O jornal oficial da universidade da Igreja SUD, o The Daily Universe da BYU (Universidade de Brigham Young) publicou uma reportagem sobre o grupo de mães mórmons, “Mamães Dragões”, dedicado a combater os efeitos psicológicos negativos em jovens das políticas homofóbicas da Igreja.
Nós do Vozes Mórmons havíamos reportado em fevereiro p.p. como a revelação do alarmante e preocupante aumento súbito na taxa de suicídios entre jovens mórmons havia motivado um grupo de mães dedicadas a proteger seus filhos e jovens correligionários à ação e ao ativismo.

Mamães Dragões (Foto: Jody England Hansen)
Agora, a jornalista Emilie Stiles, estudante de relações públicas da BYU cujo objetivo profissional ela descreve como “plan[eja] uma carreira em relações públicas para a Igreja Mórmon”, descreve o lançamento do “Projeto de Estórias das Mamães Dragões” em uma livraria de Provo, Utah (onde também se encontra o campus da BYU), com fotos e ensaios pessoais das mães que compõe o grupo “Mamães Dragões”.
Stiles relata que o propósito do grupo é incentivar a expressão de mães SUD por seus filhos LGBT, demonstrando que “amam e apoiam seus filhos independente de tudo, e que os protegerão daqueles que não lhes estendem compreensão ou aceitação”.
Kimberly Anderson, coordenadora do projeto, relata em entrevista para Stiles que os temas centrais e comuns dessas mulheres são os de amor, perda de expectations, medo, luto, e sensação de culpa, e declara a esperança que o livro seja publicado e sirva de força influenciadora para mudanças no mundo.
Durante o evento, Stiles relata que o irmão abertamente homossexual do Apóstolo D. Todd Christofferson, Tom Christofferson, relatou como sua mãe decidiu aceitá-lo como ele era ao invés de tentar forçar uma “família mórmon perfeita”, incluía o marido de Tom em suas orações, e como ela buscou incentivar que sua família fosse “perfeita em amor uns pelos outros” ao invés de parecer “uma família mórmon perfeita”.
Kathryn Harper Hueth, umas das co-fundadoras do grupo, também relatou sua história pessoal com os desafios de perder a ilusão de “vida familiar perfeita”, que nutria desde sua infância na primária, ao descobrir que seu filho é gay. Hueth recontou sua jornada espiritual para descobrir que seu “Pai Celestial [me] havia convocado para o sagrado chamado de ser uma mão para um de Seus filhos LGBTQ”.
Jody England Hansen leu o ensaio que ela escrevera para o projeto, recontando uma jornada pessoal de profundo desespero pela angústia e medo do futuro eterno de seu filho gay, até uma experiência espiritual pessoal confirmando-lhe que Deus não discrimina Seus filhos, mas apenas os ama e os aceita igualmente.
De modo geral, o relato de Stiles descreve um evento de reforço social positivo de mães apoiando umas as outras e trocando experiências pessoais sobre como apoiar e aceitar seus filhos que, por circunstâncias externas, encontram-se nas margens da sociedade mórmon.
Leia a reportagem inteira aqui.
Origens do Mamães Dragões
Wendy Montgomery, uma membro ativa da Igreja SUD e mãe de um filho homossexual, e voluntaria no Projeto de Aceitação Familiar da Universidade Estadual de São Francisco, é uma das co-fundadoras do grupo “Mamães Dragões”. Montgomery documentou e publicou notícia desse aumento súbito na taxa de suicídios entre jovens Mórmons LGBT desde a descoberta da nova política oficial de discriminação contra famílias e crianças LGBT por parte da Igreja SUD.
O grupo “Mamães Dragões” serve para conectar as mães SUD de jovens homossexuais, tanto virtualmente através de redes sociais como ao vivo com reuniões presenciais, para trocarem experiências e servirem de grupo de apoio. Ademais, o grupo articula-se para abrigar jovens fugindo, ou expulsos, de seus lares homofóbicos, resgatar jovens que se encontram deprimidos ou com ideações suicidas, organizar palestras com oradores Mórmons que sejam amigáveis a gays para conscientizar comunidades Mórmons sobre os desafios de pessoas LGBT e seus familiares dentro de um contexto SUD, e até organizar velórios e funerais para os jovens Mórmons que cometaram suicídio.
A revista Slate do grupo The Washington Post publicou em fevereiro uma excelente entrevista outras co-fundadoras do grupo Diane Oviatt, uma enfermeira-oncologista infantil, e Hollie Hancock, uma terapêuta profissional, sobre suas experiências com jovens Mórmons gays.
Eis os destaques principais daquela entrevista:
Como surgiu o Mamães Dragões?
Oviatt: Começamos há cerca de três anos atrás, como oito mães mandando mensagens privadas umas às outras no Facebook. Nós tínhamos nos conectado através da Afirmação, um grupo de apoio internacional LGBT Mórmon. Eventualmente, nós criamos nosso próprio grupo no Facebook, e precisávamos de um nome. Uma das nossas mães fundadoras tinha escrito um post sobre seu filho saindo do armário. Ela disse que precisava ser mais do que uma mãe ursa, porque seu filho era extra vulnerável, ele estava realmente sofrendo. “Eu sou uma mamãe dragão”, disse ela. “Eu cuspiria fogo pelo meu filho.”
Qual foi sua reação às novas políticas?
Hancock: Esta foi uma onda de choque, um tapa na cara, como se tivessem me puxado o tapete debaixo de mim, e foi assim isso com muitas pessoas. Eu chorei por uma semana. Foi difícil, porque cada vez que eu abria a porta para acolher um novo paciente, olhos inchados e vermelhos e bochechas coradas de lágrimas me cumprimentavam. Chorei com meus pacientes. Essa primeira semana – Eu nunca havia visto nada assim como uma terapeuta e espero nunca ver novamente. Eu não posso imaginar o quão doloroso era para os meus pacientes.
Tenho recebido chamadas e mensagens de Mórmons LGBT me dizendo: Eu fui excomungado, eu tinha terminado com a igreja por 20 anos, eu achava que tinha lidado com isso, eu pensei que estava OK, mas a mudança de política rasgou as feridas novamente. Essas pessoas estão enfrentando o mesmo trauma e a emoção e mágoa e dor que eles sentiram com essa mesma intersecção de fé e sexualidade.
Por que você acha que a igreja introduziu essas políticas? E por que agora?
Oviatt: Minha opinião é que eles não queriam que os membros comuns conhecessem e amassem mórmons gays, ou conhecessem e amassem esses casais e seus filhos e vissem que pais incríveis eles são. Haveria uma revolta de seus membros comuns transformando-os em aliados. Este foi um ataque preventivo por parte da igreja. Eu realmente acredito que para a comunidade LGBT ter um lugar em nossa igreja e em nossa teologia mudaria tudo o que nossa igreja defende para sempre. Um homem, uma mulher, e tudo o mais.
Se for esse o caso, por que você e seus membros simplesmente não deixam a igreja?
Oviatt: Esse é o meu ponto de vista como uma mãe: Eu tenho um filho gay e um irmão gay que lutou toda a sua vida. (Ele saiu do armário na década de 70. Foi muito difícil.) Eu vi o estrago em primeira mão. Eu vi meu filho ter ideação suicida. Eu não posso te dizer quantas vezes eu já contemplei simplesmente sair. Toda vez que a igreja enfia outra faca em seu coração, você pára para sentar e pensar, este é o momento que eu vou finalmente sair. Você tem vergonha de fazer parte de uma organização que trata as pessoas dessa maneira. Mas você sabe o que se diz – O mormonismo não se apaga tão facilmente. É uma cultura, bem como uma religião. Muitos de nós têm antepassados pioneiros. É uma coisa difícil de se afastar.
O meu filho e eu vivem na área de São Francisco. Não temos nada além de líderes amáveis, prestativos, e inclusivistas. Meu filho não poderia ter tido uma experiência melhor ao sair do armário. E, no entanto, a doutrina ainda é tão dolorosa, não há lugar para nós na teologia. Mas cada vez que eu penso em sair, eu penso nessas crianças adolescentes que sentam-se nos bancos com as suas famílias que não estão sendo devidamente amados, abraçados, apoiados. E eu sou uma voz para mudança, um espinho no lado das pessoas. Eu fico para educar, para falar. Sempre que eu penso que eu poderia sair, eu me pergunto: Quem vai cuidar dessas crianças? Quem vai estar lá por eles?
Hancock: Toda vez que algo surge que seja prejudicial para a comunidade LGBT SUD, enfia uma faca quente nos nossos corações também. Isso me empurra para essa encruzilhada -Devo ficar ou devo ir? Eu tive crises de fé graves. Mas eu fico ligada e envolvida por todas aquelas crianças que estão ouvindo coisas horríveis sendo ditas nos púlpitos.
Durante a Proposição 8, conversei com meu Bispo em lágrimas e disse: “Isso não está certo.” Ele me disse que eu precisava explicar o porquê para a nossa congregação. “As pessoas precisam saber o que você está fazendo, a comunidade que você está servindo”, ele me disse. Eu estava chocada que ele me tinha oferecido um microfone aberto. Depois disso, os membros gays da minha congregação começaram a me puxar de o lado e dizer, obrigado, estou tão feliz por você estar aqui. É por essas pessoas que Diane e eu ficamos.
Seu grupo recebeu uma tempestade de atenção da mídia depois que Wendy Montgomery afirmou que a nova política tinha estimulado 32 suicídios. Como ela chegou a esse número?
Oviatt: Wendy trabalha com o Projeto de Aceitação Familiar na Universidade Estadual de São Francisco. É uma iniciativa de melhores práticas que ajuda as famílias com filhos homossexuais. O projeto fez um filme documentário com Wendy e sua família, e ela rapidamente se tornou o rosto da Mamães Dragões. Desde então, muitas pessoas entraram em contato com ela com suas histórias pessoais. Ela foi contactada diversas vezes desde a nova política sobre jovens membros da família gay que se suicidaram, e ela decidiu começar a se manter a par das histórias que ouvia. Há um circuito de informações subterrâneo sobre a situação, porque há tanta vergonha e estigma em torno do suicídio, especialmente no Mormonismo, que diz o suicídio é semelhante ao assassinato.
Como tem sido a reação ao relatório de Montgomery?
Oviatt: Dentro de nossa comunidade de ativistas, as pessoas estão felizes que nós empurramos esta questão para o primeiro plano, para que possamos começar a falar sobre isso. Há também um monte de preocupação dentro da comunidade LGBT Mórmon sobre a idéia de contágio do suicídio, porém, que totalmente entendemos – é uma faca de dois gumes. Nós não queremos induzir desespero ou fazer as pessoas sentirem que vão ser apenas uma outra estatística. Estamos empurrando a questão educativa agora. O Projeto de Aceitação Familiar divulga informações para que as famílias saibam como evitar que estas coisas aconteçam.
Hancock: Muitas pessoas fora do Mamães Dragões nos criticaram duramente por liberar esses números. Mas eu vejo isso como um trampolim para aumentar a conscientização para uma a discussão mais ampla, que deve consciêntizar sobre suicídio e prevenção. Ninguém queria ver a realidade do que está acontecendo.
Oviatt: Alguns também acusaram o Mamães Dragões de querer os holofotes, ao invés de querer realmente proteger seus filhos e certificar-se que os jovens Mórmons LGBT estejam seguros e tendo suas necessidades atendidas por terapeutas e grupos de apoio e recebendo recursos adequados. Mas, na verdade, não é sobre nós. Trata-se de ajudar nossos filhos e educar e incentivar e apoiar uns aos outros.
Quando você olha para o seu filho precioso, e você vê que eles não querem viver, porque eles não se encaixam – Veja, tudo o que lhes ensinamos toda a sua vida a querer e buscar – casamento no templo, crianças, o reino celestial no céu com sua família, eles pensam que não poderão nunca ter, porque eles são gay. Não é de se admirar que essas crianças não queiram ficar mais por aqui. É como se a dor fosse demais. A vergonha: Eu estou arruinando minha família celestial por ser gay. Eles sofrem repugnância interna mesmo quando eles tiveram uma boa experiência pessoal.
Mesmo dentro de comunidades mórmons de apoio, em outras palavras, a teologia pode ainda dirigir crianças LGBT à depressão?
Oviatt: Sim. A doutrina é muito dolorosa para essas crianças. É devastador. É por isso que temos que apoiar uns aos outros tanto, por que precisamos chorar com o outro. Há muita dor, muita dor de cabeça. Mas temos que tomar o assunto em nossas próprias mãos. Temos que parar o sangramento em nossas próprias comunidades até os caras em Salt Lake se toquem – em qualquer século que isso venha a acontecer.
Leia a entrevista inteira aqui.
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Não sou gay, e nem tenho parentes próximo que são, mas tenho um amigo que serviu missão comigo que é, e prefiriu se afastar da igreja do que ter que enfrentar o preconceito!!!
A questão é que se questionarmos as decisões das autoridades gerais, muitos outros pontos de doutrina deverão ser questionados, tais como:
-Dizer que quebrar a castidade é tão ruim quanto assassinato.
– Obrigatoriedade da palavra de sabedoria.
– Pressão para que jovens façam missão e depois casem o mais rápido possível.
– O culto ao livro de mórmon e aos líderes.
– Conselho disciplinares que mais se parecem inquisições modernas.
As autoridades gerais não são infalíveis, Deus não é um ser vingativo, tenhamos mais fé, caridade, amor….
Vamos nos libertar do jugo da liderança, bispos que proibem que os membros se levantem antes dele no fim das reuniões, conselhos de ala que só servem pra criar mágoas…
Vamos protestar contra autoridades gerais celebridades, que andam de limosine e ficam em hotéis caros! O dinheiro da igreja deveria ser gasto com caridade e não com shoppings e empresas!
Não somos melhores que ninguem, um judeu, presbiteriano, espirita ou católico é tão bom e aceito por Deus quanto um SUD, Deus abra seus braços de amor a héteros o homossexuais!!!! muitas vezes sentem a presença de Deus tanto quanto eu quiça mais!
Vamos sair do séc.19
A questão, Missionário Retornado, é que na Igreja nós temos uma subcultura sud extremamente ignorante e pouco intelectualizada conhecem pouco ou nada a própria doutrina, leem pouco, não estudam escrituras, os poucos com ensino superior são formados em áreas genéricas, profissionais ligados a pintura , arte, musica, são colocados em segundo plano nas congregações locais. Em outras palavras a submissão está ligada a própria falta de compreensão e as ligaduras são as correntes da ignorância. Nada mais contraditório vindo de uma religião que nasceu por meio de um líder carismático, inovador, arrojado e muitas vezes até mesmo maluco como era Joseph Smith, Talvez me arrisco a dizer é que precisamos é revisitar o seculo 19 e tomar algumas lições desses líderes que com pouco inovaram tanto. As congregações SUD’S no Brasil estão muito mais atrasadas do que você imagina, elas não estão na era vitoriana (seculo 19)vivem na idade média e amam isso !
Concordo com vc Richard, Joseph Smith era inovador, muito a frente de seu tempo! O problema começa á partir de Brigham Young, a igreja se tornou engessada!
No Brasil o problema é o seguinte, como vivemos em um país de maioria católica (apesar do crescimento das denominações protestantes e evangélicas, ainda somos o maior país católico do mundo) o camarada quando se batiza na igreja pensa, ” não sou mais católico, logo sou crente” e aí esse cara acaba se tornando líder e passa pra frente o comportamento quase pentecostal!
Bispos que pregam que beijar é pecado, que dão período probatório de 6 meses (ACONTECEU COMIGO QUANDO ERA JOVEM) por ter bebido uma cerveja!
Líderes que por nãondominarem a doutrina inventam versões de sua própria doutrina!
Concordo plenamente,no Brasil a igreja parece ser um filial da igreja Deus é amor!
Tive um bispo em minha cidade natal (fiquei sabendo que ele foi chamado como bispo novamente) que simplesmente proibiu o uso da quadra de esportes da capela! Não permite que bailes aconteçam e prega no púlpito a teologia da prosperidade, e acredita fielmente que o conteudo de sua conta bancária é sinal de sua fidelidade ao evangelho, apesar de tal bispo ser membro da igreja há mais de 20 anos e ele ainda traz resquícios de seu período como evangélico ( ele pertenceu a igreja quadrangular durante muitos anos, no período que televisão e pernas depiladas eram proíbidas!!!)