Presidente de Estaca Espalha Mentiras via WhatsApp

Líder da Igreja Mórmon na Grande Florianópolis é flagrado espalhando mentiras para suas congregações via WhatsApp.

O Presidente da Estaca São José Brasil d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, com sede no município de São José, Santa Catarina, pode ser ouvido em mensagem distribuída pelo aplicativo de mensagens para celulares WhatsApp declamando mentiras com o intuito de propagar medo e hostilidade a grupos diversos.

Estaca São José Brasil d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, localizada na região metropolitana de Florianópolis, Santa Catarina (Foto: Google)

Claudiomiro da Silva, que serve como Presidente de Estaca desde 2016, foi identificado como o autor da mensagem que, entre outras coisas, propaga mentiras sobre o site Vozes Mórmons.

Nela, ouve-se Silva discorrendo sobre um grupo de mórmons que creem que um vidente moderno encontrou no Brasil as famosas Placas de Ouro das quais teria Joseph Smith traduzido o Livro de Mórmon. Smith afirmara que parte dessas placas lhe foram proibidas de traduzir, o que esse grupo de mórmons alega estar traduzindo, pelo mesmo processo através do qual Smith teria produzido a tradução original de 1830.

Na mensagem de áudio, Silva demonstra preocupação com o fato de que “quatro irmãos” estariam visitando as capelas da Igreja SUD para “prestar testemunho” de profetas vivos, revelações divinas modernas, e de pessoas que creem em profecias de Joseph Smith se cumprindo nos dias de hoje. O intuito dessa mensagem parece ser alertar líderes nas congregações sob sua supervisão para que impeçam que seus respectivos membros sejam expostos a esses “testemunhos”.

Certamente, em sua posição pastoral eclesiástica, espera-se que Silva tenha liberdade plena para orientar a fé de seus congregantes e mesmo protegê-los do proselitismo de uma pequena organização rival. Inclusive, Silva insinua planos para disciplinar e/ou excomungar os membros da Igreja que creem e pregam tais revelações, alertando que “a gente vai tomar as medidas que são cabíveis para ele”, o que é uma política oficial da Igreja SUD amplamente conhecida. É ainda compreensível que, frente a uma engessada estrutura hierárquica, Silva recorra a um meio de comunicação mais rápido e informal para tratar de assuntos eclesiásticos.

Infelizmente, contudo, Silva mente ao criar sua narrativa negativa:

“Hoje tive uma visita ilustre numa das capelas da Estaca São José, especialmente na sede da estaca. Teve o representante daquele grupo Vozes Mórmons lá. Aquele grupo que fica mentindo e denegrindo a imagem da Igreja. Teve ele e mais 3 irmãos apóstatas que estão com o intuito de visitar as capelas da Igreja para arrebanhar seguidores na crença deles de que um novo vidente foi levantado e que recebeu as placas do anjo Morôni e ele está traduzindo as placas.

(…)

Só para os presidentes ficarem sabendo e avisarem os Bispos aí que eles vão visitar as capelas, tá? Visitar as reuniões da Igreja, tá? São quatro irmãos que vão fazer isso. Quatro homens, né? Que representam parece que uma igreja reorganizada.”

Você pode ouvir a mensagem de áudio em questão em sua íntegra aqui:

 

Mentira #1: Nenhum “representante d[o] grupo Vozes Mórmons” estava envolvido nessa ocorrência.

Não se espera de Silva que saiba que não há um “grupo” chamado Vozes Mórmons. Existe uma associação chamada Associação Brasileira de Estudos Mórmons (Abem) estabelecida em 2009, e ela mantém um site chamado Vozes Mórmons desde 2011. Pode-se, certamente, compreender o equívoco.

Contudo, a afirmação de que havia um “representante” da Abem em Santa Catarina é simplesmente mentirosa. A Abem conta com quatro diretores que poderiam agir como seus representantes, e nenhum deles estava no estado de Santa Catarina.

Nós sabíamos, sim, da existência desse grupo de mórmons. Nós sabíamos, também, que um amigo e colaborador nosso iria visitá-los no final de outubro p.p., e ainda que este nos prometera escrever um relato de sua visita e de suas experiências entre eles. Ele, porém, em nenhum momento foi autorizado (ou mesmo solicitado) a representar a Abem junto a quaisquer grupos religiosos durante sua visita, e tampouco ele se identificou lá a quaisquer grupos como “representante” da Abem.

Nós incentivamos, pública e abertamente, o envio de relatos de significância histórica dentro do mormonismo brasileiro, e o incentivamos a isso, tal como o fazemos pública e abertamente a todos.

Afirmar que qualquer pessoa lá envolvida em discussões ou proselitismo religiosos fosse representante deste site ou da Abem simplesmente é faltar com a verdade.

Mentira #2: A Abem nunca, em nenhum momento, “fic[ou] mentindo e denegrindo a imagem” de nenhuma igreja ou grupo religioso.

Não se espera de alguém, que sequer saiba a diferença entre o nome da nossa associação e o nome do nosso site oficial, tenha lido com seriedade qualquer de nossas publicações. Contudo, espera-se a honestidade intelectual de toda e qualquer pessoa que deseja acusar alguém de “mentir” e “denegrir”, que ao menos leia tais publicações (que supostamente teriam “mentido” e “denegrido”) antes de levantar tais acusações.

Se Silva tivesse exercido a honestidade intelectual de ler nossas publicações antes de nos acusar de “mentir” e “denegrir”, possivelmente não teria cometido a desonestidade de nos acusar assim levianamente. Se Silva chegou, em algum momento, a ler algumas de nossas publicações, e optou por franca e abertamente mentir a respeito destas, então expõe explicitamente sua honestidade e integridade à dúvida.

A realidade é que não há uma única “mentira” publicada em nosso site. Todas nossas publicações são checadas por correção factual e nossas fontes documentadas em notas de rodapé e/ou hiperlinks. Ademais, prezamos pela integridade acadêmica e jornalística de nossas fontes, tendo sido inclusive citados por publicações acadêmicas da universidade mórmon Brigham Young University e da Universidade de Oxford.

Publicamos todas as nossas fontes, inclusive, com o expresso intuito de que desafiem-nos e chequem-nas para julgar a factualidade de nossas publicações e a qualidade acadêmica e jornalística de seus conteúdos. Silva, assim como quaisquer outros leitores, podem – e devem – investigar nossas fontes e checar os fatos aqui expostos e discutidos.

Com relação a acusação leviana, e desonesta, de “denegrir a imagem da Igreja”, apenas nos limitamos a lembrá-lo de que nós publicamos e discutimos os fatos, e nada mais que os fatos. Se os fatos históricos “denigrem” a Igreja SUD ou não, isso compete a cada leitor exercer seu julgamento ético pessoal. Dito isso, a Igreja SUD não pode escolher quais fatos de sua história podem ou não podem ser expostos e discutidos. Embora muitos profetas e apóstolos da Igreja SUD tenham tentado exercer tal controle e censurar historiadores e acadêmicos, felizmente nós hoje (ainda) somos imunes a isso.

Afirmar que nós “fic[amos] mentindo e denegrindo” qualquer igreja ou religião é factual e comprovadamente faltar com a verdade, objetiva e facilmente confirmável.

Mentira #3: A Abem não tem nenhum vínculo religioso. 

A posição oficial da Abem, estabelecida e publicada há quase uma década, é de absoluta neutralidade e independência religiosa:

“A Abem não representa nem recebe respaldo de nenhuma igreja.”

Embora Silva não tenha articulado essa mentira explicitamente, como o fez com as duas previamente discutidas, deixa presumido o nosso vínculo à esta nova “igreja reorganizada”, considerando que o nosso suposto “representante” estaria lá fazendo proselitismo entre mórmons por ela.

Nossa missão é secular, não religiosa. Intelectual e racional, não espiritual.

“A Abem – Associação Brasileira de Estudos Mórmons – tem como missão incentivar, promover e divulgar estudos acadêmicos e expressões artísticas sobre mormonismo no Brasil. Ela cumpre sua missão ao impulsionar os estudos mórmons, incentivando a produção de conhecimento pela qual a tradição mórmon possa ser lida, debatida, interpretada, e analisada de maneira aberta, honesta, e diversificada, além de criar um espaço para compartilhar essa produção dentro de uma comunidade de aprendizado e produção intelectual entre mórmons brasileiros e estrangeiros, bem como entre mórmons e não-mórmons, e entre a comunidade acadêmica brasileira.”

Insinuar que a Abem mantém qualquer vínculo eclesiástico ou religioso, oficial ou extraoficial, é factual e comprovadamente faltar com a verdade, objetiva e facilmente confirmável.

Profeta Joseph F Smith e o Projeto de Sião

Surgido há cerca de dois anos em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, o novo movimento mórmon que afirma estar traduzindo a “parte selada” do Livro de Mórmon está atualmente sediado em Santa Catarina, e ainda conta com membros no estado americano do Missouri, onde o processo legal para a formação de uma igreja já foi iniciado. Joseph Fredrick Smith, bisneto do Profeta Joseph Smith Jr, foi ordenado  em junho p.p. como Profeta, Vidente, e Revelador, e consagrado e designado em outubro p.p., à “Presidência do Sumo Sacerdócio da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” pelo Vidente, Sumo-Sacerdote, e Tradutor brasileiro Maurício Artur Berger.

Bisneto do Profeta Joseph Smith Jr, Joseph F Smith, é ordenado Profeta, Vidente, e Revelador da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias pelo Sumo-Sacerdote e Vidente Maurício Berger

“Eu, Maurício Berger,

Tendo sido confirmado pelas mãos de um anjo como Sumo-Sacerdote detentor das chaves do reino de Deus na Terra, trazidas novamente entre os filhos dos homens com a finalidade de restabelecer Sua Igreja em Sião e no mundo.

Eis que consagro e designo Joseph Frederick Smith à Presidência do Sumo-Sacerdócio da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

E deste momento em diante Profeta, Vidente, e Revelador da Minha Igreja, assim como Meu servo, Maurício Artur Berger. Receba, portanto, as chaves correspondentes a este chamado, para que proceda de acordo com o meu servo Maurício. Chaves estas, que o qualificam como Sumo-Sacerdote na Presidência da Minha Igreja em Sião e no mundo, pelas quais poderá pedir e receber, abrir e fechar, e ser coroado com a mesma bênção e glória e honra e sacerdócio e dons que em tempos passados foram colocados sobre a cabeça de Meu servo Hyrum Smith. Amém.”

Os dons de Berger e a genealogia de Smith têm sido usadas pelo novo movimento mórmon como as principais evidências de sua autoridade divina. Como se nota na ordenação acima, Berger afirma ter sido ordenado à autoridade no sacerdócio por ministração angélica, assim como o bisavô de Smith, Joseph Smith Jr.

Apesar da origem “brighamita” do vidente brasileiro, Joseph F Smith parece influenciar fortemente a narrativa histórica adotada pelo movimento, notadamente pela noção de que Brigham Young teria usurpado os direitos espirituais da família Smith. Resta saber se a crença de que Young fora o responsável pela introdução da poligamia no mormonismo, crença essa nutrida pelo bisneto do Profeta, será tolerada ou mesmo adotada por seus correligionários brasileiros.

Excomungado da Igreja SUD por suas afirmações acerca de tais eventos sobrenaturais, Berger afirma ter recebido as placas de ouro do Anjo Morôni, assim como a famosa espada de Labão, com instruções para traduzir a “parte selada” que Smith Jr teria sido proibido de traduzir em 1829. Berger ainda organizou três testemunhas que corroboram seu relato de visões angelicais e posse das placas de ouro (cujo testemunho escrito se pode ler na íntegra aqui), que possivelmente motivaram o relato de Silva de “quatro irmãos” ou “quatro homens” que prestaram “testemunho” em uma capela da Estaca São José, durante a reunião de jejum e testemunho de dezembro.

Foto espalhada entre mórmons pelo aplicativo de mensagens WhatsApp e nas redes sociais supostamente das placas de ouro e espada de Labão encontradas pelo vidente mórmon Maurício Berger.

A publicação dessa tradução inspirada da “parte selada” do Livro de Mórmon é prometida, em conjunto com a restauração do sacerdócio maior e da Igreja de Jesus Cristo,  para 6 de abril de 2019.

Convite ao Presidente de Estaca Claudiomiro da Silva

Abrimos espaço aqui no site Vozes Mórmons, mantido pela Associação Brasileira de Estudos Mórmons (Abem), para que Silva se manifeste abertamente. Caso tenha cometido um equívoco e queira se desculpar e corrigir-se publicamente, ou caso creia que não o tenhamos representado de modo contextualmente apropriado e deseje nos corrigir publicamente, deixamos explícito nosso convite para que se expresse livremente. Para tanto, solicitamos a gentileza de nossos leitores que possam ter contatos regionais que lhe estendam tal convite.


Atualização (18/12/2018) — Recebemos o seguinte e-mail sob o assunto “Resposta artigo Presidente da estaca”: 

“Boa tarde,

Não sei a quem me dirigir pelo nome, portanto espero que esta resposta encontre o destinatário correto, e que o mesmo utilize com responsabilidade.

O áudio no qual me dirijo aos irmãos e líderes sob meu domínio eclesiástico continha conteúdo privado, destinado apenas a essas determinadas pessoas. Ainda não tenho conhecimento da forma que este áudio vazou, porém de imediato este facto possui prioridade menor.

Entre os visitantes que estiveram respeitosamente em uma de nossas capelas, foi me passado que continha não um mas dois escritores na informada página (vozes mórmon). Não sei qual a função ou responsabilidade ou hierarquia de ambos na ABEM, e como estava em um ambiente supostamente restrito (WhatsApp) não julguei que seria necessário apurar se representavam ou não o site ou a associação, pois a mensagem que queria passar a minha congregação era simples e objetiva.

No que tange as afirmações (?) quanto ao conteúdo do site ser difamatório, mentiroso, fraudulento o fiz no calor do momento. De fato não sou assíduo ao site e apenas repassei o que ouvimos nos corredores das capelas.

Creio que exista apenas uma verdade, porém sou tolerante as diferenças sejam elas de crenças, sociais, raciais. Portanto venho me retratar pelo conteúdo do áudio indevidamente vazado, não deveria tomar tamanha proporção. Peço desculpas ao site e a associação pelo que chamo de mal entendido.

Como presidente da estaca [São José] Brasil de Sião, estamos buscando uma forma de lidar melhor com essas situações, e num futuro próximo talvez realizar um encontro dentro da ordem, com a companhia do espírito para assim chamar ao arrependimento essas almas que para o Senhor possui grande valor.

Peço que permita-me fazer uso do direito de resposta e publique minha resposta, afim de amenizar qualquer espírito de discórdia que possa existir.

Cordialmente,

Claudiomiro da Silva”

Nós agradecemos ao Claudiomiro pela gentileza da mensagem e honramos seu “direito de resposta” integralmente. Ficamos muito felizes dele se declarar “tolerante” de “diferenças”, não só de “crenças” mas também “sociais, raciais”.

Discordamos de que tenha havido algum “mal entendido”, pois nos parece que entendemos bem sua posição original.

Cordialmente aceitamos o pedido de “desculpas” que o “áudio indevidamente vaz[ou]”. Coletivamente, nunca nos ofendemos que o áudio tivesse vazado, apenas nos desapontamos com as mentiras sobre nós que ele propagou. E, para isso, infelizmente não houve pedido de desculpas.

18 comentários sobre “Presidente de Estaca Espalha Mentiras via WhatsApp

  1. Cada dia me surpreendo mais com o cenário mórmon…

    Entende-se que pessoas, inclusive lideres, repassam informações sem ao menos certificar-se de sua veracidade…

    Gosto do Site, transmitem um conteúdo sério e com fontes…

  2. Creio que a mentira é um dos pecados mais comuns praticado dentro da Igreja Mórmon. Infelizmente, lideres que supostamente deveriam ser exemplos de boa conduta apelam para jogo sujo contra membros de sua própria denominação religiosa.

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