Basta Já

collageEu fiquei um pouco chateado ao lê-lo nas notícias durante as últimas semanas. A Igreja estava se desculpando de membros aparentemente excessivamente entusiasmados que tinham realizado as ordenanças do templo para judeus, vítimas no holocausto, OUTRA VEZ! Desta vez a situação era particularmente notório porque os judeus envolvidos incluem os pais do falecido caçador de nazistas e especialista em crimes de guerra Simon Wiesenthal e a moça diarista Anne Frank. Em seguida descobriu-se que também foi batizado postumamente Daniel Pearl, o jornalista assassinado no Afeganistão por ser judeu, e até Mahatma Gandhi! O informe também indicou que o nome do ganhador do Prêmio Nobel Elie Wiesel foi adicionado em um dos bancos de dados genealógicos da Igreja, mas, como afirmação da Igreja sobre o tema indica, nenhumas ordenanças póstumas foram realizadas, e seu nome teria sido rejeitado se alguém tentasse realizá-las.

Podem aqueles que continuam a submeter esses nomes pararem já?

Pelo que entendi, as queixas sobre o batismo de vítimas do holocausto vão sendo feitas há décadas, e por quase o mesmo tempo a política da Igreja têm sido que não fazemos o trabalho póstuma do templo nesses casos. Mas a prática continua, levando a Igreja para tentar filtrar nomes propostas de judeus no software New Family Search desde 2010. A mais recente descoberta pode indicar que esses filtros não são 100% eficazes. Segundo o que entendo do processo, é necessário fazer enganos para conseguir que o New Family Search aceite esses nomes. Pelo menos, que submete os nomes tem que ignorar a política contra, o qual se encontra no software.

Devo admitir a ser um pouco confuso sobre as reações de judeus e outros para a nossa prática, e já ouvi muitos membros da Igreja dizer a mesma: Se você não acredita em nossa religião, com certeza você não acredita que nossa prática tenha qualquer efeito! E, se você se preocupasse em entender a doutrina Mórmon sobre a prática, você saberia que mesmo os Mórmons não acreditam que estas ordenanças têm qualquer efeito a menos que e até que a pessoa batizado por meio de um procurador aceita a ordenança no futuro.

Mas, eu entendo sim uma coisa básica: alguns judeus veem essas ordenanças, especialmente no caso das vítimas do holocausto, como um tapa simbólico no rosto. Visto que desde a inquisição, quando se forçavam os judeus a serem batizados, eles sabiam que o batismo é tirar a identidade do judeu, não é de admirar que um batismo vicário póstumo seja vista como uma tentativa simbólica de apagar judeus. E quanto mais ofensivo é tal ordenança quando o judeu é alguém que morreu por ser judeu.

Para mim, e, aparentemente, para a Igreja também, isso é suficiente. Se os parentes e correligionários destas vítimas não querem que as ordenanças forem feitas, não deveremos fazê-las (a menos que um parente próximo faça a submissão do nome—e até em tal caso eu sugiro que o parente consulte com a Igreja sobre a forma de lidar com a situação). Precisamos lembrar que acreditamos na eternidade. Se é importante que essas ordenanças sejam feitas, tenho certeza de que o Senhor vai torná-las possíveis no futuro. O que é claro é que agora não é o momento. Vamos evitar a ofensa.

Então, por isso eu não entendo porque esses membros excessivamente zelosos continuam fazendo essas ordenanças. Não é a política bem conhecida já? E se essa política não é bem conhecida, então não é bem conhecida a política que você deve limitar as ordenanças feitas para os seus próprios parentes? Você não está mentindo quando você enviar os nomes e alegar que estes são seus parentes?

Claro que, em alguns casos que apareceram nas notícias, as ordenanças foram feitas por alguém que é um parente do falecido. Recentemente surgiram denúncias sobre o trabalho feito para o pai de Ann Romney, que, de acordo com as denúncias, era um ateu convicto. Mas, neste caso, Ann submeteu o nome. Para mim, tal situação é com a família, e se os irmãos ou primos de Ann não gostam disso, eles devem falar com ela. Quanto a nós, não é de nossa conta.

Esse incidente já causou tanta polêmica que a igreja agora vai terminar o acesso ao programa New Family Search de qualquer pessoa que faça uma busca pelos nomes das vítimas do holocausto. Talvez assim este incidente vai forçar esses membros da Igreja para parar. Pelo que entendi, a pessoa que subemteu os nomes dos pais Wiesenthal já perdeu o acesso ao New Family Search. Espero que esse risco vai convencer outros membros a não continuar a submeter esses nomes. Mas também sei que uma pessoa persistente vai achar uma maneira de violar o sistema. Não há sistema perfeito.

Portanto, vocês que estão submetendo esses nomes, por favor, parem já!

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8 comentários sobre “Basta Já

  1. Um dos motivos por que há membros que violam a política oficial é que existem mensagens contraditórias:

    1) Se por um lado, a Igreja aquiesceu a pressões externas e proibiu ordenanças por não parentes, por outro lado estórias como a de Wilford Woodruff batizando os Constitucionalistas Americanos falecidos são comuns nas aulas e manuais que buscam incentivar o trabalho templário.

    2) Nestas mesmas aulas “motivacionais”, gerar sentimentos de culpa (i.e. por não ajudar os mortos que necessitam de suas ordenanças) ou urgência (i.e. se não fizermos nós, quem fará? Se não fizermos logo, quanto não sofreram aqueles que não receberam ainda sua “salvação no Monte Sião”?) são excelentes ferramentas para tirar o membro incauto de sua passividade ritual. Não obstante, tais sentimentos de culpa e urgência podem, naturalmente, escapar ao controle institucional e levar ao “zelo excessivo”. Já vimos isso durante a Reformação Mórmon, e sabemos como é difícil por o gênio de volta dentro da garrafa.

    3) A constante insistência que só as ordenanças Mórmons podem atingir fins salvíficos não é compatível com uma abordagem ecumênica de tolerância religiosa onde outras vozes são bem-vistas. Líderes religiosos tendem a se sentir mais à vontade para sentar e conversar com outros líderes de fés diferentes, mas para os congregantes que ouvem nada mais que retórica exclusionista é mais difícil, e isso desumaniza o “outro” e favorece uma visão desrespeitosa da fé e das crenças dele. Em outras palavras, se a religião dele é uma “abominação”, eu posso fazer o que for necessário para “salva-lo”.

    Esses tipos de atitudes institucionais esquizóides podem confundir as pessoas e criar uma justificação para, justamente, que se quebram as regras institucionais pelo “bem maior”. Enquanto não houver um esforço consciente para alterar a mentalidade coletiva para inserção num mundo religioso mais amplo e mais diverso, isso continuará acontecendo.

    Ou então, a Igreja aprende a esconder os dados melhor…

  2. Ah, outra coisa: é ofensivo para outros grupos religiosos, pois o batismo vicário lhes diz (aos vivos, não aos mortos) que suas religiões não valem nada nos olhos de Mórmons; enquanto que ao mesmo tempo ouvem que Mórmons são tolerantes, são abertos, e não são uma seita!

    Ou seja, Mórmons lhes dizem uma coisa com as palavras, mas fazem outra completamente diferente nos templos (e não ajuda que os templos são secretivos, o que aumenta as suspeitas).

    Eu acredito que se a Igreja, e os membros, fossem mais abertos com sua visão das outras religiões (e.g. “sim, nós acreditamos que só nós temos a Verdade e Deus só favorecerá quem for Mórmon nas eternidades, e a sua fé não servirá de nada a menos que você vire Mórmon, agora ou depois-da-morte!”), eu acho que a ofensa com ordenanças vicárias sumiria!

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