Taylor Petrey
Os templos d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, muitas vezes chamada de Igreja Mórmon, têm sido locais de curiosidade, suspeita e admiração. Grandes, às vezes estruturas imponentes, os templos estão entre os símbolos mais distintos da igreja.

Os templos são onde os ritos ou “ordenanças” mais sagradas da fé são realizadas, de forma que membros da igreja eram tradicionalmente ensinados a não discutir alguns deles publicamente. Mas os líderes santos dos últimos dias têm trabalhado para dissipar a confusão sobre os templos postando fotos do interior, descrevendo os ritos com mais detalhes e promovendo passeios públicos. Muitos locais incluem “centros de visitantes” adjacentes, que oferecem uma breve introdução ao templo e aos ensinamentos da igreja, e templos novos ou reformados são abertos ao público antes de serem dedicados ao culto.
O templo SUD em Washington, D.C., por exemplo – o mais alto da fé e um ponto de referência comum a viajantes na capital dos EUA – estará aberto para visitação de 28 de abril a 11 de junho de 2022, após quatro anos de reformas.
Uma vez que um templo estejasendo usado para rituais religiosos, no entanto, a entrada é restrita aos membros da igreja que possuem a chamada “recomendação para o templo”: um documento dos líderes religiosos locais atestando que o membro da igreja está em boas condições. Então, o que acontece lá dentro?
Não apenas “igreja”
Os templos são diferentes das igrejas na fé dos santos dos últimos dias. Os cultos dominicais semanais são realizados em “reuniões”, em que membros da congregação ensinam lições religiosas e celebram a Comunhão, a que chamam de “o sacramento”. As igrejas também organizam outros eventos para a comunidade SUD local.
Existem dezenas de milhares dessas capelas em todo o mundo, abertas ao público, e que geralmente exibem um sinal de “Visitantes são bem-vindos”. Estes são edifícios mais simples e menores que se parecem com outras igrejas cristãs.
Em contraste, templos são mais raros e considerados muito mais sagrados. Atualmente, há 170 templos operacionais no mundo, em todos os continentes, com exceção da Antártida. Os templos fecham aos domingos.
Convênios sagrados
Como estudioso e historiador do mormonismo, posso confirmar que os templos têm sido uma fonte de controvérsia há muito tempo – mesmo em 1903, quando a eleição de um proeminente santo dos últimos dias para o Senado dos EUA desencadeou uma investigação governamental que durou anos. Críticos argumentaram, sem sucesso, que os votos que os santos dos últimos dias fazem nos templos deveriam desqualificá-los do cargo.
No século passado, os templos continuaram a despertar o escrutínio público, geralmente quando uma comunidade local se opunha aos planos de construir um novo templo.
Os três ritos principais realizados no interior são os casamentos, chamados “selamentos”; a “investidura”, que reencena a história da criação da Bíblia; e “batismos pelos mortos”. Nesse ritual, também chamado de batismo vicário, membros da igreja representam pessoas que morreram sem ter recebido um batismo SUD. Santos dos Últimos Dias acreditam que a pessoa falecida tem a opção na vida após a morte de aceitar ou rejeitar o batismo.

Os santos dos últimos dias muitas vezes vivenciam esses ritos como profundamente transformadores e são ensinados que eles têm consequências eternas. Nos selamentos matrimoniais, por exemplo, os santos dos últimos dias acreditam que se conectam com um cônjuge não apenas por suas vidas na Terra, mas também por toda a vida após a morte, embora o divórcio seja permitido.
Durante o rito de investidura, do qual participam muitos santos dos últimos dias adultos, os membros fazem votos de servir a Deus e ao próximo e recebem instruções sobre a salvação. Aqueles que receberam o ritual de investidura também prometem usar uma “vestimenta” sagrada sob suas roupas normais.
Alguns membros consideram os ritos esotéricos, estranhos ou ultrapassados. Mas a maioria retorna várias vezes para absorver o simbolismo e buscar respostas a orações.
Casa de Deus
Do exterior, os templos exibem uma variedade de estilos, do gótico ao modernista. Hoje, a maioria tem uma torre proeminente com um anjo dourado tocando uma trombeta: o Anjo Morôni. Morôni tem um papel central na narrativa da igreja, como um profeta do Livro de Mórmon que apareceu ao fundador da igreja moderna, Joseph Smith.
No interior, cada um dos rituais tem uma sala ou salas distintas. Os batismos pelos mortos são realizados no subsolo, em uma grande pia batismal nas costas de 12 bois. Os ritos de selamento são realizados em salas menores, com um altar central no qual um casal se ajoelha ao se casar.
A investidura é a mais elaborada. Os participantes sentam-se em um pequeno teatro, com homens e mulheres em lados separados, para assistir a um filme que retrata uma dramaturgia sagrada sobre Adão e Eva. Ao final, todos são admitidos juntos para orar e conversar em um elegante salão chamado “sala celestial”, a sala mais sagrada, representando a presença de Deus.
Para-raios
Os ritos têm muitas vezes suscitado debates. Pessoas de fora são excluídas, o que significa que até mesmo membros da família imediata podem não estar presentes na cerimônia de casamento de um ente querido. Casais do mesmo sexo são excluídos dos selamentos. Antes de 1978, membros negros da igreja eram proibidos de participar de quaisquer dos ritos. Feministas santos dos últimos dias criticam alguns dos votos na investidura por reforçarem a hierarquia de gênero, embora algumas tenham saudado as mudanças feitas pela igreja em 2019.
Batismos pelos mortos também atraem críticas. Membros zelosos da igreja usaram registros genealógicos para realizar batismos pelos mortos em favor de vítimas do Holocausto, o que grupos judaicos condenaram como desrespeito à fé das vítimas. Os líderes da Igreja estabeleceram controles para desencorajar a prática, pedindo aos membros que se concentrem em seus próprios antepassados.
No entanto, templos também trazem inspiração, e não apenas aos adeptos. O falecido teólogo luterano Krister Stendahl certa vez aplicou sua famosa ideia de ter “inveja santa”, ou admirar aspectos de outras religiões, para descrever sua própria apreciação pelos templos SUD.
Como locais sagrados onde os membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias se envolvem em práticas distintas, os templos certamente despertarão uma variedade de respostas nos próximos anos, especialmente porque a Igreja prossegue seu ambicioso projeto de construir mais.

Taylor Petrey é professor associado de Religião na Kalamazoo College e editor da revista Dialogue: a journal of Mormon thought.
Artigo originalmente publicado aqui. Reproduzido com permissão.