Professor de Ciências Políticas Benjamin Knoll realizou um excelente estudo estatístico onde cruzou dados de suicídios de jovens adolescentes levantados pela agência gorvenamental Center for Disease Control entre 2009 e 2014 com dados populacionais religiosos produzidos pelo Relatório Pew de Censo Religioso de 2014.
Recentemente, surgiram notícias sobre uma onda de suicídios entre Jovens Mórmons nos últimos quatro meses, desde o arrefecimento das políticas de discriminação contra membros e famílias LGBT pela Igreja SUD. Contudo, esses tristes relatos eram testimoniais e anedotais, e não correspondiam a uma análise estatística objetiva ou científica.
O trabalho de Knoll, entitulado “Taxas de Suicídios Entre Adolescentes e o Contexto Religioso Mórmon: Uma Análise Empírica”, serve para preencher essa lacuna objetiva de conhecimento no assunto.
Eis os achados principais desse estudo:
- Jovens na faixa etária entre 15-19 anos de idade que moram em estados com alta concentração de população Mórmon estão em maior risco de suicídio.
- Estatisticamente, jovens em estados com as maiores concentrações de Mórmons apresentam taxas o dobro daquelas em estados com as menores concentrações de Mórmons.
- Essa associação estatística não existia em 2009, mas vem crescendo alarmantemente rápido em estados com grandes populações Mórmons, como Utah, Idaho, Wyoming, Nevada, e Alaska. Apenas em Utah, a taxa de suicídio dobrou entre 2009 e 2014.
- Destes dados estatísticos é impossível determinar se a causa desse aumento em suicídios está diretamente relacionado a questões LGBT. Não obstante, há abundante evidência indireta e anedotal para sugerir esta correlação.
- Os dados não distinguem a religião dos jovens que se mataram. Baseado nesses dados, é impossível determinar se uma alta concentração populacional de Mórmons está levando jovens Mórmons à ideação suicida, ou levando seus vizinhos não-Mórmons a isso, ou ambos.
- O estudo, por utilizar dados até 2014, não aborda o relatado aumento súbito de suicídios após a mudança oficial em novembro de 2015. Para avaliar essa nova tendência, será necessário incorporar dados de 2015 e 2016.
Entenda mais
Sobre a nova política de discriminação
No começo de novembro de 2015, a Igreja SUD determinou uma clara mudança em política oficial, determinando que a posição da Igreja deva discriminar contra crianças em famílias LGBT, e contra jovens SUD de orientação LGBT. Após a mudança ter vazado para o público a contragosto da liderança, e apesar da resposta oficial da Igreja alterando e levemente suavizando a nova política, milhares de membros da Igreja SUD saíram em protesto e resignaram em massa. Não obstante, o Apóstolo sênior Russell Nelson recentemente mudou a narrativa da nova política, declarando que ela havia sido ordenada por Deus desde o início.
Sobre o aumento em suicídios
Wendy Williams Montgomery, membro da Igreja SUD no Arizona com um filho homossexual, e uma das líderes do grupo de apoio para famílias Mórmons com membros LGBT, reconta como passou a contabilizar os relatos de suicídios de jovens SUD, sofrendo por causa de sua orientação sexual, que vieram parar no grupo. Desde a descoberta do arrefecimento da homofobia institucional há menos de três meses, 34 jovens se mataram, sendo 28 deles apenas no estado de Utah. A título de comparação, a média anual de suicídios no estado de Utah é de 37 casos.
E estes são apenas os casos documentados, que provavelmente representam uma subestimação do total de tentativas ou suicídios entre Mórmons LGBT. Em entrevista ao jornal The Salt Lake Tribune, a diretora do Utah Pride Center, Marian Edmonds-Allen, explica que “não existem compilações adequadas” em casos de óbitos violentos pois há “uma enorme vergonha e estigma com relação a suicídio e depressão na nossa comunidade”, levando familiares a esconderem informações pertinentes de investigadores. “Uma morte em trânsito ou uma overdose seria acidental ou suicídio?”, questiona Allen. Sua experiência como voluntária no Utah Commission on LGBT Suicide Awareness and Prevention também lhe confirma a prevalente impressão que nem familiares das vítimas, nem autoridades governamentais, e nem líderes eclesiásticos demonstram desejo de contabilizar dados confiáveis e abrangentes.
Sobre o risco para jovens LGBT
A psicóloga SUD Lisa Tensmeyer Hansen, atuante na cidade de Provo, Utah, nega conhecer pessoalmente vítimas de suicídio relacionado à nova política da Igreja, porém ela está bem familiarizada com os desafios pelos quais esses jovens passam para conciliar sua orientação, sua fé, e a persistente discriminação cultural e institucional em suas vidas.
“[Eu tenho observado] um aumento em ideações suicidas, em depressão, e ansiedade… Na minha experiência com casos específicos, tenho notado que quanto mais uma pessoa LGBTQ demonstra interesse em permanecer ativa na Igreja ou ligada à ela, tanto maior o processo emocional negativo resultante dessa mudança de política… [Conheço vários casos de membros ativos] que sentem que atingiram um limite além do qual não podem mais maleabilizar-se e desistem por completo de tentar participar [da comunidade]. Também conheço aqueles que estão… lutando com aprofundamento na depressão e perda de esperança.”
Brad Kramer, professor de ética na Utah Valley University, acautela contra a simplificação exagerada da questão:
“O suicídio é um fenômeno trágico e incrivelmente complicado… É claro que a incidência de suicídio pode ser fortemente influenciada pela forma como falamos, descrevemos e informamos sobre suicídios… [Porém, culpar suicídios LGBT em uma causa única], incluindo uma influente retórica e políticas anti-LGBT, provavelmente não é útil. [Eu não estou tentando simpatizar com a] retórica e as políticas homofóbicas [da Igreja SUD]. As novas políticas SUD obviamente têm um impacto negativo sobre mórmons LGBT e suas famílias, incentivando seu ostracismo. Elas incentivam valentões anti-gay e aprofundam a marginalização social. Elas quase certamente contribuem [juntamente com uma vasta gama de fatores] para suicídios e tentativas de suicídio LGBT”.
Uma mãe da cidade de Riverton, Utah, entrou em contato com Montgomery porque seu filho, SUD ativo, havia se matado (uma das mortes não computadas na lista citada acima). O rapaz de 22 anos de idade morava com seu pai SUD devoto quando a política tornou-se pública. Relata a mãe:
“Seu pai não sabia que ele era gay, e ele [o filho] estava com vergonha. Mas ele estava discutindo com o pai dele que o que a igreja estava fazendo era errado.”
O estresse, o desespero, a depressão, e a profunda rejeição tanto da Igreja como de seu próprio pai partiram o jovem rapaz. Subitamente, o pai retorna para casa do trabalho apenas para encontrar que seu filho havia tirado a própria vida.
“A política da igreja divide famílias… e isso repercutirá através de gerações.”
Mesmo para crianças em lares mais estruturados e sem discriminação, a experiência religiosa é sofrida e difícil. Quando o filho gay de Montgomery recebeu a notícia da nova política, o seu sofrimento pessoa partiu-lhe seu coração de mãe:
“Eu o abraçei por uma hora enquanto ele soluçava no meu colo… Os líderes mórmons ficam martelando sobre o casamento sendo entre um homem e uma mulher. Para gays, isso é como Deus está lhe dizendo que você não está certo, a menos que você viva em um casamento heterossexual. Não há maior nível de rejeição do que vindo de Deus.”
Um grupo de alunos e professores da BYU, a universidade da Igreja SUD, dedicado a apoiar alunos LGBT demonstra preocupação com essa recente tendência:
O risco de suicídio é uma realidade séria e complexa que muitas pessoas LGBTQ/AMS enfrentam. Em geral, os jovens LGBT que são fortemente rejeitados são 8 vezes mais propensos a tentar o suicídio… Infelizmente, os alunos da BYU não são exceção a estes riscos. Uma pesquisa de estudantes LGBTQ/AMS na BYU de 2012 revelou que 74% deles tinha pensado em suicídio, enquanto 24% já tinham tentado suicídio. No último ano, houve pelo menos cinco tentativas de suicídio confirmadas, nenhum dos quais, felizmente, foi fatal.
Em seu site, eles publicaram os relatos pessoais de 4 desses alunos que tentaram se matar por causa da depressão, do ostracismo, da discriminação, e da sensação de desamparo e profunda alienação no meio Mórmon. Além disso, divulgam telefones e chats para auxílio emergencial, e vídeos de uma campanha destinada a criar uma sensação de comunidade e oferecer esperança para um futuro melhor e menos opressivo.
Mitch Mayne, membro ativo da Igreja SUD que até recentemente servia no Bispado em sua ala na Califórnia, perfeitamente descreveu em sua coluna o conflito gerado entre a Igreja e seus membros LGBT e suas famílias:
Antes da nova política, qualquer decisão a favor ou contra a disciplina da Igreja para um membro LGBT era deixada aos líderes locais, e havia uma maré consistente de boas-vindas varrendo a cultura mórmon. Congregações de Seattle a Boston começaram a imitar o que foi iniciado na região da baía de San Francisco em 2011, onde todos eram bem-vindos – incluindo membros LGBT casados com cônjuges de seu próprio gênero. Segundo esta abordagem, a juventude LGBT Mórmon tinha pelo menos uma vaga idéia de esperança de que, se eles não fossem capazes de aderir a uma norma rígida do celibato ao longo da vida e acabassem com alguém que realmente amam, eles ainda poderiam encontrar uma congregação que estenderia a eles a mão do amor cristão e inclusão.
Mas agora tudo isso mudou. Hoje, a mensagem para a juventude LGBT Mórmon é clara, e é uma Escolha de Sofia sombria: Ou resignar-se a uma vida de celibato forçado, ou ser ejetado de sua igreja e família – para todo o tempo e eternidade. Independentemente de qual opção escolha a juventude Mórmon, eles perdem.
Não deveria ser nenhuma surpresa, então, quando a depressão e as tentativas de suicídio aumentam entre as crianças mórmons gays. Também não deve ser uma surpresa quando mais jovens LGBT se vêem marginalizados ou rejeitados por seus pais sinceramente religiosos, que agora se sentem mais compelidos do que nunca a escolher entre seu filho e sua igreja.
Enquanto caridade, bondade, amor e preocupação dizem estar por trás da nova política, é bastante claro que muitos membros ativos da Igreja, gays e heterossexuais, vêem o que ela realmente é: uma nova rejeição descarada dos membros LGBT. E a pesquisa baseada em evidências feito pelo Projeto Aceitação Familiar nos diz que as crianças que experimentam altos níveis de rejeição têm:
• Mais de 8 vezes maior probabilidade de tentar suicídio;
• Quase 6 vezes mais probabilidade de relatar altos níveis de depressão;
• Mais de 3 vezes mais propensos a usar drogas ilegais;
• Mais de 3 vezes mais probabilidade de ser de alto risco para HIV e DSTs.Crianças mórmons não estão imunes à ciência… Uma das frases mais repetidas frequentemente usadas para defender a nova política é que ele está sendo promulgada para proteger as crianças. A maioria das pessoas, incluindo multidões de Santos dos Últimos Dias ativos devotos, simplesmente não estão acreditando nessa defesa.
Baixe estudo analisando taxa de suicídios em populações mórmons aqui.
Baixe estudo analisando taxa de suicídios entre jovens SUD LGBT aqui.
Leia mais sobre a política oficial da Igreja SUD aqui.
Leia mais sobre as resignações de membros SUD aqui.
Leia reações e histórias pessoais de membros SUD aqui.
Leia mais sobre a reação oficial da Igreja ao vazemento aqui.
Leia mais sobre a reação extra-oficial da Igreja SUD a isto aqui.
Leia pronunciamento da Primeira Presidência sobre Casamento Tradicional aqui.
Outro ponto intrigante e que a igreja incentivava os jovens gays a casarem com mocas, achando que isso iria mudar a orientacao sexual deles, como resultado muitos que casaram e tiveram filhos vieram a se separararem mais tarde deixando essas criancas em situacoes complicadas e agora para piorar a igreja criou uma regra que discrimina justamente essas criancas que sao frutos de uma politica errada do passado. Nos tempos de Joseph Smith quando havia problemas os membros e lideres levavam o assunto para o Senhor para obter uma resposta, depois de Joseph Smith parece que as revelacoes foram diminuindo e desaparecendo, hoje a igreja consulta os advogados, o departamento de publicidade a fim de saber o que melhor fazer. Lamentavel.
Eu sou muito feliz e Deus me abençoa fora da igreja.