Estátua de Brigham Young Pichada na BYU

Na manhã de segunda-feira (15/06), seguranças da Universidade Brigham Young (BYU) encontraram pichada a estátua do profeta e colonizador mórmon que dá nome à universidade.

Estátua de Brigham Young, no campus que leva seu nome, em Provo, Utah (15/06/2020). | Imagem: cortesia da Polícia da BYU.

Duas pessoas vistas pelas câmeras de seguranca da instituição haviam jogado tinta látex vermelha sobre a estátua e escrito a palavra “Racista” no seu pedestal. Um spray e uma lata de tinta foram deixados no local pelos pichadores.

A placa do prédio administrativo da universidade foi pichada com um X. O prédio leva o nome de Abraham O. Smoot, líder político e eclesiástico mórmon no território de Utah. Smoot era proprietário de pelo menos proprietário de pelo menos um escravo em Utah.

A estátua de bronze e a placa foram limpas no mesmo dia. Em declaração ao jornal The Salt Lake Tribune, um funcionário da universidade estimou os gastos da restauração em torno de mil dólares.

A depredação ocorreu em meio aos protestos contra o racismo e a violência policial nos Estados Unidos, desencadeados pela morte de George Floyd em 25 de maio, na cidade de Minneapolis, e outras mortes de pessoas negras resultantes da brutalidade policial no país.

Protestos do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) também ocorreram na capital de Utah, Salt Lake City. Alguns dos protestos nos EUA e em outros países têm denunciado ou buscado destruir monumentos públicos em homenagem a personagens históricos associados ao comércio de escravos e à supremacia branca.

Segundo presidente d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Brigham Young (1801-1877) introduziu publicamente no mormonismo a ideia de segregação racial. Em 1852, Young discursou sobre a escravidão diante da Assembleia Legislativa do Território de Utah, afirmando que “um homem que tem o sangue africano nele não pode portar nem um jota nem um til do sacerdócio“, ainda que pudesse ser admitido como membro através do batismo. Por serem descendentes do personagem bíblico Caim, pregava Young, negros eram amaldiçoados, e poderiam ser protegidos pelo restante da posteridade de Adão ao ser tomados como escravos.

Um artigo de opinião publicado pelo The Salt Lake Tribune em 12/06 pedia que a universidade mórmon mudasse seu nome, afirmando que Brigham Young havia sido um dos supremacistas brancos mais bem-sucedidos, dada a prolongada vida do banimento de negros do sacerdócio SUD.

Em ensaio publicado em inglês no seu site oficial em 2013 (e traduzido para o português em 2014), a Igreja SUD reconhece que as ideias raciais de Young foram ao longo do tempo sendo expandidas e acrescidas de outras justificações doutrinárias para o racismo na igreja, dentre elas a ideia de os negros serem espiritos que permaneceram neutros na chamada “Guerra nos Céus”:

A maldição de Caim, frequentemente, era apresentada como justificativa para as restrições do sacerdócio e do templo. Na virada do século [20], outra explicação tomou forma: foi dito que os membros [negros] foram menos valorosos na batalha pré-mortal contra Lúcifer e, como consequência, foram impedidos de bênçãos do sacerdócio e do templo.

Durante a vida do profeta mórmon fundador, Joseph Smith Jr. (1805-1844), homens negros como Walker Lewis e Elijah Able foram ordenados a ofícios do sacerdocio mórmon. Segundo o relato da conversa negra Jane Manning James, em Nauvoo, Joseph Smith ainda teria proposto, através de sua esposa Emma, que Jane fosse a eles adotada como filha. Na década de 1830, Smith chegou a defender a escravidão negra em bases bíblicas. Porém, passou a defender o fim da escravidão nos últimos anos da sua vida.

A segregação racial iniciada no mormonismo em 1852 apenas veio a ser revogada em 1978, sob a direção do então presidente da denominação, Spencer W. Kimball (1895–1985). À época, a Igreja Mórmon via suas políticas raciais engenhadas na América do Norte impedindo seu crescimento em países como Brasil, onde predominava uma população grandemente miscigenada. O próprio Kimball aconselhava seus seguidores a casar com pessoas “da mesma raça”, tema ensinado mesmo após 1978.

Apesar de a Igreja implicitamente refutar hoje tais explicações doutrinárias para seu passado de segregação racial, durante o qual baniu homens negros do sacerdócio e impediu o pleno acesso de homens e mulheres negras aos rituais dos seus templos, a discriminação contra mórmons negros persiste no cotidiano.

Na própria BYU, alguns professores ainda buscam justificar o segregação no passado mórmon evocando paralelos bíblicos, como neste relato de uma estudante:

Meu professor de “Fundações da Restauração” justificou a proibição do sacerdócio aos negros, dizendo: “Não vamos fingir que Deus não havia feito restrições raciais para o sacerdócio e o evangelho antes. Ele não queria que o evangelho fosse ensinado aos gentios em um ponto. Não sei por que Deus faz essas restrições, mas Ele deixou as duas continuarem por um longo tempo.”

Em 2012, outro professor da mesma universidade causou desconforto ao declarar ao jornal The Washington Post que a segregacão racial não se havia iniciado com Brigham Young, mas sim com Caim.

No início de junho, o atual profeta e presidente d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Russel M. Nelson, condenou o racismo  e a violência em nota nas mídias sociais. Nelson não abordou as questões raciais no mormonismo.

A BYU anunciou na semana passada a formação de um comitê para examinar as questões relacionadas a raça e desigualdade na universidade da Igreja.

Igreja Mórmon Sai em Defesa da Cura Gay

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, popularmente conhecida como Igreja Mórmon, anunciou publicamente sua oposição oficial e institucional ao projeto-de-lei proposta no estado de Utah, onde se encontra a sede mórmon, que propõe proibir tratamentos fraudulentos de “cura gay”.

Mórmon protesta contra homofobia institucional da Igreja SUD

O projeto estabeleceria uma nova regra para o equivalente ao Conselho Regional de Psicologia do estado de Utah que condenaria como conduta anti-profissional e anti-ética a “prática de engajar ou tentar engajar em esforços para mudança de orientação sexual ou identidade de gênero em clientes menores de 18 anos de idade”.

Ao se manifestar publicamente em oposição ao projeto, a Igreja indica aos legisladores do estado de Utah que ela deseja que se mantenha o status quo onde seus correligionários tem livre acesso a charlatões que prometem a  chamada “cura gay”, ou eufemisticamente conhecido como “tratamento de conversão”, que ainda é razoavelmente popular entre mórmons. Continuar lendo

Racismo na BYU

Meu professor de “Fundações da Restauração” justificou a proibição do sacerdócio aos negros, dizendo: “Não vamos fingir que Deus não havia feito restrições raciais para o sacerdócio e o evangelho antes. Ele não queria que o evangelho fosse ensinado aos gentios em um ponto. Não sei por que Deus faz essas restrições, mas Ele deixou as duas continuarem por um longo tempo.” Embora eu possa não conhecer bem o histórico dessas restrições, fiquei ofendida com a sua declaração e com a sua tentativa de ignorar as perguntas sobre o assunto. Eu era a única afro-americana nessa classe de 200 pessoas, mas todos os que fizeram alguma pergunta tinham problemas com a proibição, e o professor respondeu defensivamente a todos eles. Sua abordagem para encerrar as perguntas dos alunos e insistir que não criticassem os profetas do passado impediu nossa capacidade de fazer perguntas e não aceitar tudo com “fé cega”.

O atual Apóstolo e Profeta Dallin Oaks, então Presidente da BYU, vestido como o mascote da universidade mórmon ‘Cosmo o Puma’, em 1979.

Um amigo meu da BYU¹ (que é branco) e eu estávamos conversando sobre a ressurreição e o que aconteceria fisicamente conosco. Ele me perguntou: “Você não acha que após a ressurreição você ficará branca como o Pai Celestial e Jesus Cristo?” Suas suposições incorretas eram que 1) para sermos perfeitos, todos nós Continuar lendo

Alunos da BYU Protestam Políticas da Igreja

Centenas de alunos das universidades d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias participaram de protestos nos campi mórmons e nas redes sociais contra políticas institucionais estabelecidas pela Igreja Mórmon para controlar e monitorar a vida desses adolescentes.

Alunos mórmons da BYU protestam cantando hinos da Igreja e com placas que dizem “Faça BYU Honrável Novamente”, “Jesus me perdoou, porque vocês não?”, “Faça Amor e não políticas que discriminam contra grupos de alunos da BYU como pessoas de cor, pessoas LGBTQA+, [etc.]”, e “Isso Não É Honra”.

Entenda os protestos. Continuar lendo

Utah Pune Universidade Mórmon por Abusos de Vítimas de Violência Sexual

O Departamento de Segurança Pública de Utah anunciou uma punição severa, histórica, e sem precedentes contra a Universidade de Brigham Young, escola privada d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Profeta da Igreja SUD Thomas Monson com alunos da Universidade de Brigham Young (Fonte)

O governo do estado de Utah, através do seu Departamento de Segurança Pública (DSP), anunciou que punirá a Universidade de Brigham Young (BYU) com a remoção da acreditação para a sua força policial privada a partir de setembro de 2019.

Nos EUA, universidades costumam manter departamentos de polícia privados para os seus campi ou cidades universitárias, regulados pelos respectivos estados. No estado de Utah especificamente, tais departamentos policiais universitários não respondem à hierarquia policial do estado mas dependem de acreditação do estado para existir e exercer suas funções, de modo a obrigá-los a seguirem os mesmos regulamentos das forças policiais estaduais, e sob o mesmo escrutínio público.

“A Polícia da BYU funciona como uma agência de aplicação da lei certificada pelo estado desde o final dos anos 70. Antes disso, os oficiais da Polícia da BYU juraram oficiais da cidade de Provo e, anteriormente, eram policiais juramentados do Gabinete do Xerife do Condado de Utah. A Polícia da BYU é agora uma agência de aplicação da lei certificada pelo estado.”

Nunca na história do estado de Utah um departamento de polícia universitário perdeu sua acreditação. O DSP anunciou essa punição severa e inédita porque a polícia da BYU vem recusando escrutínio público de denúncias de irregularidades no manejo de casos de alunas vítimas de estupro e violência sexual.

Entenda o caso:

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Famoso Terapeuta Mórmon da Cura Gay se Assume Gay

O famoso terapeuta mórmon David Matheson, especializado em “cura gay”, anunciou em mensagem privada para um grupo de rede social que vai abandonar o seu “estilo de vida” heterossexual para namorar homens.

Terapeuta SUD David Matheson

Renomado por todos os EUA, Matheson beneficiou-se financeiramente com a organização que ele fundou e dirigiu, o Centro para Plenitude de Gênero, e as dezenas de programas de “cura gay” que ele desenhou e organizou, além de livros de auto-ajuda para homossexuais que desejam ser, ou levar uma vida, heterossexual.

Tanto em sua carreira profissional engambelando e enganando homossexuais em situações vulneráveis, quanto em seu anúncio pessoal de aposentadoria desta vida estelionatária, Matheson embasou suas atitudes em sua fé mórmon: Continuar lendo

Pornografia no Templo de Salt Lake?

Quem poderia imaginar estar no lugar mais sagrado para os membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, o templo central na cidade do Lago Salgado, e deparar-se com uma pintura pornográfica?

Vitral exposto no Templo de Salt Lake City da Igreja SUD, na escadaria entre as salas do Jardim e do Mundo (Foto: The Salt Lake Temple: A Monument to the People)

Essa é justamente a queixa de uma membro da Igreja que, ao encontrar um artigo exaltando os detalhes arquitetônicos do templo, imediatamente ventilou seus sentimentos de frustração, surpresa, e choque de encontrar tamanha indecência e imoralidade na “casa do Senhor”:

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Prêmio Pulitzer à Cobertura de Estupros em Escola Mórmon

O Prêmio Pulitzer de 2017 na categoria “reportagem local” foi anunciado para a equipe de jornalistas do The Salt Lake Tribune pela cobertura do acobertamento por líderes e autoridades mórmons de estupros e violência sexual contra alunas da universidade da Igreja Mórmon.

O Prêmio Pulitzer foi estabelecido em 1917 pelo jornalista Joseph Pulitzer, fundador e/ou dono dos então famosos periódicos St Louis Post Dispatch e New York World (respectivamente), para celebrar a excelência em coberturas e investigações jornalísticas, além das letras e artes.

Medalhão do Prêmio Pulitzer

Pulitzer estabeceleu um fundo para não apenas fundar a Faculdade de Jornalismo da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, como separou outro para permitir à Columbia estalecer e financiar um comitê que anualmente julgasse os méritos de jornalistas e escritores e premiasse os trabalhos extraordinários para aquele ano. Atualmente julga-se em 21 categorias distintas (e.g., jornalismo local, jornalismo investigativo, jornalismo explanatório, jornalismo nacional, jornalismo internacional, jornalismo editorial, notícias de última hora, etc.), e os premiados recebem, além de enorme prestigio e reconhecimento internacional, uma medalha de ouro e um prêmio de USD 15 mil.

O anúncio oficial do prêmio de 2017, uma mordaz condenação da postura mórmon, diz simples e diretamente: Continuar lendo

Falece B. Carmon Hardy, Historiador da Poligamia Mórmon

É com pesar que noticiamos o falecimento de B. Carmon Hardy, um dos mais importantes e influentes historiadores mórmons, ocorrido no último dia 21 de dezembro. Hardy é especialmente celebrado pela sua pesquisa acadêmica sobre a poligamia mórmon do século 19 e início do século 20.

poligamia mórmon fotografia

O bispo Ira Eldredge e suas esposas Nancy Black, Hanna Mariah Savage e Helwig Marie Anderson, circa 1864.

Blaine Carmon Hardy nasceu em 1934, na cidade de Vernal, Utah, descendente de pioneiros mórmons. Durante a maior parte de sua juventude, viveu no estado de Washington, onde cursou o ensino médio e trabalhou em fazendas e ranchos. Graduou-se em História pela Washington State University, em 1957. Dois anos depois, concluiu seu mestrado em História Americana na universidade da Igreja SUD, Brigham Young University (BYU), havendo trabalhado com os professores R. Kent Fielding e Hugh Nibley. Hardy obteve seu doutorado da Wayne State University, no estado de Michigan, em 1963, pesquisando sobre as colônias mórmons no México.

Recordando sua jornada pessoal e o impacto da sua pesquisa sobre casamentos plurais após o Manifesto, Hardy escreveu: Continuar lendo

Racismo na BYU é Tema de Exposição de Arte

Doze retratos de alunos da Brigham Young University (BYU) estão em exposição em seu Centro de Belas Artes Franklin S. Harris. As fotos são acompanhadas de breves relatos sobre suas experiências com racismo e discriminação em Utah e dentro da própria Universidade Mórmon.

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Exposição na BYU, em Provo, Utah, traz relatos pessoais sobre racismo. Foto: Michael Hicks.

Esses relatos mostram a dificuldade existente na cultura mórmon em lidar com imigrantes e mesmo norte-americanos de diferentes origens étnicas. Leia alguns dos relatos. Continuar lendo

Aluna Mórmon Tira Zero Por Mostrar Ombros

Uma aluna da universidade mórmon sentiu-se chocada ao receber uma nota “zero” em um projeto de arte e fotografia porque suas peças exibiam uma modelo expondo seus ombros desnudos.

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Waverly Giles, estudante do primeiro ano da Universidade de Brigham Young em Idaho, postou sua reação de choque e revolta em mídia social e seu desabafo rapidamente viralizou. Giles, chocada com a óbvia exibição de misoginia por parte de seu docente, escreve: Continuar lendo

Igreja Cede à Pressão, Muda para Proteger Alunas Estupradas

Após imensa pressão pública, protestos de alunos e ex-alunos, intenso escrutínio e crítica na imprensa nacional e nas redes sociais, e a abertura de uma investigações estadual e federal, a universidade oficial da Igreja Mórmon, a Brigham Young University, anunciou alterações às regras internas da instituição para eximir alunas vítimas de violência sexual que denunciam o crime às autoridades de serem punidas pela administração universitária.

Alunas protestam em abril de 2016 contra as políticas oficias da BYU que punem vítimas de violência sexual

Alunas protestam em abril de 2016 contra as políticas oficias da BYU que punem, direta e indiretamente, vítimas de violência sexual. Notem forte presença da mídia.

 

Antes das novas mudanças, anunciadas via email pelo Presidente da BYU em Provo Kevin J. Worthen,  alunas que denunciavam ter sido estupradas eram investigadas e punidas, muitas vezes expulsas Continuar lendo

Mórmons Acima da Média em Educação

Mórmons encontram-se levemente acima da média nacional  entre os grupos religiosos nos EUA, de acordo com pesquisa do prestigioso centro de pesquisas demográficas Pew Research Center.

Prédio da Faculdade de Administração na Universidade de Brigham Young

Prédio da Faculdade de Administração na Universidade de Brigham Young

A pesquisa de opinião pública em questão isolou entre os 30 maiores grupos religiosos seus percentuais educacionais, considerando níveis de ensino superior completo, superior incompleto, médio completo, e médio incompleto entre os praticantes adultos de cada um.

A tabela abaixo resume perfeitamente os dados demográficos encontrados:

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Outra Aluna Processa BYU por Encobrir Estupro

A universidade oficial da Igreja Mórmon, a Brigham Young University, está sendo processada por outra ex-aluna que alega ter sido impedida de buscar ajuda legal após ser violentada sexualmente por um de seus orientadores, que ainda fora protegido pelos administradores da instituição cientes do abuso.

BYU Logo

A ex-aluna, que transferiu-se para outra faculdade após o trauma emocional, alega que a universidade mórmon, onde estudava no campus do Havaí, não apenas ignorou sinais de abusos repetidamente cometidos pelo supervisor acusado, mas coibiu sua denúncia. Continuar lendo