João R. Grahl é um dos novos setenta autoridades de área chamados na última Conferência Geral. Professor universitário de administração, Élder Grahl afirma que o planeta terra tem 6.000 anos de idade. Não, isso não é uma piada.
Vejamos um trecho de seu livro A Origem da Vida. Após refutar a teoria do Big Bang, Grahl escreve sobre a idade da terra:
Outras declarações de estudiosos e cientistas que passam desapercebidas para leigos e são ouvidas por muitos sem questionamentos é sobre a idade da terra. Frequentemente ouvimos que a terra tem milhões ou bilhões de anos. A terra só tem seis mil anos. Todos os cálculos que têm sido apresentados estão errados. (p.08)
É muito curioso que o Élder Grahl pense dessa forma, após “meio século de experiência” no mormonismo. Curioso ele nunca ter lido nada que o fizesse questionar sua afirmação tosca sobre a idade da terra. E não estou falando de geologia ou biologia, mas de doutrina mórmon. Ele poderia estar familiarizado, por exemplo, com as afirmações de que não devemos temer a ciência.
A pergunta que surge para o Élder Grahl é: se a terra tem 6000 anos, em quanto tempo foi criada? Seis dias de… 24 horas?
Acredito que todos já dissemos idiotices e aprendemos mais ao longo da jornada.
Torço para que ele leia este texto. Ou que um de seus amigos leia. E quem sabe – sutilmente – leia para ele esta citação de David O. McKay, falando aos alunos da BYU:
as oportunidades são dadas para orientar os alunos nesta maior qualidade de vida, esta guia, esta âncora, este cordão levando para as profundezas da floresta. Seja qual for a disciplina, os princípios do evangelho de Jesus Cristo podem ser elaborados sem medo de que alguém recusá-lo, e o professor pode ser livre para expressar a sua convicção honesta sobre isso, se esse disciplina for a geologia, a história do mundo, os milhões de anos que foram necessários para preparar o mundo físico, seja na engenharia, literatura, arte (…) (David O. McKay, 30 de outubro de 1956, citado por Steven Jones em “How Old Is the Earth?“)
Por fim, é mais do que nunca atual a observação de Brigham Young:
Não me surpreende a infidelidade que permeia a maioria dos habitantes da Terra, pois os professores religiosos dos povos pregam ideias e noções da verdade que estão em oposição e contradição aos fatos demonstrados pela Ciência. (Journal of Discourses 14:117)
Antônio,
acredito que muitos membros da IJCSUD também pensem como o élder João R. Grahl. Muitos, creio eu, porque desconhecem os ensinamentos de alguns líderes da igreja em relação à Ciência e outros porque foram ensinados em aulas do Seminário, Instituto e da Escola Dominical, que somente o evangelho tem todas as respostas, e que a Ciência não deve ser levada em consideração. Em outras palavras, quando existe um conflito entre o conhecimento científico e o conhecimento religioso, temos que dar preferência a este último, pois a Ciência em nada pode contribuir para chegarmos ao conhecimento das “verdades do evangelho”.
Também há aqueles, entre nós, que não têm o menor interesse em estudar o evangelho, estudar a doutrina e a história da IJCSUD, que dirá sobre o surgimento do planeta em que vivemos.
Concordo, Jamil. Um dos aspectos que mais chama a minha atenção nesse episódio – e que serve de pano de fundo para nossa discussão – é justamente a falta de interesse pelo ensino e aprendizado de doutrinas. Será que o Élder Grahl crês ser essa a posição oficial da Igreja? Será que considera uma doutrina profunda, esotérica, que não é pública mas é a verdade?
Só podia ser coisa de brasileiro ! Nem sei o que dizer! Pra começar, é preciso entender que houve um criação e que ela não está integralmente descrita em todos os detalhes na “bíblia” em segundo, o que homem está aprendendo e descobrindo é a própria criação… -“E produza a água répties….” etc…. pensem nesta ordem “e produza” e por ai segue o resto, apenas o homem é colocado aqui e isto se dá pela ciência mais ou menos 7 milhões de anos depois de todo o resto, o homem que conhecemos foi o último a surgir pensem nisto…
A terra não foi criada em sete dias, ou sete mil anos, os dias descrito nas escrituras não quer necessariamente dizer dias (como contado pelo homens) mas períodos, foram sete períodos, agora estes períodos, não se sabe a quantidade de tempo entre eles, não adianta ficar especulando,se isso vai te tornar santo, vai fundo, eu ainda estou engatinhando nos princípios básicos do Cristianismo, pois em Coríntios 13:2, diz …que ainda que conhecesse todos mistérios e toda a ciência…e não tivesse amor, nada seria.
leia Morôni 7:30.
Não é só o David O. McKay som ensinou isso. As palavras de W. W. Phelps sobre a idade da terra foram publicadas com a aprovação do profeta Joseph Smith. Ele alegou que o universo, inclusa a terra, tinham 2,555,000,000 anos:
http://bycommonconsent.com/2007/08/27/2555000000/
Élder Grahl está especialmente atrasado comparado com outras autoridades gerais nesse assunto. Alguém deve falar com ele. Tenho uma teoria que tais coisas acontecem com maior freqüência no Brasil porque o ensino do inglês é tão péssimo que é mais fácil apreender num vácuo relativo e não estar tão ciente da inovação que já aconteceu no mundo afora, onde a maioria das publicações acadêmicas são feitas em inglês.
Desculpe, queria dizer “que ensinou isso.” Estou misturando idiomas aqui. Moro agora na noruega.
Obrigado pela referência, Carl. Por pura preguiça, não desenvolvi um apanhado das diferentes ideias sobre a idade da terra dentro do mormonismo. Mas também porque para membros que tendem a ser mais “ortodoxos”, essa tradição especulativa/metafísica do séc. XIX não tem muito valor.
A deficiência com a língua inglesa impede muitos sud de ter acesso a recursos importantes para o estudo da sua história, etc. Mas isso não é verdade em relação ao conhecimento científico disponível para o público em geral e/ou no sistema educacional. Sim, há sérios problemas com a educação no Brasil também. Mas a atitude do Élder Grahl não difere daquela de norte-americanos com ensino superior que acreditam numa leitura literal de Gênesis. É motivada por (1) uma falsa dicotomia religião versus ciência e (2) pela ideia de que a religião possui as respostas para tudo..
E, como observo no debate sobre o casamento gay, essa falta de recursos culturais no mormonismo brasileiro faz com que muitos membros busquem no discurso evangélico radical uma identidade mais completa.
Acho que há poucas autoridades gerais americanos que publicariam algo tão ignorante hoje em dia. A maioria pelo menos sabem que a BYU tem as faculdades de biologia e de geologia que absolutamente dependem do princípio da terra velha para fazerem suas pesquisas científicas. Possam até acreditar numa terra jovem, mas raramente iriam exprimir algo assim em público.
Verdade. Embora o uso de um clichê criacionista pelo Élder Russell M. Nelson para desacreditar a teoria do Big Bang possa haver aberto um novo momento que incentive mais atitudes anticientíficas.
Bem falado. Esse clichê me fez dar um facepalm na hora. Um momento galileano na história Mórmon 🙂
Acredito que o Big Bang é um explicação para surgimento deste universo e não para a criação da terra exactamente. Quando estudados como surgiu isto ou aquilo estamos estudando a “criação”. Porque não existe um relato completo da criação e detalhadamente o que existe é um resumo dos resumos para um leigo entender. Diria que foi escrito para um “primata”.