No relatório estatístico publicado pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias para o ano de 2018, notou-se um recorde histórico: o maior número de membros removendo seus nomes dos registros da Igreja em um único ano.

Conferência Geral d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 31 de março de 2018, Centro de Conferência em Salt Lake City. (Foto: AP/Rick Bowmer)
Outro recorde histórico nas estatísticas de 2018 foi que a Igreja apresentou sua pior taxa de crescimento anual desde 1938. De acordo com análises estatísticas, 140 868 membros tiveram seus nomes removidos dos registros da Igreja. A Igreja não divulga esses números, porém se você somar o número de batismos de conversos ao número de “crianças de registro” (336 434), e subtrair os números totais de membros em registro de 2017 dos de 2018, nota-se um acréscimo total de apenas 195 566 para o ano de 2018.
De acordo com reportagem do The Salt Lake Tribune, esse foi o pior crescimento anual da Igreja desde 1978 quando postou um aumento de 194 000 membros.
De acordo com o anúncio oficial da Igreja, os números oficiais até 31 de dezembro de 2018 eram:
Membros Total (2018): 16 313 735
Conversos batizados (2018): 234 332
Novas crianças de registro (2018): 102 102
Congregações (alas e ramos): 30 536
A pior taxa de crescimento em 40 anos não deve surpreender nossos leitores. Desde 2011 publicamos análises estatísticas demonstrando que a Igreja vem crescendo cada vez menos apesar de esforços cada vez maiores em proselitismo missionário e campanhas publicitárias.
Na Conferência Geral de abril de 2014, o Profeta Thomas Monson se gabou:
“Estamos reunidos juntos como uma grande família, mais de 15 milhões [de membros] fortes…”
Antes dessa vanglória de Monson em 2014, outros líderes haviam sido ainda mais sanguíneos em seus entusiasmos. Na Conferência Geral semianual em outubro de 2017, o Apóstolo Russell Ballard havia alardeado:
“Como uma das fés cristãs que cresce mais rápido no mundo, construímos uma capela nova todo dia de trabalho.”
E ainda publicações em jornais oficiais da própria Igreja em muitos artigos que reforçavam essa percepção de “igreja que cresce mais rápido no mundo”, incluindo o próprio escritório de relações públicas da Igreja.
Na Conferência Geral de abril de 2018, contudo, o anúncio dos dados estatísticos simplesmente foi ignorado durante a Conferência Geral pela primeira vez na história moderna de Conferências Gerais, e foi publicado apenas online. O jornal oficial da Igreja até tentou fazer um alarde com a chamada: “Número de Membros da Igreja SUD oficialmente ultrapassa 16 milhões”, sem fazer quaisquer alusões ao fato dos números não terem sido divulgados durante a conferência, e obviamente, sem notar o quão irrelevante esse número total é para se analisar o real crescimento da Igreja.
A título de comparação, os números oficiais publicados pela Igreja para o fim do ano calendário de 2017:
Membros Total (2017): 16 118 169
Conversos batizados (2017): 233 729
Novas crianças de registro (2017): 106 771
Missionários de Tempo Integral: 67 049
Congregações (alas e ramos): 30 506
E, novamente, para compararmos com os números publicados para o fim do ano calendário de 2018:
Membros Total (2018): 16 313 735
Conversos batizados (2018): 234 332
Novas crianças de registro (2018): 102 102
Missionários de Tempo Integral: 65 137
Congregações (alas e ramos): 30 536
Como realmente anda o crescimento da Igreja?
Em abril de 2012, nós havíamos publicado uma retrospectiva do crescimento da Igreja SUD entre 1981 e 2011, com base nos dados estatísticos publicados pela própria Igreja, e comparando-os com estatísticas populacionais mundiais. Em abril de 2014, utilizamos os dados oficiais da Igreja para 2012 e 2013 para publicação e verificamos os números dentro das mesmas tendências gerais, sem grandes mudanças.
Computados os dados oficiais da Igreja de total de membros por ano, podemos rastrear as taxas de crescimento anual da Igreja. Vemos então que, nos últimos 30 anos a taxa média de crescimento caiu de 5-6% ao ano nos anos 80, para 3-4% nos anos 90, 2-3% 14 anos, e entre 2-2,5% na última década.
Além de ser notável a redução progressiva na taxa de crescimento total, sabemos por estudos populacionais independentes que a taxa real de membros (em atividade ou por auto-identificação) é bem, bem menor que as taxas oficiais computadas pela Igreja — que costuma contar como membros todas pessoas batizadas ou abençoadas quando crianças, até 120 anos de idade ou falecimento confirmado. O que torna o número total de membros uma ferramenta para rastreamento de crescimento menos confiável.
Como foi nos últimos 6 anos?
O crescimento dos últimos seis anos é um parâmetro interessante de análise pois quantifica o impacto do ímpeto missionário por trás da revelação das drásticas mudanças no serviço missionário em outubro de 2012. Em outras palavras, o Profeta Thomas Monson havia revelado novos parâmetros etários para missionários de tempo integral para “impulsionar a obra missionária”, e agora podemos objetivamente calcular o impacto dessa diretriz pelos números dos anos 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, e 2018.
E como podemos ver, o número de missionários aumentou consideravelmente (após uma explosão inicial e uma igual retração). Hoje a Igreja SUD dispõe de quase 14% a mais de missionários no campo que tinha antes da mudança há 5 anos. Contudo, a taxa de conversão anual caiu para 16% a menos novos conversos por ano! A taxa anual de crescimento da Igreja caiu drasticamente para 1,59% em 2016 e 1,48% em 2017, as piores taxas na desde 1937, assim como a taxa anual de crescimento de unidades (alas e ramos) também caiu para 0,67% ao ano. O ano de 2018 apresentou ainda piores taxas, sendo a taxa anual de crescimento total de membros caindo ainda mais para 1,21% ao ano, e a taxa anual de crescimento de unidades (alas e ramos) caindo ainda mais para 0,1% ao ano.

Taxa de Crescimento Anual Total de Membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
Como anda o crescimento das unidades da Igreja?
Não obstante, podemos rastrear a taxa de crescimento de novas unidades (alas e ramos), pois em média estas necessitam de números de participantes ativos médios razoávelmente estáveis e comparáveis. Quanto usamos os dados oficiais para rastrear o crescimento da Igreja pela taxa de crescimento anual de unidades, vemos que a Igreja crescia entre 2,5% e 5% ao ano nos anos 80, entre 2,5% e 6% ao ano nos anos 90, e entre 0,5% e 1,6% ao ano nos últimos 15 anos.
Quando ploteamos esses dados num gráfico, uma tendência para redução de crescimento torna-se bastante aparente!
Se olharmos com um pouco mais de atenção para os últimos 15 anos, esta tendência torna-se ainda mais óbvia.
Vê-se, portanto, que a Igreja crescia bastante até 1998, com crescimento de membros bem acima do crescimento populacional global, mas que esse ritmo caiu bastante e progressivamente de 1999 para cá. Além disso, nota-se que o crescimento, como medido em unidades ou congregações, está abaixo do crescimento populacional de 1999 para cá, dando a entender que a Igreja cresce apenas em termos de taxas de reposição, ou até negativamente.

Taxa de Crescimento Anual Total de Membros Igreja SUD (em azul) vs Taxa de Crescimento Anual População Global
Que fique claro que os dados não dizem que a Igreja está reduzindo de tamanho total! Há sem dúvidas mais Mórmons hoje que há 2 anos atrás, ou 5 anos ou 10, ou 20. Mas, os dados sugerem que a Igreja está reduzindo de tamanho em proporção ao mundo ao seu redor.
Como cresce a Igreja em seu país natal dos Estados Unidos?
Os Estados Unidos vêm mantendo uma taxa de crescimento populacional razoavelmente estável entre 0,85 e 0,95% ao ano.
A Igreja nos Estados Unidos crescia, em média, entre 1 e 4% ao ano nos anos 70, 1 e 4% ao ano nos anos 80 (com dois picos anômalos), 2 e 3% nos anos 90, e 2% na última década.
Então a Igreja cresce acima do crescimento populacional nos EUA?
Não exatamente. Estas taxas acima são dos números oficias de membros, que estudos independentes colocam entre 40 e 70% da real taxa demográfica de Mórmons. Por exemplo, o estudo independente ARIS demonstra que a população SUD nos Estados Unidos mantém-se estável (crescimento zero) em proporção à população americana desde 1990 (1,4%).
Sendo assim, há dados que sugerem um crescimento pequeno, e há dados que sugerem um crescimento nulo nos últimos 20 anos nos EUA.
Como anda a obra missionária? Qual o impacto dela nisso tudo?
O gráfico é um pouco difícil de visualizar, mas mostra claramente que a taxa de conversos por missionários está razoavelmente estável nos últimos 30 anos, entre 4 e 6 por ano por missionário. Quando se aumenta o número de missionários, aumenta-se o número de batismos proporcionalmente, e ambas taxas vem se mantido moderadamente estáveis, com a média anual de missionários na casa dos 50 000 e conversos na casa dos 280 000. Contudo, como discutido acima, há 5 anos a Igreja reduziu a idade mínima para serviço missionário, o que resultou num aumento súbito de missionários no campo de 58 990 no final de 2012 para 83 035 no final de 2013, com subsequente queda drástica para os atuais 67 049. Não obstante, a taxa de batismos de conversos manteve-se no mesmo nível que nos últimos 25 anos, caindo ainda mais nos últimos 3 anos, enquanto a taxa de batismo por missionário caiu para um recorde histórico negativo.
Dez anos antes desta mudança, a Igreja havia anunciado uma política que reduziria o número de missionários no campo, por aumentar o grau de exigência para o serviço. Os resultados, como se pode ver, foram desastrosos e a Igreja vem lutando desde então para reverte-lo, culminando com esta mudança mais recente (10 anos após a outra). Entretanto, apesar do súbito crescimento de missionários totais no campo, ainda não houve comparável crescimento na taxa de conversos e batismos.
Considerando todos os dados estatísticos disponíveis, nota-se que a Igreja vem, há décadas, sofrendo de redução progressiva na taxa de crescimento. Sob alguns prismas, a Igreja tem crescimento nulo, apenas repondo suas perdas naturais (deserções e óbitos). Sob outros prismas, a Igreja cresce muito pouco acima do crescimento populacional natural, e sob outro (análise de crescimento de unidades) ela cresce abaixo do crescimento populacional (crescimento negativo). Sob nenhuma consideração pode-se dizer, baseando-se nos dados concretos, que a Igreja esteja crescendo bem.
E a questão dos “15 milhões [de membros] fortes…” de Thomas Monson?
Se considerarmos as estimativas conservadoras e otimistas de 1,4% da população americana (4 400 000), de 50% da população SUD fora dos EUA e de 25% de auto-identificação lá (2 000 000 — baseado em estudos brasileiros, chilenos, mexicanos, e filipinos), deve haver uns 6,5 milhões de SUD nominais pelo mundo afora, ou pouco mais que 40% do que Monson alardeou em 2014. Isto, considerando que estas estimativas são conservadoras e generosas, pois os números reais podem bem ser até menores — especialmente levando em consideração que destes ainda há muitos SUD que são inativos mais ainda se consideram Mórmons, e o fato de que em qualquer congregação SUD a porcentagem de membros dizimistas integrais e templários é usualmente pequeno comparado ao número de membros moderada ou intermitentemente ativos.
Novos números, outras análises
Uma excelente, mais detalhada, e certamente mais acurada análise estatística sugere que a real taxa média global de atividade gira em torno de 30%. A análise dos números é longa e complexa, e certamente recomendamos a leitura, mas o resumão dos dados permite uma projeção baseada em presentes tendências que, apesar de óbvias pelo exposto acima, são matematicamente sãs expressas equacionalmente.

Distribuição Estimada de Membros da Igreja SUD: Azul (Total de membros de registro), Vermelho (Membros ativos), Verde (Membros inativos), Vinho (Nomes removidos)
Outro excelente levantamento dos números, que também merece sua atenção individualizada, contrastou com maestria os números oficiais com as taxas de crescimento calculadas para melhor demonstrar as reais tendências demográficas.

Barras: Crescimento em números totais oficiais (azul, EUA; vermelho, internacional) versus Linha (verde): Taxa de crescimento anual

Barras (vermelhas): Números de alas/ramos versus Linha (azul): Taxa anual de crescimento de números de alas/ramos

Barras (azul): Número total de missionários no campo versus Linha (vermelha): Batismos por missionário

Taxas estimadas de membros ativos: Linha (verde) como percentual do total de números de membros em registro versus Barras (azuis, EUA; vermelhas; internacional) como total de membros ativos
Conclusão
A Igreja SUD está passando por uma transição de uma igreja missionária com crescimento forte e expansionário, para uma igreja que investe e luta ferozmente apenas para manter-se relevante e estável – especialmente considerando que as suas atuais taxas de crescimento apenas se equiparam ao crescimento populacional orgânico.
É inteiramente possível que o silêncio inusitado durante as últimas Conferências Gerais sejam apenas os primeiros sinais de um reconhecimento oficial do alto escalão mórmon de tal transição. Também é possível que a promoção de dois Apóstolos com apelo internacional (asiático e latino-americano) no ano passado, a abrupta reversão esta semana de uma revelação profundamente controversa de apenas 3 anos atrás, sejam os segundos e terceiros sinais deste reconhecimento. Especialmente após o pior ano em termos de crescimento nos últimos 80 anos!
Triste, mas quem sabe essa queda no número de membros sirva pra que ocorram mudanças positivas na Igreja.
Ter baixado a idade dos missionários não foi um bom negócio. O número aumentou, mas, a qualidade caiu. Missionários despreparados acabavam mais atrapalhando do que ajudando no crescimento da ala. Não havia mais nada espiritual, e as pessoas perceberam isso…foi um tiro no pé…
Também concordo, nos meus últimos anos de membro eu já tinha percebido uma grande queda na qualidade dos missionários, a gente vê pela cara que eles não tem preparação alguma e só vão por imposição da família e para serem aceitos, e hoje a sociedade mudou muito, as pessoas não aceitam mais eles tão facilmente nas suas casas, temos internet e muitos sites de ex membros contando todo o passado deles e isso eles nunca vão mudar.
A imaturidade dos missionários é algo que parece escrito na testa deles, e nem adianta dizer que “ah, mas eles passam pelo CTM antes”, porque, se algum dia o CTM ajudou em alguma coisa, hoje não parece estar ajudando tanto. Na única vez em que tive cabeça pra visitar a igreja (e eu estava pensando sinceramente em me converter, viu?), uma coisa que me afastou foi justamente o comportamento de uma dupla de sisters: uma delas, brasileira, bem que demonstrou algum interesse por mim enquanto pessoa, mas a outra, uma americana, simplesmente encerrou o assunto (estávamos falando sobre modéstia, roupas e afins), simplesmente tratou de encerrar o assunto pegando o meu telefone e me dando um folheto sobre a restauração do Evangelho – muito esclarecedor para o assunto sobre o qual estávamos falando, não é? Me senti um fardo, e eu, como cristã não-denominacional, tenho certeza de que eu posso ser tudo de ruim para qualquer pessoa, mas NÃO SOU UM FARDO PARA O DEUS QUE ME CRIOU.
E foi assim que eu comecei a desistir do mormonismo antes mesmo de abraçá-lo!
Danka, eu fiz missão e o CTM nunca ajudou em nada, ouvi de uma sister logo que cheguei no campo que eu deveria esquecer tudo que aprendi lá, e realmente é só teoria e técnicas de vendas, não te ajudam em nada e essa é umas das grandes razões de brasileiros não quererem ter companheiros americanos: eles só ensinam “lição” ao invés de pessoas, eles são ótimos com números, metas e estatísticas, mas não tem amor pelos pesquisadores,e são sempre eles que treinam os novos missionários, os presidentes amam eles, afinal, muitos só se batizam por causa deles. O negócio é chegar em casa e contar 10 lições ensinadas numa só, a igreja é apenas uma empresa, quem tem pena dos pesquisadores é sempre passada para trás, o lema é esse: só batiza (qualquer um)