Uma membro ativo na Igreja SUD é chamada pelo Bispo e pelo Presidente de Estaca por um comentário publicado no Facebook, e pressionada a apagá-lo.
Sobre o que era tal comentário “apóstata” que motivou tal censura oficial?
Sobre mulheres sendo testemunhas perante Deus.
Entenda:

Mulher SUD desabafa sobre a censura que sofreu por seu Bispo
Então, eu fui chamada ao escritório do Bispo hoje por causa do meu comentário na página de um amigo sobre a nova campanha do Ordene as Mulheres (link nos comentários) – Aqui está o comentário:
“Vamos servir de testemunhas de Deus em todos os momentos e em todas as coisas e em todos os lugares” Mosias 18: 9 (Exceto em bênçãos de bebês, batizados, selamentos no templo, abençoando o sacramento, etc. etc.)”
Eu não sou parte do OW, nem as apoio ativamente – Eu simplesmente escrevi um comentário. O Presidente da Estaca viu e aí me pediram para apagá-lo – e como eu não tenho a energia para lutar contra isso – Eu acho que eu vou apagar. Quem está gastando seu tempo policiando meus comentários no Facebook?! Eu estou tão cansada dessa Ala, Estaca, bairro, condado e cultura em que vivo!
Essa membro da Igreja ainda explicou nos comentários, abaixo do seu desabafo, que nunca participou de movimentos feministas como o Ordene as Mulheres (Ordain Women) e sempre foi muito ativa na Igreja, mas que concorda que mulheres deveriam ter uma participação mais ativa nas ordenanças e na liderança da Igreja. Contudo, esclarece, como esposa e mãe e ainda estudante, não goza de tempo livre para participar de nada além de comentar em mídias sociais suas opiniões pessoais.
Até recentemente, quer dizer. Porque agora, ela sente que sua liberdade de expressão nas redes sociais, como o Facebook, está sendo controlada e monitorada. Apesar de não lhe haverem ameaçado explicitamente, ficou-lhe claro que lhe tomariam sua recomendação para o templo caso não se propusesse a apagar o comentário. E, naturalmente, manter sua recomendação lhe é importante nesse momento.
Adicionando maiores detalhes, ela comenta:
Eu tive que confirmar que não era afiliada com a OW. Esta é a segunda vez que sou chamada ao escritório do Bispo por causa de um post no Facebook. A última vez foi um desabafo sobre minhas frustrações com a nova política de crianças [de famílias LGBT]. Que tola de mim pensar que eu estava indo para receber um chamado. Eu não perguntei. Estou quase certa de que eu perderia minha recomendação para o templo. Tenho uma vizinha que postou seu apoio ao casamento do mesmo sexo, e sua recomendação foi retirada dentro de um par de horas após se reunir com o seu Presidente da Estaca. Sinceramente, acho que meu Bispo se sente mal por mim, e a forma como fui tratada. Ele foi apologético sobre tomar do meu tempo. Eu acho que ele está seguindo ordens do Presidente da Estaca. Sinto-me realmente estúpida por pensar que eles estavam indo para me dar uma chamado hoje. Eu não tinha de verdade nenhuma idéia, e eu realmente não estava preparado para brigar por isso.
A questão aqui é se esses Presidentes de Estaca estão agindo sob ordens de cima para monitorar e censurar membros da Igreja nas mídias sociais!
A campanha em questão refere-se à luta para que mulheres possam servir de testemunhas em ordenanças religiosas SUD, como batismo ou benção de crianças. O grupo Ordene As Mulheres iniciou uma campanha para convencer membros e líderes de que mulheres deveriam poder servir de testemunhas nos batismos de seus filhos, ou nos selamentos de seus filhos, ou quando missionárias, nos batismos de seus conversos e investigadores. Na tradição SUD, apenas homens servem como testemunhas.
“Pergunte-se por quê, quando mulheres foram chamadas para servir como as primeiras testemunhas da ressurreição de Cristo, essas políticas atuais proíbem mulheres de se servir como testemunhas desses momentos religiosas na nossa igreja.”
A campanha inclui enviar cartões postais aos líderes da Igreja relatando seus testemunhos pessoais e suas experiências individuais como membros da Igreja excluídas desses ritos sagrados por práticas machistas.
Para maiores informações sobre a campanha, clique aqui.
EM DEFESA DA PERSONALIDADE JURÍDICA
Sempre cogitei a ideia de que qualquer membro da igreja poderia sempre “livremente” confidenciar com seus lideres o que o incomodava e insistia em permanecer como dúvidas doutrinárias e conceituais.
Considero esta possibilidade muito pessoal porque depende do líder e depende do membro da igreja.
Eu mesmo já fui por assim dizer – convidado a conversar com o líder em virtude de postagens na rede social Facebook.
A algum tempo criei uma página para discussão de fatos atuais concernentes a igreja e como não agradou a todo mundo o teor de liberdade excessiva, fui “gentilmente” convidado a retirar tal página.
No inicio fiquei chateado com o pensamento de desaforo – “MINHA LIBERDADE DE EXPRESSÃO FOI CERCIADA” e coisa e tal. Mas hoje alguns meses depois sou obrigado a exercer o papel sagrado de ser meu próprio juiz (já que NINGUÉM pode ser) e procurei me acusar e me absolver.
Procurei na rede uma posição mais oficial para incrementar minha defesa e para minha surpresa descobri que eu não estava tão certo. Hoje com o uso indiscriminado da tecnologia para a democrática e sadia prática de expressão, esbarramos (como pessoas físicas) ao que se chama DIREITO DE DEFESA DA PERSONALIDADE que é uma tutela das pessoas jurídicas (empresas); A igreja sendo uma empresa tem o direito a esta defesa; Mas ela não vai a revelia sair por ai criando um setor juridico no Brasil somente para a caça aos membros que abusam de sua liberdade nas redes sociais.
Ela vai orientar seu líder mais próximo para ouvi-la. Chamando- a para que notoriamente, ou mesmo, justificadamente explique porque postou algo vista como como expressão ofensiva, com ela dialogar e com ela estabelecer os limites desta liberdade.
Segue, a meu ver, a tutela do DIREITO DE PESONALIDADE que mais se aproxima do que quero argumentar:
Como membro da igreja, pude em quase 40 anos (peregrinando no deserto) encarar de diversas formas a maneira como estes problemas vão sendo resolvidos, mas hoje as ferramentas são diferentes, mais modernas, mais abrangentes do que o papel impresso e não menos impactantes, seus efeitos.
Porque não temos ao alcance de nossas amadas mulheres, que são (mais dignas que os homens) o merecimento a participar de ordenanças? porque existem regras, antigas e novas, que são delimitadas pela linha de autoridade, e não pela linha da vontade.
Considerando o próprio artigo que você citou:
“No entanto, quando a publicação veiculada provém de críticas e reclamações de consumidores, é necessário ter cuidado na ponderação dos interesses envolvidos. É preciso verificar se efetivamente há violação do direito de personalidade ou apenas livre manifestação de opinião, dentro dos padrões da normalidade.”
Explique-nos como a opinião pessoal oficialmente censurada pela Igreja SUD citada no artigo acima teria violado o “direito de personalidade” e/ou teria ultrapassado os “padrões da normalidade” e “apenas livre manifestação de opinião”.
Acredito que não utrapassou (embora desconhecendo os motivos dela em apoiar um movimento que obviamente é fundamentalista, em minha opinião).
O grande desafio para os membros SUD, e digo isto com bastante experiência, porque já estive dos dois lados da mesa do bispado, é entender estes “PADRÕES DE NORMALIDADE”. Um lider deve sentir o que está pedindo, se esforçar para não trazer a uma entrevista seus sentimentos pessoais e não colocar um remendo novo em um pano velho e achar que resolve, muitas vezes pela ignorância, ele só aprofunda as frustrações.
Confesso que no meu caso o lider demonstrou não estar muito alinhado com o espírito correto, que deveria ter, estava mais para um comportamento, também fundamentalista; O tipo de discussão em que a última coisa que enteressa para ele é o PADRÃO DE NORMALIDADE, era mais importante o PADRÃO DE CONDUTA, querendo descobrir minhas intenções.
(*) Detalhe importante, no meu drama pessoal, não fiz nem mesmo um comentário ou crítica (demonstrando minha opinião) apenas compartilhei postagens com conteudo concernente a fatos que aconteciam em Salt Lake, e isso, por si só já estava pra lá de normal.
Mas não confunda as coisas, a postura exagerada de censura foi da liderança, pela qual a igreja como um todo, não é responsável.
Obrigada Ricardo Aguiar por expor de forma tão inteligente e sucinta aquilo que eu muitos membros acreditamos porem temos dificuldade em escrever e defender nossos pontos de vista.
Todos nós temos o dever de zelar por nosso bom nome e pelo bom nome da igreja de Jesus Cristo.
O bispo é um atalaia na torre e cabe a ele alertar e sinalizar os membros que ingenuamente ou não estão usando erroneamente seu direito de expressão, mesmo porque direito de expressão também tem seus limites. Com sua licença solicito ressaltar um trecho do seu comentário “Abusos cometidos no exercício da liberdade de expressão em redes sociais devem ser combatidos, sendo imprescindível estabelecer limites para tais situações. Pode, portanto, a pessoa jurídica ofendida valer-se da tutela preventiva para afastar os nefastos efeitos de violações a seus direitos de personalidade.”
(O exercício do direito à liberdade de expressão nas redes sociais e a tutela preventiva dos direitos de personalidade das pessoas jurídicas – Por Taís Carvalho Silva).
Considerando o próprio artigo que você citou:
“No entanto, quando a publicação veiculada provém de críticas e reclamações de consumidores, é necessário ter cuidado na ponderação dos interesses envolvidos. É preciso verificar se efetivamente há violação do direito de personalidade ou apenas livre manifestação de opinião, dentro dos padrões da normalidade.”
Explique-nos como a opinião pessoal oficialmente censurada pela Igreja SUD citada no artigo acima teria violado o “direito de personalidade” e/ou teria ultrapassado os “padrões da normalidade” e “apenas livre manifestação de opinião”.
O direito de Personalidade da pessoa jurídica é o mesmo que é dado à pessoa natural. Não se pode ofender, caluniar, injuriar ou qualquer outro ato que vise prejudicar a imagem da pessoa jurídica. Isso não pode ser confundido com a critica que qualquer pessoa ou entidade está sujeita a enfrentar. Criticar, falar sobre ou noticiar informações, não ofende juridicamente a personalidade jurídica da empresa (desde que as informações sejam verdadeiras, óbvio). Assim, esse comentário sobre prejudicar o direito de Personalidade da empresa não tem muito a ver com o problema. Acredito que se a pessoa escrever mentiras ou injurias sobre a Instituição, o líder religioso (representante da entidade) pode solicitar que seja sim retirado tal comentário, matéria, etc. Mas o que o texto está propondo não é a defesa da personalidade da pessoa jurídica, mas a intromissão nas opiniões pessoas dos membros, principalmente no que tange à opinião quanto a assuntos civeis e sociais, a qual a Igreja nao tem alçada.
Eu luto por uma igreja menos mesquinha, menos burocrática.Lamentável atitudes como esta! O SER HUMANO SE DESENVOLVE NA LIVRE EXPRESSÃO.A coação e manipulação praticada por terceiros dentro de seu âmbito particular, somente transforma as pessoas em atores e seres superficiais, sem conteúdo,que em vez de amadurecer a coletividade somente é levada pelos ventos das massas e da cultura coletiva,sendo controlados como fantoches de uma apresentação de marionetes. O tempero da humanidade é a livre opinião, o pensar, o refletir, o compartilhar.A diversidade fortalece a coletividade e a comunidade.