Spencer Kimball: Caim é o Pé Grande?

O personagem bíblico Caim, filho de Adão e Eva, e irmão-assassino de Abel, seria o lendário Pé Grande, ou Sasquatch, do folclore norte-americano?

Spencer W Kimball, 12º Presidente d´A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias esclarece.

Spencer W. Kimball, Presidente d´A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (1973-1985) e Apóstolo (1943-1973)

O Presidente Spencer W Kimball explicou a questão com clareza em seu famoso livro ‘O Milagre do Perdão’, publicado por décadas pela Igreja SUD aqui no Brasil¹:

A instância do primeiro assassinato é instrutiva. Embora tenha sido cuidadosamente ensinado o evangelho por seus pais, Caim “amava a Satanás mais do que a Deus”. Ele se tornou rebelde, “carnal, sensual, e diabólico.” Caim se tornaria o pai das mentiras de Sataná e seria chamado de perdição. Seu pecado culminante foi o assassinato de seu irmão Abel, o que ele fez através de aliança secreta com Satanás e para obter as posses de Abel. Como punição, o Senhor consignou o iníquo Caim a ser um fugitivo e um vagabundo e colocou uma marca sobre ele que revelaria sua identidade.

Sobre o triste personagem Caim, uma história interessante nos chega do livro de Lycurgus A. Wilson sobre a vida d[o Apóstolo] David W. Patten. Do livro, cito um extrato de uma carta d[o Presidente da Estaca de Utah] Abraham O. Smoot, que relembra o relato de David Patten sobre o encontro “de uma pessoa extraordinária que se apresentava como sendo Caim.”

“Enquanto eu andava pela estrada em minha mula, repentinamente notei um personagem muito estranho andando ao meu lado … Sua cabeça estava quase à altura dos meus ombros enquanto estava sentado na sela. Ele não usava roupas, mas estava coberto de pêlos. Sua pele estava muito escura. Perguntei-lhe onde ele morava e ele respondeu que não tinha casa, que ele era um andarilho na terra e viajava para lá e para cá. Ele disse que ele era uma criatura muito infeliz, que ele havia procurado seriamente a morte durante sua permanência na Terra, mas que ele não conseguia morrer, e sua missão era destruir as almas dos homens. Nessa hora em que ele se expressou assim, eu o repreendi em nome do Senhor Jesus Cristo e em virtude do santo sacerdócio, e ordenei que ele fosse embora, e ele imediatamente saiu de minha vista…”

Além das publicações curriculares, poucas são incluídas entre os livros publicados pela Igreja SUD traduzidos para o português. Esse livro de Spencer W. Kimball foi escolhido para ser um desses, e ainda é citado em manuais oficiais atuais, é publicado e vendido pela Igreja até hoje com entusiasmo²:

Em ‘O Milagre do Perdão’, o Presidente Spencer W. Kimball dá uma explicação penetrante do arrependimento e do perdão e esclarece as suas implicações para os membros da Igreja. Sua abordagem aprofundada mostra que a necessidade de perdão é universal; retrata as várias facetas do arrependimento; e enfatiza alguns dos erros mais graves, em particular sexuais, que afligem ambos a sociedade moderna e os membros da Igreja.

Como reflete essa citação de Spencer W Kimball nas crenças de membros da Igreja hoje?

Quão representativas são esse ensinamento de Kimball do que a Igreja prega hoje?

Qual significância pode-se atribuir ao fato da Igreja ainda publicar esse ensinamento, até na língua portuguesa?


NOTAS
[1] Kimball, Spencer W., O Milagre do Perdão, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1969, cap. 9, (Impresso no Brasil, ênfases nossas)
[2] Propaganda no site da editora da Igreja SUD ‘Deseret Book‘.

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5 comentários sobre “Spencer Kimball: Caim é o Pé Grande?

  1. Este relato foi publicado em uma biografia de Patten escrita por Lycurgus Wilson em 1900. Wilson tinha uma carta de Abraham Smoot dando sua lembrança do que Patten disse. Na linguagem histórica, isso é o que se chama de uma conta tardia de terceira mão – o tipo de coisa que a maioria dos historiadores rejeitaria. Esse tipo de testemunho é simplesmente não confiável, contaminado pela passagem do tempo e pela neblina da memória.

    Além da falta de confiabilidade histórica da declaração, ela também entra em conflito com o registro das escrituras em alguns aspectos. Primeiro, Gênesis registra que, durante o dilúvio, “morreu toda a carne que se movia sobre a terra, … todo homem. … Toda substância viva foi destruída …, tanto homem como gado. … E Noé permaneceu apenas vivos e os que estavam com ele na arca “(Gn 7: 21-23). Nenhuma explicação é oferecida sobre como Caim teria sobrevivido ao dilúvio, ou por que ele deveria ser uma exceção à destruição generalizada.

    Além disso, não há no registro bíblico o Senhor “amaldiçoando” Caim com imortalidade, seria o único exemplo de uma pessoa iníqua recebendo essa bênção incomparável, quando, em todos os outros casos, é reservada apenas aos mais justos.

    A maldição imputada diretamente a Caim está registrada em Gênesis 4:11-12, que diz: “E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da tua mão o sangue do teu irmão. Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra.”

    Da análise da maldição, percebe-se que não há afirmação que ele não morrerá.

    Além disso, há uma “maldição condicional” aos que matarem Caim, em Gênesis 4:15, que diz: “O Senhor, porém, disse-lhe: Portanto qualquer que matar a Caim, sete vezes será castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que o não ferisse qualquer que o achasse.”

    Então, já que ele não estava “amaldiçoado” com a imortalidade e nem havia interesse de ninguém em matá-lo, por medo da maldição, o mais lógico a se pensar é que ele tenha morrido com o passar do tempo.

    Note também que no relato de Wilson acima, Patten nunca identifica a figura misteriosa como Caim. Portanto, mesmo que concedêssemos a estória como correta, ela não nos informa de forma alguma sobre Caim. A ideia de que Caim ainda anda na terra é simplesmente folclore.

    Sobre as questões levantadas no final do artigo:

    Como reflete essa citação de Spencer W Kimball nas crenças de membros da Igreja hoje?
    R: É um assunto em geral desconhecido no círculo de membros que convivo, os poucos que conhecem não levam a sério esse relato como sendo Caim.

    Quão representativas são (sic) esse ensinamento de Kimball do que a Igreja prega hoje?
    R:Dentro das publicações oficiais da Igreja, esse ensinamento é exceção, haja vista que não há nenhum outro material que endosse esse ensinamento.

    Qual significância pode-se atribuir ao fato da Igreja ainda publicar esse ensinamento, até na língua portuguesa?

    R: Por ser muito controverso, entendo que não há significância neste ensinamento, o que é mais significante neste livro é os precisos ensinamentos sobre arrependimento e a expiação de Cristo.

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