O Apóstolo Russell Nelson, atual Presidente do Quórum dos Doze, proferiu discurso no qual ele reconhece que o Livro de Mórmon não tem o valor histórico que o seu próprio texto proclama, e o Profeta Joseph Smith lhe atribuía.

Russell M. Nelson, Presidente do Quórum dos Doze Apóstolos, discursando diante dos novos presidentes de missão em 2016. (Foto: Matthew Reier)
Nesse discurso, feito há duas semanas durante o Seminário de 2016 para Novos Presidentes de Missão no Centro de Treinamento de Missionários de Provo, Utah, cuja mensagem central fora a importância dos temas religiosos, espirituais, e teológicos abordados no Livro de Mórmon, Nelson admite
problemas com relação a historicidade da narrativa do Livro de Mórmon:
“Há algumas coisas que o Livro de Mórmon não é. Ele não é um livro de história, embora alguma história seja encontrada em suas páginas. Ele não é uma obra definitiva sobre agricultura ou política na América antiga. Ele não é o relato de todos os antigos habitantes do Hemisfério Ocidental, mas apenas de uns grupos particulares de pessoas.”
A asserção de Nelson sugere uma tendência na liderança da Igreja para resolver o conflito racional concernente a ausência de evidências históricas e arqueológicas para a narrativa do Livro de Mórmon ao afastar-se de uma leitura literal de seu texto.
Essa posição, embora coerente com as evidências de estudos histórico-científicos, contraria a própria fundação ontológica do Livro de Mórmon em si.
Descrevendo a importância desse novo volume de escrituras, Joseph Smith contou que o anjo que lhe havia explicado sobre a natureza do relato das placas:
“Disse-me que havia um livro escondido, escrito em placas de ouro, que continha um relato dos antigos habitantes deste continente, assim como de sua origem e procedência. Disse também que o livro continha a plenitude do evangelho eterno, tal como fora entregue pelo Salvador aos antigos habitantes.”
Em sua descrição (ênfases nossas), Smith explica que o Livro de Mórmon narra a “origem e procedência… dos antigos habitantes deste continente”, ou seja, de onde vem os antepassados de todos os habitantes do continente.
O próprio texto do Livro de Mórmon deixa isso bastante claro em sua introdução (ênfase nossa):
“É, portanto, um resumo do registro do povo de Néfi e também dos lamanitas — Escrito aos lamanitas, que são um remanescente da casa de Israel; e também aos judeus e aos gentios”
Como explicado por Smith e pelo Livro de Mórmon, a “origem e procedência” dos “antigos habitantes deste continente” são Hebreus fugindo dos exércitos babilônicos, e os “lamanitas” de hoje são seus descendentes, ou “um remanescente da casa de Israel”. Smith ainda anotou revelações especificamente citando os ameríndios modernos como descendentes diretos dos Lamanitas e, consequentemente, da “casa de Israel”.
Para Joseph Smith, e para o texto do Livro de Mórmon, os ameríndios são todos descendentes dos Hebreus guiados por Deus para colonizar o continente americano. Em 1842, Smith escreveu para o então editor do jornal Chicago Democrat John “Long John” Wentworth explicando-lhe a cerne do Livro de Mórmon (ênfases nossas):
“Eu também fui informado sobre os habitantes indígenas desta terra, e me foi mostrado quem eles eram, e de onde vieram; Foi-me dado a conhecer um breve esboço de sua origem, progresso, civilização, leis, governos, de sua retidão e iniqüidade, e as bênçãos de Deus sendo finalmente retiradas deles enquanto povo: Também me foi dito saber onde foram depositadas algumas placas nas quais foram gravadas um resumo dos registros dos antigos profetas que viveram neste continente.”
Não surpreendentemente, ainda em 1842 um editorial publicado por Joseph Smith no jornal oficial da Igreja Times and Seasons especifica uma interpretação literalista do Livro de Mórmon, pressupondo que ambos ondas principais de imigração narradas em seu texto (i.e., com Jared e depois com Lehi) ocuparam todo o continente ocidental (ênfases nossas):
“Quando lemos no Livro de Mórmon que Jared e seu irmão vieram a este continente saindo da confusão e dispersão na Torre, e viveu aqui mais de mil anos, e cobriu todo o continente de mar a mar com vilas e cidades, e que Lehi desceu pelo Mar Vermelho para o grande Oceano do Sul, e atravessou a esta terra, e pousou um pouco ao sul do Istmo de Darien [Panamá], e melhorou a terra de acordo com a palavra do Senhor, como um ramo da Casa de Israel, e depois ler um relato tradicional tão charmoso, como o relatado abaixo, não podemos deixar de pensar que o Senhor oferece uma mão para trazer o seu estranho ato, provando o Livro de Mórmon verdadeiro aos olhos de todas as pessoas .”
Esse editorial seguiu com um relato sobre aborígenes na Guatemala encontrando cidades abandonadas, que é publicado no jornal da Igreja como prova evidenciária do realismo literal da narrativa do Livro de Mórmon.
O texto e a narrativa do Livro de Mórmon, e as revelações e os pronunciamentos de Joseph Smith, todos indicam claramente que ele se considera um livro de história explicando as origens dos povos aborígenes americanos. Não é à toa que até o final do século 20 via-se o Presidente da Igreja referindo-se a ameríndios como “Lamanitas” e descendentes literais dos povos mencionados no Livro de Mórmon, enquanto a Igreja oficialmente patrocinava programas voltados para os aborígenes americanos como cumprimento de profecias encontradas nessas escrituras.
Agora, no início do século 21, vê-se o Presidente do Quórum dos Doze distanciando-se de uma leitura literal das escrituras e dos pronunciamentos proféticos tanto do Profeta Joseph Smith, como de Presidentes da Igreja do passado, enfatizando que o Livro de Mórmon “não é um livro de história” e “os antigos habitantes do Hemisfério Ocidental” não são literais descendentes da “casa de Israel”.
Como membros da Igreja enxergam essa mudança em interpretação? Abraçam-na como uma evolução positiva e racional? Preocupam-se com a secularização da leitura das escrituras? Alegram-se por ignorar o que Joseph Smith e suas revelações ensinaram sobre o Livro de Mórmon? Incomodam-se por relativizar o que o próprio texto das escrituras diz?
Ainda falta também ele me explicar a suposta presença de metais na América segundo o LDM vamos esperar.
Ainda falta explicar sobre a existência de cavalos, pois os espanhóis e portugueses não os encontraram aqui quando chegaram e tiveram que traze-los da Europa e Asia.