Dízimo e a Profecia Esquecida

Em 1907, o Presidente da Igreja Joseph F. Smith profetizou, em discurso durante a Conferência Geral de abril daquele ano, que chegaria o dia em que a Igreja não precisaria mais cobrar dízimos de seus membros.

Joseph F. Smith (1838-1918), n.d. | Imagem: Cortesia da Biblioteca de História da Igreja

Após elogiar a fidelidade dos membros em pagar o dízimos, Joseph F. Smith afirmou que era um imperativo moral e meta última da Igreja descontinuar essa cobrança tão logo tivesse a situação financeira para se sustentar sem dízimos:

antecipamos ver o dia em que não precisaremos pedir de vocês um dólar de doação para qualquer finalidade, exceto o que vocês quiserem oferecer por suas próprias vontades, porque teremos dízimos suficientes no armazém do Senhor para pagar tudo o que for necessário para o avanço do reino de Deus.

Joseph F. Smith (1838-1928) foi o sexto presidente d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Sua vida foi grandemente marcada pela perda de seus pais: quando Hyrum Smith foi assassinado na cadeia de Carthage, Joseph F. Smith tinha apenas cinco anos; quando sua mãe, Mary Fielding Smith faleceu, em 1852, ele tinha 13. Tais experiências traumáticas deram a Joseph F. Smith um temperamento forte e uma infância e juventude marcadas pela pobreza.

Em seu discurso de abril de 1907. Joseph F. Smith afirmava:

“Quero dizer aos meus irmãos e irmãs aqui nesta manhã que, em minha opinião, nunca houve um tempo em que os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias vivessem uma vida melhor, fossem mais fiéis e diligentes do que eles são hoje. Temos vários meios de julgar isso.

Uma maneira muito precisa de se saber disso é o fato de que a lei do dízimo está sendo observada. Creio que nunca houve um tempo na história da Igreja em que a lei do dízimo fosse observada de maneira mais universal e honesta do que a dos atuais santos dos últimos dias. Os dízimos do povo durante o ano de 1906 superou os dízimos de qualquer outro ano. Esta é uma boa indicação de que os santos dos últimos dias estão cumprindo seu dever, que têm fé no Evangelho, que estão dispostos a guardar os mandamentos de Deus e que estão trabalhando em linha com mais fidelidade, talvez mais do que nunca. Quero lhes dizer outra coisa, e o faço por meio de parabéns, ou seja, que temos, pela bênção do Senhor e pela fidelidade dos santos em pagar o dízimo, podido pagar nossos vínculos de endividamento. Hoje, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias não deve um dólar que não possa pagar de uma só vez. Finalmente, estamos em uma posição que podemos pagar à medida que avançamos. Não precisamos mais pedir emprestado, e não teremos que fazer isso mais se os santos dos últimos dias continuarem vivendo sua religião e observando essa lei do dízimo. É a lei da receita para a Igreja.

Além disso, quero lhes dizer que podemos não ser capazes de alcançá-lo imediatamente, mas antecipamos ver o dia em que não precisaremos pedir de vocês um dólar de doação para qualquer finalidade, exceto o que vocês quiserem oferecer por suas próprias vontades, porque teremos dízimos suficientes no armazém do Senhor para pagar tudo o que for necessário para o avanço do reino de Deus. Quero viver para ver esse dia, se o Senhor poupar minha vida. No entanto, não faz nenhuma diferença, se eu vivo ou não. Essa é a verdadeira política, o verdadeiro propósito do Senhor na administração dos assuntos de Sua Igreja.

Parte desse dicurso foi citado no manual História da Igreja na Plenitude dos Tempos, do Instituto de Religião da Igreja SUD, especificamente aquela na qual ele comemora que a Igreja não mais estivesse endividada, graças aos pagamentos do dízimo. A menção absolutamente ignora a profecia de que a Igreja não mais cobraria dízimos de seus membros quando não mais precisasse deles. Mesmo que se
argumente sobre a relevância ou não da parte omitida, é importante notar que o trecho mais marcante de seu discurso nunca tenha sido citado em nenhum material publicado pela Igreja moderna.

A coletânea de discursos de Joseph F. Smitha utilizada pela Igreja como parte de sua série Ensinamentos dos Presidentes da Igreja, entre 2000 e 2001, por exemplo, igualmente ignora a profecia feita por de ele em 1907. Ironicamente, outro volume da série, usado na década seguinte e trazendo os ensinamentos de Lorenzo Snow (1814-1901), trouxe uma omissão similar – e talvez ainda mais explícita – acerca do tema do dízimo.

Lorenzo Snow, antecessor de Joseph F. Smith como profeta, havia pregado na Conferência Geral de outubro de 1899 “que todo homem, mulher e criança que tem recursos pague um décimo de seus rendimentos como dízimo“ (ênfase nossa), mas o manual atual propositadamente cita Snow omitindo
a qualificação “que tem recursos”. A omissão do trecho parece reforçar a obrigatoriedade do pagamento do dízimo integral, independente das condições financeiras de um membro.

Curiosamente, a Igreja SUD, que tem demonstrado em anos recentes uma maior honestidade intelectual acerca de muitos temas históricos de seu passado, parece avessa a demonstrar a mesma honestidade no que se refere ao tratamento das declarações profética sobre o dízimo que apontem para sua natureza temporária, indicada por Joseph F. Smith.

Uma versão anterior deste post havia sido publicada em nosso site aqui.

2 comentários sobre “Dízimo e a Profecia Esquecida

  1. As dízimas eram para o Templo judaico e para mais nada o templo não existe a séculos e o dízimo é errado em todo o mundo de hoje.

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