Cadê os Livros? Parte 2: O Período Inglês

A publicação de livros mórmons e o desenvolvimento da cultura mórmon fora dos EUA

literatura mórmon

Imagem: Jessica Ruscello

Esta apresentação examina o desenvolvimento cultural mórmon fora dos Estados Unidos, através da lente da produção e distribuição de livros. Para compreender melhor a situação atual, apresentarei uma visão geral da história da publicação de livros por e para mórmons, prestando atenção especial à publicação de livros não escritos em inglês e publicados fora dos Estados Unidos. Depois, vou examinar o ambiente atual para a publicação de livros mórmons e finalizar com alguns caminhos possíveis para o desenvolvimento da publicação mórmon fora do idioma inglês.

Uma breve história da publicação de livros mórmons

Leia aqui a primeira parte sobre o período formativo da literatura mórmon.

O período inglês

Enquanto os santos nos EUA migravam para Utah e começavam a criar lá uma sociedade, onde mais tarde começariam a publicar novamente (só em 1850 é que iniciaram o Deseret News, outras publicações demoraram ainda mais tempo), os missionários na Inglaterra ainda publicaram muitos folhetos, sob o controle do presidente da missão em Liverpool. 

Como presidente de missão de 1848 a 1851, Orson Pratt supervisionou muito da centralização da publicação SUD na Inglaterra e também sua expansão. Durante esse tempo, a missão desenvolveu um sistema complexo de distribuição de livros e panfletos, os quais eram entregues em crédito para os “agentes de livros” (geralmente o presidente da conferência ou o presidente da missão), e mais tarde entregues em crédito para os missionários individualmente. Esses vendiam os livros e panfletos, ganhando um pouco de dinheiro para pagar as despesas missionárias e incentivando a distribuição de grandes quantidades de materiais.

Mas quando George Q. Cannon chegou em 1861 para supervisionar a missão europeia, esse sistema estava avariado, pois tanto os missionários quanto a própria missão tinham acumulado grandes dívidas devido a impressões excessivamente otimistas e à produção de itens tolos (alguns missionários produziam gravuras de si mesmos, dos líderes e edifícios da igreja, vendidas através da missão). Cannon escreveu para Brigham Young, explicando que “Há edições de algumas obras que, na proporção em que foram vendidas durante os últimos três anos, levará a metade do Milênio para vender o que agora temos à mão neste escritório.” Como resultado da investigação de Cannon, Brigham Young lhe disse para enviar as obras encadernadas a Salt Lake para serem vendidas e sugeriu que os panfletos fossem dados aos membros ou destruídos.

Com as dívidas contraídas na Inglaterra, a morte do prolífico panfletário Parley P. Pratt em 1857, a Guerra de Utah, o retorno de Orson Pratt (outro panfletário prolífico) do campo missionário, e outras dificuldades, a Igreja efetivamente parou a publicação de livros e panfletos em inglês até depois da morte de Brigham Young, em 1877.

A editoração em missões estrangeiras

Em contraste com as áreas da Igreja de língua inglesa, as missões em outras línguas estavam apenas começando a publicar livros e outras materiais. O primeiro missionário a trabalhar em um lugar em que não se falava inglês foi, provavelmente, Orson Hyde que, em sua viagem à Terra Santa em 1842, passou pela Holanda e em seguida pela Alemanha, publicando panfletos em cada língua e se esforçando para iniciar o trabalho missionário naqueles países. Enquanto esses esforços não deram resultados, outros missionários foram logo enviados e a primeira missão de língua estrangeira foi iniciada onde é hoje a Polinésia Francesa (incluindo o Taiti), em 1844. Até 1850 missões foram estabelecidos no País de Gales, Escandinávia, França, Itália, Alemanha e no Havaí, e os esforços editoriais logo começaram em todas essas áreas.

Era o presidente da missão que geralmente controlava a obra editorial nessas áreas. Sempre que possível, aqueles que eram chamados para abrir missões em países que não falavam inglês já conheciam o idioma local, o que lhes permitia começar o trabalho imediatamente. Editar uns poucos folhetos para o uso missionário normalmente tinha prioridade, seguido do Livro de Mórmon, um hinário e um periódico da missão. Seguiam-se traduções de outros textos, livros e escrituras. Às vezes, alguns itens eram retraduzidos mais tarde.

A missão escandinava, com sede na Dinamarca e usando inicialmente o idioma dinamarquês, é um bom exemplo. Peter O. Hansen, enviado para a missão em 1850, antes do seu presidente, Erastus Snow, e dos demais missionários, logo após sua chegada em maio daquele ano escreveu e publicou um folheto de quatro páginas intitulado “En Advarsel til Folket” (“Um aviso para o povo”), que trazia uma breve sinopse dos princípios do evangelho. Ele então voltou sua atenção para sua tradução do Livro de Mórmon, já em processo desde antes de sair dos EUA. Antes do fim do ano, completou a tradução, então revisada por pessoas locais de bom conhecimento. As primeiras folhas saíram da máquina de impressão em janeiro de 1851 e a impressão foi concluída no final de abril. Enquanto sua tradução do Livro de Mórmon estava sendo revista e impressa, ele traduziu 28 hinos SUD e publicou o primeiro hinário dinamarquês em março de 1851. Em outubro de 1851, a missão estava pronta para iniciar um periódico, Skandinaviens Stjerne, que foi publicado continuamente até 1956, e sucedido pelo Der Dansk Stjerne (que finalmente foi sucedido pela Liahona em 1984).

Embora a missão escandinava tenha tido mais sucesso que a maioria, esforços editoriais similares existiram em outras missões. Apesar das enormes dificuldades para dar início à obra missionária, a missão alemã publicou uma tradução do Livro de Mórmon em 1852. Versões em francês e italiano surgiram nesse mesmo ano, e na França, um periódico, Etoile du Deseret, foi criado, ainda que a missão tivesse que ser abandonada em 1864. O proselitismo em francês, porém, continuou na missão suíça.

No próximo post desta série, falaremos sobre a editoração mórmon fora da Igreja SUD.

Apresentação original submetida à I Conferência Brasileira de Estudos Mórmons, em 2010.


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2 comentários sobre “Cadê os Livros? Parte 2: O Período Inglês

  1. Com relação à publicação de livros, no Brasil, pararam de editar Discursos de BY, Doutrinas de Salvação, entre outros. Alguém sabe a razão?

  2. Havia muitos livros publicados pela missão brasileira, nos anos 50.Será que alguma alma bondosa vai montar um AMAZON SUD com livros NÃO PADRÃO e independentes pra instalarmos em nossos celulares e Tablets ?

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