Acredite que nenhum de nós
Já nasceu com jeito pra super-herói
Essa frase vem da música mais famosa da cantora Jamily, Conquistando o Impossível, e como um converso ex-evangélico, a conhecia bem. Nos dias atuais precisamos muito de bons exemplos e muitos vêm de missionários(as) retornados(as).
Em muitos locais no Brasil onde há um pequeno ramo, onde o Presidente e muitos da liderança não serviram missão, o missionário que chega é tido como um herói. A frase de Paulo a Timóteo se torna literal: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”(II Timóteo 4:17) e com isso a liderança aposta todas as fichas e às vezes é chamado além de Líder de Missão do Ramo para outros chamados.
Bem… Não culpo nenhuma liderança por essa ideia que é um pouco errada. De fato muitos têm essa ideia de “heróis” por esperança de que o ramo um dia se torne ala ou por eles acharem que os jovens sabem mais do que eles.
Mas e com vocês? Foi assim quando voltaram de missão? E de fato, “nenhum de nós nasceu com jeito para super-herói.”
Eu consegui escapar desse ‘estigma’ (do líder de missão da ala/ estaca), para minha grande felicidade tanto na época em que retornei como até agora. Mas ninguém escapa da pressão quando retorna. Acontece algo parecido com ex-bispos, ex-presidentes, etc., mas nesses últimos casos não são tão jovens como os ex-missionários, nem tão cobrados.
Conheci raros casos de missionários (pra citar só os melhores) que ao voltarem estavam saturados de ‘obra missionária’ e desejosos de umas férias do assunto. Até porque é muito estresse (durante 24 meses sem parar) você tentando ‘convencer’ pessoas a entrarem na igreja e, as que estão dentro a não ‘expulsarem’ os que entram (com suas atitudes, preconceitos, manias e coisas do tipo).
Aí você retorna, cheio de problemas para resolver (moradia, emprego, educação, profissão, CASAMENTO ‘IMPOSTO’) e não tem oração ou jejum que te impeça de saturar com tanto peso nos ombros e olhos atentos a você. Ainda mais quando você tem uma vida familiar não propícia para te dar uma base de apoio (maioria dos casos de jovens e jovens adultos ‘órfãos’ da igreja).
A grande maioria até tenta honestamente fazer algo pelo seu povo, pra descobrir que, assim como no campo missionários, os orgulho dos que estão acima de você bloqueiam todas as iniciativas de melhorar a recepção daqueles que entram na igreja. Na realidade, me parece que alguns líderes até querem que você seja o ‘salvador’ da ala, mas não com o que você aprendeu, mas sim como um ‘empregado pessoal deles’ muito bem qualificado, mas que só cumpra ordens para métodos nada eficientes.
Claro, esse tipo de coisa não acontece somente aos SUDs, mas cá entre nós, não poderia haver um pouco mais de sensibilidade e compreensão por parte daqueles que detêm o Evangelho do Cordeiro? Ou ao menos preparar alguns da comunidade dos santos e os próprios retornados para tais situações de estresse, para que saibam suportar bem? Afinal, isso também é um teste da vida (que os santos algumas vezes parecem querer dar uma força para que o teste seja ainda mais duro).
Felizmente sou um sobrevivente até aqui, mas conheço vários que não suportaram e, quando não ficaram inativos, hoje apenas portam-se apaticamente com relação à prática da fé sentindo-se menores do que realmente deveriam se considerar, com auto-estima ‘lá embaixo’ por não estarem a altura ‘das expectativas’.
Passei por muitas dessas coisas irmão Gerson Sena. é muito complicado mesmo. 😦 Dei uma enfraquecida e quase me afastei mas, estou firme atualmente.
Seu texto traz uma reflexão muito importante, Júlio César.
Essa cultura não parece estar restrita aos pequenos ramos. Ainda que talvez em intensidade menor, existe também nas alas.
Ela tem, ao meu ver, efeitos colaterais, além da pressão sobre o missionário retornado. A missão passa a ser vista como um ponto máximo de aprendizado, o que acaba por promover indiretamente preguiça ou comodismo. É comum, por exemplo, ver pessoas que serviram missão há mais de uma década citarem seu presidente de missão, etc.
Logo que voltei para casa, eu comentei numa conversa que minha experiência missionária tinha sido boa e difícil. O meu interlocutor observou em tom de perplexidade: “Difícil? Nossa, nunca ouvi um missionário retornado dizer que a missão tinha sido difícil”. Ou seja, parte das expectativas de super-heroísmo é seguir um script que foque nas “bênçãos da missão”. Você pode ler um exemplo dessa atitude aqui.
Conheço muitos heróis. Agradeço ao Senhor por isso.