The Mormon Melodaires: Proselitismo com Sertanejo e Bossa Nova, 1962

Findada a Bellé Époque, trocamos a Europa pelos EUA. Aproveitamos para esquecer o francês e experimentamos a Coca-Cola. Sobre a invenção dos irmãos Lumière, deslocamos nossos olhares para Hollywood; apaixonamo-nos por aqueles filmes sobre o oeste americano. Muitos de nós até ouvimos falar sobre os mórmons pela primeira vez por esse meio.

De algum modo nos víamos naquela tela. Os cowboys eram nossos vaqueiros; os saloons, nossos bares e aquelas canções chamadas de country se assemelhavam à nossa música rural.

Nelson Roberto Perez foi mais além: adotou o nome de Bob Nelson e gravou a versão de uma famosa canção americana ligada à Corrida do Ouro – Oh, Suzanna. Até hoje, Bob Nelson é conhecido na história da música sertaneja como um dos pioneiros em fazer a fusão desse gênero musical com o country norte-americano.

Quase duas décadas depois, foi a vez de jovens do Oeste dos EUA se identificarem com o nosso cancioneiro. Com o apoio de Finn B. Paulsen (presidente da Missão Brasileira do Sul), os élderes Douglas M. Curran, Jim Smith, Gordon Ridd e Ken Nielson formaram, em 1962, um quarteto chamado The Mormon Melodaires.

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O grupo se apresentou em vários estados brasileiros, estendeu sua turnê para áreas fora da missão e chegou a se apresentar no Uruguai. Os rapazes foram ouvidos pelo radio, passaram na TV e até mesmo gravaram um disco.

Para ouvir o disco, clique aqui ou abaixo:

Naquela época, ainda não tínhamos nenhuma estaca no país. Na Região Nordeste, a Igreja se resumia a poucas pessoas no Recife e sequer tínhamos uma capela construída.
Com proselitismo concentrado mais ao sul, a escolha das canções refletiu a sonoridade a que esse missionários eram expostos e o público que eles desejavam alcançar com suas apresentações. Eles seguiram os passos paulinos de se “fazer gentio para ganhar os gentios”.

Na capa do disco, lemos:

“O propósito é de que vós vos familiarizeis com os ensinamentos e a mensagem da Igreja de Jesus Cristo. O que motiva doze mil jovens como estes que compõem o quarteto a deixar seus lares e estudos, por dois anos e meio, SEM receberem recompensas monetárias?
(…)
Esperamos que vossos lares e corações permaneçam abertos a esses jovens missionários como bem acolheram os Mormon Melodaires“.

Assim como nosso cowboy Bob Nelson, esses élderes cantavam Oh, Suzanna; inclusive, escolhendo essa canção como a primeira do LP. Mantiveram o clima do Faroeste em Ghost Riders in the Sky e no hino Vinde Ó Santos. Além das duas primeiras, em sua língua natal, se aventuraram também em Blue Moon e Warm.

Destilando ainda elementos de caráter bucólico, gravaram o clássico Luar do Sertão e homenagearam o Rio Grande do Sul em duas faixas de cunho saudosista: Gauchinha Bem Querer e Noites Gaúchas. Curiosamente, a segunda seria adaptada quase quarenta anos depois como Hino da Missão Santa Maria, onde servi minha missão.

Como na já citada Gauchinha Bem Querer, o romantismo também se mostrou presente no canto desses jovens missionários: Três Palavras, Aqueles Olhos verdes, Perfídia e Frenesi. As duas últimas foram gravadas no original espanhol, aproximando-os do público uruguaio e mesmo brasileiro, que há anos vinha experimentando a influência da música de países da fronteira, como a Guarânia.

Conforme confessou um dos componentes do The Mormon Melodaires, o quarteto apaixonou-se pela Bossa Nova – que à época estava no seu auge -, inserindo a deliciosa canção O Barquinho no álbum. Por fim, no afã de uma aproximação com os de origem germânica, gravaram Brahms´Lullaby no original alemão.

Hoje, mais de cinco décadas depois, celebramos os esforços desses talentosos missionários, que de maneira criativa deixaram sua marca na rica, porém, pouco estudada, História Mórmon Brasileira.


Agradeço a Fernando Pinheiro, um dos poucos pesquisadores da História SUD no Brasil, pela indicação do material de pesquisa para este artigo.

Leia mais sobre a influência de elementos culturais dos EUA na doutrina mórmon aqui.

9 comentários sobre “The Mormon Melodaires: Proselitismo com Sertanejo e Bossa Nova, 1962

  1. Eu me junto ao Carl Sagan. Se tem percursão no culto, passo longe. Uma bateria tem o poder de alterar seu ritmo cardíaco.

    A música tem alto poder hipnótico. As igrejas evangélicas renovadas brasileiras mostram como utilizar a música para induzir euforia, que será chamada de Espírito Santo.

    A Igreja SUD tem se corrompido. Na tentativa de ser mais popular entre os jovens, ela tem lançado CDs de música gospel.

    Esse ano o projeto veio oficialmente para o Brasil com direito a estrelainha do The Voice Kids da Globo.

    O dia que a música substituir os discursos, aulas e debates e se tornar o carro chefe dos serviços de adoração, eu paro de frequentar a Igreja!

    • Comentario lamentavel, desprovido de conhecimento, inundavel de ignorancia. Música (louvor) ao lado de discursos (pregação) sempre estiveram lado a lado se complementando na liturgia di ser humano pra sua divindade (acho que talvez esteja usando uma linguagem muito culta pra determinado leitor…)
      Como músico so te digo uma coisa: ja que vc vai parar de ir na igreja quando a mesma começar a usar “percussao”….então ja passou da hora irmão….deveria ter desaparecido há muito tempo…porque o instrumento mais apreciado pelos brasileiros nas capelas não é o órgão…..mas o piano…e tecnicamente o piano é instrumento na categoria de percussão……kkkkk…..”corda percuetida”…..so pra lembrar: a gloria de Deus é a inteligência……buscar um pouco de gloria divina faz bem…

      • Irmão Anderson, seja mais caridoso. O José obviamente quis dizer “bateria”. Eu entendi o seu sentimento e, sem dúvida, você também entendeu, não é? Tenha um pouco de paciência com as pessoas. Nem todas têm o nível de conhecimento que você tem. A condescendência é uma virtude.

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