Jesus Nasceu Mesmo em Belém? Por que os Evangelhos Discordam Sobre as Circunstâncias do Nascimento de Cristo

Rodolfo Galvan Estrada III

Todo Natal, uma cidade relativamente pequena na Cisjordânia Palestina ganha destaque: Belém. Jesus, de acordo com algumas fontes bíblicas, nasceu nesta cidade há cerca de dois milênios.

No entanto, os Evangelhos do Novo Testamento não concordam sobre os detalhes do nascimento de Jesus em Belém. Alguns sequer mencionam Belém ou o nascimento de Jesus.

As diferentes visões dos Evangelhos podem ser difíceis de conciliar. Mas, como estudioso do Novo Testamento, o que eu argumento é que os Evangelhos oferecem uma visão importante sobre as visões greco-romanas de identidade étnica, incluindo genealogias.

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Políticos ‘Lavam as Mãos’ e Culpam Outros Desde a Crucificação de Jesus

Tony Keddie

O ato de lavar as mãos recebeu uma cobertura substancial no ano passado durante a pandemia do COVID-19, e não apenas em relação à higiene. Você pode ter visto algumas das muitas acusações nos EUA e no Canadá de que um político “lavou as mãos” de suas responsabilidades pandêmicas.

Novo Testamento Evangelhos Pilatos
“Pilatos lavando suas mãos”, de Hendrick ter Brugghen, século 17. | Imagem: Cortesia de Shipley Art Gallery, The Public Catalog Foundation/Wikimedia Commons.

Às vezes, a referência inclui um aceno à figura histórica associada a tal frase. Recentemente, nos EUA, um comentarista conservador criticou o presidente Joe Biden, dizendo que ele é “como Pôncio Pilatos: apenas lava as mãos e fica quieto”.

Essas imagens de lavar as mãos derivam de escrituras bíblicas icônicas que se referem a eventos anteriores à crucificação de Jesus.

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O Primeiro Natal de acordo com o Novo Testamento

Celebramos recentemente o Natal.

Natal vem da palavra latim natus, que significa “nascimento” ou “nascer” ou mesmo “gerar”, e é comumente utilizado para se referir ao “dia do nascimento” de alguém. Costumeiramente, no mundo de línguas românicas, Natal tornou-se um termo para descrever a celebração do nascimento de Jesus. Assim, no Brasil, como nos demais países românicos e cristãos, no Natal (usualmente no dia 25 de dezembro) comemora-se o nascimento de Jesus há mais de 2 mil anos atrás.

A Adoração dos Pastores, por Gerard van Honthorst (1590–1656), em 25 de dezembro de 1622

A Adoração dos Pastores, por Gerard van Honthorst (1590–1656), em 25 de dezembro de 1622

Ao contrário do que a maioria dos cristãos imagina, os quatro relatos canonizados da vida de Jesus no Novo Testamento (i.e., os Evangelhos atribuídos a Marcos, Mateus, Lucas e João) não narram os mesmos eventos, não se complementam, e não são mutualmente inclusivos. Todas as quatro narrativas são individuais e independentes, narrando relatos como o seu autor acreditava ou imaginava ou ouvira ter ocorrido (nenhum desses autores fora testemunha ocular — na realidade, todos os evangelhos são anônimos, e atribuições autorais surgiram décadas após suas composições).¹

Portanto, honraremos os autores que nos legaram esses quatro relatos distintos respeitando suas independências editoriais, estudando-os como eles haviam desejado: Individual e independentemente.

Dito isso, como ocorreu o “primeiro natal”, ou o nascimento de Jesus, de acordo com cada um dos 4 autores de cada Evangelho canônico?

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O Que a Ciência Pode Nos Dizer Sobre a Estrela de Belém?

Durante o inverno, às vezes pode parecer que o dia inteiro passa em um piscar de olhos e que a escuridão da noite chega rápido demais. Enquanto mais luz do dia seria adorável, a escuridão precoce tem uma grande vantagem: as estrelas. Em uma noite clara, você consegue olhar acima e ver longe no espaço. Passei muitas noites de inverno com meus filhos, voltando de atividades para casa, à procura de Órion (e outras constelações), seguindo o seu caminho através das estações.

estrela de belém natal mórmons

Estrelas e espaço são dois dos temas mais populares da ciência, qualquer que seja a idade da criança. Há algo impressionante e belo sobre olhar para as estrelas no céu noturno.

Mas não são apenas crianças e jovens os fascinados pelas estrelas– a astronomia é uma das poucas ciências onde amadores podem fazer uma contribuição significativa para a nossa compreensão do assunto.

…vieram do oriente

Nesta época do ano, a narrativa do Natal pode servir como um lembrete de que, ao longo da história, as pessoas têm olhado para o céu à noite e se perguntado sobre o que veem. Babilônios tinham catálogos de estrelas já em 1300 aC, contendo informações sobre constelações e padrões nas estrelas. É provável que a observação e nomenclatura dessas constelações sejam anteriores a essa data. Continuar lendo

Esposa de Jesus? Quatro Disputas Sobre Maria Madalena

Todos os Evangelhos nos contam a estória de Maria Madalena (ou, de Magdala), uma colaboradora próxima de Jesus. Mas foi ela a primeira e mais proeminente apóstola, ou a esposa de Jesus? O relato bíblico bíblico não é claro.

Crucificação com Maria Madalena ajoelhando e chorando, de Francesco Hayez (1827). Detalhe.

Crucificação com Maria Madalena ajoelhando e chorando, de Francesco Hayez (1827). Detalhe.

Maria Madalena é mencionada 14 vezes nos Evangelhos — os relatos que descrevem a vida, morte e ressurreição de Jesus — e muitas vezes lidera a lista de seguidoras de Jesus, que desafiaram a ideia de que os discípulos filosóficos eram tipicamente homens. Ela também é mencionada cinco vezes na história da Paixão, que inclui alguns de seus mais importantes momentos marcados pela tristeza. Ela ampara Jesus quando ele é crucificado pelos romanos, e lamenta a sua morte depois. Ele aparece primeiro a ela depois que se levanta novamente. Continuar lendo

A Mãe de Jesus

Pintura de Galen Dara (2012).

Pintura de Galen Dara (2012).

João também menciona a mãe de Jesus na crucificação. Ele descreve as mulheres perto da cruz, mas há um problema de pontuação, e não há certeza sobre quantas mulheres havia. A primeira mencionada é a mãe de Jesus, mas ela não é nomeada. Isso porque talvez seu nome fosse bem conhecido, ou talvez haja algo a mais. João pode estar implicando a presença da Senhora. Os outros evangelhos não mencionam a Virgem Maria perto da cruz; como João, mencionam Maria Madalena, a outra Maria, e uma terceira mulher. João tem a misteriosa quarta mulher sem nome. Lemos que Jesus confia sua Mãe a João, e confia João à sua Mãe, o que pode simplesmente significar que Jesus esteja fazendo provisões para sua Mãe. Mas há outra possibilidade: que João se tornou o filho da Mãe celestial de Jesus, outro filho da Sabedoria, porque foi a João que Jesus revelou suas visões e ensinamento secreto.

Margaret Barker. Jesus The Nazorean: On the publication of King of the Jews. Temple Theology in John’s Gospel. Abril 2014. p. 05.

A autora Margaret Barker é metodista e conhecida pelos seus estudos bíblicos em “teologia do templo”, a qual procura traçar as origens da teologia cristã ao Primeiro Templo.

As Diferentes Vozes Nas Escrituras (Parte II)

Conforme comentamos na primeira parte da série, ao incorporar o mundo feminino e priorizar seu ministério nos excluídos, Jesus resgatava sentimentos e práticas que existiam no judaísmo, mas que ainda sim causavam escândalo para muitos: “(…) chegaram seus discípulos e admiravam-se que falasse com uma mulher”[1], no contexto do diálogo com a samaritana; “por que come vosso mestre com publicanos e pecadores?”[2], perguntou um grupo de fariseus, em um tom crítico à baixa reputação dos que compartilhavam a mesa com o Salvador.

Jesus Healing BeggerAs palavras do Homem de Nazaré davam esperança e direção às pessoas, em especial, das camadas mais humildes. Quando compreendemos que foram os famintos, simples e doentes a maior parte dos pioneiros do movimento que se tornaria o cristianismo, fica mais fácil entendermos a aspereza com que a voz de Jesus se direcionava aos ricos e poderosos.
Aos que tinham bens, Jesus mandava que repartisse. Se é dos pobres o Reino de Deus [3]; para os ricos o acesso a ele é tão difícil quanto um camelo entrar no buraco de uma agulha [4]. Os lírios do campo eram mais interessantes que Salomão e sua riqueza [5].

Em uma sociedade que interpretava doenças muitas vezes como impureza, fruto do pecado ou ação de demônios, Jesus oferecia cura. Como profeta, curandeiro e exorcista, ele ganhava visibilidade. Seu projeto do Reino de Deus consistia em uma inversão de papéis, na qual os rejeitados de sua época se elevariam em detrimento dos ricos e poderosos, que teriam grandes dificuldades de pertencer a esse grupo. Todo esse radicalismo o colocou em rota de colisão com o Império, levando-o à crucificação. Continuar lendo

As Diferentes Vozes Nas Escrituras (parte I)

Era um domingo de Nisã, entre o final da década de 20 e início da de 30 do primeiro século. Segundo o texto lucano, algumas mulheres e pelo menos um dos apóstolos haviam visitado o túmulo de Jesus, e o encontram vazio. De acordo com o relato bíblico, a história de que a tumba estava vazia se espalhou, de modo que, no mesmo dia, já era possível encontrar várias pessoas comentando o evento.

O terceiro evangelho fala de dois discípulos que conversavam sobre o Salvador enquanto caminhavam em direção a Emaús. Como de apenas um foi citado o nome, Cléofas, presume-se, pelo costume da época, que o outro fosse uma mulher. [1] Jesus ressuscitado pôs-se a caminhar com o casal; este, embora conhecesse pessoalmente Jesus, não reconheceu o Mestre.

Aproximando-se do povoado para onde iam, Jesus simulou que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram, dizendo: “Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina. Entrou então para ficar com eles. E, uma vez à mesa com eles, tomou o pão(…)Então seus olhos se abriram e o reconheceram”. [2]

Com base nos três relatos de páscoa que aparecem como pano de fundo do Evangelho de João, costumamos dizer que o ministério do Salvador foi de três anos. O movimento iniciado por ele teve como palco inicialmente a Galileia, região rural onde cresceu. Como um camponês, Jesus nos transporta aos ambientes bucólicos através de suas parábolas ao mencionar aves do céu, a figueira, as ovelhas e seu pastor, o peixe, o mar, o pescador.

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