de BY onde ele diz, que o Senhor testa as pessoas dando conhecimento (restrito) para ver se vão revelar ou vão guadar o segredo. (Só não lembro bem a página) foi no BY em português traduzido pela igreja. Bom, então ele dizia que aqueles que souberem guardar as revelações que não são da ordem pública, irão receber maior conhecimento. Ele refere-se a mistérios de Deus, se assim o queres chamar…
        Então entendo que nem todo o conhecimento é público.

        Só não li no inglês…

      • Acho que a tradução daquela época é mais fidedigna do que a de hoje, Heber. E sobre o que você disse, é verdade. Tem muita coisa que o Senhor simplesmente dá “uma pontinha” e deixa você pensar sobre o resto. Como eu li essa semana, acredito que seja Dallin H. Oaks que disse “acreditamos em revelação contínua, não revelação constante. Não esperamos que sejamos guiados pelo Espírito em absolutamente todas as coisas”. Ponto interessante, muito obrigado pela contribuição.

      • Heber, Dallin H. Oaks é um apóstolo da Igreja, ainda vivo. Eu meio que adaptei as palavras dele, a citação inteira é essa, e foi dita numa Ensign de 1997, sob o título Teaching and Learning by the Spirit. Lá vai a citação: “Revelations from God . . . are not constant. We believe in continuing revelation, not continuous revelation. We are often left to work out problems without the dictation or specific direction of the Spirit. That is part of the experience we must have in mortality. Fortunately, we are never out of our Savior’s sight, and if our judgment leads us to actions beyond the limits of what is permissible and if we are listening, . . . the Lord will restrain us by the promptings of his Spirit.”

      • Nossa! Estou chocado…

        Vou explicar porquê, na igreja moderna é muito comum as pessoas estudarem, aprenderem, interpretarem etc… sempre de duas maneiras, ou por sí mesmas. (lógica analítica) ou por revelação do Esprito.

        Porém, percebo não ser uma prática toda vez que é ensinado o evangelho citar as escrituras correlacionadas para fundamentação do que é dito.

        Por exemplo,

        Eu sei que “Aconselha-te com o Senhro teu Deus em tudo o que fizeres e ele guiará para o bem…” enfim, não lembro a escritura mas ficou em minha mente o ensinamento.

        Outro ponto, este mundo é temporal, ou seja Cristo e o Pai não visitam ele frequentemente. Porém, na glória telestial é visitada pelo Espirito Santo.

        Para ter revelação, basta ter dignidade real e o Espirito da verdade.

        Ou seja, tudo que eu faço em minha vida é dirigido pela orientação do espirito do senhor. A não ser, nos momentos que eu escolho não ouvir. (indignidade). De outra forma é impossível não ser guiado por ele. Por exemplo, tudo que estudo, aprendo etc… do evangelho sempre vem como uma dose de revelação pessoal dada por ele.

        Então, está citação no meu ponto de vista foi um tanto “infeliz”. Pois não posso concordar com o fato que o Senhro nos deixa sem orientação, uma vez que o próprio Senhor disse que tudo que fazeis deveis fazer em meu nome e nada deveis fazer sem antes orar ao Pai em meu nome para que eu etc…etc…etc..

        Tenho feito isto um princípio de vida, uma doutrina de aprendizado de prática em fim.

        Crio que seja um outro ponto de vista, e que tais situações acontençam. Mas sei fielmente que uma pessoa que possuiu fé real, e que ora todos os dias que mantêm Deus em seus pensamentos é guiada por ele pela mão literalmente ! Em tudo que faça…

        (Mas é apenas minha opnião irmão não é pessoal)

      • Caro Heber, não fique chocado! A citação diz que a revelação não é constante, ou seja, o Senhor não nos dá diretrizes a toda hora em todos os assuntos, mas ele nos deixa pensar. Lembre-se do irmão de Jarede. E, no final, o Elder Oaks diz que se nossas ações não forem permissíveis e se tivermos ouvindo (seguindo sua comparação extremamente feliz com a dignidade), seremos restringidos pelo Espírito. Ainda nas palavras dele, não estamos fora da visão do Senhor. Mas, como um bom pai, chega uma hora que ele deixa de nos carregar e nos deixa andar sozinhos, só dando as direções conforme nosso progresso. Minha humilde opinião, claro!

      • Então, não falo por maldade, apenas, porque para mim nunca foi dessa forma. (Talvez eu não tenha sentido esta distância entre eu e o Pai ainda). Porque eu sempre sinto ele tão presente! Que me é impossível decidir algo sem sentir a opnião dele. Mas compreendi agora o que quis dizer, o (Oaks) porque de certa forma também vejo isso acontecer, com algumas pessoas a minha volta, sinto que tem momentos que eles não sabem exatamente o que fazer. Uma vez por exemplo, não recebi a assinatura da recomendação, porque o lider, apenas me disse que não sabia o que fazer, (era novo) e que não sentia o espirito dizer para ele o que fazer. Então é verdade! Talvez com minha visão radical não pude compreender o oque o Elder Oaks, tentou explicar, mas é assim. na leitura sempre perdemos boa parte da comunicação, talvez se eu tivesse escutado ele me falar pessoalmente sentiria de forma diferente 🙂

  2. No meu entender, é isto que aprendemos em Alma 26:22**, existem conhecimentos revelados à Igreja e conhecimentos revelados ao indivíduo por meritocracia!
    **”Sim, aquele que se aarrepende e exercita a fé e faz boas obras e ora continuamente sem cessar—a esse é permitido conhecer os mistérios de Deus; sim, e a esse será permitido revelar coisas nunca antes reveladas (…)”.

    E ao contrário do que entendi ter meu amigo Paulo dissertado, somado a dignidade pessoal, a especulação faz parte do processo de obtenção de conhecimento, portanto, não seria o tropeço ou “águas desconhecidas” como abordado. (Veja: latim: “speculum” significa espelho, reflexo. Podendo significar: “observar, indagar, pesquisar, explorar, refletir, meditar, raciocinar, contemplar, investigar, estudar teoricamente… )

    Pra mim , “conhecimento para salvar” são princípios de valores morais aplicados ao dia-dia, mas não devemos esquecer que se Deus conhece todas as coisas e ousamos o privilégio de um sermos como ele, devemos buscar todo o conhecimento possível nesta vida e na próxima, pois “Qualquer princípio de inteligência que alcançarmos nesta vida, surgirá conosco na ressurreição. E se nesta vida uma pessoa, por sua adiligência e obediência, adquirir mais cconhecimento e inteligência do que outra, ela terá tanto mais vantagem no mundo futuro.” (D&C 130:18-19)

    • Compreendo perfeitamente o que quis dizer, David. Nunca tinha pensado sobre isso por esse prisma; obrigado pela dica! Minha ideia, contudo é sobre o que acontece muito hoje por aí: as pessoas acabam especulando (o que é saudável) e tomando uma opinião como doutrina. Todos já vimos isso. Acho que, se querem especular, que seja. Só não saiam falando por aí como se vendessem peixe. 😉

    • Talvez, David, eu não tenha sido tão feliz em minha dissertação quanto gostaria. O que eu queria abordar era o caso de pessoas que tomam opiniões como doutrina. Sei lá se me fiz entender…

      • Então, isto é verdade! Agor foi eu quem te entendi. Algumas pessoas pegam opniões e transforma em doutrina. Já vi isso acontecer, por exemplo, na antiga ala onde nasci, tinha uma frase “um missionário envelhece 70 anos espiritualmente quando vai para missão”. Ou seja, alguém definiu e colocou um marco no progresso espiritual de todas as pessoas como se elas fosse “robozinhos” não tem como definir o quanto alguém irá ou não aprender na missão. Conheço pessoas que foram para a missão e não aprenderam nada. Assim, como conheço outros que foram, aprenderam muito mas não tão muito quanto outros. em fim.

        E so um exemplo de como uma frase especulativa tournou-se em doutrina.

        Acho que este é o ponto fundamental do seu texto Paulo.

        Especular sem fontes, sem base, sem verdade, com muitas incertezas e principalmente sem o espirito vai levar a isso…

        Porém, espcular pela razão correta com o espirito da verdade vai levar a evolução etc…. enfim

        Posso estar redondamente enganado em tudo que eu falei aqui!

        Não sou perfeito e não sou profeta.

        🙂

      • Que bom que me fiz entender! Fico feliz de ter edificado alguém.
        Eu agradeço sua participação, elas me levaram a reflexões interessantes. Muito interessantes. E, se você não é perfeito, bem-vindo ao clube! Estamos todos aqui “atirando coisas na parede pra ver o que gruda”. Cara, adorei essa frase! Não se constranja e continue em frente!

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