Líder Mórmon Confessa Abuso Sexual À Polícia

O ex-Presidente do Centro de Treinamento Missionário d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias Joseph L. Bishop confessou para a polícia ter levado uma missionária para um quarto no porão do CTM em 1984 e induzido-a a mostrar-lhe os seios, de acordo com o relatório publicado ontem pela polícia da Brigham Young University.

Joseph L. Bishop em 1972 (Foto: Arquivo do The Salt Lake Tribune)

Em novembro de 2017 a vítima abordou a polícia da BYU com a intenção de denunciar uma tentativa de estupro que teria ocorrido naquele quarto 33 anos antes. Porém, antes de apresentar sua denúncia à polícia, a vítima conseguiu agendar uma entrevista com Bishop para o começo de dezembro, sob a guisa de entrevistar ex-presidentes de missão. Durante a entrevista, que ela secretamente gravou, Bishop admite o encontro no quarto (embora nega lembranças da tentativa de estupro) e ainda admite abusar sexualmente de múltiplas outras jovens, desculpando-se repetidamente, e chamando a si mesmo de “hipócrita”, “viciado em sexo”, e “predador”.

O áudio dessa entrevista foi entregue à polícia (você pode ouvir o áudio em sua íntegra aqui). Três dias depois eles entrevistaram Bishop que, diferentemente da entrevista gravada pela vítima, parecia lembrar de mais detalhes. Bishop ainda negou à polícia a tentativa de estupro, mas recontou como ele a induziu a despir-se para ele. Quando perguntado o motivo das discrepâncias entre sua narrativa e a dela, Bishop, hoje com 85 anos de idade, simplesmente respondeu que “ou [eu] não me lembro direito, ou ela está exagerando sua história”.

A polícia decidiu publicar o relatório dessa entrevista, de quase 4 meses atrás ontem, após a gravação do áudio ter sido vazada ao público anteontem. A vítima nega ter publicado o áudio da gravação, queixando-se que esse escrutínio público atrapalha negociações entre seu advogado e os advogados da Igreja SUD em torno de uma mediação. O advogado da vítima Craig Vernon especula que o áudio teria sido vazado ao site MormonLeaks por algum amigo pessoal dela com acesso à gravação.

O promotor público do Condado de Utah David Sturgill admitiu acreditar nas acusações dela mas explica que a acusação de estupro prescreve após 4 anos no estado de Utah.

“Eu não tenho nenhum motivo para duvidar dos relatos da vítima, e provavelmente teria processado criminalmente o Sr. Bishop, não fosse a prescrição do crime.”

A vítima havia denunciado o abuso para o seu Bispo em 1987 após retornar de sua missão, mas o Bispo recontou ao jornal The Salt Lake Tribune que não acreditou nela e não levou a questão adiante simplesmente por não crer que fosse possível para um líder naquela posição cometer tamanho crime:

“Eu senti que as acusações não tinham mérito. Eram tão extremas e sem lógica interna. É preciso muita avaliação para um homem ser aprovado para uma posição como Presidente do CTM, o que torna a estória dela difícil de acreditar.”

Eric Hawkins, relações públicas da Igreja SUD, afirmou que a Igreja oficialmente tomou conhecimento do caso em 2010 quando a vítima abordou o Presidente da Estaca Pleasant Grove Utah West Stake, e que o caso havia sido entregue à polícia de Pleasant Grove, que investigou apenas a ameaça à vida de Bishop por parte da vítima (que ela disse à polícia que fora apenas “uma piada”, e que ela reconta no áudio de sua entrevista com Bishop).

A Igreja recusou-se a responder aos pedidos do The Salt Lake Tribune se ela encaminhou o caso de abuso sexual para uma agência policial com jurisdição sobre o CTM.

Bishop foi entrevistado por seu Bispo em 2010, e como negou peremptoriamente quaisquer acusações, nenhuma ação fora tomada. A vítima retornou a acusá-lo, desta vez em 2016 para o Presidente da Estaca em Pueblo, Colorado, sem resultados. Em janeiro de 2018, seu advogado entrou em contato com a Igreja e lhes entregou uma cópia do áudio da entrevista.

Leia mais detalhes sobre essa entrevista e o caso aqui.

Leia o relatório da polícia aqui.

Cultura de Estupro Mórmon

Esse caso sequer seria único ou inusitado dentro da cultura mórmon.

Eis uma lista pública com mais de 400 casos (e milhares de vítimas) oficialmente documentados de abuso sexual, abuso sexual infantil, violência sexual, e estupros cometidos por membros da Igreja SUD entre os anos de 1959 e 2017, invariavalmente acobertados por líderes eclesiásticos da Igreja.

De acordo com a então diretora da força tarefa contra abuso sexual do Condado de Weber (Utah) Marilyn Sandburg:

“A maioria desses casos de abuso foram levados ao judiciário por indivíduos que não eram os líderes religiosos, apesar de que em muitos desses casos, o abuso havia sido inicialmente denunciado aos membros do clero muito antes de ser denunciados às autoridades… Em um caso de incesto específico no qual eu trabalhei, o abuso havia sido denunciado a 6 Bispos diferentes, e apenas 1 deles fez a denúncia às autoridades. O abuso continuou por um período de 11 anos.”

Por décadas, a Igreja manteve uma política de punir alunas de sua universidade que denunciavam sofrer estupros ou violência sexual, até o ano retrasado quando decidiu rescindir tal política misógina, e apenas após meses de severa repercussão negativa na mídia norte-americana. Naturalmente, tal política coibia vítimas de denunciar abusadores e estupradores, criando uma atmosfera propícia para violências sexuais nas faculdades da Igreja por décadas.

Ameríndios da tribo Navajo estão processando a Igreja SUD alegando que eles sofreram abusos sexuais e estupros durante a infância enquanto sob a tutela de famílias de mórmons, acusando a Igreja não apenas de saber dos crimes cometidos , como de retornar as crianças para os lares onde os abusos sexuais havia sido cometido, mas também de acobertá-los e proteger os culpados sob a guisa de não embaraçar a Igreja, instruindo líderes locais e membros a não cooperarem com oficiais da lei ou denunciarem os crimes.


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11 comentários sobre “Líder Mórmon Confessa Abuso Sexual À Polícia

  1. Meus amigos, se alguém entre nós membros ainda pensa que na igreja esses líderes são inspirados por Deus, podem começar a mudar sua maneira de pensar.

    Ninguém é chamado sobre inspiração de Deus para exercer algum cargo na igreja. Já vi membros que foram escolhidos para serem presidentes de estaca, bispo e até presidente de missão que tinham passado obscuro com envolvimento em desvio de dinheiro(corrupção), lavagem de dinheiro e outros crimes.

    O caso envolvendo violência doméstica e violência sexual são casos mais comuns dentro da igreja. Existe, mas não é colocado ao ar e são abafados por outras autoridades eclesiásticas da igreja. Portanto deixar moças nos cuidados desses “lideres inspirados por Deus” é um risco.

    • Você claramente não entende nada de Preordenação.
      Tudo o que disse agora sobre isso é baseado em sua própria opinião.

      • É verdade. Há muitas coisas na vida que nós não entendemos e nunca iremos entender pois não pertence a nós o direito de saber dessas coisas rs…Lembro durante a “missão” que toda vez que falava uma verdades a resposta era sempre desse tom igual a sua heheh…

        Independente de eu ou você saber sobre a doutrina da preordenação, sabemos que nenhum chamado é feito sobre a inspiração de Deus. Na realidade muitos chamados são resultados de negociações e conflitos como fora o caso do Presidente Harold B Lee para vaga de conselheiro da primeira presidência. Ele não foi chamado para ser conselheiro porque a luz de Deus apareceu na sala e disse que ele foi escolhido para ser conselheiro. Houve uma negociação e podemos encontrar aqui mesmo no site do Vozes sobre esse assunto. Um missionário vai a missão porque quer ou para não falarem mal dele na igreja e não porque o Senhor escolheu ele para fazer isso.

        Eu fui chamado para ser professor da primária alguns anos atrás, mas logicamente que o motivo de me chamarem foi porque não havia alguém para fazer tal trabalho. De principio falei “nenhum”, mas há raros momentos que é inspiração, mas isso ocorre quando o membro da igreja que o chama realmente está pensando na vontade de Deus fazendo jejum e oração.

        Um amigo meu norte-americano que fez missão aqui compartilhou o processo de como o pai dele foi chamado para ser presidente de missão. Ao contrário que muitos acreditam, o presidente Hinckley não chegou do nada e disse a ele para ser presidente de missão porque o Senhor mandou rs… Houve no caso um convite do presidente da estaca para ex missionários já casados e com filhos criados e o pai dele “se inscreveu” para colocar na lista e ele foi designado para ser presidente de missão no Brasil por ter conhecimento na lingua portuguesa.

        Outro exemplo foi quando fui chamado pelo bispo para ser conselheiro da presidência do Quorum de Elders. O bispo não chamou e disse que o Senhor estava me chamando para esse cargo. Eu fui chamado mais porque o presidente em questão era meu amigo e eu era muito prestativo e de confiança.

        Em outras palavras o processo de escolhas para ocupar cargos na igreja leva se consideração muitas coisas(eg: idioma para presidente de missão, alguém que o presidente de missão confia para ser ld, lz e ap, e assim vai) que não tem nada a ver com “O Senhor escolheu bem antes de você nascer”. Nessa de confiar cargo a alguém nem se olha o lado obscuro da pessoa.

        Mas é isso ai, talvés você não irá entender por ser muito novinha ou por ter dificuldades em reconhecer que muitas coisas que ensinam não são de fato reais. abs!

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