Judas e a História

A (in)Confiabilidade das Informações Transmitidas pelas Escrituras.


Quando falamos em escrituras, consideramos elas como fontes seguras para entendermos a vontade de Deus, conhecer seus estatutos e um mapa para voltarmos a viver com Deus. O Livro de Mórmon chama as escrituras de “Barra de Ferro”, ou o que conhecemos hoje, um “corrimão” que nos conduz em segurança pelas tribulações da vida. Apesar dessa ser a ideia geral, as pessoas tendem depositar uma confiança excessiva nas escrituras, confiança essa que pode trazer erros de entendimento quanto às coisas de Deus.

A Última Ceia por Carl Heinrich Bloch (1834 – 1890), focando na conspícua saída de Judas da ceia

A Última Ceia por Carl Heinrich Bloch (1834 – 1890), focando na conspícua saída de Judas da ceia

Há vários tipos de informação nas escrituras:

  1. Informações históricas – Essas informações fornecem o contexto social, político e cultural que os eventos estavam inseridos;
  2. Revelações de Deus – Tais informações são as transcrições das mensagens que os profetas teriam recebido de Deus;
  3. Opiniões pessoais – Esse sem dúvida é o aspecto que a maioria das pessoas não acreditam, ignoram ou não pensam a respeito e este será o tema principal deste artigo.

Costumamos aprender no seminário sobre a inefabilidade das escrituras (claro, quem iria acreditar num livro que contém erros?. Usa-se no meio cristão uma escritura atribuída a Pedro que diz:

“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.” (2 Pedro 1:20-21)

O  Guia de Estudo das Escrituras (GEE) promove o mesmo entendimento:

Bíblia

Coleção de escritos hebraicos e cristãos que contém revelações divinas. A palavra Bíblia significa “os livros”.  A Bíblia é obra de muitos profetas e autores inspirados, que agiram sob a influência do Espírito Santo (2 Ped. 1:21).

Assim, justificamos que as escrituras são totalmente revelações de Deus e portanto, perfeitas, sem erros e que devem ser seguidas sem questionamentos. Tal interpretação é completamente equivocada.

Como pode ser verificado, Pedro é bastante claro ao afirmar que as profecias foram escritas por inspiração de Deus, ou seja, ele não diz que todas as escrituras, incluindo aqui as informações históricas e opiniões pessoais dos profetas, foram escritas por meio de inspiração de Deus, mas que as profecias foram. As profecias qual Pedro se refere são as profecias sobre a vinda de Cristo e a consequente apostasia da Igreja (que ja se encontrava em curso), notadamente uma reprimenda contra as doutrinas que Paulo começou a pregar.

Outro aspecto histórico que deve ser ressaltado é que quando Pedro disse isso, de forma alguma queria justificar que o Novo Testamento fosse escrituras sagradas dadas por meio de revelação, justamente porque não existia “Novo Testamento”. O surgimento do Novo Testamento se deu décadas mais tarde, quando as Igrejas Cristãs começaram a usar os escritos dos apóstolos e os escritos atribuídos aos apóstolos como escrituras.

Para se ter uma ideia, seria o mesmo que pegar alguns discursos e cartas absurdas que os profetas de nossa época já falaram e escreveram (por exemplo: aqui, aqui, aqui e aqui) e colocar isso como “escritura e revelação de Deus”.

Percepção Pessoal

Assim vemos que relatos de guerra, comportamentos pessoais, percepções de catástrofes e outras situações, podem ser atribuídas a Deus pelo escritor, porém não realmente ser de Deus.

O exemplo mais icônico sem dúvidas é Josué e o Sol orbitando a Terra:

“Então Josué falou ao Senhor, no dia em que o Senhor deu os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, e disse na presença dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeom, e tu, lua, no vale de Ajalom.
E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isto não está escrito no livro de Jasher? O sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro. E não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, ouvindo o Senhor assim a voz de um homem; porque o Senhor pelejava por Israel.”” (Josué 10:12-14)

Acredito que não preciso explicar sobre a Terra não ser plana e o sistema geocêntrico já ter sido descartado há alguns séculos. Algumas pessoas também tentarão justificar que foi a Terra que parou de girar e não o Sol. Não vou entrar no mérito dessa questão e o por que ela é uma bobagem. Porém, levando em consideração que de alguma forma o dia ficou prolongado, do ponto de vista de Josué, foi o Sol que parou e atribui isso ao poder de Deus.

Com esse exemplo, fica claro que as percepções pessoais dos escreventes são passadas para seus escritos e assim não podemos esperar que eles sejam fidedignos aos fatos ou mesmo imparciais.

Assim, devemos usar as escrituras para aprendermos coisas importantes sobre a crença e as coisas de Deus no passado, porém devemos ter em mente também que estamos lendo a visão parcial e particular de uma pessoa que pode não corroborar com a realidade dos fatos.

Assim, há que se falar sobre o personagem mais odiado pelo mundo cristão, Judas Iscariotes.

Quem foi Judas Iscariotes?

Judas Iscariotes foi um dos doze apóstolos de Cristo. Ficou conhecido e odiado para sempre na teologia cristã como o “homem que traiu Deus”.

Seu nome é uma incógnita, a origem etimológica de seu nome divide opiniões. Uma das hipóteses é que sua origem é política e vem de “sicários”, nome dado por usarem a “sicae”, uma espécie de adaga pequena ou punhal. Os sicários eram uma ramificação dos Zelotes (grupo rebelde que lutava contra o domínio romano sobre os Judeus), extremistas e o primeiro grupo organizado de assassinos (mais antigo que os ninjas japoneses e dos Hashashin, ou Ordem dos Assassinos, no Irã).

Há outras hipóteses, como “natural de Queriote” ou até mesmo a expressão aramaica “sagar” que significa “mentiroso, falso”.

Usarei a critério de trabalho e crença pessoal, a primeira definição. Ela faz muito sentido, primeiro, porque é completamente cabível que um dos apóstolos fosse ao menos um Zelote, porém Judas é diversas vezes comparado com Lucifer e chamado de “assassino” e “ladrão”. Vemos muito isso no Evangelho de João e no livro de Atos dos Apóstolos (também aparece nos Evangelhos Sinóticos). O nome do apóstolo que mais aparece na Biblia é Simão Pedro, o segundo é Judas. Isso mostra a tendência dos apóstolos e líderes da Igreja nutrirem um profundo desprezo por Judas, nao apenas por conta de sua suposta traição, mas também em virtude de seu passado como soldado rebelde dos sicários.

Pela ótica de todos os apóstolos, Judas era homicida, ladrão e em Atos e em João é dito que Satanás o possuiu.

O Apóstolo James E. Talmage escreve em seu livro Jesus o Cristo¹:

“O por um preço e cumpriu seu ato abominável com um beijo. Pôs termo à vida de culpas com repulsivo suicídio e seu espírito partiu para o destino terrível reservado aos filhos de perdição.

(…)

A despeito da opinião de críticos modernos em relação ao bom caráter de Judas, nós temos o testemunho de João, que por quase três anos havia estado em íntimo companheirismo com ele, de que era ladrão (12:6); e Jesus a ele Se referiu como um demônio (6:70), e como o “filho de perdição” (17:12). Veja-se, em relação a isso, D&C 76:41-48).”

Talmage dedica diversos trechos para explicar sobre os filhos de perdição usando principalmente os escritos de João. Porém, é interessante que Talmage não usa como argumento a inefabilidade da Bíblia, mas usa como argumento a escritura sendo “ponto de vista pessoal de João”, merecendo crédito pelo tempo que ele passou em convivência com Judas.

O antigo manual do Instituto (Manual do curso de religião 211 e 212 de 1976) diz apenas sobre Judas ser um traidor usando também como referência unicamente as escrituras.

Então, não seria errado concluir que doutrinariamente, o entendimento majoritário da Igreja SUD, bem como toda a grande gama de religiões cristãs, acreditam conforme relatado pelos evangelhos, que Judas é um traidor.

Vamos falar um pouco agora sobre alguns pontos não muito abordados por escritores SUD ou cristãos em geral. O Evangelho de Judas.

O Evangelho de Judas

Mencionada pela primeira vez por São Irineu em 178 EC. São Irineu foi a pessoa responsável por canonizar os Evangelhos, resolveu deixar alguns de fora pelo seu conteúdo “herético”. Entre os Evangelhos que foram deixados de fora, está o Evangelho de Judas.

Descoberto recentemente e traduzido há pouco mais de 10 anos, ele lança novos pontos sobre a história narrada pelos 4 evangelhos. Escrito originalmente em Copta Dialectal (uma mistura entre Grego e Egípcio) em meados do Século 2 EC, possui 26 páginas. Uma boa parte do pergaminho está ilegível, porém há algumas partes legíveis bastante interessantes.

O texto é claramente Gnóstico, um grupo cristão do primeiro e segundo século que acreditavam que o mundo foi construído por um Deus mau, Saklas, motivo pelo qual o Deus do Velho Testamento é tão diferente do Deus qual Jesus Pregava. Saklas seria um Deus intermediário e os rituais judaicos era feitos para esse Deus. Possivelmente esse era o motivo pelo qual Jesus menosprezava os rituais Judaicos e ria dos apóstolos. Com frequência ele dizia que tais rituais eram para o Deus deles e eles não faziam aquilo de coração, mas por obrigação. Colocando uma nítida separação entre os rituais para Seklas e o ritual para seu Pai.

O texto diz que a traição de Judas na verdade foi um pedido do próprio Jesus para que Judas o “libertasse da carne”:

“Mas você excederá a todos eles. Pois você sacrificará o homem que me reveste.”

O que talvez mais chame a atenção para um mórmon, é a menção por diversas vezes (16 vezes) comparando os apóstolos a estrelas. Judas tem um sonho com a apostasia e sua morte por apedrejamento pelos discípulos. Jesus então fala que os discípulos não iriam entender e nem aceitar, mas Judas precisava fazer o sacrifício do corpo fisico de Jesus e por isso ele seria destituído e se tornaria a “décima terceira estrela”, perdendo seu lugar para um novo que seria chamado (Matias).

O simbolismo de chamar os apóstolos de estrelas aparece no Livro de Mórmon:

“E estando desta maneira dominado pelo Espírito, foi arrebatado em uma visão e viu os céus abertos e pensou ter visto Deus sentado em seu trono, rodeado por inumeráveis multidões de anjos, na atitude de cantar e louvar a seu Deus. E aconteceu que ele viu Um que descia do meio do céu; e viu que o seu resplendor era maior que o do sol ao meio-dia. E viu também doze outros que o seguiam; e seu brilho excedia ao das estrelas no firmamento.” (1 Néfi 1:8-10)

Assim, o Livro de Mórmon confirma que o ministério de Jesus seria cercado por 12 grandes almas que seguiria Jesus, também diz:

“E disse-me: Recordas-te dos doze apóstolos do Cordeiro? Eis que eles são os que julgarão as doze tribos de Israel; portanto, os doze ministros de tua semente serão julgados por eles, pois sois da casa de Israel.” (1 Néfi 12:9)

O que há a favor de Judas?

O Evangelho de Judas não é o único documento que atesta uma possível missão cumprida por Judas a mando de Cristo e não de fato uma traição.

Se Judas fosse um “diabo”, ladrão e assassino, como Ele poderia estar contado entre os doze que julgariam Israel? A visão de Néfi é clara em afirmar que os 12 apóstolos que julgarão Israel são os 12 que andavam com Cristo, os 12 apóstolos originais. A visão de Néfi não fala sobre um traidor, pelo contrário, ele exalta os apóstolos.

Julgar as doze tribos e o papel importante de Judas sobre as “outras gerações”, é mencionado no Evangelho de Judas²:

“Judas narra uma visão e Jesus responde

Judas falou, “Mestre, como tu escutaste a todos eles, agora também escuta-me, pois eu tive uma grande visão”.

Quando Jesus ouviu isto, ele riu e disse-lhe, “Você décimo terceiro espírito, por que tenta tão esforçadamente? Mas fala, e eu serei tolerante contigo.”

Judas lhe disse, “Na visão eu me vi sendo apedrejado pelos doze discípulos, e que estavam perseguindo- [me severamente]. E eu também vim para o lugar onde […] depois de ti. Eu vi [uma casa…], e meus olhos não puderam [entender] seu tamanho. Grandes pessoas estavam cercando-a, e aquela casa [tinha] uma cobertura de folhagem, e no meio da casa havia [uma multidão — faltam duas linhas —], dizendo, ‘Mestre, leva-me juntamente com estas pessoas’”.

[Jesus] respondeu e disse, “Judas, tua estrela te extraviou.” Ele continuou, “Nenhuma pessoa de nascimento mortal é merecedora de entrar na casa que você viu, pois aquele lugar está reservado para o sagrado. Nem o sol nem a lua regerão lá, nem o dia, mas o sagrado habitará lá sempre, no reino eterno com os anjos santos. Olhe, eu te expliquei os mistérios do reino e eu te ensinei a respeito do erro das estrelas; e […] envie-o […] nos doze eons.”

JUDAS PERGUNTA SOBRE SEU PRÓPRIO DESTINO

Judas disse, “Mestre, poderia ser que minha semente estivesse sob o controle dos regentes?”

Jesus respondeu-lhe dizendo, “Vem, que eu […], mas isso você sofrerá muito quando você ver o reino e toda sua geração.”

Quando Judas ouviu isto, disse, “Qual foi o bem que eu recebi? Pois tu me separaste para aquela geração.”

Jesus, respondendo, disse-lhe, “Você se tornará o décimo terceiro, e será amaldiçoado pelas outras gerações—e você regerá sobre elas. Nos últimos dias eles amaldiçoarão sua ascensão para a [geração] santa.”””

Aqui Jesus teria falado a Judas que ele seria amaldiçoado pelas gerações, mas que Judas regeria sobre elas e elas amaldiçoarão quando verem Judas sendo salvo. Aparentemente, só teremos a certeza sobre a benfeitoria de Judas quando o virmos ser exaltado no Julgamento do Tribunal de Cristo.

JESUS FALA DOS QUE SÃO BATIZADOS E DA TRAIÇÃO DE JUDAS

Judas perguntou a Jesus, “Olha, o que farão os que foram batizados em teu nome?”

Jesus disse, “Verdadeiramente eu digo [a você], este batismo […] meu nome.´[…] para mim. Verdadeiramente [eu] digo a você, Judas, [aqueles que] ofereçam sacrifícios a Saklas […] Deus […] tudo que é mau.

“Mas você excederá a todos eles. Pois você sacrificará o homem que me reveste.

Seu chifre já foi elevado, sua ira foi acendida, sua estrela mostrou-se brilhantemente, e seu coração tem […].

“Verdadeiramente […] seu último […] torna-se [,,,], aflija […] o regente, desde que ele será destruído. E então a imagem da grande geração de Adão será exaltada, previamente para o céu, a Terra, e os anjos, aquela geração, que é dos reinos eternos, existe. Olhe, tudo foi dito a você. Erga teus olhos para cima e olhe para a nuvem e para a luz dentro dela e para as estrelas que a cercam. A estrela que conduz o caminho é a tua estrela.”

Judas ergueu os olhos e viu a nuvem luminosa, e entrou nela. Os que estavam em pé no chão ouviram uma voz que vinha da nuvem, dizendo, […] grande geração […]

Outro ponto que parece contrariar a lógica, é que Jesus conhecia o coração dos filhos dos homens. Conhecendo o coração de Judas e sabendo que ele era um ladrão, porque raios iria deixar a bolsa com dinheiro sob responsabilidade de Judas? Não faria sentido.

Por diversas ocasiões, o ensinamento de Cristo aconselhar a evitar situações que possam trazer tentações, bem como orar para que fosse retirada as tentações. Sendo que as ações de Cristo visam sempre o bem, porque deliberadamente ele deixar a bolsa das doações com Judas? Do meu ponto de vista, contraria a bondade de Cristo, pois conhecendo o coração de Judas, Cristo o estaria colocando em situação que o mestre sabia que Judas iria errar e trazer condenação para sua alma.

Outra parte estranha, é culpar Judas por ter sido “possuído pelo Diabo”. Se essa possessão fosse literal, seria injusto condenar Judas pelas ações de Lúcifer.

E por último, sabemos que os apóstolos pouco compreendiam os ensinamentos de Jesus e suas metáforas, seus simbolismos e até mesmo quando falava de maneira clara. Quando Jesus diz que daria o bocado molhado para aquele que haveria de traí-lo e dá a Judas, mandando ele sair e fazer depressa o que ele tinha que fazer, seria completamente insano achar que ninguém entendeu que Jesus havia dito que Judas iria traí-lo, mesmo porque houve um alvoroço entre os apóstolos após Jesus dizer que um deles iria traí-lo, cada qual perguntando quem seria. No Evangelho de Mateus, Judas questiona se seria ele e Jesus teria respondido “tu o disseste”. Já no Evangelho de João, Jesus parece que responde a Pedro “A aquele a quem eu der o bocado” e entregou a Judas.  João disse que nesse momento Satanás teria entrado no corpo de Judas.

“Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o bocado molhado. E, molhando o bocado, o deu a Judas Iscariotes, filho de Simão.

E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa. E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera isto.”” (João 13:26-28)

Não faz o menor sentido que os apóstolos não entenderam que Judas iria traí-lo. Aparentemente eles não entenderam o que Jesus mandou Judas fazer, o qual o propósito da missão.

É notório que João se achava especial, se autoproclamava o apóstolo que Jesus mais amava e provavelmente é o que ficou mais abalado com a suposta traição de Judas. Não poupando ofensas e comparando-o a Satanás. Até mesmo a oração intercessora de Jesus anotada em João 17, o apóstolo diz que Jesus falou que todos foram guardados, menos o Filho de Perdição para que se cumprisse a escritura. Talvez Jesus não tenha usado essa palavra, talvez ele tenha dito “filho perdido” ou “estrela perdida” (como ele referiu a Judas no Evangelho de Judas), ou mesmo a oração nunca tenha existido, já que os Pedro Tiago e João estavam dormindo na hora que Jesus proferiu a oração por “estarem com os olhos pesados”. Mateus narra que os apóstolos dormiam, então como poderiam ter anotado a oração?

As escrituras, assim como nossa vida pessoal, são impregnadas pela forma particular que o escritor tem de ver o mundo. Os Evangelhos enfrentam um outro problema nesse aspecto, pois aparentemente não foram escritos pelos observadores, mas pelos discípulos destes e em data muito posterior aos eventos. Até mesmo o Evangelho de Judas. Nenhum deles pode ser usados como fonte imparcial ou mesmo sem erros, pois os discípulos que escreveram, escreveram o que ouviram dos apóstolos, bem como com supostas adições, uma vez que diversos estudiosos da teologia cristã acreditam que os evangelho são plágios com adições particulares.

Conclusão

Enfim, não temos a certeza se Judas agiu em cumprimento às ordens de Jesus e os apóstolos não entenderam, ficando assim a Judas a missão mais difícil, perdendo apenas para a missão do Salvador, ou se ele foi realmente um mentiroso, ladrão e assassino. Porém, é interessante lembrar que quando lemos as escrituras, estamos vendo os fatos narradas pela lente de um observador ou um discípulo a quem foram transmitidos por meio de tradição oral os eventos, passando assim pela lente do observador original e pela lente do discípulo que reproduziu o texto. Tentar entender que essas lentes pessoais e individuais podem ter uma noção equivocada dos eventos. Os profetas e apóstolos não eram seres perfeitos, eram seres humanos que buscavam a Deus e nesse caminho, erros e percepções pessoais fazem parte da estrada do aprendizado e do caminho do aperfeiçoamento.

E você, leitor, qual sua opinião sobre Judas?


NOTAS
[1] Talmage, James E., Jesus, O Cristo, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Ultimos Dias, 1964, pp 179, 464.
[2] O Evangelho de Judas, tradução Huiracocha, Fraternitas Rosicruciana Antiqua

13 comentários sobre “Judas e a História

  1. O autor parte da premissa que a Igreja considera a bíblia sem nenhum erro, o que contradiz com a 8 regra de fe.
    Sobre a opinião pessoal daquele que escreveu a escrituras, no caso de Judas, foram todos os evangelhos, que seguiram o mesmo consenso que Judas era um ladrão e traidor.
    Jesus conecia o coração de Judas e por isto foi escolhido porque alguém teria que trai-lo para que se cumprisse as escrituras, mas como foi dito pelo Senhor: Mas ai daquele que assim o fizesse.

    • 1-) a 8ª regra de fé fala sobre a imperfeição da tradução (a que Joseph corrigiu uma parte) e não a imperfeição do texto original. Brigham Young não acreditava em algumas partes do texto original da Biblia o que contrariava a 8ª regra de fé. A Igreja contraria a 11ª Regra de Fé ao expulsar alunos que mudam de religião da BYU e apoiar leis civis contra os poligamos. Joseph Smith descumpriu a 12ª Regra de Fé por toda sua vida, fugindo de vários estados que possuía ordem de prisão. Sem contar que uma das condenações foi por tentar derrubar o governo dos EUA, o que ele planejava fazer com o Conselho dos 50. Então as regras de fé não são argumentos muito sólidos para defender algumas coisas.

      2-) Doutrinas de pré-destinação não é corroborada pela Doutrina oficial da Igreja. A doutrina oficial é que tudo o que Deus faz pelos homens é com o objetivo de salvar a alma deles. Se Jesus propositalmente fizesse judas cometer um pecado para que se cumprisse escrituras, Jesus estaria trabalhando pela condenação da alma de Judas, fazendo assim o papel de Lúcifer, o que destruiria a confiança na benevolência e altruísmo de Deus, o que também contraria a doutrina oficial SUD.

  2. Na verdade, Judas não precisava entregar Jesus porque ele nunca se escondeu, sempre falava em público e era conhecido por todos.

    Alguns estudiosos dizem que Judas foi usado por Jesus num plano em que este faria um grande milagre público que confirmaria sua messianidade. Como havia o antecedente bem sucedido de João 8:59, em que Jesus se ocultou (ficou invisível?) quando a multidão o cercou para apedrejá-lo, talvez algo parecido estivesse planejado.

    Será que Jesus e seus discípulos acreditavam numa libertação de Jesus por anjos, ou mesmo sua descida miraculosa da cruz? Note-se que Jesus pareceu profundamente decepcionado quando constatou que Deus não interviria para salvá-lo (Marcos 15:34).

    Outra hipótese, é que havia um plano para que os próprios discípulos libertassem Jesus e então atribuíssem, posteriormente, sua libertação a uma intervenção divina. Nesse caso, o plano teria falhado não por culpa de Judas, que fez corretamente sua parte, mas porque os outros participantes do plano não cumpriram seu papel.

    Nesse caso, talvez o plano de salvação de Jesus tenha falhado por culpa de Pedro, que ao ser identificado como seu seguidor, fugiu. O remorso de Pedro foi apenas por não ter confirmado as suspeitas de que era um dos discípulos, o que resultaria também em sua prisão, ou porque falhou em cumprir sua parte no plano?

    No final sobrou apenas para Judas, a quem foi atribuída toda a culpa pela morte de Jesus, sendo os demais discípulos inocentados.

    Por fim, registre-se que há uma lenda que corre desde os primórdios do cristianismo de que, na verdade, quem foi crucificado foi Judas, e não Jesus…

    Some-se a essa lenda o fato de os próprios evangelistas não se entenderem como foi a morte de Judas, pois em Mateus 27,5 diz que “se enforcou” , enquanto que Lucas em Atos relata que ele “se jogou de um barranco e se partiu ao meio” (Atos 1,18).

    Os teólogos tentaram conciliar essas duas versões incompatíveis dizendo que ele se enforcou mas a corda arrebentou-se (devia estar muito velhinha e Judas tinha comido muito na santa ceia…) e como o local era na beirada de um precipício (porque então ele não se jogou logo em vez de se enforcar?), ele caiu no buraco … (parece até as explicações dos mormons para as contradições da história da igreja e do livro de mormon)

    • Sim, por questão de tamanho da matéria eu nao coloquei a parte sobre a crucificação de Judas, mas o Al Corão defende que Jesus não foi morto e ao que parece, teria sido Judas o crucificado em lugar do mestre.

      • Desculpe mas nunca ouvi tamanha asneira. A Crucificado de Jesus Cristo foi prevista muitos séculos antes por vários profetas e testemunhando por vários outros que viveram com Ele. Ele é e foi a primicia dos que dormem. Ele abriu as cadeias da morte e permitiu assim o homem um dia ressuscitar dos mortos.

      • ruriknj

        Meu sincero respeito pela sua crença, porém estamos falando sobre fatos históricos e não sobre crenças pessoais alheia aos fatos. A Bíblia não é a única fonte histórica e outros livros são igualmente relevantes. Além de não ser a única fonte histórica, os fatos narrados podem nem ser verdadeiros. Outro fato histórico não abordado no texto é que existiram diversos “Jesus” históricos, alegando serem o Messias. O próprio livro “A Grande Apostasia” (ou Jesus O Cristo, não me recordo qual dos 2 exatamente) de James E Talmage fala sobre os outros que se proclamavam o Messias.

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