Ensinamentos de Joseph Smith sobre Sacerdócio, Templo e Mulheres

Bênção por imposição de mãos. Mulheres Mórmons. História mórmon.

Mulheres encenam bênção por imposição de mãos, como realizada por pioneiras mórmons (Imagem: ordainwomen.org)

Com os dois últimos ensaios histórico-apologéticos publicados em seu site oficial, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias resolveu abordar duas preocupações relativas à mulher: a deidade feminina representada pela Mãe Celestial e a intricada relação das mulheres com o sacerdócio.

O ensaio intitulado “Ensinamentos de Joseph Smith sobre Sacerdócio, Templo e Mulheres” pretende responder “questões acerca da posição das mulheres na Igreja” dado o fato de que “só os homens são ordenados para ofícios do sacerdócio”. A iniciativa é louvável em si e torço para que tais ensaios sejam mais amplamente divulgados. Há, no entanto, sérias limitações no novo texto oficial da Igreja. Continuar lendo

Edward Tullidge: o Pai e a Mãe São Um Deus

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O Amor de Uma Mãe, pintura de Lynde Mott, detalhe (Exponent II)

O trecho a seguir é do livro Women of Mormondom, publicado em 1877.

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A mulher é a herdeira dos Deuses. Ela é co-herdeira com seu irmão mais velho – Jesus, o Cristo; mas ela herda de seu Deus-Pai e sua Deusa-Mãe. Jesus é o “amado” desse Pai e Mãe – seu Filho tão provado, escolhido para operar a salvação e exaltação de toda a família humana. Continuar lendo

Imposição de mãos (femininas)

Imagem: ordainwoen.org

Imagem: ordainwomen.org

Mulheres sud não são mais vistas administrando bênçãos de conforto e saúde por imposição de mãos.  A prática incentivada por Joseph Smith e levada para as Montanhas Rochosas pelas mulheres mórmons, foi defendida e  promovida pela Sociedade de Socorro no final do século XIX, sobrevivendo com respaldo oficial a primeira metade do século XX.

Para Joseph Smith, mulheres poderiam impor as mãos sobre qualquer doente, homem ou mulher. Para aqueles que criticaram a prática, afirmou que havia tanto pecado na imposição de mãos por mulheres quanto em umedecer o rosto de um doente. Presidida por Emma Smith, a Sociedade de Socorro estabelecida em 1842, em Nauvoo, abraçou com devoção a prática. Continuar lendo

Autonomia da Sociedade de Socorro – parte 2

eliza2Investidura e Imposição de Mãos

Toda mulher que houvesse recebido sua investidura no templo estaria qualificada para dar bênçãos por imposição de mãos a uma pessoa enferma. Essa foi a afirmação de Eliza R. Snow, quando presidente da Sociedade de Socorro. O trecho abaixo é de uma seção de perguntas e respostas no jornal The Woman’s Exponent (O Expoente da Mulher), de 15 de setembro de 1884 (página 61).

“É necessário as irmãs serem designadas para oficiar nas sagradas ordenanças de lavar, ungir e impor as mãos ao administrar aos doentes?”

Certamente não. Toda e qualquer irmã que honra sua santa investidura não apenas tem o direito, mas deveria sentir como um dever, sempre que chamada para administrar a nossas irmãs nessas ordenanças que Deus graciosamente confiou às Suas filhas, assim como aos Seus filhos; e testificamos que quando administradas e recebidas em fé e humildade são acompanhadas de grande poder.

Na medida em que Deus, nosso Pai, essas sagradas ordenanças e as confiou aos Seus Santos, não é apenas nosso privilégio mas nosso dever imperioso aplicá-las para o alívio do sofrimento humano. Achamos que podemos seguramente dizer que milhares podem testificar que Deus sancionou a administração dessas ordenanças por nossas irmãs com a manifestação de Sua presença curadora.

A prática de mulheres mórmons imporem as mãos sobre enfermos surgiu com a própria formação da Sociedade de Socorro, antes do desenvolvimento da investidura, e foi defendida publicamente por Joseph Smith.

Leia a primeira parte desta série: Juízas em Israel.

Autonomia da Sociedade de Socorro – parte 1

elizaJuízas em Israel

De acordo com Eliza R. Snow, as mulheres da Sociedade de Socorro não deveriam buscar aos bispos para aconselhamento, mas usar a estrutura da Sociedade feminina para resolver seus problemas. O trecho abaixo é de uma seção de perguntas e respostas, pela então presidente da Sociedade de Socorro, no jornal The Woman’s Exponent (O Expoente da Mulher), de 15 de setembro de 1884.

‘Devem os membros da Sociedade de Socorro buscar o Bispo para conselho?’

 

A Sociedade de Socorro foi criada para ser uma organização autogovernada: para aliviar os Bispos, bem como aliviar os pobres, para lidar com seus membros, corrigir abusos, etc. Se surgirem dificuldades entre os membros de um ramo que não podem resolver entre si próprios, auxiliados pelas professoras, em vez de incomodar o Bispo, o assunto deve ser encaminhado para a presidente e suas conselheiras. Se o conselho de ramo não puder decidir de forma satisfatória, o recurso para o conselho da estaca seria o próximo passo; se isso falhar para resolver a questão, o próximo passo a traria [o problema] perante o conselho geral, a partir do qual o único recurso é o Sacerdócio; mas, se possível, devemos aliviar os Bispos em vez de aumentar suas inúmeras tarefas.

Conselho de ramo, conselho de estaca e conselho geral eram instâncias da Sociedade de Socorro.

Leia a segunda parte desta série: Investidura e Imposição de Mãos.

A Profetisa Eliza R. Snow

ElizaEliza R. Snow (1804-1887), chamada por Joseph Smith de “a poetisa de Sião”, é uma das mulheres mais reverenciadas da história mórmon. Eliza foi autora de diversos poemas e hinos, além de escrever também textos sobre questões doutrinárias e o papel da mulher na sociedade.

Um dos hinos mais conhecidos de sua autoria, Ó Meu Pai, constitui a única referência explícita à doutrina da Mãe Celestial amplamente difundida pela Igreja

Com a organização da Sociedade Feminina de Socorro em março de 1842,  Eliza foi convidada a redigir os estatutos da nova Sociedade e assumiu a função de secretária.  Em junho daquele ano, ela foi selada a Joseph Smith como sua esposa plural, vivendo durante seis meses na casa dos Smith. Continuar lendo

Mortalidades: Mórmons e Reencarnação

Mórmons acreditam em reencarnação? A esmagadora maioria provavelmente não. E tal crença nunca foi considerada como uma doutrina característica do mormonismo. Mas um olhar histórico sobre o passado nos revela que muitos mórmons já partilharam da crença em múltiplas provações mortais.

A ideia de que o ser humano passa por mais de uma vida mortal parece existir nas mais diversas tradições religiosas ao redor do mundo. É interessante notar que mesmo em religiões que majoritariamente creem em uma única vida mortal, há aqueles que acreditam em reencarnação, como é o caso de algumas escolas cabalistas dentro do judaísmo.¹ Ainda que tenha sido sempre uma posição minoritária entre as autoridades gerais e nunca tenha chegado a fazer parte da doutrina de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, o conceito de que há múltiplos nascimentos e mortes para o mesmo indivíduo já foi defendido por proeminentes líderes mórmons. Neste breve artigo, nos concentraremos em apenas dois nomes – os apóstolos Orson F. Whitney e Heber C. Kimball.  Continuar lendo

Mulheres e o sacerdócio

Não deixo de me sentir um pouco constrangido ao parabenizar as mulheres no dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher. Isso porque originalmente é uma data que tem mais a ver com denúncia e reivindicação do que com uma celebração em que se pode enviar flores. É mais ou menos como dar parabéns aos negros pelo Dia da Consciência Negra, ou aos indígenas pelo Dia do Índio. Soa um pouco irônico.

De qualquer forma, eu expresso a minha gratidão pelas mulheres que estão à minha volta e que tornam a minha vida bem mais rica e interessante,  numa sociedade que ainda abusa delas de tantas formas diferentes -física, emocional, espiritual. Será que participamos e perpetuamos algumas formas de abuso? Continuar lendo

Mãe Celestial redescoberta?

Mãe e criança, pintura de Gustav Klimt (1862-1918)

A existência de uma divindade feminina, esposa de Deus o Pai, é um dos ensinamentos mais distintos do mormonismo. Quase transformado em tabu em décadas recentes, o tema hoje parece receber pouco mais que tímidas alusões no cotidiano da Igreja sud. Sequer a palavra “Mãe” é geralmente mencionada em textos oficiais, mas apenas subentendida nas alusões a “pais celestais”, como no documento A Família: Proclamação ao Mundo e no livro Princípios do Evangelho. O hino Ó Meu Pai, escrito em 1845 por Eliza R. Snow, esposa plural de Joseph Smith,  permanece para a grande maioria dos membros como a afirmação mais acessível de tal doutrina: Continuar lendo