Manuscritos do Mar Morto: Elo Precioso ao Passado da Bíblia

O Museu da Bíblia em Washington, D.C., removeu de suas exposições cinco pergaminhos do Mar Morto, depois que testes confirmaram que esses fragmentos não eram de pergaminhos bíblicos antigos, mas falsificações.

Pergaminho 4Q58 4QIsaiahd | Imagem: Shai Halevi, deadseascrolls.org

Ao longo da última década, a família Green, proprietária da cadeia de suprimentos Hobby Lobby, pagou milhões de dólares por fragmentos dos Manuscritos do Mar Morto para serem as joias da coroa na exposição do Museu mostrando a história e herança da Bíblia.

Por que a família Green gastaria tanto em pedaços de pergaminho?

A Descoberta dos Manuscritos do Mar Morto

Desde a sua primeira descoberta acidental, a história dos Manuscritos do Mar Morto é dramática.

Em 1947, homens beduínos pastoreando cabras nas colinas a oeste do Mar Morto entraram numa caverna perto de Wadi Qumran, na Cisjordânia, e tropeçaram em potes de barro repletos de pergaminhos de couro. Mais dez cavernas foram descobertas durante a década seguinte, contendo dezenas de milhares de fragmentos pertencentes a mais de 900 pergaminhos. A maioria dos achados foi feita por  beduínos.

Alguns desses pergaminhos foram posteriormente adquiridos pelo Departamento de Antiguidades da Jordânia através de transações complicadas, e alguns pouco adquiridos pelo Estado de Israel. A maior parte dos pergaminhos passou ao controle da Autoridade de Antiguidades de Israel em 1967.

Incluídas entre os pergaminhos estão as cópias mais antigas dos livros da Bíblia Hebraica e muitos outros escritos judaicos antigos: orações, comentários, leis religiosas, textos mágicos e místicos. Eles têm trazido nova luz sobre as origens da Bíblia, do judaísmo e até mesmo do cristianismo.

A Bíblia e os Manuscritos do Mar Morto

Antes da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, os mais antigos manuscritos conhecidos da Bíblia Hebraica datavam do século 10 da Era Comum. Os Manuscritos do Mar Morto incluem mais de 225 cópias de livros bíblicos que são até 1200 anos mais antigas.

Estas variam desde pequenos fragmentos até um pergaminho completo do profeta Isaías, e cada livro da Bíblia Hebraica, com exceção de Ester e Neemias. Eles mostram que os livros da Bíblia judaica eram conhecidos e tratados como escritos sagrados antes do tempo de Jesus, com essencialmente o mesmo conteúdo.

Por outro lado, não havia uma “Bíblia” como tal, mas sim uma variedade de escritos independentes, sagrados a vários judeus, incluindo inúmeros livros que não se encontram na Bíblia judaica moderna.

Além disso, os Manuscritos do Mar Morto mostram que no primeiro século a.C. havia diferentes versões de livros que se tornariam parte do cânone hebreu, especialmente Êxodo, Samuel, Jeremias, Salmos e Daniel.

Tal evidência tem ajudado estudiosos a entender como a Bíblia veio a existir, mas não prova nem refuta sua mensagem religiosa.

Judaísmo e  Cristianismo

Os Manuscritos do Mar Morto são únicos ao constituir uma espécie de biblioteca de um grupo judeu específico que viveu em Qumran no primeiro século a.C. até cerca de 68 d.C. Eles provavelmente pertenciam aos essênios, um rigoroso movimento judaico descrito por vários escritores do primeiro século d.C.

Laboratório de conservação dos Manuscritos do Mar Morto, da Autoridade de Antiguidades de Israel
| Imagem: Shai Halevi

Os manuscritos fornecem um rico tesouro de textos religiosos judaicos anteriormente desconhecidos. Alguns destes foram escritos por essênios e trazem insights sobre suas opiniões, bem como seu conflito com outros judeus, incluindo os fariseus.

Os Manuscritos do Mar Morto não contêm nada sobre Jesus ou os primeiros cristãos, mas indiretamente ajudam a compreender o mundo judaico em que viveu Jesus e por que sua mensagem atraiu seguidores e oponentes. Tanto os essênios como os primeiros cristãos acreditavam estar vivendo no momento predito pelos profetas, quando Deus estabeleceria um reino de paz e seu mestre revelaria o verdadeiro significado das Escrituras.

Fama e Falsificações

A fama dos Manuscritos do Mar Morto tem encorajado falsificações e o mercado sombrio de antiguidades. Eles são muitas vezes chamados a maior descoberta arqueológica do século 20 por causa de sua importância para a compreensão da Bíblia e do mundo judaico na época de Jesus.

Artefatos religiosos atraem falsificações em particular porque pessoas querem uma conexão física com sua fé. O chamado Ossuário de Tiago, uma caixa de calcário, que foi reivindicada como sendo a caixa mortuária do irmão de Jesus, atraiu muita atenção em 2002. Alguns anos mais tarde, verificou-se que era realmente uma caixa mortuária autêntica para uma pessoa chamada Tiago no século 1 d.C., mas adicionando “irmão de Jesus” o falsificador a fez parecer de valor incalculável.

Estudiosos ansiosos para publicar e discutir novos textos são parcialmente responsáveis por este mercado sombrio.

A recente confirmação de pergaminhos forjados no Museu da Bíblia só confirma que os artefatos devem ser vistos com a maior suspeita, a menos que a fonte seja totalmente conhecida.


Manuscritos do Mar MortoDaniel Falk  é Professor de Estudos Clássicos e Mediterrâneos Antigos, e Estudos Judaicos na Universidade Estadual da Pennsylvania.

Artigo original publicado aqui. Reproduzido com permissão.

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