Spencer Kimball: Moça Estuprada É Culpada?

Uma moça peca quando é estuprada? Perde ela sua “virtude” e sua “castidade” ao ser violentada?

Spencer W. Kimball, 12o Presidente d´A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias esclarece.

Spencer W. Kimball, Presidente d´A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (1973-1985) e Apóstolo (1943-1973)

O Presidente Spencer W. Kimball explicou a questão com clareza em seu famoso livro ‘O Milagre do Perdão’, publicado por décadas pela Igreja SUD aqui no Brasil:

“Restituição pela Perda da Castidade

Também de longo alcance é o efeito da perda da castidade. Uma vez dada ou tirada ou roubada, ela nunca pode ser recuperada. Mesmo em um contato forçado, como estupro ou incesto, a ferida fica muito indignada. Se ela não cooperou e contribuiu para a ação suja, ela fica, naturalmente, em uma posição mais favorável. Não há condenação onde não há participação voluntária. É melhor morrer na defesa da sua virtude do que viver após tê-la perdido sem uma luta.

Como foi dito ao longo deste livro, enquanto pode-se recuperar em grande medida dos pecados sexuais, eles são, no entanto, hediondos, e devido à sua gravidade o Senhor os colocou muito perto dos pecados imperdoáveis em ordem de gravidade.” [1]

Além das publicações curriculares, poucas são incluídas entre os livros publicados pela Igreja SUD traduzidos para o português. Esse livro de Spencer W. Kimball foi escolhido para ser um desses, e ainda é citado em manuais oficiais atuais, é publicado e vendido pela Igreja até hoje  com entusiasmo:

Em ‘O Milagre do Perdão’, o Presidente Spencer W. Kimball dá uma explicação penetrante do arrependimento e do perdão e esclarece as suas implicações para os membros da Igreja. Sua abordagem aprofundada mostra que a necessidade de perdão é universal; retrata as várias facetas do arrependimento; e enfatiza alguns dos erros mais graves, em particular sexuais, que afligem ambos a sociedade moderna e os membros da Igreja. [2]

Como reflete essa citação de Spencer W. Kimball nas crenças de membros da Igreja hoje?

Quão representativas são esse ensinamento de Kimball do que a Igreja prega hoje?

Qual significância pode-se atribuir ao fato da Igreja ainda publicar esse ensinamento, até na língua portuguesa?


[1] Kimball, Spencer W., O Milagre do Perdão, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1969, cap. 14, (Impresso no Brasil, ênfases nossas)
[2] Propaganda no site da editora da Igreja SUD ‘Deseret Book‘.

Leia mais sobre as opiniões de Spencer W. Kimball sobre Sexo Oral.

Leia mais sobre as opiniões de Spencer W. Kimball sobre missionários que se apaixonam.

Leia mais sobre as revelações de Spencer W. Kimball sobre Ameríndios (Lamanitas).

Leia mais sobre o impacto das crenças sobre Lamanitas na história Mórmon aqui.

9 comentários sobre “Spencer Kimball: Moça Estuprada É Culpada?

  1. Comentários a parte, eu confesso que ao menos esse livro me ensinou uma coisa (justamente o contrário do que ele mesmo fala nas páginas finais): Eu posso ser perdoado por Cristo e até conseguir perdoar a mim mesmo, mas a Igreja (e demais pessoas) não perdoará. Caso assim não fosse, por exemplo, não precisaria manter registros de seus pecados passados anotados secretamente nos ‘registros confidenciais’.

    Mas tornando ao tópico, a única coisa que parece clara nessas (que considero, hoje) infelizes palavras de Kimball, nada mais é do que o reflexo de que os homens da Igreja não são tão melhores que os demais no mundo em vários aspectos (e devem aprender um pouco de humildade com isso).

    A figura representativa de Kimball de um grupo masculino (não que todos ou a maioria pense do mesmo modo) acende um alerta temporal que talvez pudesse ser comprovado estatisticamente sobre o modo de pensar dos homens.

    Por exemplo, lembro de uma anedota (nada engraçada) de quando ainda servia como missionário, lá pelas rua de Rondonópolis. Estávamos passando em uma praça no centro num dia calmo, e vi uma bela mulher empunhando um carrinho de bebê. Mas o que me ‘incomodou’ foram meus pensamentos; tanto é que lembrei disso agora, depois de tantos anos. [Talvez, na época, eu até tenha cogitado mentalmente citar o caso em alguma lição de ‘moral’ para os jovens, sei lá]. O fato é que ela usava uma saia/ vestido muito curta(o) e uma blusa não mais ‘recatada’. Pensava comigo mesmo enquanto buscava não olhar (pelo que parece isso não adiantou em nada, não é mesmo): “como pode ‘uma mãe’ vestir-se assim?”.
    E quase instantaneamente a questão de “como é que podem exigir respeito dos homens se se vestem desse jeito?”, ou então “porque elas não ajudam a gente a ser ‘castos’ vestindo-se de modo mais ‘nos padrões’?”.

    O caso em si é, ao menos para mim, é que também naquela situação comecei a aprender algumas coisas sobre gênero e nosso trato com coisas do tipo. Ela não estava mal vestida (na realidade a roupa era bonita, embora faltasse um pedaço), ela não parecia e nem gesticulava de modo vulgar ou obsceno (talvez sequer isso lhe passasse pela consciência). A cena ainda era linda, pois tratava-se de uma mãe e seu pequeno bebê. Qualquer tipo de violência contra ela não seria justificada, e ela jamais deveria culpar-se por isso (afinal, já teria uma dor muito maior para se preocupar).

    Alguns religiosos e ‘conservadores’ de plantão tem uma capacidade incrível no que tange à crueldade com certas situações (não, eu não defendo tão pouco alguns liberais e esquerdas lascivos), como a de achar que porque um bebê recém-nascido faleceu é porque os pais ‘cometeram algum’ grande agravo contra Deus e isso foi ‘castigo’. Sim, isso também aconteceu em minha ala. Nesse caso, acho parecido com a mentalidade passada por Kimball.

    Claro que eu não desejo minha filha sofrendo por conta de um crime ou mesmo de uma transgressão, mas eu prefiro ela viva junto comigo do que morta.

    E mesmo tentando entender a conjuntura, o contexto, o esforço de ‘retórica’ de Kimball, não tenho como concordar com ele nesse ponto. Nem tão pouco as pessoas devem ser expostos a esse tipo de dor extra (caso com eles aconteça algo do gênero).

Deixe um comentário abaixo:

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.