“Quem aqui nunca pecou atire a primeira pedra”.
Muitas vezes, quando falamos sobre arrependimento, pensamos automaticamente em coisas sérias, crimes, pecados graves, porém a verdade é que não tropeçamos em montanhas.
Gritamos com nosso cônjuge, ficamos mais em rede social do que com nossa família, damos mais atenção à TV do que brincamos com nossos filhos, muitas vezes pecamos em contradizer o Senhor no que deveria ser a prioridade em nossas vidas.

Arrependimento de São Pedro, por Gerard Seghers (1591 – 1651)
Este artigo é para todos nós, pois todos precisamos da misericórdia e do sacrifício expiatório de Cristo. Não importa se nosso pecado é vermelho como a escarlata ou o carmesim (Isaias 1:18), ou se é um rosado suave, o fato é que todos nós precisamos do arrependimento.
Lorenzo Snow, de acordo com Neal Maxwell, certa vez disse a respeito de Joseph Smith:
“Eu posso confraternizar com o Presidente da Igreja… eu vi as imperfeições em [Joseph Smith] … e dei graças a Deus por Ele haver colocado sobre os ombros de um homem que tinha aquelas imperfeições o poder e autoridade que Ele o comissionou… pois eu sabia que eu mesmo tinha fraquezas, e descobri que havia uma chance para mim … dei graças a Deus por ter visto estas imperfeições.”
Nossos líderes, pais, empregadores, funcionários, filhos, irmãos, amigos são imperfeitos e devemos dar graças a Deus por isso, pois indica que também temos chance de podermos sermos salvos e buscar sermos melhores. A obra de Cristo é realizada por pessoas imperfeitas.
O arrependimento e a liberdade de escolha
Uma pesquisa científica demonstrou que a decisão que achamos que escolhemos tomar conscientemente, já havia sido realizada alguns segundos antes de termos consciência dela (ver aqui e aqui). Na verdade, decidimos como decidimos por causa de influências diversas que sofremos muito antes de realizar as nossas escolhas, como, por exemplo, nosso ambiente de desenvolvimento, os ensinamentos recebidos ao longo de nossa vida, herança genética, etc.. Portanto, devemos ter a virtude adornando nossos pensamentos constantemente e, não apenas isso, mas tomar a atitude certa pelo motivo certo!
E por que estou falando sobre isso? Quando falamos sobre arrependimento, normalmente pensamos em coisas a se fazer após cometer o erro, porém isso é apenas parte da questão. A atitude que vai nos levar a pecar, começa muito antes da decisão de pecar e ela faz parte do processo do arrependimento.
O Arrependimento e a Moral Kantiana
Immanuel Kant (1724-1804), famoso filósofo iluminista do século XVIII, em seu livro “A Fundamentação da Metafísica dos Costumes“, delimita as funções da ação moralmente fundamentada e apresenta o conceito de “boa vontade”. A “boa vontade” não é o conceito leigo que usamos popularmente mas, conforme Kant, a boa vontade diz respeito a agir corretamente pelo motivo correto. O ser humano tem vontades (não confundir com desejos, pois desejo é o que não controlamos, como atração sexual por exemplo, e vontade é o que controlamos, como realizar ou não o ato sexual), e ele age e pode agir por má vontade ou por boa vontade.
Vou dar um exemplo para ficar claro. Um comerciante recebe em seu comércio um cliente estrangeiro. Ele pensa consigo “se eu cobrar um preço mais caro, ele vai pagar, pois não sabe o valor correto” e então delibera consigo mesmo “ah, mas se eu fizer um preço mais caro e ele comentar com outras pessoas, ficarei com fama de desonesto”. Envolto em um dilema, o comerciante acaba por cobrar o preço justo pela mercadoria.
No exemplo acima, o comerciante agiu certo pelo motivo errado, ou seja, ele não agiu de boa vontade, mas de má vontade. Agiu certo não pelo motivo correto, que é ser uma pessoa honesta, mas pelo medo de ser ele prejudicado no futuro.
Muitas vezes em nossas vidas nós não pecamos, não pelo motivo certo, que é para não desagradar a Deus, mas por medo das consequências de nossos pecados, seja da esposa descobrir o adultério, seja de ter que encarar a confissão com a liderança da Igreja, seja ser preso pela polícia, etc. Quando agimos certo pelo motivo errado, eventualmente, agiremos errado quando não tivermos medo mais da consequência ou tivermos a segurança que não seremos descobertos. A decisão que está tomada em nossa cabeça inconscientemente é realizar o pecado eventualmente, o que aumenta em nós a chance de pecar, porém quando é pelo motivo certo, a possibilidade de pecar se torna muito menor.
Outro aspecto da moral Kantiana é o desapego. Devemos agir certo não para recebermos algo em troca, não para sermos salvos no Reino de Deus, ou medo do inferno e da condenação. Devemos agir certo porque é o certo a se fazer. Não devemos ser mercenários da fé, barganhar com Deus bênçãos pelas nossas atitudes corretas. Isso é agir certo pelo motivo errado. Quando acharmos que não estamos recebendo bênçãos suficientes, iremos parar de agir certo.
O Arrependimento e a Condição Humana
Mesmo assim, pecados e erros são inerentes à condição humana, e cometemos eles com frequência. Às vezes pode parecer difícil o caminho de volta, mas o arrependimento traz paz em nossa vida. Élder Owen, na última conferência disse:
“O arrependimento é a nossa saída! O élder D. Todd Christofferson explicou: “Sem arrependimento, não há progresso verdadeiro e a vida das pessoas não melhora. (…) Somente pelo arrependimento é que temos acesso à graça expiatória de Jesus Cristo e à salvação. O arrependimento (…) nos indica liberdade, confiança e paz”. Minha mensagem a todos — especialmente aos jovens — é que o arrependimento é sempre positivo.”
Certa vez, a história de um conhecido me fez refletir muito sobre a questão do arrependimento. Ele havia cometido um crime. A vida dele se tornou um inferno. Ele sempre estava com medo de que, a qualquer momento, a polícia viesse prendê-lo. Não saia mais de casa, não conseguia mais se relacionar com as pessoas, estava definhando por dentro. Até que decidiu acertar as contas com a justiça. Uma vez a dívida estando paga, a pessoa consegue ter a paz necessária para fazer sua vida progredir. Jesus pagou nossa dívida espiritual e precisamos do conforto de Seu sacrifício expiatório para que fiquemos em paz.
Precisamos estar atentos a não nos arrependermos pelo motivo errado.
Às vezes sentimos remorso, não pelo erro que fizemos, mas por causa da consequência que sofremos. O arrependimento pelo motivo errado pode nos prejudicar no futuro pois, possivelmente, voltaremos a cometer o mesmo erro com mais frequência do que se tivéssemos nos arrependido pelo motivo certo. Isso porque não estamos entristecidos pelo ato em si, mas pela consequência indesejada que ele trouxe.
A última questão que gostaria de tratar é a armadilha da imagem. Muitas vezes queremos passar a imagem da perfeição, da boa família. Isso prejudica tanto as outras pessoas que pecam, que se sentem mal por pecarem e sentem que são as piores pessoas do mundo, já que todos os outros são tão “perfeitinhos” e acabamos afastando essas pessoas de nosso meio. Outra questão é a armadilha para nós mesmos, que acabamos nos importando mais com o que as pessoas vão pensar de nós do que com corrigir os próprios erros. Novamente a questão de agir certo pelo motivo errado. Precisamos sempre nos lembrar que todos pecamos, não há família perfeita, não há pessoas perfeitas. Devemos ter compaixão e ajudar nosso próximo, sem julgá-lo pelos erros deles serem diferentes dos nossos.
Sei que a expiação foi feita para todos, o arrependimento está disponível a todos, apenas por meio do arrependimento podemos progredir em nosso crescimento espiritual e em nossa vida. Não deixe o dia do arrependimento para amanhã, não porque você talvez possa morrer sem ter resolvido suas pendências, mas para que possa se ver livre do fardo do pecado e volte a progredir espiritualmente em seu relacionamento com Deus e com a sociedade. Cristo vive, Ele morreu por nós, Ele deseja que nos arrependamos e possamos ter paz em nossa mente e em nosso coração.
Excelente, João.
O arrependimento só é possível pela Expiação de Jesus Cristo. Ele é o exemplo a ser seguido. Todos pecamos. Todos somos imperfeitos. Precisamos fazer o certo (nos arrependermos) pelos motivos certos.
Obrigado por compartilhar!
Em um post anterior que trata sobre as razões de membros se afastarem da igreja mencionei isso. É o que venho frizando a tempos. Enquanto membros continuarem com orgulho e acharem que eles não tem culpa pelos membros estarem saindo da religião, o número de inativos será cada vez maior.
Não se trata de falta ou exagero de espiritualidade mesmo porque há inumeras congregações que se percebe que o nível de espiritualidade é zero parecendo um teatro de comédia. A espiritualidade pode ser zero, mas o fato de um membro ligar para outro membro e ajudar sem interesse pessoal já faz o membro desejar continuar na congregação.
Talvés muitos de vocês devem estar pensando “ah mas eu não tenho nada a ver, o senhor Barros saiu da igreja porque é fraco e não tem testemunho”. Amigos, independente do senhor Barros ter ou não ter testemunho ou ser ou não ser fraco, no final das contas a igreja perde um grande homem por atitudes estupidas dos membros. Além domais se enganam quem acha que quem possui testemunho não se afastam. Há muitos que tem testemunho até forte, mas sairam porque dentro da igreja são maltratados e não tem apoio de ninguém. Por mais que tenha testemunho, o membro não é obrigado a perder tempo com essa gente quando ele por si pode usar esse tempo para ajudar pessoas especiais nos orfanatos ou alguém da visinhança.
Entendam, quem perde com tudo isso não é o senhor Barros, mas sim a igreja e lógico os membros que perdem credibilidade na comunidade. Falo isso porque há um membro aqui perto de casa que na frente dos membros é um “exemplo de membro dígno”, mas por tráz engana os ingenuos. Muita gente não membros vê ele com imagem negativa e nem querem saber da igreja. No entanto, se você fala para o bispo o homem cai matando e é capaz de colocar você no conselho disciplinar por ter falado do membro.
Se os membros não se arrependerem, a igreja irá diminuir mais e mais em número de membros.