Russell Ballard, Apóstolo d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, recebeu a homenagem de ser o palestrante principal na última reunião do Congresso Mundial de Famílias.
Embora o discurso em si não tenha inovado em conteúdo para Mórmons bem informados (ou leitores deste site), o contexto da honra desse convite, porém, é muito mais notável que o fato em si.
Eis os pontos chaves do discurso de Russell Ballard:
- Ballard afirma que “liberdade religiosa” está em perigo e deve ser defendida; Conclama a “angariar apoio à fé, às famílias e à liberdade” contra as forças que “querem nos deprivar desses direitos” e intentas em “derrotar as proteções das liberdades religiosas”
Ele, como de costume com demais líderes na Igreja SUD, nunca dá exemplos concretos de quais liberdades estariam sendo ameaçadas. A verdade é que não há ameaças (nos EUA) à “liberdade religiosa” e esse argumento é uma tática de distração (ver últimos parágrafos aqui).
- Ballard queixa-se de crianças escolares serem expostas à tolerância a famílias LGBT; Queixa-se dos “direitos dos pais” e a “liberdade prerrogativa das convicções parentais”
Ele reclama de crianças que foram ensinadas na escola a não ter preconceitos contra famílias LGBT, cujos pais não foram permitidos a proibir tais medidas educacionais, ou de remover seus filhos dessas classes.
Esquece-se que uma das funções da escola é educar cidadãos, e parte dessa educação inclui o ensino da coexistência e tolerância dentro de uma sociedade diversificada. Seguindo o argumento de Ballard, pais racistas deveriam ter o direito de excluir suas crianças de quaisquer atividades que promovam integração e tolerância interracial.
- Ballard reforça a importância de compromissos
Ele argumenta, perante um público ferozmente homofóbico (ver abaixo), que é importante realizar concessões dentro de uma sociedade diversificada. Ele citará o próprio exemplo da Igreja SUD que, após a humilhante reação pública negativa por causa de seu papel fundamental em extirpar direitos civis de homossexuais na California em 2008, passou a apoiar leis que protegem alguns direitos civis de LGBT em Utah (e.g., leis que proibem preconceito em práticas habitacionais ou trabalhistas) a partir de 2009.
- Ballard queixa-se do rótulo de “fanatismo e intolerância”
Ele argumenta que a Igreja e seus membros devem poder seguir discriminando contra homossexuais e famílias LGBT sem ser chamados de “fanáticos” ou “intolerantes”.
- Ballard queixa-se de ser “punido com uma medida desarrazoada”
Ele argumenta chamar de “fanáticos” ou “intolerantes” ou criticar como “homofóbica” a Igreja ou seus membros por discriminar contra homossexuais e famílias LGBT é “punir com uma medida desarrazoada” (i.e., contrária à razão, despropositada, injusta, que não tem fundamento). A “medida” a qual Ballard se refere, embora não explicitamente citada, é a reação pública acima mencionada, que se mantém até hoje.
- Ballard elogia e congratula a Igreja SUD por apoiar legislação que protege direitos básicos de cidadãos LGBT em Utah
Ele cita, em tons congratulatórios, o próprio exemplo da Igreja SUD que, após a humilhante reação pública negativa por causa de seu papel fundamental em extirpar direitos civis de homossexuais na California em 2008, passou a apoiar leis que protegem alguns direitos civis de LGBT em Utah (e.g., leis que proibem preconceito em práticas habitacionais ou trabalhistas) a partir de 2009.
- Ballard usa o sacríficio dos Mórmons para terminar o Templo de Nauvoo às pressas antes do êxodo para o Oeste como exemplo da importância do casamento e das famílias para Mórmons
Ele só esqueceu-se de contar a seus convidados não Mórmons qual a maior motivação para acelerar o processo de construção do Templo de Nauvoo, mesmo sabendo que eles iriam emigrar dali. E não era “casamento homem-mulher”.
- Ballard cita a “Proclamação da Família” para urgir autoridades seculares para “proteger a família”
Ele, apesar do discurso de “tolerância” e “compromisso”, deixa claro que é a intenção da Igreja continuar pressionando autoridades seculares por leis que discriminem contra famílias LGBT. O que Ballard, como de costume com demais líderes na Igreja SUD, nunca dá exemplos concretos de como exatamente proibir ou denegrir casamentos e famílias LGBT deveria “proteger a família”.
- Ballard insiste na “importância de defender o casamento tradicional”
Ali estão casais LGBT querendo, não uma vida de devassidão e orgias dos sentidos, mas uma vida de família e responsabilidade e comprometimento simbolizado e formalizado na instituição do casamento, e barrando o seu caminho estão Ballard e colegas do “Congresso Mundial de Famílias”.
O que poderia ser mais “tradicional” que duas pessoas fazendo votos de uma vida em conjunto, companheirismo, cooperação mútua, fidelidade, e dedicação? Votos de ter, criar, educar filhos em parceria e desapego?
Para um congresso dedicado a “proteger a família”, Ballard nada disse sobre como “proteger a família” e muito sobre como discriminar contra a família LGBT.
Nem todo o discurso, contudo, foi negativo para relações entre a Igreja e a comunidade LGBT ou os Mórmons LGBT:
“Assim como nós não podemos ou não devemos nos afastar de familiares de quem discordamos, nós não podemos e não devemos nos afastar daqueles que aparentam ou pensam ou agem de forma diferente de nós. Demonstramos nossa melhor humanidade e mostramos amor e bondade a todos os filhos de Deus, mostramos nosso verdadeiro discipulado quando nos recusamos a usar tons estridentes, quando nos recusamos a usar rótulos divisivos e quando entramos na praça pública a busca de soluções justas através da compreensão e respeito mútuo.” — M. Russell Ballard
Assista o discurso de Ballard na íntegra aqui:
O que é o Congresso Mundial de Famílias?
O Congresso Mundial de Famílias é uma organização norte-americana fundada em 1997 com a missão de promover leis que discriminem contra mulheres (dificultando acesso a métodos contraceptivos) e homossexuais (restringindo direitos civis ou mesmo criminalizando relações LGBT).
O Southern Poverty Law Center, uma ONG norte-americana fundada em 1971 com a missão de oferecer apoio legal contra discriminação racial, recentemente listou o Congresso Mundial de Famílias no rol de “grupos de ódio” dedicados à discriminação e repressão preconceituosa de minorias.
O Human Rights Campaign, uma ONG norte-americana fundada em 1980 com a missão de promover diretos civis básicos para, e combater discriminação contra, pessoas LGBT, também denuncia o Congresso Mundial de Famílias como um dos principais incitadores mundiais de ódio, preconceito, intolerância contra homossexuais e LGBT em geral. Para tanto, o HRC vem documentando a influência do CMF nas leis anti-gay extremistas e discriminatórias na Rússia, Uganda, e Nigéria, entre outras.
O Apóstolo Russell Ballard será o principal palestrante na nona edição do Congresso Mundial que será realizado em Salt Lake City no final de outubro. A cooperação entre a Igreja SUD e esse “grupo de ódio” data deste a fundação desta no final da década, com a criação de um departamento inteiro na Universidade de Brigham Young para produzir respaldo acadêmico para a empreitada anti-gay. Janice Shaw Crouse, uma membro do comitê executivo do CMF descreve:
“[A Igreja SUD] tem sido um forte aliado do Congresso Mundial de Famílias… e é uma honra ter um de seus Apóstolos seniores discursando na nossa conferência — especialmente alguém cujo compromisso de vida e liderança tem servido para preservar e fortalecer a unidade familiar.”
O Southern Poverty Law Center denuncia a organização por disseminar ódio e preconceito sob o pretexto de “proteger a família”, da mesma maneira como a Ku Klux Klan e os neonazistas desejam apenas “proteger a raça branca” e “suas famílias, seus filhos, suas mulheres” de Negros e imigrantes. Inclusive, tanto a KKK como os neonazistas compartilham o mesmo lugar na lista de “grupos de ódio” que o Congresso Mundial de Famílias.
Famílias LGBT ofendidas?
Para se compreender como o discurso de Ballard é ofensivo para famílias LGBT, é importante destrinçar o seu argumento final:
“Nós podemos ser específicos e impetuosos sobre os benefícios do casamento homem-mulher sem injuriar ou desrespeitar aqueles que pensam diferente.” — M. Russell Ballard
E essa mentira é extremamente ofensiva.
Mentira? Sim, porque a verdade é que isso é literalmente impossível.
Não se pode argumentar os “benefícios do casamento homem-mulher” sem implícita ou explicitamente estar argumentando pelos malefícios do casamento homem-homem, ou mulher-mulher, ou homem-transgênero, etc. (Ironicamente, também sem denegrir casamentos homem-mulheres, algo que a Igreja Mórmon defendeu com unhas e dentes)
Quando se argumenta os “benefícios do casamento homem-mulher”, denigre-se todas as famílias que não se encaixam nesse padrão específico. Estabelece-se que a família “homem-mulher” é inerentemente melhor que qualquer outro modelo de família.
Para uma Igreja que se diz “defender a família”, essa postura não deixa de soar hipócrita para todas as famílias que não são “defendidas”, mas sim relegadas a segunda categoria de famílias menos importantes, menos boas, inferiores.
Russell Ballard discursou para um reconhecido grupo de ódio com uma explícita missão homofóbica usando retórica desonesta para defender a categorização de famílias LGBT (e as famílias alternativas) como de segunda categoria e inferiores. Como não se ofender?
É interessante que o Elder Ballard, como Apóstolo de Cristo NUNCA OFENDERIA uma família LGBT.
Isto vai contra os preceitos dos princípios ensinados por Cristo, agora advertir (como é sua função, responsabilidade e cargo) que é errado o homossexualismo esta totalmente correto. Há maneiras de fazer e chamar atenção sem ofender alguém.
Da mesma forma, e concordo, que quem tem filhos e é totalmente contrário aos preceitos de LGBT, como aconteceu comigo que eu afirmei firmemente que uma família que quer ensinar meus filhos que isto é correto esta prejudicando INDIRETAMENTE os meus filhos querendo ensinar o errado como certo.
Desculpe, mas a opinião do autor deste texto esta totalmente errada e mal interpretada pelas palavras do Elder Ballard.
Melhor rever alguns pontos de vistas próprios com o que o Apóstolo do Senhor disse. (Sem ofensas).
Acho que o próximo post do Vozes Mórmons deveria ter o seguinte título:
Vozes Mórmons Ofende Apóstolo Russell Ballard.
Gomes, isso vai ter troco … aguarde!
Hahahahahaha!
Muito boa!