Reportagem da CNN focando nas recentes mudanças anunciadas pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias indica que a súbita reversão de uma política declarada como “revelada por Deus” pode não ter sido recebido com a aprovação pública que muitos esperavam.

Presidente Dallin H Oaks, Primeiro Conselheiro da Primeira Presidência e Presidente do Quórum dos Doze Apóstolos (à esquerda) com o Profeta Presidente Russell M Nelson (à direita), ambos citados como arquitetos da agora rescindida política de discriminação de 2015.
O artigo da CNN discorre sobre como o anúncio desta semana sugere que os profetas mórmons alteram e moldam suas revelações de acordo com pressões de opinião pública, pregaram homofobia que resultou em milhares de membros abandonando a fé, e dezenas de casos de suicídio. Além disso, o artigo argumenta que este anúncio sinaliza que os profetas mórmons, e suas revelações, são suscetíveis a pressão social.
Abaixo seguem alguns pontos principais do artigo da CNN sobre o anúncio da nova política da Igreja SUD sobre famílias LGBT.
Contexto
No final de 2015 descobriu-se, em parte através de uma denúncia anônima, que a Igreja Mórmon, sob a liderança do Profeta Thomas S Monson, havia oficializado a discriminação institucional contra famílias LGBT.
Na época, o atual Profeta e Presidente da Igreja Russell M Nelson, então servindo como Presidente do Quórum dos Doze Apóstolos, assegurou os membros fiéis que tal política discriminatória, confirmada por nota oficial publicada pela própria Primeira Presidência, havia sido fruta de uma revelação divina:
“Cada um de nós durante esse momento sagrado sentiu uma confirmação espiritual … Foi o nosso privilégio como apóstolos sustentar o que havia sido revelado ao Presidente Monson.”
“A Primeira Presidência e do Quórum dos Doze Apóstolos aconselhou-se juntos e compartilhou tudo que o Senhor dirigiu-nos a compreender e sentir, individual e coletivamente … E então, vemos a inspiração do Senhor sobre o presidente da Igreja para proclamar a vontade do Senhor.”
Na semana passada, após 3 anos e meio insistindo que essa política era uma ordem direta e inquestionável de Deus, a Igreja sob a liderança de Nelson voltou atrás e a rescindiu por completo.
Artigo da CNN
O artigo da CNN é direto e objetivo em sua análise da administração profética da Igreja Mórmon, descrevendo um ceticismo sobre um padrão histórico de receber revelações que convenientemente aliviam pressão pública e críticas da opinião pública.
“Afirmar falar em nome de Deus é um assunto complicado – especialmente quando Deus muda de idéia, muitas vezes, em questões políticas críticas depois de receber imensa reação pública.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, amplamente conhecida como a Igreja Mórmon, está enfrentando o desafio de explicar por que Deus parece ter mudado drasticamente sua postura em relação à inclusão de famílias LGBT.”
O artigo da CNN sucintamente resume o contexto relembrando protestos públicos, resignações em massa, e aumento nas taxas de suicídios de jovens SUD.
“Em 2016, Russell Nelson, o atual profeta e presidente da Igreja Mórmon, declarou que Deus havia revelado pessoalmente aos líderes sênior da igreja que deveriam proibir os filhos de pais LGBT de serem batizados, uma ordenança essencial para a salvação, de acordo com a doutrina mórmon.
Essa mudança em política foi recebida com ampla reação pública, com 1 500 mórmons renunciando a sua filiação à igreja em um protesto público. Desde então, muitos – incluindo Ellen DeGeneres – têm argumentado que há uma aparente correlação entre a mudança de política e o aumento das taxas de suicídio em jovens em Utah.”
O artigo da CNN rotula a nova política oficial da Igreja SUD com o apelido “não pergunte, não conte” utilizado para uma ordem no exército norteamericano dos anos 1990 que foi duramente criticada, e posteriormente rescindida, por institucionalizar homofobia na prática.
“Após 3 anos e meio depois, Nelson anunciou que depois de “oração fervorosa e unida para entender a vontade do Senhor”, a igreja está revertendo a política. A igreja também anunciou que os mórmons homossexuais casados não seriam mais tratados como “apóstatas” dentro da igreja.
Essa reversão expande significativamente os tons doutrinários de cinza dentro de uma fé predominantemente negra e branca. No âmbito da implementação da política, atribui aos bispos locais o ônus de determinar a natureza de sua inclusividade em relação aos membros gays e suas famílias.
Embora a política linha dura de 2015 tenha impossibilitado que os bispos permitissem o batismo de crianças com pais LGBT, ou permitir que o casamento entre pessoas do mesmo sexo existisse sem ser disciplinado, essa inversão criará uma política implícita de “não pergunte, não conte” dentro de muitas congregações da igreja – particularmente aquelas em cidades urbanas que se encontraram conflitados entre satisfazer as necessidades dos mileniais e aderir às ordens da sede da igreja.”
O artigo da CNN explica como a nova política estabelecida pelos profetas no alto comando da Igreja estão se isentando de críticas de homofobia e discriminação, a si e a Igreja, enquanto jogando o fardo de manter uma prática de homofobia e discriminação nos ombros dos líderes eclesiásticos locais.
“Agora, cada bispo tem a escolha de como responder ao casamento entre pessoas do mesmo sexo dentro de sua congregação – um pecado que até então, tecnicamente, exigiria a excomunhão. Embora a igreja afirme que o casamento entre pessoas do mesmo sexo ainda é uma “transgressão séria”, essa política permitirá que bispos mais liberais determinem a disciplina eclesiástica (ou a não-disciplina) individualmente. Para muitas congregações, isso provavelmente significará acolher os membros gays e suas famílias de braços abertos.”
O artigo da CNN não deixa ambígua o preconceito e a discriminação no cerne dessa nova política oficial da Igreja Mórmon.
“No entanto, essa mudança ainda relega os mórmons LGBT a um status de segunda classe dentro da igreja, considerados inerentemente “indignos” da participação plena na igreja.
A igreja tem enquadrado esta concessão como compassiva – efetivamente dizendo que as portas ainda estão abertas aos pecadores, mesmo que Deus realmente não goste do pecado. Embora a reversão crie flexibilidade dentro do policiamento da sexualidade da igreja, ela não oferece aceitação, tornando a inclusão sincera uma forma de subversão.”
O artigo da CNN não se abstém de sugerir que esse passo possa ser um primeiro sinal para um longo processo de aceitação e inclusão de membros LGBT.
“Não obstante, essa mudança provavelmente terá um efeito erosivo sobre a homofobia dentro da igreja, representando uma lenta integração da inclusão LGBT dentro da igreja. uma fé altamente conservadora.”
Contudo, tampouco se abstém de discorrer sobre as ramificações teológicas dessa mudança abrupta.
“Além da implementação, esta inversão também levanta questões sobre a natureza da própria revelação – o princípio central da igreja e que a diferencia de outras denominações cristãs.
A igreja tem uma longa história de revelações que permitem o progresso social: Em 1890, após ameaças legais do governo federal, o profeta mórmon Wilford Woodruff anunciou a proibição da poligamia; em 1978, bem depois da legislação dos direitos civis na década anterior, uma revelação permitiu que homens negros fossem ordenados ao sacerdócio da Igreja.
No entanto, uma reversão reveladora de tal magnitude social nunca aconteceu tão rapidamente. Para muitos mórmons, isso revelará a finíssima (e alguns argumentariam estritamente semântica) distinção entre direção divina e vontade burocrática.”
Concluindo que, por causa desse último e dramático exemplo histórico de uma revelação tão rapidamente revogando outra revelação relativamente recente, a Igreja demonstrou estar mais suscetível à pressão de opinião pública, e mais responsiva a ativismo social.
“Agora, alguns mórmons ficam imaginando quão rápido a mente de Deus – ou a liderança da igreja – pode mudar sobre outras políticas consideradas arcaicas em alguns círculos, incluindo a exclusão de mulheres do sacerdócio.
Para alguns, a reversão de quinta-feira oferece um modelo para uma abordagem mais ativista de mudança dentro da igreja – um farol de esperança para alguns que acreditam que devem ir além da “fervorosa oração” para que Deus ou a igreja prestem atenção.”
Sem dúvida é um revés,diante da orientação anterior.Quão rápidos foram,especialmente prq ninguém pensou em responsabilizar a Igreja pelos suicídios ocorridos.
No Brasil,isto é impensável,pelo nosso modelo de justiça,nos EUA não sei…..
A primeira decisão provou que a igreja estava perdida no propósito de acolher os filhos de Deus. A segunda mostra que a igreja, na tentativa frustrada de se aparecer bem na fita, nos apresentou um deus mutável, vulnerável, indeciso… ” O que eu, o senhor, disse está dito e não me desculpo…”