Livro de Abraão pode não ser uma tradução, afirma Igreja

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Novo ensaio publicado no site oficial da Igreja sud afirma que o Livro de Abraão é uma escritura inspirada,  mas não necessariamente uma tradução literal dos papiros egípcios usados por Joseph Smith. Publicado no último dia 08, o texto afirma que

Sabemos algumas coisas sobre o processo de tradução. A tradução da palavra normalmente pressupõe um conhecimento especializado de vários idiomas. Joseph Smith não alegou experiência em qualquer idioma. Ele prontamente reconheceu que era uma das “coisas fracas do mundo”, chamado a falar palavras enviados “do céu”. (…) O Senhor não exigiu Joseph Smith ter conhecimento de egípcio. Pelo dom e poder de Deus, Joseph recebeu o conhecimento sobre a vida e os ensinamentos de Abraão.

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Ordenanças do templo – parte 2

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Planta do templo de Kirtland

O que significavam “investidura” e “selamento” para os mórmons na década de 1830?

Em dezembro de 1830, Joseph Smith recebeu uma revelação que ordenava a migração para o estado americano de Ohio, onde, além da maior segurança, os santos seriam “investidos com poder do alto”. ¹ Na década de 1830, mórmons interpretavam a palavra “investidura” como um fenômeno espiritual a ser buscado, pelo qual indivíduos seriam dotados de poder ou dons espirituais, manifestos em profecias, visões ou dom de línguas. Os relatos do período de Kirtland são ricos na descrição de experiências dessa natureza. Os rituais realizados em Kirtland para a busca de tal “investidura” do Espírito eram mais simples do que os que seriam desenvolvidos em Nauvoo. As abluções e unções seguiam um padrão semelhante ao descrito no texto bíblico.² Continuar lendo

Os Doze e a Primeira Presidência

ppQuando Joseph Smith organizou a Igreja de Cristo, em 1830, não havia uma Primeira Presidência ou um Quórum dos Doze. Joseph e Oliver Cowdery eram respectivamente primeiro e segundo élderes, sendo também considerados apóstolos (D&C 20) em um sentido diferente do utilizado modernamente no mormonismo – e mesmo diferente do que viriam a ser os apóstolos escolhidos pelas Testemunhas do Livro de Mórmon. Foi só em 1832 que surgiu a Primeira Presidência e em 1835 o Quórum dos Doze. Continuar lendo

Brigham Young: Por Que Adão?

Brigham YoungBrigham Young, em discurso no famoso Tabernáculo Mórmon em 08 de junho de 1873, explica porque Adão se chamava Adão:

“O mistério é assim, como com os milagres, ou qualquer outra coisa, apenas um mistério para aqueles que são ignorantes. O Pai Adão veio até aqui, e então lhe trouxeram sua esposa. ‘Bom’, dirá alguém, ‘por que Adão foi chamado de Adão’? Ele foi o primeiro homem na Terra, e seu arquiteto e seu criador. Ele, com a ajuda de seus irmãos, a trouxe à existência.

Então Ele disse: “Eu quero que meus filhos, que estão no mundo espiritual, venham e habitem aqui. Certa vez Eu habitei uma Terra parecida com esta, num estado mortal, Eu fui fiel, Eu recebi minha coroa e minha exaltação. Eu tenho o privilégio de extender minha obra, e ao seu acréscimo não haverá fim. Eu quero que meus filhos, que me foram nascidos no mundo espiritual, venham até aqui e assumam tabernáculos de carne, para que seus espíritos possam tem um lar, um tabernáculo ou um habitáculo como o meu tem, e onde está o mistério?”

O discurso inteiro de Brigham Young merece atenção cuidadosa (publicado originalmente no Deseret News, pp.4-5, vol. 22:308, 18 Junho 1873). Seguem alguns trechos interessantes deste mesmo discurso: Continuar lendo

Palestras Sobre A Fé

LoFEntre 1834 e 1835, Joseph Smith apresentou uma série de palestras sobre o tema da Fé em Kirtland, Ohio. Em colaboração com seu Primeiro Conselheiro Sidney Rigdon, Smith preparou as palestras para publicação e elas foram apresentadas pela Primeira Presidência e incluídas na edição de 1835 de Doutrina e Convênios. Em assembleia geral, a Primeira Presidência apresentou esta edição da D&C (incluindo as palestras intituladas ‘Sobre A Fé’) para a Igreja, que votou unanimamente para aceitá-la como escritura sagrada e obra padrão da Igreja.

No prefácio da edição de 1835 da Doutrina e Convênios, a Primeira Presidência da Igreja deixa claro o grau de importância que estas palestras deveriam ocupar no cânone e na teologia Mórmon: Continuar lendo

Usando As Escrituras

Como você lê as escrituras diz muito mais sobre quem você é do que sobre as escrituras.

“A Bíblia: Apenas Mais Um Tijolo Na Parede” pelo pastor David Hayward

“A Bíblia: Apenas Mais Um Tijolo Na Parede” pelo pastor David Hayward

O pastor David Hayward se inspira nas letras da canção de Pink Floyd Continuar lendo

Livro de Mórmon Votado No. 1

Cena do Livro de Mórmon, por Arnold Freiberg (2 000 guerreiros adolescentes Ameríndios)

Cena do Livro de Mórmon, por Arnold Freiberg (2 000 guerreiros adolescentes Ameríndios)

Há dois dias atrás, o jornal da Igreja SUD ‘Deseret News’ publicou um artigo regozijando-se que O Livro de Mórmon estava sendo votado como No. 1 numa lista de “livros que mudaram vidas”.

O fundador e CEO do site Mindvalley postou um vídeo solicitando sugestões para livros “que mudaram as vidas” de seus leitores e seguidores para compilar uma lista bibliográfica de auto-ajuda.

No dia 11 de abril, o site Mórmon ‘LDS Media Talk’ publicou um artigo solicitando que membros da Igreja fossem até a página do Mindvalley onde estava ocorrendo a votação online e votassem pelo Livro de Mórmon. A resposta foi intensa, e já no dia 16 de abril o Livro de Mórmon já estava no topo da lista, enquanto tanto o site ‘LDS Media Talk’, como o jornal da Igreja, comemoravam o feito como um exemplo “do que os Santos dos Últimos Dias podem fazer quando defendem o que crêem e compartilham com os outros”.

Mas nem todos enxergaram esta “ação social” como uma coisa positiva. Continuar lendo

Professor da BYU Criticado por Livro Sobre Mulheres

lost+teachingsO Professor da BYU Alonzo L. Gaskill está sendo severamente criticado por seus pares acadêmicos, por acadêmicos Mórmons e pelo público Mórmon leigo, por grosseira incompetência intelectual.

Em seu livro recém-publicado ‘O Ensinamentos Perdidos de Jesus Sobre o Papel Sagrado da Mulher’, o professor de História da Igreja e Doutrina se propõe a estabelecer uma reconstrução acadêmica dos ensinamentos de Jesus de Nazaré sobre o papel apropriado de mulheres na sociedade Cristã. Uma das fontes principais, na qual Gaskill ancora seu livro  e seus argumentos nos manuscritos de Pali, que descrevem a vida e os ensinamentos de Jesus durante Sua adolescência no sub-continente Indiano, e descobertos num monastério Indiano no final do século XIX pelo jornalista e explorador russo Nicholas Notovich. Compilados e traduzidos para Francês (e, rapidamente, para vários outros idiomas) por Notovich nos anos 1890 sob o título ‘A Vida Desconhecida de Jesus’. O grande problema, contudo, é que o livro não só foi demonstrado por acadêmicos como um falsificação clara, como o próprio Notovich confessou o embuste.

Mas este nem é o maior problema do livro do historiador da BYU. Continuar lendo

As Diferentes Vozes Nas Escrituras (Parte II)

Conforme comentamos na primeira parte da série, ao incorporar o mundo feminino e priorizar seu ministério nos excluídos, Jesus resgatava sentimentos e práticas que existiam no judaísmo, mas que ainda sim causavam escândalo para muitos: “(…) chegaram seus discípulos e admiravam-se que falasse com uma mulher”[1], no contexto do diálogo com a samaritana; “por que come vosso mestre com publicanos e pecadores?”[2], perguntou um grupo de fariseus, em um tom crítico à baixa reputação dos que compartilhavam a mesa com o Salvador.

Jesus Healing BeggerAs palavras do Homem de Nazaré davam esperança e direção às pessoas, em especial, das camadas mais humildes. Quando compreendemos que foram os famintos, simples e doentes a maior parte dos pioneiros do movimento que se tornaria o cristianismo, fica mais fácil entendermos a aspereza com que a voz de Jesus se direcionava aos ricos e poderosos.
Aos que tinham bens, Jesus mandava que repartisse. Se é dos pobres o Reino de Deus [3]; para os ricos o acesso a ele é tão difícil quanto um camelo entrar no buraco de uma agulha [4]. Os lírios do campo eram mais interessantes que Salomão e sua riqueza [5].

Em uma sociedade que interpretava doenças muitas vezes como impureza, fruto do pecado ou ação de demônios, Jesus oferecia cura. Como profeta, curandeiro e exorcista, ele ganhava visibilidade. Seu projeto do Reino de Deus consistia em uma inversão de papéis, na qual os rejeitados de sua época se elevariam em detrimento dos ricos e poderosos, que teriam grandes dificuldades de pertencer a esse grupo. Todo esse radicalismo o colocou em rota de colisão com o Império, levando-o à crucificação. Continuar lendo

As Diferentes Vozes Nas Escrituras (parte I)

Era um domingo de Nisã, entre o final da década de 20 e início da de 30 do primeiro século. Segundo o texto lucano, algumas mulheres e pelo menos um dos apóstolos haviam visitado o túmulo de Jesus, e o encontram vazio. De acordo com o relato bíblico, a história de que a tumba estava vazia se espalhou, de modo que, no mesmo dia, já era possível encontrar várias pessoas comentando o evento.

O terceiro evangelho fala de dois discípulos que conversavam sobre o Salvador enquanto caminhavam em direção a Emaús. Como de apenas um foi citado o nome, Cléofas, presume-se, pelo costume da época, que o outro fosse uma mulher. [1] Jesus ressuscitado pôs-se a caminhar com o casal; este, embora conhecesse pessoalmente Jesus, não reconheceu o Mestre.

Aproximando-se do povoado para onde iam, Jesus simulou que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram, dizendo: “Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina. Entrou então para ficar com eles. E, uma vez à mesa com eles, tomou o pão(…)Então seus olhos se abriram e o reconheceram”. [2]

Com base nos três relatos de páscoa que aparecem como pano de fundo do Evangelho de João, costumamos dizer que o ministério do Salvador foi de três anos. O movimento iniciado por ele teve como palco inicialmente a Galileia, região rural onde cresceu. Como um camponês, Jesus nos transporta aos ambientes bucólicos através de suas parábolas ao mencionar aves do céu, a figueira, as ovelhas e seu pastor, o peixe, o mar, o pescador.

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Deixa a luz do sol entrar

Em algum dia de novembro de algum ano do final da década de 90, minha mãe chegou em casa radiante com uma árvore de natal. Uma vizinha lhe vendera a um preço acessível. Os anos de FHC não haviam sido muito bons para uma casa que tinha como provedor um funcionário público. Qualquer oportunidade de economizar era bem-vinda.

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Perguntei a minha mãe o motivo de aquela simpática senhora querer vender aquele símbolo natalino. Segundo minha genitora, o pastor da igreja que minha vizinha frequentava havia ensinado que o verdadeiro cristão não comemora natal, pois Jesus não nasceu em dezembro, e pelo fato do natal ser originalmente uma festa para o deus Sol.

À época, como um adolescente mórmon discípulo de B.H. Roberts e Talmage, eu identificava o 6 de abril como a data do nascimento de Jesus. Se por um lado a suspeita de que Jesus não nascera em dezembro já existia em mim; por outro, era a primeira vez que tomava conhecimento das origens pagãs daquela festa do final do ano. Continuar lendo

O Sacerdócio, por Hugh Nibley

hughnibleyHugh Nibley (1910-2005)

O sacerdócio deixa de ser eficaz quando exercido “em qualquer grau de iniqüidade” (D&C 131:37), mas ele opera pelo espírito e o espírito não é enganado, mas é extremamente sensível ao menor sinal de fraude, fingimento, auto-justificação, ambição, crueldade, etc.. “Quando nos propomos… a exercer controle ou domínio ou coação sobre a alma dos filhos dos homens, em qualquer grau de iniqüidade, eis que os céus se afastam; o Espírito do Senhor se magoa e quando se magoa, amém para o sacerdócio ou autoridade desse homem” (D&C 121:37). Mas e o domínio justo do sacerdócio? Este pode ser facilmente reconhecido, pois opera apenas por “persuasão, com longanimidade, com brandura e mansidão e com amor não fingido; com bondade e conhecimento puro, que grandemente expandirão a alma, sem hipocrisia e sem dolo… com as entranhas cheias de caridade a todos os homens” (D&C 121:41-45). Mesmo nas eternidades o poder do sacerdócio flui “sem ser compelido… eternamente” (D&C 121:46).

Quem pode negar tal poder a outro? Nenhum homem. Quem pode conferi-lo a outro? Nenhum homem. Gostamos de pensar que a Igreja se divide entre aqueles que o tem e aqueles que não o tem; mas é a mais pura tolice achar que podemos dizer quem o tem e quem não o tem. Apenas Deus sabe quem é justo e até que ponto justo; no entanto, “os direitos do sacerdócio são inseparavelmente ligados com os poderes do céu” e estes “não podem ser controlados ou exercidos a não ser de acordo com os princípios de retidão” (D&C 121:35). O resultado é que se há alguém que realmente porta o sacerdócio, ninguém está em posição de dizer quem é – apenas pelo poder de comandar os espíritos e elementos tal dom é aparente. Mas no que se refere a comandar ou dirigir outras pessoas, cada homem deve decidir por si mesmo. Continuar lendo

Joseph Smith: Pecados, Redenção e Caridade

Joseph SmithO que teria Joseph Smith a dizer a respeito de supersticão?

E bebedeiras? E pecados? E como levar uma vida santificada?

O que teria Joseph Smith a dizer sobre caridade e salvação dos pecados?

Não é incomum Mórmons na atualidade, seja em qual igreja que for, atribuir a Joseph Smith os ideais filosóficos que eles mantém hoje em dia.  Isso, é claro, anacronístico e pode não correlacionar exatamente com o que ele disse e acreditava.

Leiamos, então, uma breve citação, tirada de seu própria diário, sobre esses temas e ponderemos não o que acreditam os Mórmons sobre eles hoje, mas o que estava dizendo o próprio Joseph Smith, no que ele acreditava, no que ele estava tentando passar adiante.

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Edições históricas do Livro de Mórmon

s-BOOK-OF-MORMON-largeO site Book of Mormon Online traz diversos recursos para os leitores do Livro de Mórmon em inglês, incluindo mapas, áudio e uma apresentação cronológica da narrativa. O maior mérito do site, porém, parece ser o de reunir em um só local diversas edições históricas do Livro de Mórmon em inglês, desde o manuscrito de 1828, com a caligrafia de Oliver Cowdery, até a edição sud de 1981.

Podem ser vistas também as três edições do Livro de Mórmon que passaram pelas mãos de Joseh Smith (em Palmyra, Kirtland e Nauvoo), as primeiras edições com divisão de capítulos (feita na cidade inglesa de Liverpool) e  de versículos (em Salt Lake) , bem como a primeira edição da Igreja Reorganizada (em Lamoni).

A edição mais recente incluída no site é de 2005, uma edição independente chamada Mormon’s Book que utiliza o texto sud de 1981 mas no formato original de parágrafos, tal como nas primeiras edições. Eu desconhecia tal edição e acho digno de nota que ela se insere numa recente tendência (ver, por exemplo, as edições de Grant Hardy e Daymon Smith¹) sentida por leitores do Livro de Mórmon de retomar a fluidez da narrativa original ao revisitar sua formatação original.

Nota

1 O antropólogo Daymon Smith participará da IV Conferência Brasileira de Estudos Mórmons, falando sobre a história cultural do Livro de Mórmon. Veja o programa da Conferência aqui.

Maçonaria e Mórmons, Lojas e Templos, Morgan e Smith

Sobre o livro que revelaria segredos maçônicos, mas acabou revelando segredos mórmons.

Em 1827, David Cade Miller publicou um livro escrito por Willian Morgan que profundamente impactou o mormonismo para sempre e que documentou uma das grandes influências na formação mórmon para toda posteridade.

William Morgan nasceu no estado da Virginia, em 1774. Através de uma série de revézes da vida, Morgan acabou mudando-se em 1821 para Batavia, no estado de Nova Iorque, a menos de 100 km de Palmyra, junto com sua esposa então de 18 anos, Lucinda Pendleton Morgan.

William Morgan

William Morgan, cujo desaparecimento e suposto assassinato desencadeou um fervor anti-maçônico no século 19, e cuja viúva se tornou uma das primeiras esposas polígamas do Profeta Joseph Smith

Por causa de conflitos pessoais mal documentados, Morgan anunciou no começo de 1826 que havia escrito, e estava prestes a publicar, um livro expositório sobre os rituais maçônicos iniciais, incluindo os sinais, as palavras-chaves, e os apertos-de-mão secretos da fraternidade (famosamente) secreta da maçonaria.

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