Uma aluna da universidade mórmon sentiu-se chocada ao receber uma nota “zero” em um projeto de arte e fotografia porque suas peças exibiam uma modelo expondo seus ombros desnudos.
Waverly Giles, estudante do primeiro ano da Universidade de Brigham Young em Idaho, postou sua reação de choque e revolta em mídia social e seu desabafo rapidamente viralizou. Giles, chocada com a óbvia exibição de misoginia por parte de seu docente, escreve:
“Minhas fotografias todas atingiam todos os critérios solicitados, mas meu professor me deu um 0 porque ele simplesmente não podia aceitar seus ombros à mostra”
My photographs meet all of the criteria but my professor gave me a 0 because he couldn’t see past her visible shoulders pic.twitter.com/6YRbd5lIN0
— ❄ winter waverland ❄ (@wavyygravy) November 29, 2016
Giles reconta à reportagem do noticiário da KUTV que sua modelo, em nenhum momento, estava nua durante as sessões e vestia um top, mas que seu professor determinou que as fotos, embora “criativas” eram “inapropriadas” pois ela não deveria “ter fotografado uma moça nua”. Giles contesta essa postura:
“É tudo muito frustrante. Eu sinto como se meu professor estivesse fazendo um desserviço por não conseguir olhar para a minha arte com objetividade. A nudez era apenas insinuada, não havia nenhuma nudez, além de uma simples clavícula.”
Contestações não obstantes, seu professor manteve sua nota de 0 argumentando que a arte violava as regras de vestimentas da universidade, o que não era citado como critério de avaliação na descrição do curso ou mesmo na descrição da tarefa em questão. Não ciente de tai restrições, Giles havia expressado confiança para surpreender as expectativas técnicas de seu docente apenas um mês antes.
As supostamente controversas fotos foram publicadas antes da divulgação das notas em mídia social, sem levantar reações de alarme pudoroso por parte de sua comunidade de amigos e colegas, predominantemente mórmon:
O professor anotou ao lhe dar a nota 0:
“*não preencheu os critérios da tarefa”
“+ e eu não tenho nem ideia do que fazer com essas. Elas são artísticas, mas…”
Em outra postagem de desabafo, Giles se espanta:
“Eu sabia que eu frequentava uma escola conservadora, mas eu não imaginava receber 0 pontos de um total de 100 por um trabalho apenas porque o assunto era inapropriado.”
I knew I went to a conservative school, but I didn’t anticipate getting 0/100 points for my assignment because the subject was inappropriate pic.twitter.com/aUysuztNH9
— ❄ winter waverland ❄ (@wavyygravy) November 29, 2016
Após muita negociação, o professor lhe permitiu a oportunidade de refazer o projeto, ao que Giles respondeu com humor e inteligência:
“Meu professor está me dando uma segunda chance com o projeto, além de muita inspiração.”
Colegas seus compartilharam, com abundante tom de ironia, exemplos de arte que receberiam notas 0 por “exposição desnecessária”:
Esse tipo de reação entre mórmons com relação a arte e ombros não é uma novidade. Há mais de 4 anos publicamos sobre uma manipulação de uma pintura clássica para esconder ombros femininos em uma publicação oficial da Igreja SUD. Além de manuais oficiais da Igreja destinados a jovens para lhes determinar o que podem e o que não podem vestir, as regras de vestimentas da universidade da Igreja também mantém determinações indumentárias draconianas, especialmente controlando as roupas femininas. Entre os exemplos de proibições:
- Calças ou jeans que sejam remendados, desbotados, desgastados ou rasgados;
- Calças ou jeans de comprimento acima do tornozelo;
- Calças capri;
- Chinelos;
- Shorts de quaisquer tipos;
- Cortes de cabelo com estilos extremos e cores não naturais;
- Para as mulheres: Vestuário imodesto, como blusas sem mangas, que não cubram o estômago, ou sejam decotados na frente ou atrás;
- Para as mulheres: Vestidos ou saias acima do joelho (mesmo com leggings por baixo)
O controle exagerado em comunidades mórmons de como mulheres se vestem ou devem se vestir não é incomum, e é certamente encorajado pela liderança da Igreja SUD. Nem arte escapa desse escrutínio misógino?
Cresce, aos poucos, na Igreja SUD uma conscientização coletiva de que mulheres SUD não vêm sendo tratadas ou consideradas com a mesma igualdade de respeito e oportunidade que os homens SUD. Tais reflexões não são novas ou originais, mas o que mais impressiona no presente momento é a penetração social desta ideia. Além de uma crescente mobilização entre mulheres SUD, parece haver uma recíproca preocupação entre a liderança (exclusivamente masculina) SUD. Leia mais aqui.
A campanha ‘Vista Calças Para Sacramental’ foi organizada por um grupo de mulheres SUD ativas que, apesar de valorizar a Igreja em suas vidas, sente-se discriminadas dentro de uma cultura religiosa patriarcal. Leia mais aqui.
Estudo conduzido com 48.984 membros ativos da Igreja SUD demonstra que Mórmons estão começando a aceitar o conceito de ordenar mulheres ao Sacerdócio e abraçá-las em posições de liderança eclesiástica. Leia mais aqui.
Uma membro ativo na Igreja SUD é chamada pelo Bispo e pelo Presidente de Estaca por um comentário publicado no Facebook, e pressionada a apagá-lo. Leia mais aqui.
O Apóstolo Dallin H. Oaks acredita que mulheres são culpadas por se tornar peças vivas de “pornografia” para “tentar” os homens. Leia mais aqui.
A Igreja Mórmon promove a “cultura do estupro”? Certamente, ninguém questiona que o crime de estupro é amplamente condenado pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Não obstante, a “cultura do estupro” vai muito além de meramente compactuar com esse crime violento em si. Leia mais aqui.
A psicóloga mórmon Kristy Money reage e responde ao ensaio recém publicado pela Igreja SUD sobre o tema de mulheres e o sacerdócio. Leia mais aqui.
A Igreja Mórmon estabalece regras de vestuários bastante específicas. Além de machistas e extremistas, essas regras não parecem ser aplicadas consistentemente. Leia mais aqui.
Antropóloga Mórmon Chelsea Shields foi oradora especial na prestigiosa Conferência TED, popularmente conhecida como TED Talks. Seu discurso focalizou na sua experiência pessoal dentro da Igreja SUD, da cultura Mórmon, e de seus estudos acadêmicos em tôrno de questões de gênero e religião institucional. A cobertura de seu discurso expõe facetas interessantes do Mormonismo, além de sua percepção pelo público não Mórmon. Leia mais aqui.
O professor foi radical mas a Universidade é Particular e tem suas normas. Acho que quem não se adequa ou pensa que são normas antigas e arcaicas podem simplesmente mudar de Universidade.
Pode até ser legal, mas ao mesmo tempo é ilegal o que ele fez por não constar tal restrição especificada em contrato, ou seja, nos termos da avaliação. Considerar como uma regra subentendida é uma falha na defesa dele, e cabe recurso, como ela poderia ter feito. Tanto que ele percebeu que sua ação poderia lhe trazer problemas nesse sentido que permitiu a ela fazer o trabalho novamente.
Fica escancarada a decisão dele baseada no seu simples incômodo pessoal pelas imagens. Um critério anti ético para um professor, que encontrou bases superficiais em regras idiotas, que sequer impedem estupros e fornicação no campus, muito pelo contrário.
No caso, a aluna nem sequer estava violando as normas de vestimenta da universidade, mas tão somente apresentou um trabalho de fotografias em que aparecia com ombros nus.
O controle da mulher mediante o controle sobre suas roupas é o mais sutil e o mais efetivo. A cultura religiosa sempre considerou a mulher inferior ao homem, impondo-lhe a submissão, instando-lhe a que cobrisse a cabeça ou outras partes do corpo, ou mesmo todo o corpo, como é o uso do “hábito” das freiras, e a burca.
Penso que não cabe a um Estado Democrático permitir que essa cultura de controle sobre o corpo da mulher se perpetue, reforçando DESIGUALDADES entre homens e mulheres, mesmo que os seus oponentes o façam sobre o pretexto de “liberdade religiosa” (como já fizeram para defender a escravidão e o racismo, e até hoje fazem para negar direitos civis a minorias sexuais).
As convenções sociais que refletirem SEXISMO devem ser combatidas. As mulheres nunca impuseram aos homens regras de vestimenta. É IRRACIONAL, portanto, que os homens (ou deus tribal de Abraão) possam ter direito de estabelecer regras de vestimentas para a mulher.
Só as mulheres podem estabelecer as regras de vestimenta das mulheres. Elas deve sentirem-se livres para vestirem-se como quiserem, sem sentirem-se ameaçadas.
Povos nudistas caracterizam-se pela integração com a natureza e pela franqueza dos relacionamentos interpessoais. Não seria uma redescoberta da inocência? https://www.youtube.com/watch?v=Vp0f5DkLK2U