Evolução orgânica é o fato mais bem atestado, demonstrado, documentado e limpreendido pela ciência moderna e na história epistêmica da humanidade.
Nenhum conhecimento humano, em todas as áreas científicas e modalidades de pesquisa, compara-se em escala de compreensão e corroboração com o que hoje conhecemos como Evolução Orgânica.

Espécies da superfamília de primatas Hominoidea, como o gibão, o humano, o chimpanzé, o gorila, e o orangutango, todos partilham de um ancestral comum.
Não obstante, ainda há muitas pessoas, usualmente motivadas por suas crenças religiosas, que rejeitam Evolução Orgânica, o fato científico mais claro e desambigue. Da mesma maneira como muitos religiosos creem que a Terra seja plana, tais descrentes da ciência apegam-se à ignorância dos fatos para declamar que “não há evidências suficientes”, atrelando sua fé na esperança que desconhecimento dos fatos os torna inexistentes.
Pesquisadores da faculdade de medicina da Universidade de Harvard elaboraram um elegante experimento que demonstra, em tempo real, como ocorre evolução orgânica. E ainda tiveram a bondade de filmá-lo e publicar o vídeo.
Os cientistas construíram uma enorme placa de Petri onde eles espalharam uma grossa camada de ágar, que é uma substância gelatinosa neutra produzida por algas (popular em alguns doces da culinária japonesa) e que serve de excelente meio para cultura de bactérias.
Contudo, eles dividiram essa placa, untada com essa iguaria para bactérias, em 9 bandas de espessura idêntica. Nas bandas externas, ou seja de fora para dentro as primeiras, eles não adicionaram nada ao ágar. Nas bandas seguintes, eles espalharam uma dose de antibióticos capazes de matar os antibióticos que iriam testar. Aí, nas bandas seguintes, eles adicionaram os mesmos antibióticos, exceto que em concentração 10 vezes maior. Subsequentemente, nas bandas seguintes adicionaram os mesmos antibióticos em concentração 100 vezes maior, e por último, na banda central adicionaram uma concentração de antibióticos 1000 vezes maior.
Preparada a placa de Petri coberta com ágar e com doses variadas de antibióticos, eles introduziram uma bactéria (E. coli, agente comum para doenças gastrointestinais em seres humanos) na banda externa, onde não havia antibióticos. Como era de se esperar, a bactéria rapidamente cresceu e se proliferou dentro da banda sem antibióticos, mas imediatamente ao atingir a fronteira com a primeira faixa recheada com o veneno dos antibióticos, pararam de crescer e se multiplicar.
Mas não por muito tempo. No vídeo, acelerado para cobrir 12 dias em alguns minutos, claramente vê-se algumas bactérias evoluindo resistência e superando a barreira de antibióticos.
Isso é o que se vê, mas o que se sabe é que, em realidade, o que ocorre é que toda vez que uma bactéria se reproduz (e isso é verdade para toda célula germinativa, inclusive as que formam as gâmetas para espermatozóides e óvulos), ocorrem erros ou mudanças acidentais e aleatórias na cópia das moléculas da DNA (material genético básico). Essas mudanças são chamadas de mutações.
A maioria das mutações é absolutamente neutra, ou seja, não altera nada em termos de função ou mesmo aparência entre o organismo pai e o organismo filho. Muitas são deletérias, ou negativas, e atrapalham a função ou desenvolvimento da segunda geração. Algumas, porém, dependendo do ambiente, podem ajudar-lhes.
No vídeo, vê-se como a maioria das bactérias param de crescer e reproduzir ao entrar em contato com os antibióticos. Todas as bactérias que ainda estão vivendo e se reproduzindo na banda sem antibióticos produzem linhagens de descendentes com mutações, e a maioria desses descendentes são incapazes de sobreviver e se reproduzir na presença desses antiobióticos venenosos. Contudo, subitamente uma ou outra linhagem apresenta uma mutação que lhe favorece a sobreviver no meio desses venenos. Esse processo, de subitamente conseguir sobreviver onde antes não era possível, chama-se de “resistência bacteriana” ao antibiótico.
Uma dos fenômenos mais interessantes a se notar no vídeo é como o surgimento de resistência ocorre várias vezes e de maneiras distintas. Pode-se ver como diferentes linhagens surgem em diferentes lugares e em tempos distintos e, ainda mais interessante, com taxas de sucesso muito variadas. Algumas dessas linhagens se reproduzem timidamente, enquanto outras com enorme facilidade e velocidade.
O mesmo processo ocorre quando essas novas linhagens atingem as bandas com concentrações maiores de antibióticos. Mesmo sendo capazes de sobreviver e se reproduzir em meio a venenos que matavam seus antepassados, elas ainda assim encontram-se inviáveis em níveis de concentrações maiores dos mesmos venenos. O que é um fato comum na natureza: Injetamos doses muito pequenas de toxina botulínica no rosto para parecer mais jovens, enquanto doses maiores nos matariam em minutos.
Não obstante, evolução orgânica é um processo contínuo e inescapável. Logo se vê novas linhagens surgindo e se reproduzindo onde antes era impossível para seus antecessores imediatos. E, da mesma maneira, nota-se um processo caótico, aleatório, em tempos diferentes, com resultados diferentes.
Assista o vídeo aqui e veja evolução orgânica ocorrendo a olhos vistos:
Evolução é um conceito muitas vezes difícil de se visualizar pois exige, acima de tudo, muito tempo. Enquanto o tempo médio de reprodução geracional (entre uma geração e outra) da E. coli é de 17 minutos, para caninos (como lobos) é de 4 anos e para primatas (como humanos) é de 20-30 anos. Para se colocar em perspectiva, o que se vê no vídeo acima para a E. coli seria o equivalente a 20-30 mil anos para humanos. E essas mutações para resistência bacteriana são muito, muito simples.
Além da excelente visualização de como ocorre evolução na natureza, outra mensagem importante desse experimento é a gravidade de se ignorá-la nas nossas práticas médicas no dia a dia.
Estima-se nos Estados Unidos, de acordo com estudo publicado no prestigioso Journal of American Medical Association, que 30% de todas as prescrições de antibióticos sejam completamente desnecessárias, e que até 2050, doenças causadas por bactérias resistentes matarão mais que câncer.
Em outro estudo conduzido pela Universidade de Utah, “médicos prescreveram antibióticos em uma em cada cinco visitas, sendo que a maioria foi para crianças com doenças respiratórias, como sinusite e pneumonia”, dos quais “quase um quarto de todas as prescrições desses medicamentos foi dado a pessoas com condições respiratórias que, provavelmente ou definitivamente, não precisavam de antibióticos, como por exemplo bronquite, gripe, asma e alergias”.
“A pesquisa concluiu que mais de 10 milhões de prescrições de antibióticos a cada ano, portanto, não fazem nenhum bem e ainda podem causar prejuízos. Os pesquisadores explicam que muitas vezes o antibiótico é feito para matar uma grande variedade de bactéria, e acaba eliminando as boas bactérias que nosso corpo precisa. Isso, segundo eles, aumenta o risco de outras infecções e de desenvolver resistência à medicação.
“Uma das razões desse excesso é que, muitas vezes, o diagnóstico é impreciso. É comum, por exemplo, em infecções de ouvido. Os médicos acabam prescrevendo antibióticos apenas para se sentirem seguros, embora o diagnóstico não esteja certo “, diz o principal autor do estudo, Adam Hersh, da Universidade de Utah, em Salt Lake City.”
A prática no Brasil, embora não bem estudada ou documentada, é tão ruim quanto, se não pior que, nos Estados Unidos. Com uma cultura de farmácias que vendem antibióticos sem supervisão médica, de profissionais de preparo apenas parcial, com o sucateamento do ensino médico, e mais importantemente, com o costume popular e prevalente entre brasileiros de exigir a prescrição desnecessária de antibióticos para quadros virais como gripes e resfriados¹, ignora-se os efeitos práticos e reais da evolução orgânica em detrimento da saúde pública.
O experimento de Harvard acima apresenta uma excelente oportunidade didática para visualizar, e compreender, um fato inexorável da natureza que não apenas nos influenciou para tornar-nos quem somos hoje, mas segue nos influenciando em nossas vidas e em sua qualidade e longevidade. Aprender, compreender, e aceitar a realidade da Evolução Orgânica nos oferece não apenas a oportunidade de reflexões ontológicas e epistêmicas mais baseadas e fundamentadas na realidade, bem como substrato intelectual para construirmos melhorias para nós e para gerações futuras.
[1] É uma queixa comum entre pacientes brasileiros queixar-se de médicos que “sempre acham que tudo é virose”. Contudo, trata-se de uma queixa não pertinente ou baseada em fatos. A realidade é que a enorme maioria de infecções respiratórias agudas é viral, e intensidade dos sintomas (ou placas de pus, ou cor de secreções, ou opinião de amigos ou familiares, etc.) simplesmente não altera esse fato estatístico.
Sou mormon e acreditado na evolução das espécies, pq Deus não poderia ter usado tal método para criar a raça humana?, tudo no universo evolui, pq nossa espécie não?
Na verdade, o próprio conceito de exaltação na religião SUD atesta a evolução, de matéria inorganizada evoluindo até Deuses.
Nós temos a ilusão de que se algum conhecimento não foi restaurado pelos profetas, logo ele não existe ou é mentiroso. A ciência, filosofia e mesmo outras religiões podem nos ensinar muito.