Poligamia é considerada “moralmente aceitável” por 17% dos americanos, o maior índice registrado desde 2003. O resultado é da Pesquisa sobre Valores e Crenças do Instituto Gallup, realizada em maio passado.

Janelle, Christine, Kody, Meri e Robyn Brown. (Imagem: TLC)
Em 2016, o percentual havia sido de 14%. No primeiro ano em que a pergunta sobre poligamia foi incluída, em 2003, o arranjo matrimonial foi considerado moralmente aceitável por apenas 7% dos entrevistados.
Nos anos seguintes, esse percentual se manteve idêntico ou próximo à aceitação de casos extraconjugais. A partir de 2010, porém, a aprovação da poligamia cresceu consideravelmente, atingindo 11% em 2011. O crescimento coincidiu com a mudança da definição utilizada pelo Gallup, de “um marido que tem mais de uma esposa ao mesmo tempo” para “uma pessoa casada que tem mais de um cônjuge ao mesmo tempo”.
De acordo com Andrew Dugan, analista do Gallup, pode haver uma relação entre a cultura popular e os resultados obtidos, ainda que seja impossível estabelecê-la objetivamente:
A partir de meados da década de 2000, os programas de televisão começaram a apresentar personagens poligâmicos — embora essas representações nem sempre fossem favoráveis. O show da TLC “Sister Wives” estreou em 2010 e, de acordo com The Washington Post, humanizou uma família de polígamos [mórmons]. O show foi bem sucedido e permanece no ar. Notavelmente, ao longo do tempo que esteve no ar, Gallup viu o apoio à poligamia aumentar em quase 10 pontos percentuais, embora seja impossível estabelecer qualquer causalidade direta entre o programa e a mudança de atitudes.
Sister Wives (Esposas Irmãs) é um reality show que mostra o cotidiano da simpática e numerosa família Brown (foto acima). Os Browns são mórmons fundamentalistas que praticam o casamento plural e ganharam notoriedade pelo processo movido contra o estado de Utah. Mórmons fundamentalistas praticam (ou acreditam que devem praticar) o casamento plural e outras doutrinas abandonadas pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, à qual não são filiados. A Igreja Fundamentalista, de Warren Jeffs, é apenas um dos vários grupos fundamentalistas existentes. A maioria dos mórmons fundamentalistas acredita que, no mesmo ano em que recebeu uma revelação reafirmando a necessidade do casamento plural, John Taylor teria realizado ordenações secretas para perpetuar a poligamia, caso a Igreja SUD viesse a suspendê-la.
Menos religiosos lideram
Embora casamentos poligâmicos sejam muitas vezes parte de culturas religiosas, como o mormonismo e o Islã, o público menos religioso é o que se mostra mais aberto a considerá-los moralmente aceitáveis, de acordo com o Gallup. Entre 2011 e 2017, 32% dos norte-americanos sem religião ou sem filiação religiosa específica afirmaram que a poligamia era “moralmente aceitável”. Isso segue a tendência geral para aqueles que são menos religiosos serem mais liberais em questões sociais.

Aceitabilidade moral da poligamia. % afirmando ser “moralmente aceitável”. Gráfico: Gallup.
Dentre os entrevistados na pesquisa Gallup, mórmons demonstraram índices de aceitação da poligamia (12%) semelhantes ou ligeiramente maiores do que católicos (10%) e protestantes/outros cristãos (9%). A pequena amostra de mórmons (167 pessoas entre 2011 e 2017), porém, demanda cautela na interpretação dos dados. De fato, outras pesquisas demonstram como mórmons nos EUA são abertamente opostos à prática da poligamia, apesar do passado poligâmico de sua religião.
Oposição em Utah
Pesquisa realizada em Utah, no ano passado, pelo The Salt Lake Tribune e o Instituto Hinckley de Ciências Políticas, determinou que 62% dos eleitores do estado afirmam que poligamia não deveria ser descriminalizada. Grupos etários mais jovens foram os que mais se expressaram em oposição à poligamia. Para a antropóloga Janet Bennion, jovens em Utah têm percepção mais negativa acerca da poligamia provavelmente devido à história mórmon e/ou aos casos de abuso noticiados, diferentemente de jovens em outros locais dos EUA, que não necessariamente relacionam poligamia a crenças e práticas religiosas.
Em março de 2017, o governador de Utah, Gary Herbert, assinou a lei que na prática recriminalizou a poligamia no estado mórmon. Pela nova lei, casos de abuso e fraude terão tratamento mais árduo se cometidos por polígamos.
A Igreja SUD aboliu publicamente a prática do casamento plural em 1890, e oficialmente mais uma vez em 1904; e, pelo menos desde 1909, excomunga praticantes ou mesmo simpatizantes da prática.
Apesar da rejeição entre SUDs modernos, a poligamia é um tema persistente na história mórmon e ainda afeta a maneira como A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é vista por não-membros, bem como o imaginário dos próprios membros. Enquanto Profetas e Apóstolos afirmaram, no passado distante ou mesmo recente, que poligamia é um fator essencial e fundamental da fé mórmon, muitos membros da Igreja a rejeitam com veemência, e tentam reduzir a dissonância cognitiva com o passado religioso inventando outra realidade.
Outro estudo recente, pela pesquisadora Carol Lynn Pearson, com mais de 8 mil membros SUD, encontrou que 85% sentiam-se incomodados, desanimados, desconfortáveis ou abertamente em oposição ao conceito de poligenia na eternidade.
Texto atualizado em 06/8/2017.
A poligamia (nas suas duas formas: poliginia e poliandria) e a monogamia são formas naturais de família.
Entretanto, a poliginia (1 homem e várias mulheres), ao contrário da poliandria e da monogamia, causa o empobrecimento da família na medida em que sobrecarrega o varão.
Interessante como alguns membros da igreja SUD criticam a prática a qual “eles” mesmo instituiram muitos anos atrás. Com certeza tal prática é imoral, mas os membros Mormons perdem toda moral de criticar ou julgar tal prática uma vez que no passado fizeram isso.
Independente de tal prática na época ter sido uma lei de Deus ou não, o fato que tal prática acabou manchando a imagem da igreja Mormon e seus membros e pessoas sempre vão falar e questionar isso deles.