Oito líderes mundiais dos santos dos últimos dias e algumas de suas esposas receberam a vacina contra o Covid-19, no dia 19 de janeiro, em Salt Lake City, Utah. A Igreja ainda publicou uma mensagem enfatizando a seus membros a importância da vacinação.

Russel Nelson recebe a primeira dose da vacina contra Covid-19, em Salt Lake City. | Imagem: Cortesia de Intellectual Reserve.
Russel M. Nelson, presidente d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, anunciou em uma postagem no Facebook o recebimento da primeira dose da vacina, juntamente com sua esposa, Wendy:
Receber a vacina hoje foi parte de nossos esforços pessoais para sermos bons cidadãos globais em ajudar a eliminar o COVID-19 do mundo.
Além do casal Nelson, também receberam a primeira dose de imunização os seus dois conselheiros na Primeira Presidência, Dallin H. Oaks e Henry B. Eyring. A esposa de Dallin Oaks, Kristen, também foi vacinada.
Cinco membros do Quórum dos Doze Apóstolos e a maior parte de seus cônjuges receberam a vacina: M. Russell Ballard, Jeffrey e Patricia Holland, Dieter e Harriet Uchtdorf, Quentin e Mary Cook, and D. Todd e Kathy Christofferson.
Acima de 70
Todos os líderes vacinados têm 70 anos ou mais, em conformidade com as diretrizes de vacinação do estado de Utah. Embora as diretrizes nacionais nos EUA sejam de vacinar a população acima de 65 anos como prioridade, Utah elevou a idade mínima para 70. O governador recém-empossado, Spencer Cox, afirma não haver doses suficientes para atender uma população maior. Seu antecessor, Gary Herbert, havia estabelecido a idade mínima em 75.
Testemunha das vacinas
Russel Nelson, cirugião aposentado de 96 anos, é estimado por seus seguidores como “profeta, vidente e revelador”. Em seu post no Facebook, Nelson ainda relembrou do progesso visto por ele com a criação da vacina contra poliomelite em 1953.
Para a historiadora Jana Riess, a avançada idade do profeta mórmon faz dele, neste caso, uma “testemunha ocular da história”. Segunda ela,
Às vezes, é um problema quando uma igreja que precisa ser ágil para a era moderna é liderada por pessoas na casa dos 80 e 90 anos. Em outras ocasiões – como agora – pode ser uma vantagem. Nossa igreja é liderada por alguém que não toma com leviandade os avanços da ciência, porque se lembra de como era viver (e praticar a medicina) sem eles.
Doações a campanhas de vacinação
No mesmo dia em que seus líderes seniores receberam a primeira dose da vacina anticovid, a Igreja publicou uma nota em que relembra seu próprio histórico na promoção de vacinas ao redor do mundo:
Como um componente proeminente de nossos esforços humanitários, a Igreja tem financiado, distribuído e administrado vacinas vitais por todo o mundo. A vacinação tem ajudado a conter ou eliminar doenças transmissíveis devastadoras tais como: poliomielite, difteria, tétano, varíola e sarampo. As vacinas aplicadas por profissionais de saúde competentes protegem a saúde e preservam vidas.
Em 1978, a Primeira Presidência, encabeçada por Spencer W. Kimball, lamentava “a ignorância e a apatia” responsáveis pelos baixos índices de imunização infantil:
Nós incentivamos os membros de A Igreja de Jesus Cristo Dos Santos dos Últimos Dias a protegerem seus filhos por meio da imunização. Então, eles podem querer se juntar a outros cidadãos de espírito público nos esforços para erradicar a ignorância e a apatia que causaram os níveis perturbadoramente baixos de imunização infantil.
O histórico de apoio e promoção de vacinas é um bom lembrete a santos dos últimos dias em meio a pandemia, especialmente quando forças politicas e culturais questionam de maneira infundada a eficácia de vacinas e medidas de prevenção.
Teorias conspiratórias
Em março de 2019, comentários de Bill Gates sobre a futura vacina anticovid alimentaram diversas teorias conspiratórias sobre a origem do Covid-19 e, entre alguns evangélicos norte-americanos, a suposta implementação da “marca da besta” através da vacina. Naquele mês, a Igreja Mórmon havia iniciado o remanejamento de seus missionários em função da pandemia.
Teorias difundidas na internet culpavam um país, ou a elite de um país contra seus cidadãos, pela criação intencional do Covid-19 em laboratório. O “vírus chinês“, disse Donal Trump. Até mesmo as torres de 5G seriam responsáveis pela disseminação do vírus, segundo certas teorias espalhadas nos Estados Unidos.

“Não mascarem nossas crianças”, “Salvem nossas crianças” e “Deixem as crianças serem crianças sem máscaras” dizem os cartazes em protesto na cidade de Orem, Utah, em 2019. | Imagem: Cortesia de AP, Rick Bowmer
Mais difundidas e mais atraentes a membros da Igreja SUD, porém, foram as posturas contrárias ao uso de máscaras como forma de reduzir as possibilidades de contaminação. Da ingênua afirmação de que não funcionam à teoria de que ferem a liberdade individual. a oposição ao uso de máscaras também recebeu motivações religiosas.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro segue afirmando que as vacinas desenvolvidas contra o coronavírus não têm “comprovação científica”. Bolsonaro ainda tem procurado sabotar a cobertura da pandemia por parte de veículos de comunicação, dificultando o acesso a dados oficiais.
Vidas ou dinheiro
Como estas Vozes Mormons publicavam em março do ano passado, um número de membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias expressava opiniões contrárias a medidas de quarentena e distanciamento social, em grande parte sob o argumento de não interromper o andamento natural da atividade econômica.
Curiosamente, o Apóstolo James E. Talmage observava em 1919 uma atitude semelhante. Durante a pandemia global de influenza H1N1, Tamage escreveu em seu diário sobre a pressão exercida por empresários para manter seus negócios abertos, ignorando o fato de que “o vírus é transmitido por proximidade e que os contatos sociais são o principal meio de transmissão.”
Sinal de amor cristão
Falando sobre a reabertura limitada de alguns templos SUD, em dezembro passado, o Apóstolo Dale G. Renlund criticou a politização da pandemia:
À medida que a pandemia COVID-19 se espalha pelo mundo, ela causa estragos entre aqueles que já estão em desvantagem. Infelizmente, as respostas à pandemia foram politizadas e contenciosas. Nossa resposta não precisa ser.
Renlund ainda afirmou que o uso de máscaras era um “sinal de amor cristão”. Suas afirmações trouxeram críticas por parte de membros, questionando a eficácia de máscaras ou afirmando que a.decisão sobre o assunto deveria estar sujeita à revelação pessoal.
Veremos ao longo deste ano se o pedido de Russel M. Nelson de “sermos bons cidadãos globais” será tomado a sério por membros da Igreja SUD, à medida que a vacina anticovid é distribuída e disponibilizada à população.
Em países como o Brasil, onde há vacinação obrigatória e o antivacinismo teve um ressurgimento muito recente e ainda minoritário, o pedido profético entre mórmons poderá se somar à boa tradição nacional em favor de imunizações.
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FALSOS CRISTÃOS
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Dizem que são cristãos
Mas discriminam os irmãos
Que não seguem seus caminhos
Os chicoteiam com palavras
Servem vinagre em vez de água
E os ferem com coroas de espinhos.
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Ainda que alardeiem gratidão
Por terem recebido a salvação
Através do sacrifício sagrado
Não são capazes de olhar
Ao redor e se importar
Com quem sofre ao seu lado.
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Embora critiquem a conduta
Do desprezível Judas
Que traiu Jesus com um beijo
Mentem e enganam
Aqueles que dizem que amam
Só para satisfazerem desejos.
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Se consideram discípulos de Jesus
Mas querem pendurar na cruz
Quem é considerado inimigo
Não são capazes de perdoar
Mas esperam que ao pecar
Seus pecados sejam esquecidos.
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São pessoas que nas duas faces
Ostentam como disfarce
O semblante de servos de Deus
Mas que se vivessem no passado
Sem piedade teriam assinado
A placa ‘Rei dos Judeus’.
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Eduardo de Paula Barreto
26/01/2021
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Bonita poesia!
A postura da Igreja em relação à pandemia é exemplar. Parabéns aos líderes gerais que estão conduzindo o rebanho do Senhor com o cuidado merecido.