A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, popularmente conhecida como Igreja Mórmon, anunciou publicamente sua oposição oficial e institucional ao projeto-de-lei proposta no estado de Utah, onde se encontra a sede mórmon, que propõe proibir tratamentos fraudulentos de “cura gay”.

Mórmon protesta contra homofobia institucional da Igreja SUD
O projeto estabeleceria uma nova regra para o equivalente ao Conselho Regional de Psicologia do estado de Utah que condenaria como conduta anti-profissional e anti-ética a “prática de engajar ou tentar engajar em esforços para mudança de orientação sexual ou identidade de gênero em clientes menores de 18 anos de idade”.
Ao se manifestar publicamente em oposição ao projeto, a Igreja indica aos legisladores do estado de Utah que ela deseja que se mantenha o status quo onde seus correligionários tem livre acesso a charlatões que prometem a chamada “cura gay”, ou eufemisticamente conhecido como “tratamento de conversão”, que ainda é razoavelmente popular entre mórmons.
Troy Williams, diretor executivo da ONG ‘Igualdade em Utah’, criticou a posição da Igreja por colocar em perigo a saúde física e mental de crianças no estado:
“A regra proposta não faria nada além de proteger as crianças LGBTQ da terapia de conversão – uma prática com risco de vida que foi condenada por todas as autoridades médicas e de saúde mental do estado e do país. Estudos descobriram que mais de 60% das crianças submetidas à terapia de conversão tentam suicídio. O suicídio é a principal causa de morte entre as crianças de Utah e os jovens LGBTQ são especialmente vulneráveis. Já passou da hora de proteger a juventude de nosso estado, proibindo essa prática perigosa.”
A deputada estadual Angela Romero, de Salt Lake City, também foi inequívoca em suas críticas, chamando a Igreja de “hipócrita”:
“É decepcionante que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias se recuse a destacar o tremendo dano que a terapia de conversão causou e continua a infligir a inúmeras pessoas. É hipócrita pregar compaixão ao mesmo tempo que tolera essa prática odiosa e fracassada. Esta questão não é sobre a defesa dos direitos das crenças religiosas. Trata-se de proteger os jovens de práticas conhecidas por causar danos.”
Cura Gay entre Mórmons
O famoso terapeuta mórmon David Matheson, por exemplo, especializado em “cura gay”, anunciou no começo do ano em mensagem privada para um grupo de rede social que iria abandonar o seu “estilo de vida” heterossexual para namorar homens.
Renomado por todos os EUA, Matheson beneficiou-se financeiramente com a organização que ele fundou e dirigiu, o Centro para Plenitude de Gênero, e as dezenas de programas de “cura gay” que ele desenhou e organizou, além de livros de auto-ajuda para homossexuais que desejam ser, ou levar uma vida, heterossexual.
Tanto em sua carreira profissional engambelando e enganando homossexuais em situações vulneráveis, quanto em seu anúncio pessoal de aposentadoria desta vida estelionatária, Matheson embasou suas atitudes em sua fé mórmon:
“Meu tempo em um casamento heteronormativo e no mundo “ex-gay” foi genuíno e sincero e uma rica bênção para mim. Lembro-me da maior parte dele com carinho e gratidão pela alegria e crescimento que causou em mim e em muitos outros. Mas eu parei de crescer e estava começando a morrer. Então eu embarquei em um novo caminho de vida que já iniciou um novo processo de crescimento. Eu não estava fingindo todos esses anos. Eu não estou renunciando ao meu trabalho anterior ou à minha fé SUD. E eu não estou condenando casamentos de orientação mista. Continuo apoiando os direitos dos indivíduos de escolher como responderão às suas atrações e identidade sexuais. Com essa liberdade, agora estou escolhendo seguir a vida como um homem gay.”
Universalmente descreditado por profissionais sérios na área de saúde e de saúde mental, Matheson acumulou sucesso e fortuna recrutando clientes, usualmente mórmons e cristãos em geral, desesperados para serem aceitos em uma sociedade heteronormativa e presas fáceis para esses tipos de promessas falsas.
Por exemplo, em 2007 o jornal The New York Times publicou essa nota sobre Matheson:
“Matheson, que tem um mestrado em aconselhamento e orientação da Universidade de Brigham Young, começou a praticar em tempo integral em Nova Jersey em 2004 e goza de uma lista ativa de cerca de 50 clientes. Ele cobra USD 240 por uma sessão de 90 minutos.
Matheson treinou com o psicólogo Joseph Nicolosi, presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Terapia da Homossexualidade, uma proeminente organização secular do movimento ex-gay.
A ênfase no aconselhamento do Sr. Matheson está em ajudar os homens – todos os seus clientes são homens – a desenvolver “plenitude de gênero” abordando questões emocionais e construindo conexões saudáveis com outros homens. Ele disse acreditar que ajudou a reduzir os desejos homossexuais.
“A terapia que eu faço apenas usa princípios terapêuticos normais e padronizados”, disse ele. “Terapia cognitiva e terapia baseada em emoções, abordagens terapêuticas padrão, com ênfase em ajudá-los a se sentirem mais à vontade em sua masculinidade”.”
A título de comparação, USD 240 de 2007 seriam, hoje, uns R$ 1.000 por cada sessão de 90 minutos.
Todas essas falsas promessas e todo esse lucro financeiro vem às custas da imposição religiosa de igrejas como a Igreja SUD. Assim explicou Matheson em uma entrevista para o ABCNews em 2010:
“Para algumas pessoas, ‘gay’ nunca vai dar certo. Esse tipo de vida e esse tipo de vivência nunca vão se encaixar – nunca – com seu sistema de valores ”, explicou Matheson. “Para esses homens, é por isso que existimos, para que possam ter outra maneira, outra abordagem de lidar com seus sentimentos sexuais.”
Essa imposição institucional homofóbica não é nem nova, nem superada. A busca da “cura gay” continua sendo um tema importante para a Igreja SUD.
Influência Eclesiástica
Por exemplo, a Autoridade Geral e Setenta Marcus B. Nash, do Primeiro Quórum dos Setenta, em discurso na BYU há apenas 3 anos, explicou para os jovens mórmons que através do poder da prece e da fé, homossexuais poderão ser curados de sua homossexualidade. De quebra, Nash explicou porquê discriminar contra gays é “amor” e não “intolerância”, e como incitar homofobia é “expressar o amor” e não “ódio”:
. . . A vida do Pai Celestial define a vida eterna. E uma das coisas que sabemos sobre Sua vida é que Ele está selado em uma união eterna de homem e mulher. Então, para escolher qualquer coisa menos do que o casamento eterno de mulher e homem é escolher algo menos do que o propósito resplandecente e completo do plano de nosso Pai. Deus ama todos os seus filhos e todas as suas filhas e gostaria que nós soubéssemos que cada um de nós tem a capacidade inata, divina para exercer fé em Cristo e receber tudo o que o Pai oferece a Seus filhos. Em outras palavras, nenhum de nós está predestinado ao fracasso. . . No entanto, devemos reconhecer que cada um de nós vem a este mundo com fraqueza, que eu definiria como desejos ou tendências incompatíveis com o plano de salvação. Tais coisas, de uma forma ou de outra, são inerentes à condição humana. . . Moroni ensina que qualquer filho ou filha de Deus que se humilhar a si mesmo diante de Deus e exercer fé inabalável sentirá, com o tempo, a experiência do milagre de Cristo fazendo as coisas fracas se tornarem fortes para eles. . . Para os fiéis, tal fraqueza, é, em última análise, temporária. Pois quando Ele vier de novo, e eu estou citando uma bela escritura que eu amo, pois quando Ele vier novamente “Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a ordem antiga já haverá passado”. O Plano de Nosso Pai Celestial de salvação, tornando possível a vida eterna para nós, é a maior expressão de amor de todos os tempos. Se escolhermos, pela fé, a viver de acordo com a Sua lei, apesar da nossa fraqueza humana, um dia receberemos tudo o que o Pai tem. Assim, representar o plano do Pai não é ódio ou intolerância. Pelo contrário, é para expressar o amor de Deus. . .
Nash nunca explicitamente menciona homossexualidade no seu discurso, e o seu tema principal sequer fora condutas sexuais ou matrimoniais. Contudo, a alusão a “casamento de homem e mulher” obviamente determina que o assunto em pauta é o casamento gay “tendências incompatíveis com o plano de salvação” é um dos eufemismos populares entre a liderança da Igreja que se recusa a aceitar a identidade sexual não heteronormativa como natural, tratanto-o como “tendência”, e usando o termo “homossexualismo” ou ainda usando os pejorativos “atração do mesmo sexo” ou “atração do mesmo gênero”.
Graças ao vazamento de um memorando interno da Igreja SUD, sabemos que a sua liderança realizou (ou realiza) reuniões de correlação em como manter uma linguagem neutra em suas campanhas anti-gay, o que explica a destreza com a qual Nash evitou mencionar homossexualidade diretamente em seu discurso.
A mesma habilidade pode ser vista em um discurso que Wendy Nelson, esposa do atual Presidente e Profeta d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, proferiu aos alunos da BYU do Havaí há 3 anos. Nele Nelson também advoga pela “cura gay”, sugerindo que um dos dons do espírito é “o dom para manter os nossos sentimentos sexuais em harmonia com leis eternas.”
Ler o memorando que vazou ao público deixa bastante claro o alvo e a intenção dessas mensagens propositadamente sutis.
Cura Gay Mórmon
A ilusão de que homossexuais podem ser “curados” ainda é, infelizmente, popular entre muitos mórmons. Em 2015 a BYU em Idaho sofreu com publicidade negativa após ser flagrada permitindo a promoção de “terapias de cura” em seu campus. Inúmeros estudos científicos demonstram, o que a própria Igreja SUD já reconheceu, que a pressão para casamentos de orientação mista (um parceiro heterossexual com um parceiro homossexual) com ou sem tentivas de alteração de orientação são ineficientes, danosos, e usualmente levam a desastre e tragédias familiares.
A BYU, nos anos 1970, incentivava e até pressionava seus estudantes homossexuais a tortura terapia com eletrochoque. Embora hoje a Igreja repudie terapias de aversão, como são tecnicamente conhecidas aquelas sessões de tortura com choque elétrico, ela ainda mantém-se neutra com relação às comprovadamente ineficientes terapias de conversão.
“Certamente a Igreja não aconselha contra esse tipo de terapia… Estudos de caso, creio eu, demonstraram que conseguiu-se progresso ajudando algumas pessoas a mudar de orientação…” — Élder Lance B. Wickman, Primeiro Quórum dos Setenta
Não obstante o impressionante volume de evidências científicas, e a própria posição oficial da Igreja SUD contra casamentos de orientação mista, líderes da Igreja mantém-se abertos para a possibilidade destes casamentos quando o parceiro homossexual demonstra “habilidade para lidar com esses sentimentos e inclinações e mantê-los apenas de pano de fundo.” E, não obstante os pronunciamentos de alguns líderes, a Igreja SUD oficialmente reconhece que homossexualidade é uma característica inata e não opcional.
Apesar de algum progresso da Igreja SUD em aceitar homossexualidade como um aspecto inato de pessoas que nascem homossexuais (o uso do termo “inato” no discurso de Nash não foi acidental), e deixar de incentivar a tortura e a “cura” deles, ela ainda está longe de se livrar da discriminação institucionalmente enraizada. A recente mudança na política de discriminação contra famílias LGBT, a insistência do Profeta em explicar como e porquê Deus revelou à Igreja SUD a importância da discriminar contra crianças em famílias LGBT, e as subsequentes notícias de um aumento abrupto na taxa de suicídio de jovens Mórmons LGBT, servem de contexto para a insistência destas Autoridades Gerais de que gays serão curados pelo poder de Cristo.
A Igreja voltou atrás nessa política mais radical em menos de 4 anos de enormes danos psicológicos aos seus membros e à imagem pública da Igreja, além de feroz pressão social, mas recentemente o Primeiro Conselheiro da Primeira Presidência anunciou em plena Conferência Geral que a Igreja manteria práticas homofóbicas e transfóbicas.
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Realmente esse ano eles estão pedindo, para os poucos membros que estão lá, para saírem mesmo. Cavando a própria sepultura.
A nova administração da igreja é composta por pessoas de outros tempos. Não me admira essa mentalidade deles. São da época em que o casamento era entre homem e mulher. O gay era algo bizarro. Sempre existiu mas era escondido. Agora com os novos tempos, todos que tem essa tendência resolveram se declarar, mesmo sabendo que nenhuma igreja vai endossar essa opção de vida. Não sei se um tratamento psicológico resolve o problema. Essa história de cura gay é sem lógica, mas e se alguém que está em conflito consigo mesmo resolver procurar ajuda, como resolver? Concordo no ponto em que não deve ter tratamento para uma opção de vida, mas deve sim ajudar a se decidir aqueles que optam por procurar um especialista. Todos conhecemos alguém que tem essa decisão de ser gay, assim como tem alguém que sofre com o conflito interno. O que me surpreende e deixa triste é esse charlatão pregar algo que não acredita. O cara pregava a cura gay, agora está dizendo que vai “sair do armário”.
Acho que se a pessoa que é membro da igreja,, conhece as normas do evangelho, sabe que as escrituras e os ensinamento não aceitam essa opção de ser gay, ela não tem como ficar em um ambiente que prega o oposto. Será sempre um peixe fora da água.Evitaria tristezas, decepções e frustrações.
Não é opção ser gay.