Um novo estudo demonstra que a taxa de suicídio entre jovens adultos e adolescentes no estado de Utah dobrou de 2008 ao presente.
O estudo publicado pela Fundação Annie E. Casey Foundation demonstra que as métricas de saúde pública de Utah caíram drasticamente, derrubando o estado de 7º nos EUA para 27º no ranking nacional em saúde infantil.
Terry Haven, Vice-diretora da ONG Vozes Pelas Crianças de Utah explica que a principal causa para essa queda abrupta é o alarmante aumento em suicídios de jovens:
“Temos melhorado em algumas das razões por que as crianças morrem, mas em termos de taxas de suicídio, temos quase duplicado desde 2008. Então esse é o grande problema grande que nós estamos vendo. [A]s razões para isso são muitas, mas a juventude LGBT, em particular, é bombardeada com mensagens prejudiciais que … podem ser agravadas pelos meios de comunicação social. É como uma tempestade perfeita para o que está acontecendo com a nossa juventude frágil que, você sabe, tem alguns problemas e eles não estão recebendo os serviços de que necessitam para cuidarem deles.”
É interessante notar que 2008 foi o ano em que a Igreja SUD intensificou publicamente sua campanha antigay, causando enorme fissão entre membros por causa de seu apoio à campanha da Proposição 8 na Califórnia para cancelar a legalização do casamento homossexual no estado. O consultor de marketing da Igreja Gary Lawrence confessou que os danos na imagem pública por causa da Proposição 8 foram muito maiores que teriam antecipado, e funcionários da Igreja indicaram que ela perdeu até 1 milhão de membros ativos e fiéis nos últimos 7 anos por causa da cruzada antigay. Esses membros, ativos e voluntários dentro da Igreja (em chamados) optaram por sair da Igreja em demonstração de apoio a seus familiares e amigos dentro da comunidade LGBT. Não obstante, terapeutas estimam que um número ainda maior de membros LGBT, especialmente jovens em lares ativos, sofreram e sofrem com o aumento na retórica antigay desde então. [Leia detalhes aqui]
Também é importante notar que esse estudo confirma os resultados de outro excelente estudo estatístico, que nós cobrimos há três meses, onde cruzaram-se dados de suicídios de jovens adolescentes levantados pela agência gorvenamental Center for Disease Control entre 2009 e 2014 com dados populacionais religiosos produzidos pelo Relatório Pew de Censo Religioso de 2014. [Leia detalhes aqui]
Ademais, ambos estudos confirmam a tendência notada através de notícias sobre uma onda de suicídios entre Jovens Mórmons nos últimos quatro meses, desde o arrefecimento das políticas de discriminação contra membros e famílias LGBT pela Igreja SUD. [Leia detalhes aqui]
Sobre a nova política de discriminação
No começo de novembro de 2015, a Igreja SUD determinou uma clara mudança em política oficial, determinando que a posição da Igreja deva discriminar contra crianças em famílias LGBT, e contra jovens SUD de orientação LGBT. Após a mudança ter vazado para o público a contragosto da liderança, e apesar da resposta oficial da Igreja alterando e levemente suavizando a nova política, milhares de membros da Igreja SUD saíram em protesto e resignaram em massa. Não obstante, o Apóstolo sênior Russell Nelson recentemente mudou a narrativa da nova política, declarando que ela havia sido ordenada por Deus desde o início.
Sobre o aumento em suicídios
Wendy Williams Montgomery, membro da Igreja SUD no Arizona com um filho homossexual, e uma das líderes do grupo de apoio para famílias Mórmons com membros LGBT, reconta como passou a contabilizar os relatos de suicídios de jovens SUD, sofrendo por causa de sua orientação sexual, que vieram parar no grupo. Desde a descoberta do arrefecimento da homofobia institucional há menos de três meses, 34 jovens se mataram, sendo 28 deles apenas no estado de Utah. A título de comparação, a média anual de suicídios no estado de Utah é de 37 casos.
E estes são apenas os casos documentados, que provavelmente representam uma subestimação do total de tentativas ou suicídios entre Mórmons LGBT. Em entrevista ao jornal The Salt Lake Tribune, a diretora do Utah Pride Center, Marian Edmonds-Allen, explica que “não existem compilações adequadas” em casos de óbitos violentos pois há “uma enorme vergonha e estigma com relação a suicídio e depressão na nossa comunidade”, levando familiares a esconderem informações pertinentes de investigadores. “Uma morte em trânsito ou uma overdose seria acidental ou suicídio?”, questiona Allen. Sua experiência como voluntária no Utah Commission on LGBT Suicide Awareness and Prevention também lhe confirma a prevalente impressão que nem familiares das vítimas, nem autoridades governamentais, e nem líderes eclesiásticos demonstram desejo de contabilizar dados confiáveis e abrangentes.
Sobre o risco para jovens LGBT
A psicóloga SUD Lisa Tensmeyer Hansen, atuante na cidade de Provo, Utah, nega conhecer pessoalmente vítimas de suicídio relacionado à nova política da Igreja, porém ela está bem familiarizada com os desafios pelos quais esses jovens passam para conciliar sua orientação, sua fé, e a persistente discriminação cultural e institucional em suas vidas.
“[Eu tenho observado] um aumento em ideações suicidas, em depressão, e ansiedade… Na minha experiência com casos específicos, tenho notado que quanto mais uma pessoa LGBTQ demonstra interesse em permanecer ativa na Igreja ou ligada a ela, tanto maior o processo emocional negativo resultante dessa mudança de política… [Conheço vários casos de membros ativos] que sentem que atingiram um limite além do qual não podem mais maleabilizar-se e desistem por completo de tentar participar [da comunidade]. Também conheço aqueles que estão… lutando com aprofundamento na depressão e perda de esperança.”
Brad Kramer, professor de ética na Utah Valley University, acautela contra a simplificação exagerada da questão:
“O suicídio é um fenômeno trágico e incrivelmente complicado… É claro que a incidência de suicídio pode ser fortemente influenciada pela forma como falamos, descrevemos e informamos sobre suicídios… [Porém, culpar suicídios LGBT em uma causa única], incluindo uma influente retórica e políticas anti-LGBT, provavelmente não é útil. [Eu não estou tentando simpatizar com a] retórica e as políticas homofóbicas [da Igreja SUD]. As novas políticas SUD obviamente têm um impacto negativo sobre mórmons LGBT e suas famílias, incentivando seu ostracismo. Elas incentivam valentões antigay e aprofundam a marginalização social. Elas quase certamente contribuem [juntamente com uma vasta gama de fatores] para suicídios e tentativas de suicídio LGBT”.
Uma mãe da cidade de Riverton, Utah, entrou em contato com Montgomery porque seu filho, SUD ativo, havia se matado (uma das mortes não computadas na lista citada acima). O rapaz de 22 anos de idade morava com seu pai SUD devoto quando a política tornou-se pública. Relata a mãe:
“Seu pai não sabia que ele era gay, e ele [o filho] estava com vergonha. Mas ele estava discutindo com o pai dele que o que a igreja estava fazendo era errado.”
O estresse, o desespero, a depressão, e a profunda rejeição tanto da Igreja como de seu próprio pai partiram o jovem rapaz. Subitamente, o pai retorna para casa do trabalho apenas para encontrar que seu filho havia tirado a própria vida.
“A política da igreja divide famílias… e isso repercutirá através de gerações.”
Mesmo para crianças em lares mais estruturados e sem discriminação, a experiência religiosa é sofrida e difícil. Quando o filho gay de Montgomery recebeu a notícia da nova política, o seu sofrimento pessoa partiu-lhe seu coração de mãe:
“Eu o abraçei por uma hora enquanto ele soluçava no meu colo… Os líderes mórmons ficam martelando sobre o casamento sendo entre um homem e uma mulher. Para gays, isso é como Deus está lhe dizendo que você não está certo, a menos que você viva em um casamento heterossexual. Não há maior nível de rejeição do que vindo de Deus.”
Um grupo de alunos e professores da BYU, a universidade da Igreja SUD, dedicado a apoiar alunos LGBT demonstra preocupação com essa recente tendência:
O risco de suicídio é uma realidade séria e complexa que muitas pessoas LGBTQ/AMS enfrentam. Em geral, os jovens LGBT que são fortemente rejeitados são 8 vezes mais propensos a tentar o suicídio… Infelizmente, os alunos da BYU não são exceção a estes riscos. Uma pesquisa de estudantes LGBTQ/AMS na BYU de 2012 revelou que 74% deles tinha pensado em suicídio, enquanto 24% já tinham tentado suicídio. No último ano, houve pelo menos cinco tentativas de suicídio confirmadas, nenhum dos quais, felizmente, foi fatal.
Em seu site, eles publicaram os relatos pessoais de 4 desses alunos que tentaram se matar por causa da depressão, do ostracismo, da discriminação, e da sensação de desamparo e profunda alienação no meio Mórmon. Além disso, divulgam telefones e chats para auxílio emergencial, e vídeos de uma campanha destinada a criar uma sensação de comunidade e oferecer esperança para um futuro melhor e menos opressivo.
Mitch Mayne, membro ativo da Igreja SUD que até recentemente servia no Bispado em sua ala na Califórnia, perfeitamente descreveu em sua coluna o conflito gerado entre a Igreja e seus membros LGBT e suas famílias:
Antes da nova política, qualquer decisão a favor ou contra a disciplina da Igreja para um membro LGBT era deixada aos líderes locais, e havia uma maré consistente de boas-vindas varrendo a cultura mórmon. Congregações de Seattle a Boston começaram a imitar o que foi iniciado na região da baía de San Francisco em 2011, onde todos eram bem-vindos – incluindo membros LGBT casados com cônjuges de seu próprio gênero. Segundo esta abordagem, a juventude LGBT Mórmon tinha pelo menos uma vaga idéia de esperança de que, se eles não fossem capazes de aderir a uma norma rígida do celibato ao longo da vida e acabassem com alguém que realmente amam, eles ainda poderiam encontrar uma congregação que estenderia a eles a mão do amor cristão e inclusão.
Mas agora tudo isso mudou. Hoje, a mensagem para a juventude LGBT Mórmon é clara, e é uma Escolha de Sofia sombria: Ou resignar-se a uma vida de celibato forçado, ou ser ejetado de sua igreja e família – para todo o tempo e eternidade. Independentemente de qual opção escolha a juventude Mórmon, eles perdem.
Não deveria ser nenhuma surpresa, então, quando a depressão e as tentativas de suicídio aumentam entre as crianças mórmons gays. Também não deve ser uma surpresa quando mais jovens LGBT se vêem marginalizados ou rejeitados por seus pais sinceramente religiosos, que agora se sentem mais compelidos do que nunca a escolher entre seu filho e sua igreja.
Enquanto caridade, bondade, amor e preocupação dizem estar por trás da nova política, é bastante claro que muitos membros ativos da Igreja, gays e heterossexuais, vêem o que ela realmente é: uma nova rejeição descarada dos membros LGBT. E a pesquisa baseada em evidências feito pelo Projeto Aceitação Familiar nos diz que as crianças que experimentam altos níveis de rejeição têm:
• Mais de 8 vezes maior probabilidade de tentar suicídio;
• Quase 6 vezes mais probabilidade de relatar altos níveis de depressão;
• Mais de 3 vezes mais propensos a usar drogas ilegais;
• Mais de 3 vezes mais probabilidade de ser de alto risco para HIV e DSTs.Crianças mórmons não estão imunes à ciência… Uma das frases mais repetidas frequentemente usadas para defender a nova política é que ele está sendo promulgada para proteger as crianças. A maioria das pessoas, incluindo multidões de Santos dos Últimos Dias ativos devotos, simplesmente não estão acreditando nessa defesa.
Baixe estudo analisando taxa de suicídios em populações mórmons aqui.
Baixe estudo analisando taxa de suicídios entre jovens SUD LGBT aqui.
Leia mais sobre a política oficial da Igreja SUD aqui.
Leia mais sobre as resignações de membros SUD aqui.
Leia reações e histórias pessoais de membros SUD aqui.
Leia mais sobre a reação oficial da Igreja ao vazemento aqui.
Leia mais sobre a reação extra-oficial da Igreja SUD a isto aqui.
Leia pronunciamento da Primeira Presidência sobre Casamento Tradicional aqui.
A igreja estabelece um modelo de comportamento e afirma que esse modelo foi estabelecido por Deus em suas escrituras, e insistentemente ensina que esse modelo deve ser seguido. A igreja faz com que a pessoa se sinta culpada e cheia de remorso por não conseguir. Ela trabalha com a culpa. Tudo é errado nessa igreja. É errado ser humano, sentir, viver e principalmente é errado você fazer suas próprias escolhas. Eles fazem com que sintamos culpa por tudo que escolhermos e for diferente dos que eles delimitaram para nós. Detesto lembrar que um dia deixei que outras pessoas decidissem o que era melhor para mim. Muitas vezes tenho a impressão que esses membros da igreja só continuam nela por preguiça de pensar ou talvez seja um motivo pior: eles são incapazes de pensar, pois já não sabem mais fazer isso, afinal por tanto tempo foram outras pessoas que decidiram tudo para eles. O trabalho deles é apenas obedecer sem questionar ( Segue o profeta sem hesitar). Pensar dá muito trabalho, para que fazer isso se o profeta já determinou tudo para mim!? Como podem achar que Deus respondeu as orações dele se foram apenas sugestionados. Essa gente precisa aprender a ler e interpretar. Acreditar que ao perguntarem ao Senhor que a seita Sud é verdadeira e acreditar que o Senhor respondeu às orações é desconhecer o poder da mente humana.
Nos ajude por favor, como ajudar pessoas que tiveram suas mentes lavadas ou foram hipnotizadas a lerem e a interpretarem e depois tomarem suas próprias decisões?
Na minha profissão já ouvi e presenciei muitos motivos para a uma pessoa justificar a pratica de um crime. Muitos motivos já foram aceitos, inclusive a influência do clima, mas nunca, por mais que bons profissionais tentaram, e com bons argumentos, um juiz aceitou a tese de hipnose ou de lavagem da mente. Pelo o visto, estes magistrados ainda não se depararam com um mormon para julgarem, a partir deste momento estes magistrados irão saber que uma pessoa hipnotizada pode fazer qualquer coisa.
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