Na manhã de segunda-feira (15/06), seguranças da Universidade Brigham Young (BYU) encontraram pichada a estátua do profeta e colonizador mórmon que dá nome à universidade.

Duas pessoas vistas pelas câmeras de seguranca da instituição haviam jogado tinta látex vermelha sobre a estátua e escrito a palavra “Racista” no seu pedestal. Um spray e uma lata de tinta foram deixados no local pelos pichadores.
A placa do prédio administrativo da universidade foi pichada com um X. O prédio leva o nome de Abraham O. Smoot, líder político e eclesiástico mórmon no território de Utah. Smoot era proprietário de pelo menos proprietário de pelo menos um escravo em Utah.
A estátua de bronze e a placa foram limpas no mesmo dia. Em declaração ao jornal The Salt Lake Tribune, um funcionário da universidade estimou os gastos da restauração em torno de mil dólares.
A depredação ocorreu em meio aos protestos contra o racismo e a violência policial nos Estados Unidos, desencadeados pela morte de George Floyd em 25 de maio, na cidade de Minneapolis, e outras mortes de pessoas negras resultantes da brutalidade policial no país.
Protestos do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) também ocorreram na capital de Utah, Salt Lake City. Alguns dos protestos nos EUA e em outros países têm denunciado ou buscado destruir monumentos públicos em homenagem a personagens históricos associados ao comércio de escravos e à supremacia branca.
Segundo presidente d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Brigham Young (1801-1877) introduziu publicamente no mormonismo a ideia de segregação racial. Em 1852, Young discursou sobre a escravidão diante da Assembleia Legislativa do Território de Utah, afirmando que “um homem que tem o sangue africano nele não pode portar nem um jota nem um til do sacerdócio“, ainda que pudesse ser admitido como membro através do batismo. Por serem descendentes do personagem bíblico Caim, pregava Young, negros eram amaldiçoados, e poderiam ser protegidos pelo restante da posteridade de Adão ao ser tomados como escravos.
Um artigo de opinião publicado pelo The Salt Lake Tribune em 12/06 pedia que a universidade mórmon mudasse seu nome, afirmando que Brigham Young havia sido um dos supremacistas brancos mais bem-sucedidos, dada a prolongada vida do banimento de negros do sacerdócio SUD.
Em ensaio publicado em inglês no seu site oficial em 2013 (e traduzido para o português em 2014), a Igreja SUD reconhece que as ideias raciais de Young foram ao longo do tempo sendo expandidas e acrescidas de outras justificações doutrinárias para o racismo na igreja, dentre elas a ideia de os negros serem espiritos que permaneceram neutros na chamada “Guerra nos Céus”:
A maldição de Caim, frequentemente, era apresentada como justificativa para as restrições do sacerdócio e do templo. Na virada do século [20], outra explicação tomou forma: foi dito que os membros [negros] foram menos valorosos na batalha pré-mortal contra Lúcifer e, como consequência, foram impedidos de bênçãos do sacerdócio e do templo.
Durante a vida do profeta mórmon fundador, Joseph Smith Jr. (1805-1844), homens negros como Walker Lewis e Elijah Able foram ordenados a ofícios do sacerdocio mórmon. Segundo o relato da conversa negra Jane Manning James, em Nauvoo, Joseph Smith ainda teria proposto, através de sua esposa Emma, que Jane fosse a eles adotada como filha. Na década de 1830, Smith chegou a defender a escravidão negra em bases bíblicas. Porém, passou a defender o fim da escravidão nos últimos anos da sua vida.
A segregação racial iniciada no mormonismo em 1852 apenas veio a ser revogada em 1978, sob a direção do então presidente da denominação, Spencer W. Kimball (1895–1985). À época, a Igreja Mórmon via suas políticas raciais engenhadas na América do Norte impedindo seu crescimento em países como Brasil, onde predominava uma população grandemente miscigenada. O próprio Kimball aconselhava seus seguidores a casar com pessoas “da mesma raça”, tema ensinado mesmo após 1978.
Apesar de a Igreja implicitamente refutar hoje tais explicações doutrinárias para seu passado de segregação racial, durante o qual baniu homens negros do sacerdócio e impediu o pleno acesso de homens e mulheres negras aos rituais dos seus templos, a discriminação contra mórmons negros persiste no cotidiano.
Na própria BYU, alguns professores ainda buscam justificar o segregação no passado mórmon evocando paralelos bíblicos, como neste relato de uma estudante:
Meu professor de “Fundações da Restauração” justificou a proibição do sacerdócio aos negros, dizendo: “Não vamos fingir que Deus não havia feito restrições raciais para o sacerdócio e o evangelho antes. Ele não queria que o evangelho fosse ensinado aos gentios em um ponto. Não sei por que Deus faz essas restrições, mas Ele deixou as duas continuarem por um longo tempo.”
Em 2012, outro professor da mesma universidade causou desconforto ao declarar ao jornal The Washington Post que a segregacão racial não se havia iniciado com Brigham Young, mas sim com Caim.
No início de junho, o atual profeta e presidente d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Russel M. Nelson, condenou o racismo e a violência em nota nas mídias sociais. Nelson não abordou as questões raciais no mormonismo.
A BYU anunciou na semana passada a formação de um comitê para examinar as questões relacionadas a raça e desigualdade na universidade da Igreja.
Parece que estão acordando…
Não adianta fugir do passado, que sempre irá retornar para assombrar. Com essas manifestações q estão ocorrendo no mundo quanto a questão do racismo, claro q iria alcançar a IJCSUD. Agora terá q fazer muito malabarismo literário e histórico para justificar uma prática que perdurou por mais de um século (1830 a 1978). Tanto o racismo quanto a poligamia, a poliandria, o sacerdócio, e outros assuntos polêmicos q a igreja defendeu no passado, Sempre irão atormenta-lá. E não adianta dizer q é uma perseguição específica à igreja, pois está acontecendo com todos aqueles um dia defenderam práticas contrárias ao “politicamente correto”.
Creio eu que a Igreja deveria mudar o nome da instituição de Ensino e retirar a estátua de Brigham Young pois os seus ensinamentos realmente nos dias atuais tem fama negativa; ainda mais depois de sua biografia ter sido exposto em vários livros SUD.