Ainda Não Foi Dessa Vez

Sem título

“Eu sou apenas uma rapaz latino-americano. Sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”. (Belchior)

O Concílio Vaticano I, em sua condenação dos erros dos liberais, materialistas e outros grupos, terminou por proclamar o dogma da Infalibilidade Papal – isto é, o papa, em certas condições específicas, tem o auxílio do Espírito Santo, fazendo com que sua fala seja isenta de erros.

Difundido esse dogma, muitos católicos pensaram até que não haveria mais necessidade de novos concílios, já que, caso surgisse uma situação conflituosa, Deus sopraria rapidamente a resposta certa ao Sumo Pontífice, resolvendo a coisa toda. Ledo engano!

Após a morte de Pio XII, em 1958, assumiu a Cátedra de Pedro João XXIII. Este sentiu a necessidade de um novo concílio. Ao contrário dos anteriores, o Vaticano II não seria para condenar heresias, nem para reafirmar verdades já conhecidas. Sua Santidade percebia que a Igreja necessitava atualizar sua mensagem para o mundo da segunda metade do século XX. Um termo usado por João XXIII como um dos objetivos do concílio foi aggiornamento (estar em dia).

A Igreja Mórmon confirmou na segunda sessão de sábado seu pouco desejo de aggiornamento, pelo menos quanto à representatividade no Quórum dos 12. Embora há vários anos a Igreja comemore o fato de possuir mais membros fora que dentro dos EUA, os novos chamados apostólicos apontam claramente a dificuldade em se chamar um estrangeiro para elencar o rol das testemunhas especiais do nome de Cristo. Dos 3 apóstolos anunciados há poucas horas, 3 são americanos, sendo os 3 de Utah.

Confesso que esperava um não estadunidense entre os novos apóstolos. Não que tivesse a infantil expectativa de que dentre os não americano cotados algum trouxesse mudanças substanciais à Igreja; apenas talvez tenha superestimado o desejo dos apóstolos e da Primeira Presidência em internacionalizar a Igreja um pouco mais.

Quando o número de conversos mórmons na Europa era expressivo, como nas primeiras décadas da Restauração, alguns europeus viraram americanos e elencaram o quadro de apóstolos.

Só recentemente, a Igreja Católica rompeu com uma tradição secular de eleger apenas italianos para sua liderança máxima; ainda assim, as duas primeiras experiências foram papas europeus conservadores pouco afeitos à voz profética que emergiu no período pós-conciliar, fazendo com que o aggiornamento proposto por João XXIII ficasse comprometido.

Entre os mórmons, a escolha do alemão Uchtdorf nos parece ter sido positiva para Igreja. Além de ser uma figura moderada e carismática, sua presença entre os quinze passa uma sensação, ainda que falsa, de diversidade no mais alto escalão da hierarquia.

Tendo em vista que europeus como o Uchtdorf já estiveram entre os apóstolos dos primeiros anos de mormonismo, um avanço para um projeto de internacionalização da Igreja seria chamar um latino-americano, dada a relativa força da Igreja na região. Entre os católicos, essa escolha parece estar dando certo. Para nós mórmons, a constatação de meu conterrâneo Belchior continua válida. Ainda não foi dessa vez.

11 comentários sobre “Ainda Não Foi Dessa Vez

  1. AINDA NÃOFOI DESTA VEZ E……….JAMAIS SERÁ. APESAR DE SER SUD HA 34 ANOS, CONHEÇO O GRAU DE HOMOFOBIA DA IGREJA (DIRIGENTES) ; BRASILEIROS E SULAMERICANOS SÃO CONSIDERADOS SUB-POVOS DO TERCEIRO MUNDO.;

  2. “Espere um pouco… Um pouquinho mais…”

    Não sei até quando. Será que em 185 anos o Senhor não preordenou nenhum não estadunidense ao apostolado? México, Brasil, Filipinas e Chile são países com muitos membros. Acredito na preordenação mas, nessas horas vejo como o grande Elder J. Golden Kimball “Algumas pessoas dizem que uma pessoa recebe um chamado nesta Igreja por meio de revelação, e outros dizem que pode receber por meio de inspiração, mas eu digo que podem receber através de relação [familiar]. Se eu não fosse filho de Heber C. Kimball não teria sido nada nesta Igreja.”

    • Concordo com vc irmao Julio…… o que vc relata pode ser observado nas inumeras Alas e Estacas, onde sempre existem ” meia duzia” de carreiristas e que sempre são os primeiros lembrados e chamados em todos os cargos eclesiasticos internos e posteriomente , para chamados de maior relevância `nivel de estacas e/ou à niv el de Brasil….mas não se iludam,podem sonhar e querer e trablhar intensamente para isso, mas apenas 1 ou 2 “privilegiados chegarão no máximo a algumposto em algum dos quoruns secundarios ou terciarios dos Setenta para trabalhat e servir em seu proprio País.

      • Conheço muito que ainda estão lá dentro esperando o dia de conseguirem ser líderes,mas a maioria não tem ao menos o segundo grau completo,coitados! vão esperar sentados.

      • Magnólia

        É interessante o fato que chamados por mais que sempre se fale que são iguais o importante é como se realiza ele muitos não veem assim. O mais interessante é que há uma disputa pelo poder como podemos ver em missões para ser Líder de Zona, Assistente do Presidente ou Secretário para ficar no escritório de boa. O mais engraçado é que com as Sisteres Treinadores isso parece que está acontecendo. hahahaha

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