O texto a seguir propõe uma importante reflexão sobre os propósitos e limites das entrevistas conduzidas por líderes na Igreja sud. Seu autor pediu que fosse publicado anonimamente para evitar danos à sua reputação como membro.
Certa vez, minha mãe comentou comigo o trauma que tivera no confessionário da Igreja Católica. Segundo ela, o padre foi invasivo nas perguntas sobre sexualidade: “acho que ele usava aquelas conversas pra se excitar”, ela reclamou.
No Mormonismo, a confissão a um líder da igreja é condição “sine qua non” para o processo de arrependimento de certos pecados.
Para melhor aperfeiçoar os santos, são feitas entrevistas de rotina; ou seja, mesmo que não parta do fiel a iniciativa de externar a transgressão, ele é convidado ao bispado, onde pecados lhes são sugeridos para facilitar a confissão.
Creio que todo mórmon de algum modo passa por constrangimento nas entrevistas, em especial, no período da puberdade. Lembro-me do nervosismo que sentia quando me era perguntado sobre masturbação e coisas afins. Era muita maldade fazer aqueles jovens falarem sobre coisas tão íntimas e pessoais.
Antes de ir pra missão, fui chamado como conselheiro dos rapazes. Um dia, o presidente veio se aconselhar comigo: “estou muito preocupado; quando falei sobre masturbação na aula da OR, os rapazes ficaram sem graça, olhavam pro lado… acho que estamos tendo sérios problemas com isso na ala”. Esse presidente da OR hoje é bispo. Fico pensando como ele contorna o “problema” de seus jovens algumas vezes interpretarem mal o projeto “Mãos que Ajudam”, agora que ele pode perguntar isso diretamente a suas ovelhinhas pecaminosas.
Jamais esquecerei meu primeiro domingo no CTM. O discurso foi sobre arrependimento, e O milagre do perdão, a principal referência bibliográfica. Infelizmente não foi citada a parte cômica (aquela que identifica o Pé Grande como sendo Caim), ficamos só na lista de pecados sexuais, e como sofreríamos assim como Jesus sofreu caso não confessássemos que de vez em quando colocávamos pra funcionar aquilo que Boyd K. Packer chamou de “pequena fábrica”.
O sadismo daquele líder do CTM me chamou atenção, parecia sentir prazer em ver que aquilo havia causado constrangimento naqueles adolescentes. Após o discurso, se dirigiu aos élderes e perguntou se alguém queria conversar com ele. Dois ou três, com semblantes chorosos, entraram em sua sala.
Anos depois, aconteceu comigo uma coisa bem interessante. Fazia pouco tempo que minha mãe havia falecido, e eu achava que a intromissão dos membros da igreja na minha vida havia morrido também. Ledo engano!
Devia ser uma sexta feira, fui visitar minha namorada, hoje minha esposa. Começo de namoro, sabe como é; aquela vontade de tá junto. Terminei perdendo o último ônibus e tive que dormir na casa de minha amada. No domingo seguinte, alguém me chamou na aula do Quórum e disse que o bispo queria falar comigo. Entrei no bispado e sentei-me na cadeira dos réus. Com toda truculência, o bispo perguntou: “Você está tendo relações sexuais com sua namorada? Soube que você anda dormindo na casa dela”. Nem Orwell imaginaria que o “Grande Irmão” estava assim tão presente. Pude entender o que era a “liberdade vigiada” da letra dos Paralamas do Sucesso.
Conversando com colegas que confessaram ter quebrado a lei de castidade e passado por ações disciplinares, espantei-me dos detalhes que lhes eram perguntados para que fosse “diagnosticado” o grau do pecado. Onde foi? Com quem foi? Como foi? Fizeram isso? E aquilo? Como se tratava de bispos fazendo perguntas íntimas não somente a homens, creio que a conclusão que minha mãe tivera sobre o sacerdote de sua antiga igreja poderia muito bem se aplicar aos líderes da tradição religiosa em que ela me criou.
Há abusos em nossas entrevistas? E nos tribunais do sumo-conselho? Vocês passaram por coisas assim?
Infelizmente muitos de nossos líderes tem agido sem tato, mas não todos, o fazem apenas aqueles que não leem (e se leem não compreendem) o que diz o Manual de Instruções da Igreja Vol. 1, que mostra a forma de conduzir uma entrevista sem constrangimentos para o membro.
Verdade, mas percebi que tem mudado a forma das entrevistas, estão mais leves sem parecer constranger a pessoa.
E muito sério ver que muitos lidéres na igreja que se comportam como verdadeiros inquisitores, já vi e ouvi lideres dizer que Deus estava chorando por eu ter pecado.Ora bolas vamos falar sério. Foi em nome de Deus que mais se matou nesta terra e digo mais,nem sempre foi por Seu nome,mas pela vontade do próprio homem.Sou lider no bispado de minha ala e não suporto ver alguem antes de iniciar uma entrevista,busca o MGI ou lista de pecados e suas condenações.Onde está então a inspiração e tato ao tratar da vida de pessoas, as vezes parece que ainda estamos vivendo a lei de Moises e esquecemos, que ao Salvador foi apresentada uma mulher que foi encontrada em pecados,e não lembro de o Senhor ter dito “Estás condenada” Ele disse onde estão os teus acusadores? Vai e não peques mais.é muito simples e por ser tão simples os lideres complicam, e muitas vezes perdem a oprtunidade de ensinar e se deixam levar pela vontade de condenar.Eu sempre digo que o evangelho foi criado de uma forma bastante simples de se viver mas que os homens o tornaram tão duro , que se torna difícil de se viver.
Exato. O estandarte que eu prego irmão Nilton é justamente este, ESSE É UM EVANGELHO DE PERDÃO, RECOMEÇO, UM NOVO INÍCIO, É LEVANTAR, SEGUIR EM FRENTE E NÃO OLHAR PRA TRÁS! O Arrependimento e o desejo de mudança é e sempre será, mais louvável que o pecado em si.