Não somos todos mendigos? (E se você se chamasse Amy Winehouse?)

Amy Winehouse aos oito anos

A cantora britânica Amy Winehouse acaba de falecer e não são poucos os comentários que vemos e ouvimos sobre como ela “cavou a própria sepultura”. Com certeza, é necessário num momento como este relembrar os danos que o alcoolismo e o vício em drogas causam ao indivíduo e a todos à sua volta. Um problema surge, no entanto, quando nos falta aquele entendimento que só a compaixão pode nos dar e esquecemos que o álcool e as drogas geralmente não são o início em si da autodestruição, mas o meio.

Em seu belo artigo Compaixão para os que não merecem, Kent Larsen escreveu sobre o perigo espiritual a que nos sujeitamos a ter uma compaixão seletiva:

nos casos em que a pessoa sofredora causou o seu próprio problema, ou compartilha alguma parte da responsabilidade pelo que lhe aconteceu, muitas vezes a resposta não é nada compassiva, e muitas pessoas até lançam críticas viciosas por causa dos pecados alegados daqueles que sofrem. Segundo essa lógica parece que, a fim de sentir compaixão por alguém, nós devemos acreditar que eles são inocentes.

Nessa atitude, há o pressuposto de que nós somos inocentes ou, pelo menos, menos culpados do que os outros. Afinal, nós não somos um mal exemplo para ninguém (ao menos fora das paredes do nosso lar!), enquanto pessoas como a Amy Winehouse acabam sendo a publicidade viva dos maus hábitos que têm em âmbito mundial.

O título que o Kent deu ao seu artigo é em si irônico, uma vez que não caberia a nós selecionar quem é digno ou não da nossa compaixão. Do Livro de Mórmon, nos ecoa a pergunta Pois eis que não somos todos mendigos?

Na semana passada, estava escutando a música Hey hey, my my, de Neil Young, um dos meus cantores favoritos. Estava num dia triste. Levei então um susto ao escutar um trecho da música que Kurt Cobain havia escrito em seu bilhete de suicídio. Me assustei ao pensar que eu poderia ter sentido o que ele sentiu e feito o que ele fez.  Me choquei ao pensar que somos sobreviventes que tiveram a força (proteção?) de seguir adiante vivendo, quando alguns não têm a mesma sorte.

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6 comentários sobre “Não somos todos mendigos? (E se você se chamasse Amy Winehouse?)

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