Nefita no Dia das Bruxas é Racista?

Há mórmons quem digam que os índios não são descendentes literais dos lamanitas e nefitas descritos no Livro de Mórmon, apesar do próprio texto da escritura deixar claro o contrário.

Jovem SUD fantasia-se de índia (Fonte: Facebook)

Jovem SUD fantasia-se de índia desejando a todos “Feliz Dia das Bruxas” (Fonte: Facebook)

Naturalmente, nem todos os mórmons pensam assim.

Uma jovem mórmon fantasiou-se de ameríndia para o Halloween, o famoso festival de “dia das bruxas” norte-americano, e postou sua foto em sua página pessoal de rede social. A reação de sua família foi inteiramente positiva, congratulando-a por sua linda fantasia de nefita:

lamanite

“[Fulana], você é uma linda princesa nefita”

“Obrigada, tia [Cicrana]”

A postura está sendo criticada nas mídias sociais pela apropriação cultural e pelo racismo inerente à foto. Apropriação cultural pode ser definida como:

“… a adoção de alguns elementos específicos de uma cultura por um grupo cultural diferente. Ela descreve aculturação ou assimilação, mas pode implicar uma visão negativa em relação à aculturação de uma cultura minoritária por uma cultura dominante.”

Contudo, o racismo desse intercâmbio apenas é aparente para mórmons. Notem que a estranheza da tia da jovem não a chamar de “princesa lamanita”, mas sim “princesa nefita”, considerando que, reza a narrativa do Livro de Mórmon, todos os nefitas foram exterminados e apenas os lamanitas sobreviveram como os ameríndios que foram encontrados pelas invasões européias.

Porém, faz-se perfeito sentido quando se contrapõe a narrativa do Livro de Mórmon que explica que os lamanitas foram amaldiçoados por Deus com uma pele negra:

“E [Deus] fez cair a maldição sobre eles, sim, uma dolorosa maldição, por causa de sua iniquidade… e como eram brancos, notavelmente formosos e agradáveis, a fim de que não fossem atraentes para meu povo o Senhor Deus fez com que sua pele se tornasse escura.”

O Livro de Mórmon ensina que a cor de pele escura é um sinal claro de maldição divina (ler aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui), mas os nefitas eram brancos, e como a jovem SUD é branca (ou, como diria o Livro de Mórmon, “branca e deleitosa”), sua tia não a chama de “lamanita”, mas sim de “nefita”. Apesar de sua sobrinha estar fantasiada de índia, supostamente “lamanita”.

Essa postura racista entre mórmons com relação a ameríndios é antiga. Spencer W. Kimball, 12° Presidente d´A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias pregava que latino-americanos eram os literais descendentes desses lamanitas e que se tornariam cada vez mais “brancos e deleitosos” ao se converterem ao mormonismo.

Embora muitos mórmons distanciem-se de uma leitura literal do Livro de Mórmon (como, por exemplo, o Apóstolo Russell Nelson), e rejeitem a afirmação (refutada pela ciência) do Livro de Mórmon de que os índios seriam descendentes de imigrantes hebreus, além das revelações de Joseph Smith confirmando essa afirmação (ver aqui, aqui, e aqui), trata-se de uma crença óbvia e profundamente enraizada no coletivo cultural mórmon. Que a leitura racista do Livro de Mórmon sobre as origens dos povos indígenas americanos se traduza à uma cultura racista (ainda comum, inclusive, nas universidades mórmons) não seria de se surpreender.

Na sua experiência pessoal, a maioria dos mórmons ao seu redor ainda agarram-se à crença de que os índios são (exclusiva ou primordialmente) descendentes dos imigrantes hebreus do século 6 AEC? Tais mórmons são capazes de compreender o racismo inerente em expressões de apropriação cultural ou na presunção religiosa de atribuição de valores a tons de pele? E, mais importantemente, como sobrepujar quase dois séculos de teologia racista enquanto os textos sacros ainda os incentivam?

12 comentários sobre “Nefita no Dia das Bruxas é Racista?

  1. Uma coisa já conformei, que o Senhor não é muito comunista.Nas escrituras Biblia e no Livro de Mórmon existem bênçãos somente para semente de fulano ou ciclano, somente para um povo específico,existe muitos rótulos e politicas de exclusão,até Pedro não queria pregar a outro povo.Jonas também não.O próprio fato do isolacionismo judeu é fruto de conteúdo escrituristico sagrado.Com o livro de mórmon não seria diferente.O Senhor tinha o costume de separar os povos.Não sei como ele vê hoje em dia, mas penso que essa separação tem a capacidade de preservar traços culturais e religiosos que ele deseja manter puro no povo que se separou.Mas no mundo atual é muito mais desafiador que antigamente , tendo em vista a necessidade de interação e inclusão de pessoas e povos. Mas podemos ponderar e orar o porquê de tantas exclusões e separações de povos e pessoas nas escrituras.De cara ,sabemos que pela obediência ele já implanta politicas de benefícios a grupos fechados ou povos!

    • Otavioasp, Se aplicarmos a literalidade dos textos nas escrituras sagradas, e retirarmos aspectos históricos. culturais ou sociais da época em que foram produzidas, simplesmente a religiosidade de qualquer Cristão seria insustentável e intragável, Acreditar em um Deus segregador e racista simplesmente não é compatível com a mensagem do cristianismo e tão pouco com seu fundador.Para mim as escrituras são uma fonte continua de inspiração, mas quando esbarro com Pedro se recusando a pregar o evangelho aos gentios procuro compreender o contexto histórico da coisa, ou quando vejo escrituras do livro de mórmon dizendo que o tom de cor da minha pele (sou descendente de indios guaranis) é uma maldição, simplesmente me lembro quando e como foi produzido o LM. Mas nunca, nunca! acredito que por se quer um minuto Deus tem qualquer coisa a haver com isto. longe de mim se quer imaginar, que possa encaixotar Deus em uma caixinha de dogmas e doutrinas e achar que ele se limitaria tanto ou se submeteria para que eu o moldasse com “minhas mãos de barro”. De fato, nossos conceitos humanos são muito pequenos e limitados bem como nossas escrituras, ainda bem, que esse não é o caso de Deus.

  2. Enquanto deus segrega,o capeta aceita todos de braços abertos.
    Se eu tivesse fé escolheria o chifrudo pra ser meu senhor.

    • Pois é, Allan, o deus das religiões é racista, homofóbico, segregador, sexista, belicista, egoísta, enfim, um psicopata completo!
      O “chifrudo” (que não existe) é muito melhor! Tamo junto!

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