Igreja Mórmon Reverte Revelação Sobre Famílias LGBT

Cinco de Novembro é uma data histórica, ainda que em infâmia, para membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Crianças num lar estável com pais dedicados e amorosos: Dependendo da família, a Igreja Mórmon não as quer.

Crianças num lar estável com pais dedicados e amorosos: Dependendo da família, a Igreja Mórmon não as queria, e ainda se propunha a destruir esses lares. Aparentemente, não mais?

Foi nessa data em 2015 que descobriu-se, em parte através de uma denúncia anônima, que a Igreja Mórmon, sob a liderança do Profeta Thomas S Monson, havia oficializado a discriminação institucional contra famílias LGBT.

Na época, o atual Profeta e Presidente da Igreja Russell M Nelson, então servindo como Presidente do Quórum dos Doze Apóstolos, assegurou os membros fiéis que tal política discriminatória, confirmada por nota oficial publicada pela própria Primeira Presidência, havia sido fruta de uma revelação divina:

“Cada um de nós durante esse momento sagrado sentiu uma confirmação espiritual … Foi o nosso privilégio como apóstolos sustentar o que havia sido revelado ao Presidente Monson.”

“A Primeira Presidência e do Quórum dos Doze Apóstolos aconselhou-se juntos e compartilhou tudo que o Senhor dirigiu-nos a compreender e sentir, individual e coletivamente … E então, vemos a inspiração do Senhor sobre o presidente da Igreja para proclamar a vontade do Senhor.”

Agora, após 3 anos e meio insistindo que essa política era uma ordem direta e inquestionável de Deus, a Igreja sob a liderança de Nelson volta atrás e a rescinde.

Entendendo o Contexto Social

Lindsay Hansen Park, Diretora da famosa e influente Fundação Educacional Sunstone, autora no blog Feminist Mormon Housewives, e apresentadora do podcast Year of Polygamy,  publicou uma comovente nota em novembro p.p. para lembrar o custo emocional e psicológico das políticas oficiais da Igreja SUD contra seus membros LGBT em pessoas reais e em suas famílias.

“5 de novembro é um dia difícil para o meu povo. E se você é mórmon e não sabe por que ou não se importa, então você é parte do problema, e não da solução.

Este fim de semana eu segurei uma estranha soluçando no banheiro de um evento. Ela era uma não-mórmon que se casou com um mórmon. Depois de décadas de casamento, o marido a deixou por um homem. Eu tinha acabado de esbarrar nela e a perguntei se ela estava bem. Ela me pediu para abraçá-la enquanto chorava. Então eu a abraçei. Com lágrimas nos olhos, ela me perguntou: ‘Como eu não pude saber por todos esses anos?’

Eu tentei explicar a ela que as cobranças são tão altas para os mórmons, que nós somos realmente bons em fingir. Não era culpa dela. Ela explicou que apoiava o marido e eu disse a ela, claro, e AINDA ASSIM é doloroso. Sua dor, raiva, e confusão eram reais. Assim como são os sentimentos dele. Anos tentando ‘fazer o que é certo’ e vivendo uma meia-vida.

Como se explica essas coisas para as pessoas que as vivenciaram? Como se responde a perguntas sem respostas? É impossível. E é um desperdício. Que nossa igreja continue a defender e perpetuar políticas que contribuam para essa dor é inconcebível.

Muitas vidas perdidas nos últimos três anos e tantos danos colaterais. Muito amor aos meus irmãos, irmãs, e humanos LGBT.”

Na foto que acompanha seu texto, uma singela citação:

“Filhos de pais do mesmo sexo são tesouros de valor infinito. Em nosso universo, todas as filhas de Deus tem um lugar no côro.” – Troy Williams

Relembrando o Cinco de Novembro Mórmon:

Com duas mudanças administrativas, uma anunciada publicamente e outra efetivada em relativo sigilo, a Igreja SUD apresentou a nova política oficial de discriminação contra famílias LGBT. A Igreja anunciou que crianças em lares LGBT não poderiam mais ser abençoadas ou batizadas. Essa proibição valeria para crianças adotivas ou mesmo biológicas, e valeria para casais que coabitem ou mesmo que sejam legalmente casados.

Ademais, a Igreja SUD passou a exigir, para que tais crianças possam eventualmente ser batizadas, que elas tenham cumprido seus 18 anos de idade, e renunciem e repudiem suas famílias, e ainda abandonem seus lares.

Uma criança natural ou adotiva de um dos pais que vive em uma relação do mesmo-gênero, seja o casal casado ou em coabitação, não pode receber um nome e uma bênção.

Uma criança natural ou adotiva de um pai que vive em um relacionamento do mesmo-gênero, seja o casal casado ou em coabitação, pode ser batizada e confirmada, ordenada, ou recomendada para o serviço missionário somente se: Um presidente de missão ou um presidente de estaca solicitar aprovação do Gabinete da Primeira Presidência para batizar e confirmar, ordenar, ou recomendar o serviço missionário para uma criança de um pai que viveu ou está vivendo em uma relação do mesmo-gênero quando ele estiver satisfeito por entrevistas pessoais que ambos os seguintes requisitos são atendidos:

1. A criança aceita e está empenhada em viver os ensinamentos e doutrinas da Igreja, e especificamente repudie a prática de coabitação ou casamento do mesmo-gênero.

2. A criança é maior de idade e não vive com um pai que viveu ou vive atualmente em uma relação de coabitação ou casamento do mesmo-gênero.

A outra mudança de política, anunciada apenas para a liderança masculina da Igreja, foi a inclusão no Manual de Instruções da Igreja (antigo Manual Geral de Instruções), um guia oficial secreto sagrado para a liderança do Sacerdócio, de uma nova definição do termo apostasia. De acordo com a nova definição, contrair ou estar em um casamento homoafetivo legal constitui apostasia e, portanto, ambos(as) parceiros(as) são passíveis de excomunhão.

O novo texto do manual dizia (ênfase nossa):

Como usado aqui, apostasia se refere a membros que:

  1. Repetidamente agem em oposição pública clara, aberta, e deliberada à Igreja ou a seus líderes.
  2. Persiste em ensinar como doutrina da Igreja informação que não é doutrina da Igreja após haverem sido corrigidos por seus Bispos ou autoridade superior.
  3. Continuam a seguir os ensinamentos de seitas apóstatas (como as que advogam casamento plural) após haverem sido corrigidos por seus Bispos ou autoridade superior.
  4. Estão em um casamento do mesmo gênero.
  5. Formalmente aderem a outra igreja e advogam os seus ensinamentos.

Os líderes do Sacerdócio devem tomar ações disciplinares contra apóstatas para proteger os membros da Igreja.

A Igreja SUD, cuja ambição pública é o branding e o marketing como “defensora da família”, oficialmente optou por perseguir, discriminar, e destruir, institucionalmente, as famílias que não se encaixam em seus moldes heteronormativos.

Ausente em todas as pregações e ensinamentos dos Apóstolos e Profetas Mórmons é a explicação de como perseguir famílias LGBT, com pais/mães dedicados(as) às suas crianças, tornam famílias “tradicionais” melhores, mais unidas, ou mais felizes.

Imediatamente após o vazamento dessa mudança oficial, líderes da Igreja SUD saíram à caça da fonte do vazamento e em defesa da nova política, tentando inclusive suaviza-la para mitigar seus efeitos negativos de relações públicas. Milhares de membros da Igreja saíram às mídias sociais e às ruas para protestar a nova postura da Igreja, e milhares abandonaram a Igreja pedindo resignação, entre eles até famosos apologistas SUD, apologistas SUD menos famosos, e famílias de jovens afetados pela mudança. Subsequentemente, a taxa de suicídio entre jovens SUD aumentou drasticamente no ano seguinte à mudança, levando a grupos de mães mórmons dedicadas a proteger seus filhos da Igreja e as consequências de suas políticas de discriminação antigay a se organizarem em oposição à Igreja.

Relembrando a História da Cruzada Mórmon Anti-Gay

Um colunista do site de notícias The Huffington Post delineou em excelente artigo um resumo da evolução histórica do envolvimento d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias com a cruzada anti-gay no movimento da chamada “direita religiosa” nos EUA.

O ímpeto para lançar-se nessa cruzada que já dura décadas veio dos sucessos das campanhas furtivas da Igreja Mórmon para derrotar a Emenda Constitucional dos Direitos Iguais, que garantiria proteção para mulheres contra discriminação por gênero.

Havendo participado de maneira decisiva desse sucesso coletivo em conjunto com outras forças conservadoras norte-americanas (e.g., as igrejas Católica, Adventista, Batista, e as coalisões em tôrno do Partido Republicano) e ganhado uma medida de prestígio nesses meios, a Igreja SUD começou a se preparar legal, jurídica, e financeiramente para campanhas similares, desta vez contra outro grupo minoritário.

Ativistas a favor de direitos civis para LGBT começavam lentamente a fazer-se ouvir e a promover leis que os protegessem contra discriminação. O primeiro estado onde tais leis, incluindo a legalização de matrimônio, protegendo homossexuais estava sendo sériamente consideradas era o Havaí.

A Igreja Mórmon preparou-se adequadamente e, logo antes de formalmente iniciar a cruzada para a qual já se preparava há mais de uma década, publicou um novo documento oficial que serviria de embasamento religioso e filosófico, além de estandarte de guerra.

Declaração A Proclamação da Família

Escrevendo sobre esse documento, analisou o historiador Fred Karger:

A Igreja Mórmon recentemente “celebrou” o 20° aniversário de seu odioso “A Família: Uma Proclamação Ao Mundo.” A proclamação foi lida pelo então Presidente da Igreja Gordon B. Hinckey na Conferência Geral da Sociedade de Socorro em 23 de setembro de 1995, na Cidade de Lago Salgado, Utah. A ocasião marcou o dia em que a Igreja Mórmon declarou guerra contra o casamento gay. A Igreja ordenou que seus membros enquadrassem suas cópias da Proclamação para pendurá-las em seus lares. A maioria das famílias Mórmons fizeram isso.

Não coincidentemente, também em 1995, a Igreja Mórmon iniciou sua luta [política] contra o casamento gay no Havaí. [Os líderes da Igreja] traçaram planos elaborados para bloqueá-lo no primeiro estado onde estava sendo considerado. Quando a liberdade para [bloquear] casamento [gay pelo estado] finalmente chegou a voto no Havaí após três anos, ela foi aprovada. Após essa vitória em 1998, a Igreja Mórmon deu seguimento à sua campanha furtiva para proibir casamento gay por todos os Estados Unidos.

Relembrando as Campanhas Políticas da Igreja Mórmon

A Igreja Mórmon contribuiu diretamente com USD 400 mil no Havaí, e ainda angariou muito mais de seus membros e aliados, contratou um exército de advogados, consultores políticos, e lobistas em 30 estados, e criou grupos fantoches para esconder seu envolvimento nessas campanhas. Ela gastou diretamente milhões de dólares e mobilizou milhares de membros pelos próximos 13 anos até a campanha da Proposição 8 em 2008.

A Igreja Mórmon foi pega de surpresa ao ter sua participação central em todas aquelas campanhas estaduais por quase duas décadas denunciada em público em 2008, num desastre de relações públicas que a forçou a gastar dezenas de milhões de dólares em campanhas publicitárias para desfazer o branding negativo.

A Emenda Mórmon: Proposição 8

Em 20 de junho de 2008, apenas três dias após o casamento gay haver sido legalizado pela Suprema Corte da Califórnia, o novo Presidente da Igreja Thomas Monson anunciou através de carta lida em todas as unidades no estado que todos os membros deveriam “doar seu tempo e seus meios” para a campanha para passar a Proposição 8 [que ilegalizaria o casamento gay]. Na carta, o Presidente Monson ameaça os membros que “suas almas estariam em perigo” se não doassem dinheiro [para a campanha]”.

A Igreja Mórmon coagiu membros a doarem mais de USD 30 milhões durante os 4 meses de campanha, 77% de todo o dinheiro arrecadado para essa votação, constituindo a principal força responsável pela vitória da Proposição 8, que passou com a pequeníssima margem de 52-48.

A Igreja Mórmon não apenas financiou, mas também controlou, a administração da campanha política ‘Yes on 8’, montando uma verdadeira campanha de guerra em Utah e Idaho para telemarketing de eleitores na Califórnia. Ela transportou milhares de membros da Igreja para fazer campanha política, enviou material impresso para milhões de eleitores, organizou 25 000 voluntários membros da Igreja para bater portas durante 9 fins-de-semana por todo estado, financiou e administrou treinamentos para seus representantes, distribuiu centenas de milhares da placas de publicidade, além de panfletos, mobilizou 100 000 membros como voluntários para trabalhar no dia da eleição, construiu e manteve vários sites na internet para o ‘Yes on 8’, criou 4 eventos televisivos e 9 comerciais, e conduziu 2 transmissões ao vivo para 5 estados em preparação à mobilização de voluntários.

A Igreja Mórmon Mente Sobre A Proposição 8

A Igreja Mórmon registrou gastos de apenas USD 2 078 por toda sua operação de guerra como contribuições para o ‘Yes on 8’. A Comissão de Práticas Políticas Honestas da Califórnia (California Fair Political Practices Commission ou FPPC) investigou a Igreja SUD por 18 meses, condenando-a em 13 casos de fraude eleitoral. A Igreja Mórmon confessou-se culpada e pagou uma multa não publicada.

Vazam Documentos Mórmons Secretos

Em fevereiro de 2009 um informante vazou documentos secretos da Igreja Mórmon, delineando toda campanha política contra casamento gay pelos últimos 13 anos, que o repórter publicou no site mormongate.com.

A Igreja Mórmon recusou-se a confirmar ou a negar a autenticidade desses documentos.

Outros documentos adicionais foram publicados no Mother Jones e no Frontiers Magazine.

Os documentos provam que a declaração de guerra da Igreja Mórmon contra o casamento gay e a comunidade LGBT em 1995 foi deliberada e planejada por mais de uma década, e que a entrou em coluio com a Igreja Católica para a cruzada anti-gay.

Ademais, a Igreja Mórmon foi a extremos para ocultar sua participação nessa cruzada política, inclusive criando o último grupo fantoche Organização Nacional pelo Casamento (National Organization for Marriage ou NOM) em 2007 para conseguir qualificar-se para elaborar e passar a Proposição 8.

Conflitos Entre Membros

A Igreja Mórmon causou enorme fissão entre membros por causa de seu apoio à campanha da Proposição 8 na Califórnia para suspender a legalização do casamento homossexual no estado. (Ver “Mormon Power Grab: It’s Tearing Families Apart”).

O consultor de marketing da Igreja Gary Lawrence confessou ao Washington Post que os danos na imagem pública por causa da Proposição 8 foram muito maiores que teriam antecipado.

Informantes dentro da Igreja indicam que ela perdeu até 1 milhão de membros ativos e fiéis nos últimos 7 anos por causa da cruzada anti-gay. Esses membros, ativos e voluntários dentro da Igreja (em chamados) optaram sair da Igreja em demonstração de apoio a seus familiares e amigos dentro da comunidade LGBT.

O prestigioso centro de pesquisas demográficas Pew Research Center publicou estudo demonstrando que mórmons estão mudando de opinião e cada vez mais aceitando a homossexualidade como uma expressão normal da sexualidade humana, crescendo 50% a aceitação entre membros da Igreja quando comparado com o mesmo estudo de 2007, antes do fiasco da Proposição 8.

Após mais de uma década de preparações e investimentos, e após uma década de vitórias políticas e jurídicas, a Igreja SUD encontrou-se na defensiva após 2008, tanto com o público em geral, quanto com os seus próprios membros. A Igreja abrandou sua postura e até passou a apoiar algumas leis anti-discriminatórias. Não obstante, continuou lutando contra alguns direitos civis básicos, bandeando com outras igrejas e grupos conservadores, inclusive incentivando e apoiando notórios grupos de ódio pregando discriminação contra pessoas e famílias LGBT. Como consequência, a Igreja vem perdendo membros e parece estar até perdendo a “pureza” ideológica deles.

Um Novo Profeta e Uma Nova Revelação?

Russell Nelson assumiu o papel de Profeta e Presidente da Igreja SUD em janeiro deste ano após o falecimento de Thomas Monson, e em 14 meses à frente da fé mórmon, nada havia proposto em termos de mudanças para com o tratamento dos membros LGBT.

O que não deveria ter surpreendido a nenhum observador e estudioso do mormonismo.

Em discurso de Conferência Geral em outubro de 1992, Nelson explicara como a epidemia de HIV e AIDS, que já havia ceifado as vidas de mais de 34 milhões de pessoas desde a década de 1980, dentre os quais desproporcionalmente mais gays e transsexuais, fora causada (em parte) pela luta por direitos civis para negros.

Em discurso na BYU-Havaí, meros 2 meses após o anúncio e a descoberta citadas acima, Nelson explicara como e porquê Deus teria revelado à Igreja SUD a importância de discriminar contra crianças em famílias LGBT. Na mesma ocasião, sua esposa Wendy Nelson, explicara para os jovens mórmons que através do poder da prece e da fé, homossexuais podem ser curados de sua homossexualidade.

Aparentemente, tudo isso mudou hoje com um súbito anúncio público da Primeira Presidência, lido pelo Primeiro Conselheiro Dallin Oaks.

“Filhos de pais que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais e transexuais agora podem ser abençoados quando bebês e mais tarde batizados como membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, de acordo com as atualizações anunciadas nesta quinta-feira às políticas da Igreja de novembro de 2015, intencionadas na época em manter a harmonia familiar, mas percebidas como dolorosas entre alguns defensores da comunidade LGBT.

A igreja também atualizará seu manual de instruções para que líderes removam o rótulo de apostasia por comportamento homossexual, que também havia sido aplicado em novembro de 2015, disse o presidente Dallin H. Oaks, primeiro conselheiro na Primeira Presidência, que anunciou as mudanças em nome da Primeira Presidência na manhã de quinta-feira durante a sessão de liderança da 189ª Conferência Geral Anual da Igreja.” (ênfases nossas)

Além de admitir que as novas mudanças foram anunciadas por causa da reações negativas de membros e da mídia, Oaks demonstra surpreendente franqueza ao confessar que a revelação anunciada pelo Profeta Thomas Monson causara ódio e contenção, e promovera redução em compreensão, compaixão, e amor:

“Além disso, os esforços de nossos membros para mostrar mais compreensão, compaixão, e amor devem aumentar o respeito e o entendimento entre todas as pessoas de boa vontade. Queremos reduzir o ódio e a contenção tão comuns hoje em dia. Estamos otimistas de que a maioria das pessoas – quaisquer que sejam suas crenças e orientações – anseiam por uma melhor compreensão e por comunicações menos controversas. Esse é certamente o nosso desejo, e procuramos a ajuda de nossos membros e outros para alcançá-lo.”(ênfases nossas)

O próprio jornal oficial da Igreja SUD, Deseret News, pausa em sua cobertura do anúncio para notar que o atual Profeta havia identificado a política de seu antecessor como revelação divina:

“O Presidente Russell M. Nelson, que sucedeu o Presidente Monson como presidente da igreja, era o presidente do Quórum dos Doze Apóstolos em 2015. Ele disse no início de 2016 que as políticas de novembro de 2015 eram resultado de revelação. Os santos dos últimos dias acreditam que Deus dirige a igreja através da revelação contínua por meio de um profeta vivo, o presidente da igreja. O Presidente Nelson, que se tornou o presidente da Igreja em janeiro de 2018, disse às autoridades gerais e da área de todo o mundo durante a reunião da manhã de quinta-feira que uma onda de mudanças políticas no ano passado foi inspirada pela revelação. (ênfases nossas)

Em suma, Nelson e Oaks afirmaram hoje, de maneira simples, honesta, e inequívoca que Thomas Monson recebera uma revelação divina em 2015 que foi diretamente contrariada por uma revelação divina em 2019 a seu sucessor profético.

A Primeira Presidência, assim como o editorial do Deseret News, admitem que a nova revelação veio apenas após imensa pressão da opinião pública. Como mencionamos acima, imediatamente após o vazamento dessa mudança oficial, líderes da Igreja SUD saíram à caça da fonte do vazamento e em defesa da nova política, tentando inclusive suaviza-la para mitigar seus efeitos negativos de relações públicas. Milhares de membros da Igreja saíram às mídias sociais e às ruas para protestar a nova postura da Igreja, e milhares abandonaram a Igreja pedindo resignação, entre eles até famosos apologistas SUD, apologistas SUD menos famosos, e famílias de jovens afetados pela mudança. Subsequentemente, a taxa de suicídio entre jovens SUD aumentou drasticamente no ano seguinte à mudança, levando a grupos de mães mórmons dedicadas a proteger seus filhos da Igreja e as consequências de suas políticas de discriminação antigay a se organizarem em oposição à Igreja. Até jornais de alcance internacional, como o The New York Times, abertamente criticaram a Igreja por sua postura.

Reconhecendo essa pressão, a Primeira Presidência admitiu:

“O Presidente Henry B. Eyring, segundo conselheiro na Primeira Presidência, disse que a igreja precisa da direção de Deus para atender às mudanças nas circunstâncias e guiar mudanças nas práticas e políticas da Igreja ao longo de sua história.

(…)

Essas mudanças de política ocorrem depois de um longo período de aconselhamento com nossos irmãos no Quórum dos Doze Apóstolos e depois de fervorosa e unida oração para entender a vontade do Senhor nestes assuntos”, disse a Primeira Presidência no comunicado à imprensa.

(…)

Na época em que anunciaram as políticas de novembro de 2015, os líderes da igreja mantiveram sua posição de longa data de que os membros da igreja não deveriam excluir ou ser desrespeitosos com aqueles que escolhem um estilo de vida diferente. Eles também disseram que os membros da igreja poderiam expressar apoio político para o casamento entre pessoas do mesmo sexo sem consequências para a membresia da igreja.

Ainda assim, alguns disseram que as políticas foram dolorosas para eles e os críticos lançaram petições pedindo aos artistas convidados que cancelassem as aparições com o Coro do Tabernáculo na Praça do Templo e boicotassem os jogos contra a Universidade Brigham Young, a principal escola da igreja.” (ênfases nossas)

Em resumo, as mudanças anunciadas hoje e que serão efetivadas no oficioso Manual de Instruções da Igreja, volume 1, são:

Todos os pais, incluindo os que não são da igreja ou que são LGBT, podem solicitar uma bênção para um bebê por um portador do sacerdócio digno e autorizado[.] Os líderes da igreja local devem instruir o pai ou pais que a bênção, uma ordenança que coloca o nome da criança em registros formais da igreja e desencadeia uma série de contato vitalício na igreja, significa que os membros da congregação entrarão em contato com eles periodicamente e proporão batismo quando a criança completar oito anos de idade.

• Começando imediatamente, crianças de oito anos ou mais cujos pais se identifiquem como LGBT podem ser batizadas sem a aprovação da Primeira Presidência[. O]s líderes da igreja local devem obter permissão dos pais para o batismo de uma criança e garantir que eles entendam a doutrina que membros da igreja ensinarão a criança e que ele ou ela está fazendo um convênio para viver os princípios do evangelho conforme ensinado pela igreja.

• Embora o casamento entre pessoas do mesmo sexo por um membro da igreja ainda seja considerado uma transgressão séria[,] ele não será mais tratado como apostasia para propósitos de disciplina da igreja. O esclarecimento alinha a resposta da igreja às violações da doutrina da lei da castidade da igreja – as relações sexuais são adequadas apenas entre um homem e uma mulher que são legal e legitimamente casados ​​como marido e mulher – quer ocorram em relacionamentos heterossexuais ou homossexuais. (ênfases nossas)

Curiosamente, o jornal da Igreja SUD cita como exemplos históricos de políticas eclesiásticas que foram alteradas, além de mudanças nos nomes oficial e extra-oficial da Igreja (como se viu recentemente mais uma vez), e de mudanças na duração de missões de tempo integral (veremos mudança em breve?), mas também na mudança da política de discriminação contra negros e segregação racial.

Pode-se ler nisso uma preparação para maiores mudanças no futuro?


Leia mais sobre a Proposição 8.

Leia mais sobre associação de Igreja com essas organizações.

Leia mais sobre reações da Igreja com controversias legais.

9 comentários sobre “Igreja Mórmon Reverte Revelação Sobre Famílias LGBT

  1. Em relação ao batismo de crianças filhos de gays eu concordo com a mudança, mas o casamento de membros da igreja com pessoas do mesmo sexo deixar de ser apostasia é errado, seja como apostasia ou qualquer outra forma de transgressão o membro que vive dessa maneira merece ser excomungado.

  2. Aos membros mais antigos, mais conservadores, não resta mais nada a não ser dizer adeus à igreja…

    Aos membros mais novos, resta dizer: sinto muito, você está sendo enganado…

    E para algumas pessoas sérias e inteligentes, como os administradores deste site, como a Vânia Moore, entre outros, resta dar os parabéns, vocês têm feito um trabalho eficiente para desmascarar essa instituição financeira, e eles estão cedendo, dia após dia…

    muito em breve, o casamento gay será aceito, não por revelação divina, mas, para atender aos anseios da sociedade, como foi com a poligamia e com o preconceito contra os negros…

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