A Igreja Mórmon altera a definição oficial de “apostasia”.

De Estaca ou na estaca? “Os líderes do Sacerdócio devem tomar ações disciplinares contra apóstatas para proteger os membros da Igreja.”
Uma recente mudança de política, anunciada apenas para a liderança masculina d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, foi a inclusão no Manual de Instruções da Igreja (antigo “manual geral de instruções”), um guia oficial secreto sagrado para a liderança do Sacerdócio, de uma nova definição do termo apostasia.
O novo texto do manual diz:
Como usado aqui, apostasia se refere a membros que:
- Repetidamente agem em oposição pública clara, aberta, e deliberada à Igreja ou a seus líderes.
- Persiste em ensinar como doutrina da Igreja informação que não é doutrina da Igreja após haverem sido corrigidos por seus Bispos ou autoridade superior.
- Continuam a seguir os ensinamentos de seitas apóstatas (como as que advogam casamento plural) após haverem sido corrigidos por seus Bispos ou autoridade superior.
- Estão em um casamento do mesmo gênero.
- Formalmente aderem à outra igreja e advogam os seus ensinamentos.
Os líderes do Sacerdócio devem tomar ações disciplinares contra apóstatas para proteger os membros da Igreja.
De acordo com a nova definição, contrair ou estar em um casamento homoafetivo legal constitui apostasia e, portanto, ambos(as) parceiros(as) estão passíveis de excomunhão.
Batizar-se em outra igreja, e advogar os seus ensinamentos, mesmo que sejam idênticos aos da Igreja SUD, também constitui motivos para excomunhão.
É fato notório que o uso de têrmos como “apostasia” e medidas punitivas sociais como “excomunhão” são ferramentas de controle populacional e individual, utilizados para extirpar pensamento crítico e pessoal a favor de obediência cega e absoluta ao poder institucional. Não à toa, os primeiros dois tópicos se dedicam direta e exclusivamente a determinar obediência absoluta aos líderes da Igreja, e o terceiro e quinto itens se dedicam a punir concordância com ensinamentos que limitem o controle da liderança atual (mesmo que em concordância com líderes SUD do passado).
Quais seriam, então, os fatores que preocupam a liderança da Igreja SUD o suficiente para determinar a alteração no parâmetro das definições desse mecanismo de controle?
Particularmente, destas diretrizes, algo que me preocupa é o parágrafo em que se dá uma certa autonomia à possível ignorância de doutrina por parte de alguns líderes fundamentalistas da igreja. A sessão que descreve o apóstata como sendo aquele que “persiste em ensinar como doutrina da Igreja informação que não é doutrina da Igreja após haverem sido corrigidos por seus Bispos ou autoridade superior” dá margem ao erro fatal da injustiça.
Preocupa-me porque, apesar de as ordenanças e os convênios serem bastante claros, muitas doutrinas do evangelho são subjetivas, cabendo interpretações individuais, baseadas na inspiração pessoal recebida através do Espírito Santo, do estudo e da fé de cada membro. Portanto, as doutrinas do evangelho são alvo constante da subjetivação dos ensinamentos disponíveis em discursos e diversos materiais impressos pela igreja.
Preocupa-me também a parte que versa sobre aqueles que “repetidamente agem em oposição pública clara, aberta, e deliberada à Igreja ou a seus LÍDERES”. De fato, não acho elegante nem sadio sair por aí, falando mal da igreja ou das doutrinas às quais escolhemos, livremente, seguir. Acredito que os debates (quando distantes da efêmera discussão emocional) sejam produtivos, e nos façam crescer em conhecimento, mas daí a exorcizar de nós a capacidade de discernir a atitude particular – tomada sob a égide eclesiástica de um líder – de uma decisão verdadeiramente inspirada, não abrindo a possibilidade de questionamento, é o mesmo que desumanizar alguém que teoricamente ainda não é, e nem pode ser perfeito aqui.
Quanto ao restante das definições de apostasia, não vejo nenhuma novidade, principalmente sobre o casamento homoafetivo. Para mim é muito simples: acreditamos em uma dupla evolutiva baseada na união da fonte de energia do sagrado feminino (depositada na mulher) com a fonte do sagrado masculino (depositada no homem). Acreditamos nelas como fontes opostas, mas ao mesmo tempo complementares. Se nossos amigos homoafetivos acreditam que podem evoluir em paridade com o mesmo tipo de fonte genérica, não precisam de uma igreja que pregue o contrário. Simples assim! A autodeterminação religiosa também é um direito e deve ser respeitado.
Não digo que devamos sair por aí infernizando a vida de pessoas que fizeram suas escolhas diferentes das nossas, muito menos caçando seus direitos de propriedade, de comunhão de bens e planos de saúde quando decidem dividir legalmente suas vidas. Apenas acredito que devamos agir condizentes com aquilo que aceitamos como plano de vida e, por conseguinte, de salvação.
A posição da igreja está de acordo com suas doutrinas.
Quem não quer seguir saia.
Pessoalmente sou a favor da legalização civil da união homoafetiva, mas não se pode querer que uma instituição com regras faça o mesmo.
Todos podem viver a felicidade de compartilhar o evangelho, mas escolhas levam à restrições sobre algumas bênçãos e ordenanças. A pessoa que faz essas escolhas devem estar cientes de que estão praticando o direito delas mas com as consequências previstas.
Tiago Araújo, cuidado ao falar que você é a favor do casamento homoafetivo. essa é uma das práticas não autorizadas da igreja. você será chamado de apóstata por isso, conforme nova diretriz da igreja.