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Mudanças no papel das mulheres mórmons não podem ser discutidas – mas vamos discuti-las mesmo assim.
É uma covardia moral, e gaslighting [violência emocional por meio de manipulação psicológica, vulgo “omipulação”], e ainda outra traição negar a raiva e a dor das mulheres, dizer-lhes que não têm o direito de pedir à igreja que seja menos misógina porque a igreja não pode ser misógina – apenas para fazer algumas das mudanças que as mulheres têm pedido enquanto negam explicitamente que as mulheres já tiveram algum tipo de queixa legítima.
Na quarta-feira de manhã, os fóruns mórmons – quer dizer, fóruns nos quais os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias participam – começaram a zunir com rumores de mudanças na cerimônia do templo. Eventualmente, os rumores foram confirmados por um anúncio da Primeira Presidência, afirmando em parte:
Durante esses muitos séculos, detalhes associados ao trabalho do templo foram ajustados periodicamente, incluindo linguagem, métodos de construção, comunicação e manutenção de registros. Os profetas ensinaram que não haverá nenhum fim para tais ajustes, conforme dirigido pelo Senhor a Seus servos.
Um templo dedicado é o mais sagrado de qualquer lugar de adoração na terra. Suas ordenanças são sagradas e não são discutidas fora de um templo sagrado.
Como a igreja não fará nenhuma declaração oficial sobre as mudanças, coube aos membros catalogá-las (mesmo que isso significasse desafiar a ordem de não discutir o templo fora do templo). Várias delas envolvem gênero e abordam desequilíbrios e desigualdades existentes. Na cerimônia de selamento, que é freqüentemente chamada de “casamento no templo”, a esposa não se entrega mais ao marido; em vez disso, os cônjuges se entregam reciprocamente um ao outro. Na cerimônia de investidura:
- Deus fala, agora, igualmente a Adão e Eva;
- Os pactos de obediência para homens e mulheres são, agora, uniformes, em vez de distinguidos por gênero;
- As mulheres não são mais obrigadas a cobrir seus rostos com um véu em certos pontos da cerimônia.
De muitas maneiras, essas são mudanças importantes e significativas. Eles reduzem a subordinação das mulheres na igreja e também tornam as doutrinas da igreja menos incoerentes. Conforme articulado no Proclamação sobre a Família de 1995, a igreja vem tentando insistir que os cônjuges são “parceiros iguais” em uma entidade sobre a qual os homens presidem:
Por desígnio divino, os pais devem presidir suas famílias em amor e justiça e são responsáveis por prover as necessidades de vida e proteção para suas famílias. As mães são as principais responsáveis pela criação de seus filhos. Nestas responsabilidades sagradas, pais e mães são obrigados a ajudar uns aos outros como parceiros iguais.
Mas se os homens presidem sobre suas esposas e filhos por desígnio divino, uma parceria igual é, por definição, impossível.
Haverá pouca clareza sobre este tópico no futuro previsível; o fato de que a discussão deste assunto é oficialmente proibida significa que não se pode haver esclarecimento oficial, e mesmo corroboração externa dos fatos pode ser lenta. Por exemplo, embora exista documentação não oficial de uma pesquisa sobre as percepções do templo na década de 1980 (eu adoro a pergunta sobre se as pessoas adormeciam durante a cerimônia de investidura), não consegui encontrar a verificação de relatos de uma recente pesquisa de mulheres Santos dos Últimos Dias ativas “que não mais frequentam o templo por causa de problemas com a cerimônia”. No entanto, ouvi relatos em primeira mão de pessoas em posição de saber que as moças muitas vezes ficam horrorizadas e revoltadas com a misoginia da cerimônia do templo, a ponto de se tornar um problema tanto para a frequência do templo como para a atividade da igreja. (Foi certamente um problema para mim.)
A consciência disso pode estar por trás do discurso do Presidente Russell M Nelson na Conferência Geral de outubro de 2018, no qual ele convida os membros a “adorarem no templo e orar para sentir profundamente o amor infinito do Salvador por você, para que cada um possa ganhar seu próprio testemunho de que Ele dirige esse trabalho sagrado e eterno.” Mas é um pouco estranho chamar a obra de “eterna” quando mudanças significativas em seus elementos ultrapassados já estavam sendo preparadas.
As respostas às mudanças variaram muito. Uma manchete no jornal Salt Lake Tribune proclamou que “as feministas fiéis verão revisões e acréscimos como um ‘salto adiante’”, embora muitas “feministas fiéis” expressassem raiva e dor. As mulheres repetidamente se opuseram à misoginia nas ordenanças do templo, na doutrina, na prática – e a resposta costuma ser uma espécie de censura: orar mais e criticar menos, buscar verdadeira compreensão, deixar de ser tão orgulhosa, parar de ficar com raiva, desistir de tentar diluir a palavra e a vontade de Deus com as filosofias dos homens – ou, pior ainda, com as filosofias de outras mulheres orgulhosas e iradas. Além disso, você não deveria nem falar sobre isso em primeiro lugar, então você está sendo pecadora e desobediente apenas por levantar a questão.
Se você ainda não vivenciou isso, é difícil entender o quão chocante e angustiante é, finalmente, experimentar algo que lhe foi dito toda a sua vida é o auge absoluto da espiritualidade, apenas para perceber que ele a desvaloriza e a denigre. É uma traição fundamental, apenas piorada quando lhe é dito que você não tem permissão sequer de fazer perguntas sobre isso. A promessa em Morôni 10:5 é que “pelo poder do Espírito Santo, conhecereis a verdade de todas as coisas”. Para muitas mulheres, isso inclui um entendimento visceral de que a cerimônia da investidura prejudicou seu desenvolvimento espiritual, especialmente considerando que o templo é supostamente um dos lugares onde é mais fácil ouvir o Espírito Santo.
É gaslighting [violência emocional por meio de manipulação psicológica], covardia moral, e ainda outra traição negar a raiva e a dor das mulheres, dizer-lhes que não têm o direito de pedir à igreja que seja menos misógina porque a igreja não pode ser misógina – apenas para fazer algumas das mudanças que as mulheres têm pedido enquanto negam explicitamente que as mulheres já tiveram algum tipo de queixa legítima.
A questão não é apenas que a igreja deva eliminar a misoginia manifesta em suas doutrinas e práticas. É que a igreja deve parar de trair as mulheres ao recusar-se a reconhecer explicitamente, e respeitar, suas preocupações.
Holly Welker é uma poeta e ensaísta premiada que vive no Arizona. Seu trabalho já foi publicado no The New York Times, Dialogue: A Journal of Mormon Thought, Best American Essays, Religion Dispatches, entre outras publicações. Ela é a editora do livro Prestando Testemunho: 36 mulheres mórmons falam sobre amor, sexo e casamento.
Ainda há muito caminho a ser percorrido.
Minha esperança é ver restaurado o sacerdócio que o Profeta Smith estendia as mulheres e que foi retirafo por Bringham Young.
O dia que isto acontecer,então sim as mulheres terão restaurado o evangelho de Jesus Cristo,porque ele nunca omitiu o papel das mulheres a começar por sua pp.mãe.Os que vieram depois é que o fizeram,encobrindo e negando vergonhosamente o papel delas no Cristianismo.É isso aí.
Se as mulleres recibían o sacerdocio e deixaram de ter, isso ja foi uma mudança sería , que nao deveria ter acontecido !
Esse empoderamento feminino está ganhando força e nesse blog há muitos anos atrás houve um debate sobre o Sacerdócio para as mulheres e até hoje me lembro do meu comentário. Que as mulheres poderiam ajudar os homens no Sacerdócio fazendo algumas atividades delegadas anteriormente somente a eles. Se essa força continuar com mulheres presidindo famílias e divórcios aumentando a cada dia, o Senhor vai suprir esse vazio dando o Sacerdócio para as mulheres. Mas isso depende das forças sociais dentro da igreja ,vamos tomar as vitaminas e aguardar. O modelo patriarcal se enfraquece na humanidade, os relacionamentos estão quebradiços e o homem está tendo que lidar com sua perda de espaço. Existem correntes muito fortes que podem provocar mais mudanças em nossa religião, alguns paradigmas são quebrados e o Senhor está atento a esses movimentos. As gerações avançam e mentalidades mudam, inclusive na administração da igreja. A luta é grande na liderança da igreja. Opiniões pessoais com extensos debates, até a acomodação e destilação da vontade de Deus que está ouvindo a oração de milhares de mulheres e ama todas elas. O homem vai sendo ensinado a ser humilde com essas mudanças. O orgulho masculino sofre com isso. Mas é uma força fora de nosso controle, então nós homens nos resta orar e ponderar para entender nosso papel dentro desse contexto. Apóstolo Paulo está se remoendo ou se remoeu com isso…rsrs