Abril é época de Conferência Geral para a Igreja Mórmon, e não se pode falar sobre o mormonismo atual sem discuti-la.
O Presidente da Igreja, Thomas Monson, durante a reunião especial para o Sacerdócio, queixou-se do “abismo moral” entre o “mundo” e a Igreja:
“O compasso moral das massas mudou-se gradualmente para quase uma posição de vale-tudo. Eu já vivi o suficiente para acompanhar muito dessa metamorfose moral da sociedade. Antigamente, os padrões da sociedade e os padrões da Igreja eram em geral compatíveis. Agora, há um abismo entre nós, e este cresce cada vez mais.”
Dentre as falências morais da sociedade, Monson escolheu mencionar estas:
1) Profanidade em músicas e filmes, especialmente o uso do nome de Deus em vão;
2) Pornografia;
3) Álcool e Tabaco;
4) Postergar Casamento;
5) Divórcio.
Elaborando mais sobre o assunto do casamento, ele indicou que se entristece com a alta (de acordo com ele) taxa de cancelamentos de selamentos, ou seja, divórcios mórmons (do Templo). Ele cita, como causas ou motivos para divórcios problemas financeiros, problemas de comunicação, problemas com temperamentos, problemas com sogros, e pecados pessoais.
De todo o discurso acima, eu concordo apenas com os problemas com sogros! 😉
Thomas Monson nasceu em 1927. Era uma criança de 10 anos (hoje seria chamada de pre-adolescente) antes da Segunda Guerra Mundial! Era um jovem de 15 anos antes da disponibilização do antibiótico! Casou-se numa época quando seria ilegal que se casasse com uma negra ou uma asiática. Casou-se numa época quando seria ilegal se divorciar! Sem dúvida nenhuma, o mundo está muito diferente, e a sociedade está muito diferente, de quando Monson era jovem.
Mas diferente pior? Amoral ou imoral?
Vamos ponderar a questão.
Primeiramente, gostaria de falar sobre a questão do casamento. Monson queixa-se que os jovens estão esperando demais para se casar, e logo em seguida queixa-se da quantidade de divórcios de casamentos templários. Curiosamente, ele não levanta uma hipótese muito pertinente: Muitos divórcios entre casais SUD poderiam ser evitados se os nubentes esperassem para se casar até uma época de suas vidas quando estivessem mais experientes e maduros, tivessem melhor autoconhecimento e experiência de vida, e soubessem melhor quem são e o que querem em seus futuros cônjuges antes de se casarem.
Estatísticas norte-americanas (CDC, Censo, Pew Forum) sugerem várias conceitos interessantes: As taxas de divórcio estão diminuindo nas últimas 4 décadas, sendo proporcionalmente menores quanto maior o grau de instrução formal do casal, maior o poder econômico do casal, e maior a idade média do casal à época do matrimônio.
Idade ao Casamento e Probabilidade de Divórcio (E.U.A.)
| Idade | Mulheres | Homens |
| < 20 anos | 27.6% | 11.7% |
| 20 – 24 anos | 36.6% | 38.8% |
| 25 – 29 anos | 16.4% | 22.3% |
| 30 – 34 anos | 8.5% | 11.6% |
| 35 – 39 anos | 5.1% | 6.5% |
Com relação às diferenças entre “a Igreja” e “o mundo”, no que diz respeito a casamento e divórcio, as estatísticas sugerem que SUD se divorciam menos que evangélicos e judeus, porém na mesma frequência que a média de todos os cristãos, e mais que católicos, luteranos, e até mesmo ateus.
Além disso, cabe lembrar que ,apesar da sociedade em geral apresentar sinais estatísticos claros de que as percepções do casamento tradicional estão realmente mudando, a importância e a valorização da instituição da família, em suas novas encarnações, segue tão importante quanto nos tempos do pequeno Tommy Monson.
Em outras palavras, os dados estatísticos nos sugerem que é bom que os jovens de hoje em dia esperem mais tempo para se casar. Aliás, quanto mais esperarem, maiores as chances de realizarem um casamento bem sucedido, menores as chances de divórcios, e certamente melhor para as crianças que crescerão em lares mais estáveis e estabelecidos.
Ademais, esses dados também sugerem que a sociedade continua valorizando a família e estruturas conjugais estáveis, tanto quanto os membros da Igreja SUD. E, ainda, que dentre os fatores que mais trazem felicidade e estabilidade para famílias e casamentos, a educação, carreiras bem sucedidas, e estabilidade financeira figuram no topo da lista.
No contexto histórico atual, com uma crise econômica que não parece dar sinais de arrefecimento, com taxas de desemprego recorde entre recém-graduados, e jovens famílias entre as mais penalizadas, financeira e socialmente, não seria talvez melhor conselho para nossos jovens que estudassem mais e assegurassem melhores futuros, e amadurecessem mais, apenas para depois poderem constituir famílias mais estáveis? Não seria esse o caminho para menos divórcios e cancelamentos de selamentos?
Pessoalmente, eu acho que o mundo hoje é melhor, no que diz respeito a casamentos e a famílias, do que em 1927. Uma mulher hoje pode se divorciar de um marido abusivo porque não depende dele financeiramente e é amparada por leis seculares. Mulheres não necessitam, hoje em dia, se sentir submissas a seus maridos. Jovens podem se concentrar em seus estudos e suas carreiras até estarem maduros, experientes, e estáveis do ponto-de-vista emocional, intelectual, e neurológico, para então buscar parceiros e cônjuges entre seus pares. Casais com problemas, hoje em dia, buscam ajuda de terapeutas profissionais sem quaisquer julgamentos de terceiros, e quando divorciados, estão livres para buscar parceiros mais compatíveis (e obrigados por lei a sustentar seus filhos adequadamente). Casais interraciais podem se casar legalmente. E por aí vai.
Certamente há muito o que melhorar. Sem dúvida há espaço para correções e crescimento. Não obstante, a minha impressão pessoal é que a instituição da família é, hoje, mais saudável e mais estável do que há 80 anos atrás.
Outra questão que eu gostaria de levantar é essa tal lista de “imoralidades”. Certamente, há que se concordar com Monson que há muitas coisas erradas no mundo, e muita imoralidade. Contudo, se você fosse escolher uma lista das 5 coisas mais imorais que mais assolam e mais arruinam o mundo no qual vivemos, vocês escolheriam as 5 coisas acima? Ou escolheriam 5 outros problemas?
Em postagens futuras, eu gostaria de retomar esse tema, bem como discutir os cinco problemas que Monson mencionou, mas antes eu gostaria de deixar a minha lista inicial, e gostaria de ler a lista de vocês.
Minha lista:
1) Corrupção
2) Analfabetismo Funcional (Educação Formal Insuficiente)
3) Intolerância (aos outros, às idéias, à diversidade, à etiqueta, etc.)
4) Violência (física, verbal, emocional, bullyismo, estrupos, agressões, agressividade, etc.)
5) Desigualdade Social
Quais os 5 maiores problemas morais no mundo de hoje, na sua opinião? Deixem seus comentários.
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Marcello,
concordo que a instituição familiar tem hoje diversas vantagens se comparada a décadas atrás. A legalidade do divórcio e o menor estigma social em torno dele é certamente uma delas.
Desde a chamada “revolução sexual” na década de 60 e a utilização massiva de anticoncepcionais, a sexualidade humana passou a ser separada da função de procriação. Um dos legados disso são crianças nascendo de pais (homens) que não estarão presentes sequer socialmente. (Claro que por aqui a miscigenação forçada na senzala já nos mostra um antecedente para a prática, em outra dimensão). Como isso entra na tua análise? Ou a educação sexual seria a solução para esse contexto?
Eu tendo a imaginar que o abuso sexual de crianças é hoje maior do que no passado. Mas só posso imaginar. Obviamente não há como provar devido à ausência de dados estatísticos do passado. Seja como for, percebo que o problema é muito maior do que poderíamos imaginar. De que forma isso reflete a falência moral da sociedade? Ou de que forma a sociedade cria o meio para que esse tipo de violência aconteça?
Abuso estaria na minha lista.