WikiLeaks Mórmon

Está previsto para hoje o lançamento de um novo site dedicado a publicar informações sigilosas da Igreja Mórmon.

Ryan McKnight, em frente ao Templo SUD de Las Vegas. Foto: Isaac Brekken, The New York Times

Ryan McKnight, em frente ao Templo SUD de Las Vegas. Foto: Isaac Brekken, The New York Times

O fundador do novo site, Mormon WikiLeaks, inspirado no projeto WikiLeaks dedicado ao vazamento e à publicação de informações secretas, sigilosas, ou classificadas, Ryan McKnight, espera estimular o vazamento de informações sigilosas d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

McKnight lançou o seguinte apelo aos membros da Igreja:

“Se alguém está em posse de algum documento, do qual sua consciência lhe diz que o público em geral se beneficiaria de conhecer, e deseja ter um meio de trazê-lo à luz, então [o site] MormonWikiLeaks.com estará à sua disposição para ajudá-los [com isso.]”

 

O site em si, que de acordo com McKnight será mantido através de doações voluntárias porém não será monetizado ou terá fins lucrativos, ainda não está no ar até o momento da publicação deste artigo, porém terá sua inauguração anunciada ainda hoje. Não se anunciou nenhum conteúdo para o lançamento, mas a expectativa é que longo haja novas contribuições relevantes.

“A igreja nunca será transparente por escolha própria, pois não ganham nada com isso.”

“Se alguém enviar documentação legitima demonstrando que a igreja está fazendo atos surpreendemente éticos, está ótimo — também a publicaremos. O importante é que as pessoas têm o direito de saber.”

 

McKnight foi o responsável pelo vazamento, há um ano atrás, da mudança não anunciada nas regras de discriminação contra crianças em famílias LGBT. Ao ouvir rumores da mudança, McKnight percorreu fóruns no site Reddit em busca de confirmação e, por acaso, criou contatos com diversos funcionários da Igreja SUD, alguns dos quais trabalham diretamente com os Apóstolos, e um deles decidiu utilizar McKnight para vazar informações pertinentes à mudança anonimamente. De acordo com McKnight, há centenas de funcionários na Igreja que não são mais crentes, porém temem por suas carreiras e profissões caso expressem publicamente discordância com doutrinas ou políticas oficiais.

“Não estamos interessados que enviem documentos escandalosos que não podem nunca ser confirmados. As pessoas não podem esperar jogar qualquer documento e achar que ele será automaticamente publicado no MormonWikiLeaks.com.”

“Em nenhum momento eu decidi que esse seria o meu hobby. Esse papel simplesmente caiu no meu colo e eu decidi abraçá-lo, porque eu acho que eu estou numa posição para fazer o bem.”

McKnight foi, ainda, o responsável pela criação de um canal no YouTube chamado Mormon Leaks (e agora a página no Twitter e no Facebook) que vazou há 2 meses diversos vídeos de reuniões privadas dos Doze Apóstolos da Igreja SUD.

[Leia nossa reportagem inicial sobre os vídeos que McKnight vazou aqui.]

[Assista os vídeos das reuniões dos Doze Apóstolos aqui.]

McKnight recontou como ele fora fortuitamente abordado por um (ou mais) membro(s) da Igreja que, de posse dos vídeos, sentiram-se movidos a vazá-los ao público, porém desejavam fazê-lo anonimamente. McKnight criou a página no YouTube e publicou-os. As reuniões documentadas nos 15 vídeos mostram os Apóstolos recebendo briefings ou instruções sobre atualidades (e.g., política, economia, tendências sociais, noticiário, etc.), tecendo comentários ou fazendo perguntas em um ambiente mais íntimo e informal. A Autoridade Geral Gerrit W. Gong, atualmente servindo como Presidente dos Setenta, é o apresentador que mais aparece nesses vídeos filmados entre 2007 e 2011.

Alguns dos vídeos causaram grande consternação para a liderança da Igreja. Em um deles, os Apóstolos recebem informações sobre, ironicamente, o já mencionado site WikiLeaks, fundado por Julian Assange como uma organização sem fins lucrativos, dedicado ao jornalismo aberto a expor segredos, à delação de crimes contra o bem público por agentes de estado, e à transparência. Gong discorre sobre a possibilidade de sites como WikiLeaks publicarem informações sigilosas ou secretas da Igreja SUD e como medidas de segurança podem reduzir esse risco.

[Assista os vídeos das reuniões dos Doze Apóstolos aqui.]

Durante a discussão, Gong menciona o caso de ex-soldado americano Bradley Manning (atualmente Chelsea Manning, após sua transição transexual), que em 2010 vazou informações secretas do exército americano para o WikiLeaks, expondo inúmeros casos de crimes de guerra e atrocidades cometidas pelas forças americanas no Iraque que estavam sendo acobertados sob a guisa de segredos de estado. Estranhamente, os Apóstolos Packer e Oaks fixaram repetidas vezes na orientação sexual de Manning (na época, antes de transicionar, homossexual) e Assange (não homossexual) ao invés de comentar os crimes de guerra e atrocidades contra civis expostos por ambos. Oaks, inclusive, demonstra-se vítima da teoria de conspiração da “agenda homossexual” que “controla a mídia”.

[Assista os vídeos das reuniões dos Doze Apóstolos aqui.]

Outros vídeos demonstram uma preocupação obcecada com homossexuais e uma suposta “agenda homossexual” por parte dos Apóstolos, especialmente Packer e Oaks. Quando o cientista político da Brigham Young University, David Magleby, explicou aos Apóstolos as eleições presidenciais de 2008, quando Barack Obama se elegeu pela primeira vez como Presidente dos Estados Unidos, Packer insistiu em girar o debata à teoria de conspiração de “agenda homossexual” agindo “por trás dos panos”, apesar de ser corrigido pelo palestrante. Em outra reunião, os Apóstolos discutem como “liberdade religiosa” é apenas um codinome para a luta da Igreja contra direitos civis de homossexuais e passam uma hora debatendo como a Igreja (e a então possível presidência de Mitt Romney) poderia combater os direitos básicos de pessoas LGBT.

O ex-governador de Utah e então chefe-de-gabinete do candidato Mitt Romney, Mike Levitt, explica “leis de liberdade religiosa” propostas em vários estados nos EUA, designadas para proteger instituições que desejam discriminar contra pessoas LGBT, aos Apóstolos. O debate ainda inclui o então-líder do reconhecido grupo de ódio National Organization for Marriage, Robert George, que sequer é SUD, explicando como a Igreja SUD pode ainda trabalhar com outras organizações para combater direitos civis de homossexuais.

[Assista os vídeos das reuniões dos Doze Apóstolos aqui.]

Em outro vídeo, Gong faz uma apresentação para explicar aos Apóstolos a crise de 2007-2008 do sistema financeiro norte-americano, enquanto o Apóstolo Oaks demonstra profunda e surpreendente ignorância do que estava ocorrendo. Todos os Apóstolos demonstraram não compreender, ou não se importar, com a gravidade da crise que arruinou dezenas de milhões de famílias, considerando as piadas e o tom jocoso e irreverente da conversa.

[Assista os vídeos das reuniões dos Doze Apóstolos aqui.]

Em ainda outro vídeo que inspirou dezenas de memes jocosos, Gong faz uma apresentação para explicar aos Apóstolos o aumento de pirataria marítima na costa leste da África, e para ilustrar o problema, crê ser apropriado assistir um clipe do filme da Disney Piratas do Caribe.

[Assista os vídeos das reuniões dos Doze Apóstolos aqui.]

Porém, o vídeo que mais chamou atenção da mídia norte-americana envolve o recémchamado Autoridade de Área (Sexto Quórum dos Setenta) e então Senador da República Gordon H. Smith (1997-2009) discutindo a influência política da Igreja SUD, incluindo uma franca admissão de Smith de que ele votava no Senado Federal de acordo com as ordens ou sugestões da liderança da Igreja, e como ele votou a favor da invasão do Iraque em 2003 para poder ajudar a entrada da Igreja na região.

Redes sociais

A Mormon WikiLeaks possui esta conta no Twitter e esta página no Facebook.

9 comentários sobre “WikiLeaks Mórmon

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