A Presidente Geral da Sociedade de Socorro d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Emmeline B. Wells, disse isso sobre como mulheres são tratadas e consideradas na sociedade (ênfases nossas).

Emmeline Wells, Presidente Geral da Sociedade de Socorro (1910-1921)
“O status das mulheres é uma das grandes questões do dia. Ela se força sobre a atenção do mundo tanto social como politicamente. Alguns são tão conservadores que se opõem a quaisquer mudanças até que sejam forçados a aceitá-las, recusando-se a conceder que a mulher tem o direito para o gozo de todos os direitos além daqueles cujos caprichos, desejos, ou justiça dos homens, dependendo do caso, possam escolher concedê-las. As razões contra as quais eles não conseguem contra-argumentar, eles zombam ou ridicularizam; o velho subterfúgio daqueles que se opõem a princípios corretos os quais são incapazes de contestar. Outros, porém, não apenas reconhecem que o status da mulher deva ser melhorado, mas são tão radicais em suas teorias extremas que a forçariam num antagonismo direto ao homem, assumindo para ela uma existência separada e em oposição direta; e para mostrar o quão completamente independente ela deveria ser, fazendo-na adotar as características mais repreensivas que demonstram os homens, e que deveriam ser evitadas ou aprimoradas por eles ao invés de copiadas por elas. Esses dois são extremos, e entre eles há o “equilíbrio de ouro”.
Não precisamos ir muito além para o passado da história da raça anglo-saxônica para encontrar uma época quando mulheres eram consideradas e tratadas como gado. O pai tinha poder absoluto em tudo, exceto na questão de vida ou morte, sobre sua filha. O marido detinha igual poder sobre sua esposa. Ela era sua propriedade, até a última peça de roupa que ela vestisse. E não havia uma falta de instâncias até um passado recente quando mulheres eram vendidas com um cabresto amarrado no pescoço, e passada de mão em mão silenciosa e resignadamente na posse de seus compradores. Mesmo agora, entre as classes pobres da Inglaterra, a esposa refere-se a seu marido como “meu mestre” e não “meu marido”, e isso por simples força de tradição mesmo quando o marido está muito longe de ser um mestre, mesmo sendo um verdadeiro escravo dos desejos de sua esposa.
Vindo para a América, o status da mulher entre essas mesmas classes pode ser um pouco melhor, mas não é nada tão bem definido na sociedade. Veja a maneira pela qual as senhoras — um termo pelo qual eu tenho pouca reverência ou respeito — são tratadas em todos os lugares públicos! A mais obséquia deferência é prestada ostensivamente a seus menores desejos. O homem profano, de cujos lábios saem nada mais que palavrões atrás de palavrões na companhia dos homens, um atrás do outro, não ousa proferir uma palavra injuriosa na presença de uma mulher. Ela não pode permanecer em pé se houver um assento que possa ser abandonado por um homem. Ela deve ser preservada do menor sopro de problemas, mimada, acariciada, vestida para atrair a atenção , ensinada realizações que ministram às gratificações do homem, em outras palavras, ela deve ser tratada como um brinquedo brilhante e frágil, uma coisa sem cérebro ou alma, colocada pelo homem, como seu devoto, em um pedestal vistoso e insubstancial. Essa elevação de status é uma cortesia, não um direito. Deixe que um desses ídolos escolher dar um passo além das fronteiras rigidamente prescritas pela sociedade, e ela é arremessada de sua posição, e atirada ao lamaçal do repreendimento social. Quais seriam os direitos legais no qual ela poderia se escorar? Com qual poder ela pode trabalhar para sua própria restauração? Em alguns Estados da União ela pode comprar e controlar propriedades, e isso é um grande avanço. Contudo, ela ainda está muito aquém de poder sobrepujar circunstâncias adversas ao qual ela teria acesso se gozasse de direitos e influências políticas. Pois a ´sociedade´, ou quaisquer contextos sociais, nesse país, é composta de pessoas das quais uma parte possui influência política, e essa mesma influência lhes confere poder social. Um homem individual possui nada mais que um voto; mas ele pode ter talentos e habilidades, e pode liderar os votos dos outros; e assim ele é um poder, mesmo que ele possa ser notório por ser corrupto ou destemperado, e sua honra e honestidade sejam questionáveis. A mulher individual pode possuir talentos e habilidades iguais, mas ela não possui nenhum voto, não pode liderar votos, ela não é nem um tipo de poder político, e a sociedade apenas a respeita conquanto se conforme às suas regras.
O status verdadeiro das mulheres é o de companheira do homem, embora protegida por lei na posse daqueles direitos que lhe permitem a ela agir numa esfera independente, caso ele abuse sua posição e torne a união intolerável. Discutir a posição assim exposta ocuparia mais espaço que o nosso limite nos permite no momento, então retomá-lo-ei novamente.” — Emmeline B. Wells (Woman’s Exponent 1:4 – 15 de Julho 1872)
É possível notar uma diferença intelectual ou filosófica entre o texto de Wells na publicação oficial da Sociedade de Socorro há 144 anos atrás e o que as irmãs leem vindo da Igreja hoje em dia?
Emmeline Blanche Woodward Harris Whitney Wells (1828 – 1921) foi jornalista, editora, poeta, escritora, primeira política eleita ao legislativo estadual nos EUA, e ativista pelos direitos das mulheres e pioneira entre as feministas mórmons. Ela serviu como Presidente Geral da Sociedade de Socorro entre 1910 e 1921, havendo servido por 22 anos como sua Secretária Geral.
Nascida Emmeline Blanche Woodward, ela acumulou sobrenomes assim: Casou-se aos 15 anos de idade com o jovem de 16 anos James Harris, na cidade-estado mórmon de Nauvoo, Illinois. Após Harris ter desaparecido após o falecimento de seu filho em 1844, ela casou-se com o Bispo Presidente Newell K. Whitney como sua terceira esposa em 1846. Após o falecimento de Whitney em 1850, ela casou-se em 1852 com o futuro Segundo Conselheiro na Primeira Presidência, Daniel H. Wells, como sua sétima esposa.
Wells trabalhou no jornal quinzenal dedicado a mulheres mórmons, Woman’s Exponent, como escritora sob o nome “Blanche Beechwood” desde sua fundação em 1872, e como editora desde 1875, até seu encerramento em 1914. Como editora, Wells defendeu educação igualitária para mulheres e o sufrágio universal, tornando-se conhecida nacionalmente através de sua participação proeminente no movimento feminista e sufragista norte-americano do século 19. Através de seu ativismo jornalístico e político incansável, Wells conseguiu convencer a liderança mórmon a apoiar legislação que permitisse acesso de mulheres a cargos públicos, e pessoalmente tornou-se a primeira senadora estadual de Utah e dos EUA.
Referências
Black, Susan E; Woodger, Mary J (2011). Women of Character. Covenant Communications.
Ludlow, Daniel H, ed. (1992). “Appendix 1: Biographical Register of General Church Officers” em Encyclopedia of Mormonism. Macmillan Publishing.
Madsen, Carol C (1985). “Emmeline B. Wells: Romantic Rebel” em Supporting Saints: Life Stories of Nineteenth-Century Mormons. Brigham Young University.
Madsen, Carol C (2003). “Emmeline B. Wells: A Fine Soul Who Served” em Ensign. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Edição de Julho.
É no mínimo irônico que, embora feminista, ela fosse esposa poligâmica.
Que artigo mais inteligente! Parabéns!
Esses artigos são tesouros para este blog! E para nosso povo!
Que interessante! Creio que as mulheres devem sempre mostrar seu valor de modo reverente. Sei que é difícil em nossa cultura, deve ter sido uma decepção ver mulheres votando em Donald Trump, pelo que ele representa na concepção dele de como os homens devem tratar as mulheres.