O Livro Selado de Mórmon e o Movimento da Parcela Selada

Em meados de dezembro de 2018, nós publicamos um artigo expondo mentiras que um Presidente de Estaca d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias andava espalhando sobre nós e o nosso site Vozes Mórmons.

Claudiomiro da Silva, Presidente da Estaca São José Brasil, no estado de Santa Catarina, foi flagrado em áudio mentirosamente acusando-nos de haver fundado uma nova igreja mórmon e de “menti[r] e denegri[r]” a Igreja SUD.

Foto espalhada pelo WhatsApp e nas redes sociais supostamente das placas de ouro encontradas pelo vidente mórmon Maurício Berger.

A Presidência da Área Brasil da Igreja SUD acabou emitindo nota oficial no dia seguinte ao nosso artigo, respondendo à controvérsia.  Além de mentir sobre o nosso envolvimento, e sobre a nossa ética acadêmica e jornalística, Silva também aproveitou para mentir sobre esse novo movimento mórmon em sua região da grande Florianópolis.

Surgido há cerca de dois anos em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, o novo movimento mórmon que afirma ter traduzido a “parte selada” do Livro de Mórmon está atualmente sediado em Santa Catarina, e ainda conta com membros no estado americano do Missouri, onde o processo legal para a formação de uma igreja já foi concluído. Joseph Fredrick Smith, bisneto do Profeta Joseph Smith Jr, foi ordenado  em junho p.p. como Profeta, Vidente, e Revelador, e consagrado e designado em outubro p.p., à “Presidência do Sumo Sacerdócio da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” pelo Vidente, Sumo-Sacerdote, e Tradutor brasileiro Maurício Artur Berger.

Os dons de Berger e a genealogia de Smith têm sido usadas pelo novo movimento mórmon como as principais evidências de sua autoridade divina. Berger afirma ter sido ordenado à autoridade no sacerdócio por ministração angélica, assim como o bisavô de Smith, o profeta fundador do mormonismo Joseph Smith Jr.

Apesar da origem “brighamita” do vidente brasileiro, Joseph F Smith parece influenciar fortemente a narrativa histórica adotada pelo movimento, notadamente pela noção de que Brigham Young teria usurpado os direitos espirituais da família Smith. Excomungado da Igreja SUD por suas afirmações acerca de tais eventos sobrenaturais, Berger afirma ter recebido as placas de ouro do Anjo Morôni, assim como a famosa espada de Labão, com instruções para traduzir a “parte selada” que Smith Jr teria sido proibido de traduzir em 1829. Berger ainda organizou três testemunhas que corroboram seu relato de visões angelicais e posse das placas de ouro (cujo testemunho escrito se pode ler na íntegra aqui), e possivelmente motivaram o relato de Silva de “quatro irmãos” ou “quatro homens” que prestaram “testemunho” em uma capela da Estaca São José, durante uma reunião de jejum e testemunho em outubro do ano passado.

Reproduzimos a seguir, em sua íntegra, o relato pessoal de uma testemunha ocular desses eventos, o nosso amigo e colaborador João Vendemiatti¹: Continuar lendo

Candidato Mórmon em Utah Apela para Antissemitismo, Livro de Mórmon

A única judia na Câmara dos Deputados do estado de Utah acusa o candidato mórmon a lhe fazer oposição nas eleições de hoje de usar sua fé para atacá-la.

Deputada Estadual Patrice Arent durante assembleia no legislativo de Utah Legislature. (Foto: Cortesia de Patrice Arent)

A Deputada Estadual de Utah, Patrice Arent, aponta para panfletos distribuídos pela campanha do candidato mórmon Todd Zenger como evidência de antissemitismo e de manipulação da fé mórmon para angariar votos. Continuar lendo

Cadê os Livros? Parte 2: O Período Inglês

A publicação de livros mórmons e o desenvolvimento da cultura mórmon fora dos EUA

literatura mórmon

Imagem: Jessica Ruscello

Esta apresentação examina o desenvolvimento cultural mórmon fora dos Estados Unidos, através da lente da produção e distribuição de livros. Para compreender melhor a situação atual, apresentarei uma visão geral da história da publicação de livros por e para mórmons, prestando atenção especial à publicação de livros não escritos em inglês e publicados fora dos Estados Unidos. Depois, vou examinar o ambiente atual para a publicação de livros mórmons e finalizar com alguns caminhos possíveis para o desenvolvimento da publicação mórmon fora do idioma inglês. Continuar lendo

Cadê os Livros? Parte 1: O Período Formativo

A publicação de livros mórmons e o desenvolvimento da cultura mórmon fora dos EUA

Em janeiro de 1845, o Élder Parley P. Pratt publicou normas para as publicações oficiais da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Preocupado com o grande número de livros e folhetos que estavam sendo publicados por membros da Igreja, ele escreveu:

Vocês não estão todos conscientes de que muitos, se não todos, dos nossos homens, mulheres e crianças estão virando autores, e publicando obras que pretendem representar a doutrina dos santos. Algumas delas são mal escritas, e algumas incluem muitos erros, e muitas das que são verdadeiras e úteis são empréstimos, em parte ou na totalidade, das nossas obras-padrão (…). Enormes somas são gastas por homens que têm pouca experiência no mercado editorial e, talvez, pagam o dobro pelo papel e a impressão, e tudo isso pago nas mãos de quem não sente nenhum interesse na nossa causa.

Desta forma milhares de dólares são desviados dos santos e dos élderes, ao passo que a causa do templo é negligenciada.

literatura mórmon história publicações

Como editor de livros, vejo essas mesmas preocupações hoje nas políticas de publicação da Igreja, e ouço os ecos dessas mesmas preocupações nas políticas das empresas que publicam materiais para os membros da Igreja SUD. Como qualquer organização, a Igreja SUD quer controlar quem está publicando o que em seu nome e como esse material será publicado, quanto custará e como irá atingir seu público. Controle e custos, tecnologia, direitos autorais e problemas de distribuição ainda são questões importantes para a Igreja hoje.

No entanto, vejo também uma necessidade cultural concorrente. Na última década, México e Brasil ultrapassaram a marca de 1 milhão de membros. A Europa tem cerca de meio milhão de membros. E em todos esses casos, assim como em outras áreas em todo o mundo, a cultura dos membros da Igreja SUD se desenvolveu ao ponto de livros, músicas e outros materiais poderem ser — e, às vezes, de fato ser — produzidos e distribuídos. No entanto, no caso de publicações em espanhol ou português, relativamente poucas têm sido produzidas até agora, fora os materiais fornecidos pela própria Igreja. E materiais de natureza puramente cultural não existem em nenhuma língua além do inglês.  Continuar lendo

Racismo no Livro de Mórmon

O Livro de Mórmon é uma obra de escrituras sagrada para mórmons.

Infelizmente, é uma obra profundamente racista.

Obra de arte representando as lendárias "placas de ouro" que Joseph Smith teria encontrado e de onde teria traduzido o Livro de Mórmon (Museum of Church History and Art, Salt Lake City)

Obra de arte representando as lendárias “placas de ouro” que Joseph Smith teria encontrado e de onde teria traduzido o Livro de Mórmon (Museum of Church History and Art, Salt Lake City)

Tanto para a narrativa, como para a teologia, do Livro de Mórmon uma cor de pele escura é um claro sinal de maldição e reprovação divina. Além disso, há severas admoestações para a manutenção de pureza racial. Esses ensinamentos racistas do Livro de Mórmon são tão enraizados que levou gerações de profetas mórmons a pregarem tais ensinamentos do púlpito. [Ver aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui]

Essas são as passagens relevantes que permeiam o texto canônico mórmon (ênfases nossas): Continuar lendo

Judas e a História

A (in)Confiabilidade das Informações Transmitidas pelas Escrituras.


Quando falamos em escrituras, consideramos elas como fontes seguras para entendermos a vontade de Deus, conhecer seus estatutos e um mapa para voltarmos a viver com Deus. O Livro de Mórmon chama as escrituras de “Barra de Ferro”, ou o que conhecemos hoje, um “corrimão” que nos conduz em segurança pelas tribulações da vida. Apesar dessa ser a ideia geral, as pessoas tendem depositar uma confiança excessiva nas escrituras, confiança essa que pode trazer erros de entendimento quanto às coisas de Deus.

A Última Ceia por Carl Heinrich Bloch (1834 – 1890), focando na conspícua saída de Judas da ceia

A Última Ceia por Carl Heinrich Bloch (1834 – 1890), focando na conspícua saída de Judas da ceia

Há vários tipos de informação nas escrituras: Continuar lendo

Cristóvão Colombo na Doutrina Mórmon

No dia 12 de outubro de 1492, três navios espanhóis sob a liderança do genovês (italiano) Cristóvão Colombo avistaram a ilha de San Salvador nas Bahamas, passando os próximos três meses explorando as ilhas das Bahamas, de Cuba, e de São Domingo no Caribe, e para sempre alterando a história da humanidade e do planeta Terra.

Retrato de Homem, supostamente Cristóvão Colombo, por Sebastiano del Piombo (1485–1547)

Retrato de Homem, supostamente Cristóvão Colombo, por Sebastiano del Piombo (1485–1547)

O que pensam mórmons sobre Colombo, sua façanha, e seu legado histórico?

Em junho de 1829, Oliver Cowdery anotou a seguinte profecia ditada por Joseph Smith, na voz do profeta hebreu Néfi, determinando a visão mórmon da figura histórica de Cristóvão Colombo: Continuar lendo

Thomas Monson Intimado em Processo de Abuso Sexual

Thomas S. Monson, Profeta Mórmon e 16º Presidente d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, foi intimado a depor em processo contra a Igreja por abuso sexual infantil.

Thomas Monson demonstra a saudação do Escoteiro. 16o Presidente da Igreja SUD, Monson sempre enfatizou a importância do escotismo para os jovens (rapazes) Mórmons, como todos os outros profetas desde 1910.

Thomas S. Monson, 16º Presidente da Igreja SUD, saúda os escoteiros.

Advogados de quatro nativos americanos solicitaram a intimação de Monson na semana passada como parte de um processo contra a Igreja por falhar em protegê-los de, e após os fatos acobertar, casos de estupros e abuso sexual de crianças sob tutela dela.

Entenda o caso. Continuar lendo

Plágio e as Escrituras

Plágio significa “copiar ou imitar, sem engenho, as obras ou os pensamentos dos outros e apresentá-los como originais”.

Apesar de conceito simples e claro, muitas pessoas tem dificuldade para compreendê-lo e, ainda mais frequente, reconhecê-lo.

Felizmente, a esposa do candidato Republicano a presidente dos EUA, Donald Trump, ofereceu o perfeito exemplo ilustrativo.

Melania Trump plagia Michelle Obama em seu discurso na Convenção do Partido Republicano em Cleveland, Ohio

Durante seu discurso na Convenção Nacional do Partido Republicano dessa semana, a candidata à primeira dama dos EUA Melania Trump liberalmente plagiou de trechos de um discurso de 2008 da então candidata à primeira dama dos EUA Michelle Obama:

Inicialmente, Donald Trump e aliados insistiram em negar que Melania Trump havia plagiado Michelle Obama. Contudo, as evidências eram tão óbvias, e foram tão rápida e amplamente divulgadas, que uma membro de sua equipe, a escritora formada pela Universidade de Utah Meredith McIver assumiu responsabilidade e culpa pelo plágio.

A empresa Turnitin, especializada em detecção de plágio em trabalhos acadêmicos, analisou os discursos e demonstrou com alto grau de confiança que Trump plagiara de Obama [ênfases nossas]:

“O tipo ‘clone’ de plágio copia de outro trabalho literalmente, palavra por palavra. O início da seguinte frase de ambos discursos de Melania Trump de 2016 e o de Michelle Obama de 2008 exemplificam isso. Ambas são exatamente as mesmas. (…) Só para oferecer um contexto… há uma chance em um trilhão que uma frase de dezesseis palavras correspondam a uma outra frase do mesmo comprimento apenas por coincidência. Quanto mais o número de palavras correspondentes aumenta, a probabilidade de uma correspondência por pura coincidência cai por ordens de magnitude. (…) O final da mesma frase, mencionada acima, fornece um exemplo de plágio do tipo “localizar e substituir”, um caso em que algumas palavras-chave ou frases são alteradas, mas o texto mantém o conteúdo ou o significado do trabalho copiado.”

A comparação lado a lado das frases em questão não deixa nenhuma dúvida para o investigador racional e imparcial dos dois tipos de plágio dentro os 10 tipos categorizados (i.e., “clone” e “localizar e substituir”) inclusos no discurso de Trump.

Plágio não é exclusividade acadêmica ou política, aparecendo com frequência no universo religioso. Thomas Monson, por exemplo, é fã pessoal de plágio, havendo plagiado de seus próprios discursos passados em Conferências Gerais de 2014 e 2016. Alguns sites de notícias SUD plagiam rotineiramente.

Plágio também ocorre nas escrituras. Continuar lendo

Placas de Latão — 2

Publicamos um guia introdutório para a compreensão da teoria científica da dissonância cognitiva. Recebemos, felizmente, elogios sobre a qualidade e a didática do artigo, porém também recebemos críticas pelo seu tamanho.

Infelizmente, o assunto é complexo e, portanto, muito difícil de explorar de maneira sucinta enquanto compreensiva e explicativa. Por isso resolvemos investir algum tempo citando alguns exemplos ilustrativos para incentivar a ponderação e a investigação deste assunto, que invariavelmente afeta a todo ser humano.

Felizmente, nós recebemos muitas mensagens e comentários de mórmons zelosos que acham que precisam “defender a fé”.

Nossa proposta aqui no Vozes Mórmons é estimular discussões racionais e lógicas, baseadas em fatos e raciocínio crítico. Compreendemos o estresse emocional resultante da dissonância cognitiva que motiva pessoas a expressarem-se de maneira tão emotiva e irracional.

Por isso, publicaremos episodicamente algumas “pérolas” que recebemos para exemplificar e ilustrar expressões de dissonância cognitiva que não deveriam ser aceitos em nenhum contexto racional e lógico, mas que certamente são comuns no discurso coloquial. não são bem-vindos aqui. Fazemo-no na esperança de incentivar uma conscientização ampla desse problema psicológico universal, urgindo todos à reflexão ponderativa dos mecanismos típicos de dissonância, das reduções mais frequentes, e das ferramentas existentes para superá-las. [Leia sobre isso aqui]

Sem mais delongas, eis o exemplo de hoje:
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Igreja Mórmon Lamenta Tragédia na França

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos prontamente emitiu nota oficial lamentando o recente ataque terrorista em Nice, no sul da França.

Mórmons. Bandeira da França. Atentado terrorista. Salt Lake. Paris.

Bandeira da França tremula a meio mastro na sede da Igreja SUD, em Salt Lake.

Diferentemente do que fez com o recente ataque terrorista em Bagdá, capital do Iraque. Continuar lendo

Lucy Mack Smith: Joseph e as Placas

Lucy Mack Smith, mãe do Profeta Joseph Smith, legou para a posteridade o seu relato pessoal de como Smith teria encontrado as “placas de ouro” contendo o texto do Livro de Mórmon.

‘O Monte Cumorah’ por C.C.A. Christensen

Lucy Mack reconta o primeiro dia de outono de 1823, após Smith haver recebido a visita noturna de um anjo, orientado-o sobre a existência das placas, seu conteúdo, e seu esconderijo. Ela explica como Smith se preparou durante um ano para poder receber custódia das placas, e ainda como ele compartilhava com sua família o conhecimento histórico e cultural que ia adquirindo durante sua educação e preparo, em antecipação para ler e traduzir o relato contido nas placas. E, finalmente, a mãe do Profeta explica o que ocorreu ao final desse um ano de preparações e muita antecipação:
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Placas de Latão — Primeira Edição

Publicamos um guia introdutório para a compreensão da teoria científica da dissonância cognitiva. Recebemos, felizmente, elogios sobre a qualidade e a didática do artigo, porém também recebemos críticas pelo seu tamanho.

Infelizmente, o assunto é complexo e, portanto, muito difícil de explorar de maneira sucinta enquanto compreensiva e explicativa. Por isso resolvemos investir algum tempo citando alguns exemplos ilustrativos para incentivar a ponderação e a investigação deste assunto, que invariavelmente afeta a todo ser humano.

Felizmente, nós recebemos muitas mensagens e comentários de mórmons zelosos que acham que precisam “defender a fé”.

Nossa proposta aqui no Vozes Mórmons é estimular discussões racionais e lógicas, baseadas em fatos e raciocínio crítico. Compreendemos o estresse emocional resultante da dissonância cognitiva que motiva pessoas a expressarem-se de maneira tão emotiva e irracional.

Por isso, publicaremos episodicamente algumas “pérolas” que recebemos para exemplificar e ilustrar expressões de dissonância cognitiva que não deveriam ser aceitos em nenhum contexto racional e lógico, mas que certamente são comuns no discurso coloquial. não são bem-vindos aqui. Fazemo-no na esperança de incentivar uma conscientização ampla desse problema psicológico universal, urgindo todos à reflexão ponderativa dos mecanismos típicos de dissonância, das reduções mais frequentes, e das ferramentas existentes para superá-las. [Leia sobre isso aqui]

Sem mais delongas, eis o exemplo de hoje:
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O Livro de Mórmon – Dia 11

O Livro de Mórmon é a obra literária mais sagrada para milhares de mórmons, centenas de igrejas e seitas da tradição Santos dos Últimos Dias, e o principal volume de escrituras para membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Imagem inspirada na descrição das Placas de Ouro por Joseph Smith

Dedicamos aqui um artigo para cada capítulo do Livro de Mórmon , cobrindo todo o seu texto (utilizando, como base, a última edição da Igreja SUD), acompanhados de comentários adicionais do ponto de vista historiográfico, racional, e científico para incentivar uma leitura diária do texto sacro e facilitar um estudo mais intelectual dele. Postagens passadas podem ser encontradas aqui.

O trecho de hoje é: 1 Néfi 9

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