Um ano antes de ditar a revelação sobre “pluralidade de esposas”, a qual viria a ser canonizada décadas após sua morte como a seção 132 de Doutrina & Convênios, Joseph Smith recebeu uma revelação em que o Senhor instruia seu futuro sogro sobre como realizar o casamento de sua filha ao Profeta.

Sarah Ann Whitney, em Utah. Em 1842, Sarah Ann Whitney foi selada a Joseph Smith em cerimônia oficiada por seu pai, e tendo sua mãe como testemunha. O ritual foi prescrito em uma revelação recebida por Joseph Smith | Imagem: Cortesia de Batsheba W. Bigler Smith Photograph Collection, circa 1865-1900, Biblioteca de Historia da Igreja, Salt Lake City.
Em 25 de julho de 1842, Joseph Smith Jr. ditou a Newel K. Whitney uma revelação sobre a cerimônia na qual Whitney lhe daria sua filha, Sarah Ann Whitney, em casamento.
A revelação foi publicada pela primeira vez este ano pelo Projeto Joseph Smith Papers, reconhecido projeto documental do Departamento Histórico d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e faz parte do seu mais recente volume de documentos, cobrindo o tumultuado período entre maio e agosto de 1842.
De acordo com os editores, a revelação, antes inacessível ao público, traz “as únicas instruções existentes do período de vida de [Joseph Smith] para a realização de uma cerimônia de casamento plural”.
A cerimônia prescrita difere grandemente dos rituais de selamento documentados ou em uso n’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Com então 17 anos, Sarah Ann era a filha mais velha dos comerciantes Newel Kimbal Whitney e Elizabeth Ann Smith Whitney. Tal como Sidney Rigdon, os Whitneys eram oriundos do movimento restauracionista campbellita.
A relação entre Joseph Smith e o casal era tão próxima que o Profeta Mórmon e sua esposa Emma viveram na “loja branca” dos Whitneys entre 1832 e 1836. No mesmo prédio, foi estabelecida a Escola dos Profetas em 1833.
Os rituais iniciados naqueles anos em Kirtland seriam expandidos em Nauvoo, onde os Whitneys não seriam menos fieis a Smith.
Em 1831, após sua coversão ao mormonismo, Newel Whitney foi ordenado como bispo. No enclave mormon de Illinois, Elizabeth Whitney tornar-se-ia a segunda conselheira de Emma Smith na Sociedade Feminina de Socorro, organizada em abril de 1842. No mês seguinte, Newel Whitney tomaria parte do pequeno grupo a receber a primeira administração dos rituais templários da investidura.
Com os mesmo rituais conferidos a mulheres, no ano seguinte, ambos os Whitneys passariam a fazer parte do Quórum dos Ungidos. Durante o último ano de vida de Joseph Smith, o bispo Whitney ainda faria parte do seu conselho teocrático, o chamado Conselho dos Cinquenta.
Autoridade patriarcal e laços dinásticos
Nesta revelação de julho de 1842, Newel K. Whitney é ordenado a afetuar a cerimônia não apenas “em nome de Jesus Cristo”, prática costumeira nos rituais mórmons, mas também em seu próprio nome, em nome de sua esposa, Elizabeth, e em nome dos seus “Progenitores”.
A autoridade sacerdotal de Newel Whitney, no texto ditado por Smith, é um “direito de nascença” e remete àquela dos antigos patriarcas bíblicos. O texto menciona o “Santo Melquisedeque Jetro”. Há tambem a menção a um futuro rei Davi.
As instruções ditadas por Smith prometem a Whitney “honra e imortalidade e vida eterna a toda tua casa”, revelando um aspecto dinástico do casamento entre Sarah e Joseph: sua união seria a união das duas familias, com os Whitneys ligados ao Profeta da sétima dispensação do evangelho “de geraçã a geração”.
Vendo a si como um elo entre deuses e mortais, Joseph Smith encabeçava em Nauvoo um reino familiar, do qual deveria fazer parte todo homem ou mulher que desejasse a glória celestial. Acima da Igreja pública, Smith iniciara o estabelecimento de uma Igreja secreta, construída a partir de uma teologia revolucionária, que ainda lhe custaria a aprovação de grande parte dos santos dos últimos dias.
A revelação
Quarta-feira, 27de julho de 1842Em verdade assim diz o Senhor ao meu servo N[ewel] K. Whitney[:] aquilo que meu servo Joseph Smith fez conhecer a ti e à tua família e a respeito do qual concordaste é correto aos meus olhos e será coroado sobre suas cabeças com honra e imortalidade e vida eterna a toda tua casa, tanto jovem como velho, por causa da linhagem do meu Sacerdócio, diz o Senhor. [E]stará sobre ti e sobre teus Filhos depois de ti, de geração a geração em virtude da promessa Sagrada que agora faço a ti, diz o Senhor. Estas são as palavras que deves pronunciar ao meu servo Joseph e à tua Filha S[arah] A[nn] Whitney: eles devem tomar um ao outro pela mão e tu dirás [“]ambos concordam mutuamente – chamando-os pelo nome – em ser companheiros um do outro, por quanto vivam, preservando-se um para o outro, e de todos os outros e também ao longo da eternidade, reservando apenas aqueles direitos que foram dados ao meu Servo Joseph por revelação e mandamento e por Autoridade legal em tempos passados. Se ambos concordam em fazer o convênio e fazer isto, então dou S. A. Whitney, minha Filha, a Joseph Smith para ser sua esposa, para observar todos os direitos entre ambos que pertencem a essa condição. Eu faço isso em meu próprio nome e em nome da minha esposa, tua mãe, e <em> nome de meus sagrados Progenitores, pelo direito de nascença que é do Sacerdócio, revestido em mim por revelação e mandamento e promessa do Deus vivo obtida pelo Santo Melquisedeque Jetro e outros Santos Pais, comandando todos esses poderes para se concentrarem em ti e, por meio de ti, à tua posteridade para sempre. Estas coisas eu faço em nome do Senhor Jesus Cristo, que através desta ordem ele possa ser glorificado e que através do poder de unção Davi possa reinar como Rei sobre Israel, o qual será doravante revelado. Que imortalidade e vida eterna sejam a partir daqui seladas sobre suas cabeças para sempre e sempre[“].
Notas
Eu vi um documento que mostrava que havia ,jovens de 14 e 15 anos entrando no casamento plural…Warren Jeff de Utah também tentou algo parecido mas está preso…Li uns meses atrás que uma senadora de Utah que quer legalizar o casamento plural. Vamos ver a reação da igreja e dos membros se a lei passar. Uma vez assisti um documentário de casamento plural nos dias atuais. E vi uma mulher que o sonho dela era entrar num casamento plural. Vi cenas das mulheres cozinhando , juntas, cada uma tinha um quarto , e todas trabalhavam. O marido tinha um dia ou dois para dormir no quarto de cada uma, elas tinham as vezes, algum ciúme uma da outra…Fico imaginando se a prática voltasse. Aliás na minha opinião a igreja jamais deveria perseguir o casamento de gays , visto que ela experimentou a mesma perseguição pela sociedade. Acho um absurdo passar de perseguido para perseguidor. Se a igreja fosse mais tolerante , poderia até ter mais apoio para volta do casamento plural se assim quisesse. Teria se construído junto a sociedade , um terreno pacífico para o debate do assunto.
Otávio,
em 2015, após a Suprema Corte norte-americana reconhecer a legalidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo, houve certa comoção sobre a possibilidade de relações poligâmicas serem igualmente reconhecidas como legais. A causa pró-poligamia nunca emplacou nacionalmente, ao menos não da forma como a causa LGBT. Mesmo assim, pesquisas de opinião nos EUA mostram uma menor rejeição à poligamia. Parece haver uma correlação entre menor rejeição e os reality shows que mostram polígamos sendo “gente como a gente”; e entre maior rejeição e escândalos envolvendo nomes como Warren Jeffs.
Em fevereiro deste ano, o legislativo de Utah aprovou o projeto de lei SB102, proposto pela senadora estadual Deidre Henderson, que tornou a bigamia uma infração, ao invés de um delito. Isso significa a possibilidade de uma maior abertura e cooperação entre comunidades mórmons fundamentalistas e serviços públicos. Não significa uma legalização da prática.
Esse parece ter sido um dos raros momentos em que Igreja SUD não exerceu lobby sobre o legislativo estadual. Talvez tenha lhe faltado tempo para articular um consenso.
Os casamentos de Joseph Smith com jovens adolescentes certamente suscitam um debate complexo sobre a moralidade da prática.
Acho muito difícil uma volta da poligamia na igreja na atual condição da mulher na sociedade. AInda que a estrutura patriarcal permaneça, hoje em dia a mulher tem muito mais autonomia e voz do que em 1840. Não aceitaria tão fácil assim. Além disso, as mulheres representam uma parcela significativa dos dizimistas na igreja, e certamente a instituição não vai querer correr o risco de perder esses membros. Vai ficar pro Reino Celestial mesmo.