Reza a doutrina mórmon que nós vivemos nos últimos dias. Literalmente os “últimos dias” antes do apocalíptico “fim do mundo” consequente à “destruição de todas as coisas” que acompanharão a “segunda vinda de Cristo”.
Por isso os “sinais dos tempos” são tão relevantes na cultura mórmon. Tais sinais indicariam a proximidade do fim, ao mesmo tempo que confirmam a fé do mórmon. Esse costume mórmon de procurar, e achar, “sinais dos tempos” em tudo o que vê mundo afora é muito popular entre membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (notemos que o foco apocalíptico está logo aí no nome oficial da igreja, segundo apenas ao foco em Jesus Cristo).
Todavia, isso não é uma tendência recente no mormonismo. Avistar “sinais dos tempos” é uma prática tão velha quanto o mormonismo em si. O historiador do mormonismo do século 19, Klaus Hansen, resumiu a prática assim¹:
“Contudo, os Santos não haviam sido deixados num mar de inteira incerteza. Os sinais dos tempos, como faróis, os guiariam através da escuridão e das águas turbulentas até que a luz de Cristo reaparecera. Aos gentios, tais faróis seriam luzes de aviso, se não o fogo do julgamento. Pois entre os sinais incluir-se-iam calamidades da natureza, acidentes ferroviários, fogos, explosões de barcos à vapor, guerras, revoluções, e sinais nos céus. Como não havia nunca grande dificuldade em achar tais catástrofes em abundância, o [jornal da Igreja SUD] Estrela Milenar fielmente os documentava em cada edição sob uma seção especial entitulada “Sinais dos Tempos”. [Joseph] Smith fazia o mesmo em seu diário pessoal. Toda calamidade no mundo era vista como um sinal do, e uma contribuição para, o fim do mundo. “Todas são”, observou T. B. H. Stenhouse, “para o Santo, confirmações alegres de sua fé, e sugestões do triunfante reconhecimento do… ‘Reino’.”
Portanto, não é de se espantar que se ouve nas capelas, ou se lê nas mídias sociais, frequentes alusões a fatos e tendências contemporâneas como “sinais do tempo” e indicações que “o fim se aproxima”.
Não obstante, a realidade, ou fatos observáveis e mensuráveis, não parecem confirmar os “sinais dos tempos”. Tomemos, por exemplo, pobreza ou miséria. Max Roser baseou um estudo objetivo em dados estatísticos do Banco Mundial e Bourguignon & Morrisson (2002) para mensurar a proporção de seres humanos vivendo em “pobreza extrema” (definido como poder de compra ajustados, tanto para inflação como para paridade regional, de USD 1,90 por dia), coincidentemente desde a fundação do mormonismo até o presente.
Seus dados, tabulados para fácil visualização, ilustram clara e óbvia queda global na quantidade de pessoas vivendo em miséria.

População mundial total vivendo em extrema pobreza (1820-2015): Em vermelho, total de pessoas em pobreza ou miséria; Em verde, total de pessoas acima da pobreza e miséria
Se a queda em pobreza extrema não ficou óbvia na tabela acima, a tabela abaixa expressa os meus dados, porém agora em termos percentuais.

População mundial em porcentagem da população total global vivendo em extrema pobreza (1820-2015): Em vermelho, porcentagem de pessoas em pobreza ou miséria da população total; Em verde, porcentagem de pessoas acima da pobreza e miséria
É possível imaginar que miséria e pobreza são problemas modernos e que vem piorando com o passar do tempo. Contudo, estudos analíticos demonstram que, em realidade, vivemos no presente um período de abundância sem precedentes na história da humanidade para o maior número, e percentual, de pessoas.
Tomemos outro exemplo. Fome? Acidentes, desastres, mortes acidentais? Um marcador de saúde, acesso a alimentação, segurança, e qualidade de vida, é expectativa de vida. Vejamos, então, um estudo comparando a expectativa de vida aos 10 anos de idade (excluindo-se, assim, o viés de mortalidade infantil):

Expectativa de vida de uma criança de 10 anos de idade, ao longo do tempo, e em vários países (da esquerda para a direita): Brasil, China, Itália, Suécia, Reino Unido, e Estados Unidos.
Nota-se, portanto, que expectativas de vida vem crescendo progressivamente desde a fundação do mormonismo, o que significa que essas populações vem vivendo cada vez melhor, comendo melhor, trabalhando e habitando em condições mais saudáveis e pacíficas.
Guerras e rumores de guerras? Chequemos os dados:

Mortes em conflitos armados, por ano: Os tamanhos relativos dos círculos representam fatalidades totais, entre civis e militares, e no eixo vertical a taxa de mortes a cada 100.000 habitantes
A primeira informação que salta aos olhos no gráfico acima é que o passado não era pacífico, nem em termos absolutos e nem comparado com os dias de hoje. A segunda informação, quando se olha mais de perto, é notar que a segunda metade do século 19 e a primeira metade do século 20 foram realmente períodos militarmente conturbados, com um aumento impressionante no investimento – e na capacidade destrutiva – militar moderna. Não obstante toda essa modernidade amamentaria, ainda assim tratam-se de períodos semelhantes em carnificina a outros nos séculos 17, 18, e 19. E, finalmente, é notável como os últimos 60 anos apresentam taxas progressivamente menos e menos belicosas, especialmente os últimos 15 anos, que demonstram as menores taxas de óbitos militares em toda série de 615 anos.
É importante notar que os dados estatísticos levantados também sugerem que a proteção a direitos civis e individuais vem aumentando nos últimos séculos progressivamente, assim como vem reduzindo taxas de expressões legais e culturais de racismo, reduzindo taxas de mortes violentas, e reduzindo taxas de homicídios.
Para praticamente todo parâmetro que se possa medir objetivamente, nota-se que vivemos hoje num mundo melhor, mais pacífico, mais rico, e mais equânime do que o mundo onde vivia Joseph Smith, e possivelmente do que qualquer outro período na história da humanidade.
Como podem os Santos dos Últimos Dias incorporar às suas visões religiosas o fato de que o mundo é, hoje, mais seguro, mais pacífico, e mais próspero?
NOTA
[1] Hansen, Klaus J, Quest for Empire: The Political Kingdom of God & the Council of Fifty in Mormon History, Michigan State University Press, 1967, p 17.
Sinceramente, eu não consigo, se é que um dia consegui, acreditar nesse negócio apocalíptico tão comum às religiões. Ainda mais quando se publicam fatos deste tipo.
Pode até haver uma transcendência da alma, uma esfera metafísica para o eu no depois, mas esse negócio de fim do mundo, não consigo engolir. Chego até a desconfiar da própria segunda vinda. Tanto que sempre brincava e brinco com o povo: “não sei quando será a segunda vinda ou se realmente desejaria estar vivo para ver, só sei que eu irei até Ele; se ele vai vir a nós, pouco me importa”.
Acredito na visão espírita da segunda vinda, pra eles será uma transformação de ideias, a bondade aumentará na terra…a humanidade (naturalmente) passará para um estado mais elevado.
O problema maior é que achamos ridículos os evangélicos pentecostais, mas não somos tão diferentes em alguns pontos…somos apocalípticos, não há um ensino de teologia sistemática cristã entre nós…. e condenamos os pecadores ao fogo do inferno, tal qual nossos irmão das pentecostais.
Acredito que nosso encontro com Deus será no pós vida…. e tudo bem assim.