O que é mais importante: crer ou respeitar a crença alheia? Em recente entrevista à revista Alfa, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse “você não tem que perguntar se eu acredito, você tem que perguntar se eu respeito”.
Com a liberdade de alguém que não participa mais de disputas eleitorais, FH tem opinado sobre questões sociais importantes, mesmo as mais polêmicas. Suas opiniões sobre religião apontam para a complexa relação que existe em nosso país entre política e religião, especialmente no que diz respeito a questões de estilos de vida ou escolhas individuais. “Acabou a questão da ideologia”, diz o sociólogo de 80 anos. “Não é mais por aí. Estão em jogo valores de outro tipo, associados a comportamentos. Acho que o momento é para discutir esses temas”. Não menos importante é o convívio por vezes conflituoso entre diferentes credos e ações agressivas contra indivíduos ou grupos por motivações religiosas.
FH aponta para a necessidade de tolerância: “você tem que respeitar as religiões e mesmo a questão de Deus”. Ele não deixa de ver, porém, um papel negativo em muitas ações de instituições religiosas. Mas insiste: “temos que discutir com todos os grupos religiosos”.
Mas e sobre suas próprias crenças? FH expressa um agnosticismo que foge de uma convicção absoluta e ainda deixa espaço para um certo grau de fascínio: “seria muita soberba dizer que não acredito – porque tem o mistério. De onde viemos, qual o sentido da vida? Não sei”.
As opiniões de FH não serão provavelmente consenso entre mórmons ou religiosos em geral. Mas certamente relembram importantes aspectos que alguns tendem a esquecer, incluindo este princípio que Joseph Smith disse fazer parte das crenças dos santos dos últimos dias:
Pretendemos o privilégio de adorar a Deus Todo-Poderoso de acordo com os ditames de nossa própria consciência; e concedemos a todos os homens o mesmo privilégio, deixando-os adorar como, onde ou o que desejarem.
Voltando à pergunta inicial deste texto, acredito que devemos incorporar o respeito às crenças alheias ao nosso próprio sistema pessoal de crenças. Isso é o mínimo que podemos fazer em respeito à liberdade de outros seres humanos que vieram habitar este mesmo planeta. (E, quem sabe, talvez até mesmo aqueles que vieram a ser membros da mesma Igreja?)