Filantropia: tire os filhos indignos do seu testamento

Se seus filhos não forem bons membros da Igreja, eles não devem receber nenhuma herança sua. Nesse caso, seu dinheiro e bens podem ser doados à Igreja. Isso é o que sugere um vídeo da LDS Philanthropies (Filatropias SUD), organização oficial d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

De acordo com seu site, “LDS Philanthropies é um departamento do Escritório do Bispado Presidente, responsável por doações para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e suas instituições de caridade afiliadas”.

Em seu canal no YouTube,  o vídeo intitulado Journey to Become (Jornada para Tornar-se, em tradução livre) mostra a família Mellor. O casal e seus dois filhos circulam numa elegante pick-up, socorrem uma motorista em apuros, constroem um fogão em um vilarejo pobre da América Latina, vão ao México ajudar os necessitados.

[Atualização: em 05/09/2015, nosso leitor Gomes notou que o vídeo havia sido removido pela LDS Philantropies.]

LDS PhilantropiesO pai, Reed Mellor, nos fala de suas preocupações com o futuro dos filhos e o destino de seu dinheiro após a morte:

Eu não finjo ser como meu Pai Celestial, mas para os meus filhos… para eles herdarem meus bens, eles precisarão se tornar o que eu estou tentando me tornar. [6:48]

Engenheiro aficcionado em caça, Reed não é o tipo de homem que vive de mês a mês. No entanto, ele enfatiza que seus filhos não herdarão o que ele possui a não ser que sejam dignos e estejam frequentando a Igreja:

O dinheiro pode ser um um grande benefício para o mundo, mas ele também pode destruir a salvação eterna.  Em determinado ponto em nossa vida, dois dos nossos filhos estavam cometendo alguns erros e estavam um pouco ao contrário do que acreditamos como família. E pensei: “Puxa . O que acontece se alguém recebe uma pilha de dinheiro mas não está vivendo os princípios do evangelho?”. Eu não sei quanto a vocês, mas eu nunca ouvi ninguém dizer “Nossa. Herdei um monte de dinheiro, então decidi voltar à igreja e mudar minha vida”.

Costumava me preocupar sobre se eu morresse hoje o que aconteceria com os meus filhos. E como dinheiro ou prosperidade afetariam suas escolhas e ambições e objetivos de vida. E isso causou muito estresse.

É então que Reed nos fala de outro possível destino para sua riqueza:

Na verdade, em certo momento eu estava pronto para transferir tudo o que tinha para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ao invés de arriscar que eles façam escolhas que seriam difíceis para eles com uma grande soma de dinheiro. [8:49]

Conversando sobre a ideia com amigos que recebiam doações para a Igreja SUD, ele acabou mudando de ideia e decidiu organizar uma instituição de caridade, na qual ele e seus filhos trabalhariam juntos. Mas a possibilidade de doar tudo à Igreja permanece:

E desse modo dá a oportunidade a eles de aprenderem princípios corretos, crescerem e se desenvolverem. E se forem dignos do seu sacerdócio então poderão herdar [bens] e continuar a fazer o bem.

Se eles exercerem seu arbítrio de forma contrária às minhas crenças, então a opção é que toda a herança poderá ainda ir para a Igreja. 

Você concorda com a posição desse pai? Você excluiria do seu testamento filhos que considera moralmente indignos e/ou que não frequentam a Igreja? Você os ameaçaria com essa possibilidade?

Você já tinha visto alguma referência a tal ideia na Igreja SUD? Por que, na sua opinião, a Igreja divulgou em um de seus canais oficiais uma visão tão fanática?

35 comentários sobre “Filantropia: tire os filhos indignos do seu testamento

  1. Jamais. Tudo que eu construir nesta vida, seja muito ou pouco, será dos meus filhos, independente do fato de escolherem viver a mesma religião que eu ou não. Eu respeito seu livre arbítrio e jamais usaria herança, bens, testamento, para pressiona-los a seguir este ou aquele princípio. Vejo isso como coerção, o que vai de encontro aos princípios de Cristo. Digamos que eu morresse e tudo fosse pra a Igreja. Eu estaria influenciando não só meus filhos mas meus netos, gerações, tanto em relação aos bens quanto em relação aos sentimentos destes. Meu amor e cuidado para com meus filhos independentem de crenças religiosas, estão acima de qualquer outra coisa. Eles tem todo o direito de seguir seu caminho, fazer suas escolhas, na hora certa, quando tiverem maturidade para tal, e meu amor e cuidados serão sempre incondicionais. Eu vivo e viverei por eles independente de suas escolhas. Mormons, ateus, budistas, candomblecistas, gays, heteros, solteiros, casados, exmissiobarios ou não, assembleianos, agnósticos…. Não importa. Estarão sempre acima de qualquer outro interesse para mim. Agora, se eu não tivesse herdeiros, e tivesse dinheiro e bens para deixar, faria uma oração e a quem o Senhor me inspira-se, doaria. pessoas, e não organizações.

  2. Isso pode ser possível sob a lei americana, mas não sob a lei brasileira. O nosso Código Civil estabelece que em caso de morte do marido a esposa tem direito a 50% dos bens do “de cujus”, e os filhos os restantes 50%. A lei somente permite a exclusão de um filho do direito de herança em casos muito específicos, em que este tenha cometido certos ilícitos penais contra o pai, entre os quais não se inclui o abandono de uma prática religiosa. Felizmente, nós, brasileiros, em que pesem as tentativas de dominação cultural encetadas por Tio Sam, vivemos sob o Direito Romano, que se coaduna com as nossas origens mais fundamentais e que deixa nossos direitos e deveres muito claros. Não estamos sob a influência do Direito Anglo-Saxônico, em que a lei positiva (isto é, escrita) se condiciona à interpretação que lhe é dada pelos tribunais. Portanto, irmãos, não se preocupem pois essa novidade não se aplica entre nós.

    • É verdade! A lei brasileira não admite deserdar um filho. A não ser em novelas de autores mal-informados. Aqui até avós por lei são obrigados a sustentar netos (quando os pais não podem fazê-lo,claro). Assim, essa ganância SUD aqui não tem vez. Parece coisa de Edir Macedo. Misericórdia!!!!

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